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Quando chamei, a Tia veio me receber, me deu um abraço e entramos. O Tio abriu um sorriso quando me viu; eu corri para abraçá-lo. A Tia se juntou a nós e ficamos ali abraçados por um bom tempo. Me sentei no sofá da sala e me senti bem ali. Era triste não ter a Ká com a gente, porque tudo ali me lembrava dela. Conversamos muito; contei tudo para eles e ganhei muito carinho, apoio e conselhos.
Passei umas três horas ali com eles e depois tive que sair, porque ainda tinha muita coisa a fazer. Quando voltamos para a casa de Daniel, fui olhar o que tinha na mochila com cuidado. Era uma boa quantia em dinheiro, alguns milhares. Eu paguei o que achava suficiente para passar aqueles dias que iria ficar ali, peguei os dólares, que seriam mais fáceis de usar em Portugal, e as joias. O resto do dinheiro eu disse que era para Daniel ficar.
Era bastante dinheiro, o suficiente para comprar uma casa como a que Daniel e Lúcia viviam. Daniel não queria aceitar, e Lúcia disse que eu estava doida. Então, eu disse que, com certeza, ele teve muitos gastos durante o tempo que me ajudou. Se não fosse por ele, eu não teria nem um centavo e não estaria viva. Ele sabia muito bem o quanto de dinheiro eu iria ter dali para frente, e o que eu estava dando a ele era nada se comparado ao que eu ia ter. Foi difícil convencê-lo a aceitar, mas no fim ele aceitou.
Eu guardei os dólares e as joias na minha mochila, junto com meu diário, coloquei os reais na minha carteira e dei a arma para Daniel. Disse que ele podia guardar para si ou vender, mas eu não queria aquilo.
Fui para meu quarto e liguei para Rute, que disse que já estava preocupada comigo. Eu disse que estava tudo bem e contei tudo o que tinha acontecido. Ela ficou feliz, mas preocupada. Disse que Tiago sabia onde Bruno morava e, provavelmente, quando eles voltassem para Portugal, o padrasto iria atrás da mãe dela. Eu disse que a gente iria dar um jeito, que já tinha pensado em algo, mas precisava de dinheiro e de uma conta bancária de um deles. Ela falou que a conta não era problema, porque só a mãe dela não tinha uma.
Eu pedi para ela me passar a conta dela e para ela ir olhando um apartamento para a gente comprar, que não importava o preço, mas tinha que ser, de preferência, em um condomínio seguro e ter no mínimo três quartos e ser bem espaçoso, porque era para cinco pessoas.
Ela perguntou se eu tinha certeza disso, porque um apartamento assim era um absurdo. Eu disse que tinha certeza sim, falei para ela conversar com a mãe dela e pedir para ela já arrumar um bom advogado e entrar com um pedido de divórcio. Rute falou que ia fazer isso.
Bom, dali para frente, foi correr atrás de tudo que meu pai tinha deixado em meu nome. Foram dias de muita correria e muita burocracia. O advogado do meu pai tentou me convencer a deixar ele resolver tudo, mas não aceitei. Falei para ele que queria saber de tudo que ele sabia sobre os negócios do meu pai, queria todos os documentos que ele tinha em posse, e se ele me ajudasse, seria muito bem recompensado. Ele colaborou, e as informações e documentos que ele passou ajudaram bastante.
Eu falava com Rute todos os dias. Ela disse que já tinha achado o apartamento do jeito que eu pedi, me passou o valor e disse que a mãe já tinha entrado com o pedido de divórcio, mas até o momento não tinha notícias do meu Tio nem de Tiago.
Depois de seis dias, estava quase tudo resolvido. Só faltavam algumas contas no exterior e uma sociedade com uma rede de hotéis para resolver. Mas tinha um problema ainda: a empresa do meu pai, que agora era minha. Eu não podia assumir ela no momento e nem queria vendê-la, porque eu queria ela quando voltasse ao Brasil, e eu iria voltar, com certeza.
