Amor no Paraíso - Episódio 4: Alinhando

Da série AMOR NO PARAÍSO
Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 2578 palavras
Data: 02/10/2023 01:12:53

— E o que o sr. está achando de Búzios? — perguntou Hugo, que estava sentado ao lado de César. Os dois de frente para o mar, aproveitando a brisa da noite e conversando.

— O sr. aqui está adorando. — disse César, bebendo um pouco de cerveja e sorrindo.

— Desculpa. Não é todo dia que dou um rolê com o dono do meu trabalho. — afirma Hugo, enquanto brincava com as rodinhas do skate.

— Tudo bem. Eu sei que isso dá medo, Hugo. Mas eu sou um cara normal com medos e sonhos. Não sei, às vezes, eu me sinto só. Estou há nove dias trabalhando direto e é a primeira vez que tenho contato com Búzios. Loucura, né? — questionou César, e Hugo percebeu um pouco de melancolia em sua voz.

— Ok. — Hugo levantou e colocou o skate no chão. — Você quer conhecer Búzios?

— Quero. — César respondeu, pois confiou em seu funcionário.

Um talento que César não tem é se misturar. De longe, percebiam que ele era um turista. Inclusive, algumas pessoas os cumprimentavam em inglês. Sem graça, César apenas dava um tchau tímido. Ao seu lado, caminhava Hugo, que estava todo estiloso com o seu look de skatista: uma camisa surrada, calça jeans apertada e um tênis de solas planas, ideal para realizar manobras.

Dois corações batendo em compasso. Entre eles havia temor, mas esperança. Nenhum deles sabia exatamente o que estava acontecendo, mas curtiram o momento. César amou conhecer mais sobre Hugo e vice-versa. A conversa entre os dois fluiu sem problemas. E sabe quem ajudou? A noite de Búzios.

A noite em Búzios trazia uma atmosfera mágica e sedutora. As luzes iluminavam as ruas estreitas e sinuosas da cidade, criando uma teia cintilante de cores e brilho. Depois de uma longa caminhada, os dois chegaram ao Bar do Lopez, um lugar pitoresco e cheio de rostos familiares para Hugo.

Da entrada até a área interna do estabelecimento, Hugo foi cumprimentado pelas pessoas. César deu um sorriso e seguiu o funcionário com uma certa distância. Pelo o que catou das conversas paralelas, César descobriu que o bar era construído com materiais naturais que combinavam com a paisagem.

Nas paredes de madeira rústica havia fotos de Búzios dos anos 70, além de garrafas decorativas, que comunicavam em uma iluminação discreta. Hugo chegou até um senhor de idade e o abraçou com força, aparentemente, era o dono do bar, o seu Lopez.

— Hugo e me conta, quem é esse boy magia? — perguntou seu Lopez, dando uma risadinha engraçada e abraçando César.

— Para, Lopez. É o meu chefe. — disse Hugo quase que desesperado com a indiscrição do amigo. — Seu César esse é o Lopez, o dono do estabelecimento.

— Prazer, Lopez. — César o cumprimentou e sorriu. — O seu bar é amável.

— Amável? — Lopez olhou em volta e deu uma gargalhada. — Esse pedaço de bosta horrendo. — movimentando as mãos. — Se quiser comprar...

— Lopez, chega. — implorou Hugo, pegando o skate e colocando atrás do balcão. — Aceita um drink? — dirigindo a pergunta ao César.

— Aceito sim. — disse César colocando as mãos no bolso e ficando perto do balcão.

— Antes de trabalhar no hotel, eu fazia um bico de barman. — explicou Hugo, lavando as mãos e pegando os materiais para fazer um drink para o chefe.

Você consegue ver flerte em qualquer coisa? César, aparentemente sim. Ele observou todos os passos de Hugo na função de barman. Com habilidade e elegância, o skatista pegou um copo alto, olhou na direção de César esboçando um sorriso, enquanto o enchia até a metade com cubos de gelo. Em seguida, pegou uma garrafa de gim e despejou um pouco do líquido na coqueteleira. Ele também colocou um pouco de vermute tinto e Campari.

Vez ou outra, o seu olhar encontrava o de César, que parecia hipnotizado com a habilidade do funcionário em fazer drinks. Usando uma colher bailarina, Hugo mexia cuidadosamente a mistura, fazendo os sabores se fundissem harmoniosamente.

Enquanto seus dedos dançavam ao redor do balcão, ele pegava outro copo, um coupé desta vez, e começava a preparar um elegante Martini. O gelo na coqueteleira tilintava suavemente enquanto ele vertia gin e vermute, precisamente medidas. Com um movimento rápido e preciso, ele agitava a coqueteleira com confiança, criando a mistura perfeita.

Com um sorriso, ele coava o Martini em um copo previamente resfriado, e uma azeitona verde era delicadamente colocada no topo. Aquele clássico tão amado estava pronto para ser apreciado por César.

— Espero que goste. — desejou Hugo entregando a taça para César, que provou e nunca experimentou algo tão delicioso.

— Nossa, Hugo. Está perfeito. — admitiu César, provando mais uma vez a bebida. — Excelente, parabéns.

— Obrigado, chefe. — Hugo ficou mais aliviado e sorriu.

De repente, uma música começou a tocar e uma drag queen subiu ao palco. Ela dominou o público, que passou a prestar atenção em sua apresentação. Com um vestido vermelho e maquiagem impecável, a performista se apresentou como Creme De La Vega. Animado, Hugo pegou na mão de César e o guiou para uma das cadeiras do bar.

A pele negra de Creme reluziu com as luzes que eram jogadas em sua direção. Ela começou a fazer uma performance da música "Como Nossos Pais". A energia e magnetismo da drag queen encantou César, que não estava habituado a assistir shows de transformistas. No fim, a plateia explodiu em aplausos e um DJ assumiu as pick-ups com as melhores músicas dos anos 2000.

Mais uma vez, Hugo arrastou César, mas, dessa vez, foi para a pista de dança. Ao som de "Tô nem aí", da Luka, os dois dançaram e se divertiram bastante. A seleção levou os dois a uma viagem no tempo. Nem o calor típico do Rio de Janeiro atrapalhou a diversão de César, que deixou o álcool o levar e ficou mais solto.

Era o dia das primeiras vezes de César. Após a balada, os dois caminhavam pelas ruas vazias de Búzios. Nunca em sua vida, o empresário fez algo do tipo em São Paulo. Hugo precisava voltar para a pista de Skate. Ele havia deixado a sua bicicleta na loja de um amigo e aproveitaria para acompanhar o chefe até o hotel.

— Então. Sr. Martins, quer dizer que é o prefeito de Búzios? — perguntou César ao lembrar de tantas pessoas que cumprimentaram Hugo.

— Eu gosto de fazer amizades, sabe. — afirmou Hugo, soltando o skate no chão e subindo nele. — Como eu te disse, os meus pais já eram maduros quando me tiveram, então a família sempre foi pequena. — usando a perna direita para pegar impulso no skate. — Só que nunca me abalei por isso. Afinal, a família é aquela que construímos durante a vida também.

— Bela filosofia, Hugo. É um jovem sábio. — comentou César, colocando as mãos nos bolsos, pois estava um pouco bêbado e não queria cair no chão.

— Falou como se fosse mais velho que eu. — brincou Hugo, indo e voltando com o skate.

Ao chegarem na Orla, os dois caminharam até a loja Pro Sports. A bicicleta vermelha de Hugo estava estacionada em uma área para bikes. Ele colocou o segredo no cadeado e soltou a bicicleta. O Hotel Trajano não ficava tão distante, mas Hugo fez questão de levar o chefe.

— Vamos, chefe. Pode subir. — pediu Hugo em cima da bike e batendo na garupa da moto. — Não é o transporte mais confortável do mundo, mas eu te levo em segurança. Não posso perder um chefe tão massa.

— Ok. — soltou César, tentando subir na garupa da bicicleta. Ele ficou tremendo e Hugo soltou um riso abafado.

— Relaxa, César. Eu não vou te deixar cair. Você confia em mim?

— Eu confio. — respondeu César e seu coração acelerou. Depois de muito tempo, ele deixou cair a capa da indiferença e estava se apaixonando.

Às 02h de um domingo, o empresário César Trajano foi visto na garupa de uma bike em Búzios. Foi essa manchete que César imaginou, enquanto era levado para casa de bicicleta. Ele apoiou as mãos na cintura do funcionário, pois temia cair e se ralar. As ruas vazias ajudaram na locomoção. Algumas poucas pessoas festejavam em pontos diferentes da orla com seus carros tocando música sertaneja.

— Chegamos. — avisou Hugo ao estacionar a bike na lateral do hotel. — É melhor o senhor entrar pela porta dos funcionários. É mais discreto. — Hugo tirou o crachá da mochila e abriu a porta para o chefe. — Boa noite, senhor.

— Boa noite, Martins. — desejou César, antes de entrar e trancar a porta por dentro. — Senhor? Para ele eu sou apenas o chefe. — pensou, antes de suspirar fundo e seguir para o seu quarto.

A ressaca vem. César acordou e não lembrava como chegou em casa. Ele levantou e esticou o corpo para despertar de vez. Em seguida, foi para o banheiro e seu reflexo o fez sorrir. Aos poucos, as lembranças foram invadindo o peito do empresário. Como era domingo, César não tinha compromissos e decidiu dar mais uma volta por Búzios.

Para o passeio, César escolheu roupas leves. Ele vestiu uma camiseta branca, sunga preta e um short. Talvez, ele fosse até a praia para dar um mergulho e conhecer de vez o lugar do seu novo empreendimento. Para almoçar, César escolheu o restaurante Altto Búzios, já que o restaurante do hotel só abriria próximo ao lançamento do mesmo.

Do outro lado da cidade, a vida também seguia tranquilamente. Ainda deitado na cama, Hugo recordava dos bons momentos que viveu ao lado de César, porém, a questão da hierarquia na empresa era desmotivadora.

— E se eu transar com ele? Afinal, sexo é sexo, não é? Acho que o César topa um sexo sem compromisso. Para com isso, Hugo. Olha para você, olha para o César. Dois mundos diferentes. — Hugo costumava ter monólogos dentro dele.

Com sono e cansado devido a competição da noite anterior, Hugo levantou e tomou um banho. Sua casa era simples, mas estava localizada em um bairro conhecido. Na realidade, ele precisou vender a antiga residência dos pais, pois não conseguia pagar as contas. Com isso, Hugo comprou um lugar menor e usou o dinheiro para pagar as despesas médicas do pai.

No domingo, os idosos do asilo podiam sair com os filhos para passeios leves. Geralmente, Hugo levava o pai para passear em alguma orla e tomar um sorvete. Não existia luxo, mas o amor transbordava. Às 15 horas, o skatista já estava em frente à 'Residência do Aconchego'.

A saúde do seu Horácio andava debilitada, entretanto, o idoso possuía a liberação médica para sair por três horas. A equipe do asilo acreditava que a aproximação da família era fundamental para a saúde dos idosos.

— Oi, pai. — Hugo se abaixou para cumprimentar Horácio, que estava em uma cadeira de rodas. — O senhor está bem? — questionou. E seu Horácio tocou no rosto do rapaz.

— Oi, Gael. Você está muito bonito com esse casaco verde. — Horácio parecia mais confuso a cada dia.

— Vamos? — Hugo levou o pai na direção de uma pracinha.

O oceano imponente se estendia à frente de César. Depois do almoço, o empresário decidiu tomar banho no mar e escolheu um clube que ficava em uma das praias mais bonitas de Búzios. Com um suspiro de contentamento, ele ajustou a sunga e avançou em direção às ondas, sentindo a água fresca roças em seus pés.

À medida que as ondas quebravam suavemente sobre seus tornozelos, César sentia a energia revigorante do mar ao seu redor. Com cada passo adiante, sua empolgação crescia, até que finalmente se entregou totalmente às águas.

A sensação da água envolvendo sua pele era divina. Ele mergulhava suavemente na água cristalina, submergindo por um momento antes de emergir, com os cabelos molhados e os olhos brilhando de alegria. O mar o envolvia como um abraço caloroso, e ele deixava-se levar pelas marolas, flutuando graciosamente na superfície.

Após alguns mergulhos e caldos também, César pegou os seus pertences no armário. Seguindo em direção ao hotel, ele precisou parar em um semáforo. Foi quando viu Hugo, que lutava para tirar a cadeira de rodas do pai de um buraco. César ficou furioso, pois várias pessoas passavam pelos dois e ninguém se dispôs a ajudar.

De uma maneira brusca, o empresário entrou no estacionamento de uma farmácia e saiu para ajudar o funcionário.

— Precisa de ajuda? — perguntou César, pegando no ombro de Hugo que ficou assustado.

— Sr. Trajano, eu...

— Relaxa, Martins. Eu estava passando pela região e te vi. O que houve?

— Essa porcaria de roda engatou nesse buraco. Quase o meu pai caiu. — desabafou Hugo, indignado.

— Tudo bem. Podemos levantar juntos, ok? No três. — disse César, segurando o lado direito da cadeira de rodas, enquanto Hugo o lado esquerdo. — 1, 2 e 3. — os dois levantaram juntos.

Sem muito esforço, eles livraram a cadeira de rodas de Horácio do buraco. Com muita vergonha, Hugo tentou despistar César, que convidou pai e filho para tomar um café da tarde em algum restaurante. Mesmo com as recusas, Hugo percebeu que a roda havia sido comprometida e topou a carona.

Através do celular, o empresário colocou o endereço de um café aleatório que achou na internet. O empreendimento estava localizado próximo a Praia João Fernandes, outro ponto bastante famoso de Búzios. Ao olhar o local, Hugo se desesperou e pediu para buscarem outra opção mais barata.

— Hoje é por minha conta, Hugo. Onde peguei vários drinks gratuitos no Bar do Lopez. — disse César, que olhou pelo retrovisor e apelou para a sensatez de Horário. — O que o sr. acha de um cafézinho?

— Eu amo café, Gael. Quando a gente era jovem sempre vinha para a praia João Fernandes. Era o melhor 'point' para paquerar os brotinhos. — soltou o idoso que fez Hugo e César sorrirem.

No café, eles tiveram um bom momento. Apesar das debilidades, o Seu Horácio contou histórias de sua infância e de como conheceu a esposa. As memórias pareciam borrões na mente do idoso, porém, continuavam lá. Eles pediram lanches gostosos e o idoso ficou apaixonado por um doce de banana.

— Eu falei para a Margarida, que — a expressão do seu Horácio mudou e ele começou a bater os dedos na mesa. — quem são vocês? — olhando em volta. — Onde estou?! — elevando a voz e chamando a atenção de algumas pessoas.

— Pai, por favor. — Hugo se levantou e pegou nas mãos do pai. — César é melhor a gente ir.

— Onde estamos, Gael? Cadê a Margarida?! — quis saber o idoso, batendo os dedos na mesa.

— Horário, — César intervém e entrega uma bolinha antiestresse para o pai de Hugo, que começa a apertar o objeto. — tá tudo bem. Estamos te levando para a casa.

Com a ajuda de César, o idoso se acalmou e eles seguiram para o asilo. Hugo entregou o pai e avisou ao médico responsável sobre o surto da vez. Ao sair, o skatista foi surpreendido pelo chefe que continuava o esperando no estacionamento.

Cansado, Hugo entrou no carro e avisou o endereço de sua casa para César. Eles seguiram o trajeto em silêncio e pelo retrovisor, César repassou que Hugo estava chorando.

— Ele sempre fez isso? — perguntou César, que não tirou os olhos do caminho.

— É uma roleta russa. O primeiro surto dele aconteceu na universidade. O papai tirou a roupa e gritou que estava pegando fogo. Eu só estou cansado de vê-lo definhar. É muito difícil, cara. — confessou Hugo, limpando as lágrimas.

— Eu sinto muito, Hugo. Não é fácil. — afirmou César, olhando no GPS e estacionando o carro. — Chegamos.

— Eu preciso ir, chefe. Obrigado. — saindo do carro bruscamente e batendo a porta.

— Hugo... — a voz de César saiu fraca e, provavelmente, Hugo nem escutou.

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Comentários

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Maravilhosa história, uma lição de amor e carinho por favor continue esse conto maravilhoso..💓💓💓😍😍😍

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Maravilhosa história, uma lição de amor e carinho 💓💓💓😍😍😍

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