O advogado disse que a empresa tinha uma diretoria que assumiu depois que meu pai morreu, e, pelo que ele verificou, ela continuava funcionando normalmente, mesmo com o escândalo. Eu perguntei sobre esse escândalo e ele me explicou que saiu na mídia, que eu poderia procurar e iria achar várias matérias a respeito.
Bom, foi o que eu fiz e então fiquei sabendo dos podres da empresa. Mas, em duas dessas matérias, eu vi que um dos arquitetos que trabalhava lá tinha ajudado a polícia nas investigações, mas no fim não deu em nada e ele perdeu o emprego. Nas matérias, dava para ver que a empresa tinha culpa, mas por algum motivo as investigações não deram em nada e o caso foi encerrado sem muitas explicações.
Eu tive uma ideia ali, mas era bem arriscada e pedi a ajuda e conselhos de Daniel. Pedi para ele investigar sobre o arquiteto que tentou ajudar a polícia, falei para ele descobrir o máximo que pudesse sobre ele. Daniel falou que iria pedir para o amigo dele, ex-policial, fazer isso e me passaria tudo.
Depois de 21 dias, eu tive uma ótima notícia: já podia movimentar as contas do exterior. Meu advogado me apresentou a um contador de sua confiança, que me explicou tudo. Eu fiquei quase duas horas conversando com ele, mas no fim acho que tinha entendido tudo.
Liguei para Rute e falei para ela que iria transferir um dinheiro para sua conta. Era para ela comprar o apartamento, mobiliar e mudar o mais rápido possível para lá. Eu disse que ia mandar o suficiente para ela fazer isso e se manter por um tempo, mas que, no máximo em três dias, eu estaria de volta.
Falei com meu advogado que queria que ele continuasse trabalhando para mim, ele e o contador que ele me apresentou, que eu pagaria um salário mensal para eles. Ele disse que isso não seria um problema. Pedi para ele redigir uma procuração em nome de Daniel, dando a ele pleno direito sobre meus bens aqui no Brasil. Ele disse que ia resolver isso.
Falei para Daniel o que tinha conversado com meu advogado e ele disse que não queria. Eu expliquei que não tinha mais ninguém em quem eu confiasse para resolver meus negócios, já que o Tio tinha sua empresa para tomar conta e a Tia já tinha muitos problemas. Não queria causar mais problemas para ela. Ele, por fim, concordou. Eu disse a ele que queria vender tudo que foi do meu pai: apartamentos, terrenos, carros, tudo, menos a mansão e a empresa. Essas eu veria o que faria com elas no futuro. Eu disse que não precisava de pressa, mas era para ele vender tudo e pôr o dinheiro no banco.
Eu me encontrei mais uma vez com a Tia e o Tio, falei que iria voltar para Portugal e concluir meus estudos, e depois voltaria ao Brasil, mas que iria voltar para ver eles todo ano e que ligaria sempre. Foi difícil a despedida, mas infelizmente não tinha como eu continuar no Brasil. Eu precisava ajudar quem me ajudou em Portugal e precisava começar uma vida nova. Fazer isso em outro país seria muito bom para mim naquele momento.
Deixei tudo combinado com Daniel e meu advogado, eles tomariam conta de tudo para mim. Eu poderia ir embora em paz. Pedi para Daniel pagar o antigo advogado do meu pai e me passar as informações sobre o tal arquiteto, e me manter informada sobre tudo. Falei para ele vender o jatinho também; não fazia sentido manter ele para ser usado uma ou duas vezes no ano, ficava caro manter ele e o piloto, que tinha um ótimo salário.
Me despedi do meu advogado depois de assinar a procuração e pedir algumas coisas para ele. Agradeci mais uma vez por ter me ajudado e fui para a casa de Daniel pegar minhas coisas e me despedir de Lúcia e de Ângela. Mais uma vez, fiquei com o coração apertado, mas eu tinha que ir. Daniel me levou para o aeroporto, onde o jatinho já me esperava.
Foi a hora da despedida mais difícil. Daniel era meu melhor amigo, na verdade, era um pai para mim. Eu devia minha vida a ele, fora tantas outras coisas. Não resisti e chorei bastante, e ele, mesmo tentando bancar o durão, deixou escapar algumas lágrimas. Depois de um abraço muito demorado, eu parti. Mais uma vez, prometi a mim mesma que voltaria um dia para ficar.
A viagem foi tranquila mais uma vez. Pousamos no meio da madrugada. Bruno e Rute já me esperavam no aeroporto. Depois de um abraço nos dois, eu segui com eles para meu novo lar. Quando cheguei, já gostei do apartamento de cara. A sala e a copa tinham muito espaço, a cozinha era grande, o banheiro tinha um tamanho legal, mas Rute me disse que no meu quarto tinha outro banheiro. Amei meu quarto, era bem grande. Perguntei como foi repartido os quartos e Rute disse que ela estava em um com a mãe dela e Bruno estava em outro com Liandra. Eu disse que queria mudar, que não queria ficar sozinha, então Liandra poderia vir para o meu, se ela quisesse, e assim Bruno teria mais privacidade no dele por ser o único homem, e também eles teriam um quarto para namorar.
Rute gostou da ideia e, pelo sorriso de Bruno, ele também. Eu disse que depois falaria com Liandra e, se ela concordasse, a gente mudaria tudo.
Me despedi deles e fui tomar meu banho e descansar. Demorei um pouco a dormir; bateu uma saudade enorme da Ká. Durante o tempo que fiquei no Brasil, foi difícil aguentar a vontade de ver ela, nem que fosse de longe, mas eu aguentei. Foi para meu próprio bem; provavelmente eu a veria com Gustavo, e com certeza aquilo iria doer muito e só iria piorar as coisas para mim.
Acordei cedo no dia seguinte; foi bom matar a saudade de todo mundo. Liandra adorou a ideia de mudar para meu quarto, já que era o maior e tinha um banheiro nele. Maria me deu um abraço e me agradeceu muito por tudo que eu estava fazendo por ela e pela filha. Vi lágrimas no seu rosto, mas eram de felicidade; aquilo me fez um bem danado.
As férias estavam no fim e eu resolvi voltar a estudar, mas não queria mais fazer arquitetura. Então, resolvi fazer um curso intensivo de administração e também aulas de inglês. Liandra e Bruno me levaram na academia onde eles davam aulas: Bruno de jiu-jitsu e Liandra de capoeira.
Eu amei o lugar e resolvi fazer aulas com Liandra e também exercícios em alguns aparelhos. Rute arrumou um emprego em um hotel. Depois de quinze dias, Daniel falou que tinha tudo sobre o arquiteto e me passou tudo. Disse que ele parecia ser um homem honesto, tinha ótimas referências, era casado e a esposa era advogada e também parecia ser muito honesta; pelo menos, não achou nenhum podre ou qualquer coisa errada sobre eles.
Eu disse que iria pensar com calma e depois talvez eu ligaria para o arquiteto e teria uma conversa séria com ele, e se eu gostasse, o colocaria à frente da empresa até eu voltar ao Brasil.
Rute contou que uma vizinha do antigo apartamento de Bruno entrou em contato com eles e disse que dois homens foram procurar por ela lá e, pela discrição, eram Tiago e meu Tio.
Isso gerou uma certa preocupação. Estávamos os cinco na copa discutindo o assunto e pensando na melhor forma de resolver. Maria já tinha entrado com o processo de divórcio, porém o advogado dela não tinha conseguido localizar meu Tio até então, mas agora teria como, já que ele estava de volta.
Rute disse que ele não iria assinar os papéis do divórcio numa boa, que provavelmente iria fazer de tudo para prejudicar todos nós e que, por ele ser violento, tinha medo dele tentar fazer algo de ruim, principalmente com a mãe dela.
Isso era bem possível, porque ele com certeza estava com muito ódio, principalmente de mim e de Maria. Alguma coisa a gente tinha que fazer.
Continua...
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper