CAPÍTULO IV
*** GUSTAVO FORTUNA ***
Olho para o papel em minhas mãos lendo-o pela quarta ou quinta vez. Eu odeio quando Rodrigo está certo, mas o diabo no cartaz me faz ter vontade de rir, e, não consigo evitar me perguntar se é assim que o homem realmente me vê.
Parei em sua porta determinado a conversar com ele, ouvi-lo e fingir que me importo o suficiente para diminuir a animosidade que ele, claramente, acredita existir entre nós. Mas a porta foi aberta antes que eu tivesse a oportunidade de bater e a surpresa, ao se deparar comigo ali, ficou evidente em seus olhos arregalados e na repetição das ações de hoje pela manhã.
Bastou me ver para que ele desse passos apressados para trás, e, com os braços ocupados, atrapalhou-se, tropeçou, e deixou que tudo caísse no chão. Seguindo meu plano de me mostrar amigável, fui rápido em me por de joelhos para ajudá-lo e estranhei que ele não espelhasse o gesto, afinal, essa é a sua casa e esses são seus papéis.
Eu não pretendia ler o que estava escrito, mas a imagem do imenso diabo obrigou-me a fazê-lo e as palavras ali impressas eram tudo, menos o que eu esperava encontrar. O homem que parece, cheira, e, provavelmente, tem gosto de problema, está pronto para causar exatamente isso, problemas, e ao invés de me sentir abalado e preocupado com a descoberta, tenho apenas vontade de sorrir.
Ergo meus olhos lentamente, aproveitando a oportunidade, passeando-os por cada centímetro do seu corpo que alcanço. As pernas longas, de coxas grossas, estão menos expostas do que essa manhã, mas ainda são um verdadeiro banquete para o olhar.
Os quadris largos atiçam minha imaginação, porque quero saber qual é a sensação de apertar minhas palmas contra a carne macia, afundar meus dedos nela antes de deslizá-los para baixo, e apertar sua bunda deliciosamente redonda.
Pela segunda vez em menos de cinco minutos, a visão dele me tira dos trilhos. Eric é lindo, incontestavelmente gostoso e, assim que vejo seu rosto, entendo o porquê de ele não estar ao meu lado, recolhendo os próprios papéis. Seus olhos injetados, lábios entreabertos e bochechas coradas deixam claro o quanto minha presença lhe afeta, e a percepção me deixa a ponto de me levantar e mostrar a ele que posso, quero e vou fazer muito mais do que isso. Mas, embora eu queira, e muito, como os papéis em minhas mãos evidenciam, eu não posso, e eu não vou.
Com uma expiração profunda, me levanto e estendo as folhas que reuni na direção dele. Depois de piscar algumas vezes, ele os recolhe e abraça-os junto ao peito, como se, assim, pudesse esconder seu conteúdo de mim. Bem, tarde demais para isso, lindo.
— Um Diabo, hein? -pergunto, tentando soar divertido com suas intenções: ͞ Não é essa a impressão que eu costumo causar nos homens... -Uma de suas sobrancelhas se ergue, seus lábios formam um bico desdenhoso, e eu quero, quase desesperadamente, agarrá-lo aqui mesmo, e mostrar para ele que desprezo é a última coisa que ele sentiria se eu fizesse o que tenho em mente.
— Ah, eu sei! Eles costumam te chamar de muitas coisas..., deus, inclusive... -responde ácido, e eu franzo minhas sobrancelhas, antes de finalmente entender. Fecho os meus olhos, deixando o entendimento da informação obvia me atingir. Eu já imaginava, mas, por alguma razão, agora que ele tem um rosto, a confirmação não me traz nenhum tipo de satisfação, só incômodo. Ele me ouve. Todas as noites, assim como eu o ouço, ele me ouve.
— Você também me ouve... -sussurro mais para mim do que para ele, mas Eric é rápido em responder...
— Mas é claro que eu ouço! Provavelmente, o seu Marcelo, a Laís, e cada vizinho desse andar, quiçá os dos andares de cima e de baixo, também ouvem! -acusa, mas não parece irritado com isso, parece, apenas, desesperado para se apegar a algo com que possa me atacar, e perceber isso só me diz que ele está ainda mais afetado do que achei que estivesse, e porra! Eu sou um filho da puta, mas isso me dá uma satisfação sem tamanho, uma que eu ainda não estou disposto a abandonar, por isso, não preciso pensar muito sobre quais serão minhas próximas palavras.
— Bom, você também não é exatamente silencioso... -devolvo, falsamente despretensioso, mas atento a cada centímetro do seu rosto, e quando ele reage, me parabenizo por isso. Suas sobrancelhas se erguem e seus olhos se arregalam, sua pele ganha um tom levemente avermelhado, els engole em seco e passa a bater o pé no chão involuntariamente.
— O quê? -solta de uma vez, genuinamente surpreso que eu tenha dito o que disse, porque não pode ser com o fato de que eu o ouço. Se ele me ouve, precisa saber que o processo inverso também aconteceria.
— Eu disse... -começo, olhando em seus olhos: ͞ Que você também não é exatamente silencioso... Mas eu realmente não tenho nenhuma reclamação sobre isso... -sussurro a última parte, provocativamente, e sua respiração fica suspensa. Os círculos amarelos de seus olhos quase somem, de tanto que os esverdeados crescem, e seus lábios se entreabrem em surpresa. Ele pisca, e então, balança a cabeça para um lado e para o outro, e como se o gesto tivesse afastado a névoa de desconcerto que havia em seu olhar, ele se torna duro e enraivecido, eu diria.
— Você tá me chamando de barulhento? -questiona, me olhando estreitamente e com a cabeça levemente inclinada para o lado: ͞ Você? Logo você? Que me rouba horas preciosas de sono todas as noites, tem a audácia de me chamar de barulhento? Isso é algum tipo de piada?
Seu queixo empinado e postura afrontada, e, ao mesmo tempo, de afronta, transformam meu rosto, fazendo-me sorrir, o que serve de combustível para a irritação dela: ͞ Por favor, glorioso senhor, todo poderoso, me ilumine! Que tipo de barulho tão incomodo eu faço pra você?
— Eu nunca disse que eles me incomodavam, Eric... respondo, meneando a cabeça e colocando as mãos nos bolsos, ansioso para que ele comece a fazer as perguntas certas e para ver sua reação às minhas respostas, já que els realmente parece ainda não ter entendido do que eu estou falando.
— Vo... Você sabe meu nome? Como isso é possível? E é claro que eu não te incomodo! EU. NÃO. FA. ÇO. BA. RU. LHOS! -sibila. Ergo uma sobrancelha questionadora e debochada.
— Sei seu nome, porque depois de você quase colocar minha porta abaixo essa manhã, e, depois, sair sem me dizer mais do que uma palavra, precisei descobrir, o que nos leva ao fato, ah, mas você faz... Você realmente faz... Aliás, como um relógio... Como você acha que eu soube quem você era assim que ouvi sua voz?
— Do que diabos você tá falando? Meu Deus, eu não te conheço! Eu nem sei seu nome, e eu não quero falar com você! Como foi que nós chegamos a isso? -faz a primeira pergunta em voz alta, mas as seguintes saem tão baixinhas que eu me pergunto se eram dirigidas a mim, ou a ele mesmo. Algo fácil de perceber sobre Eric é que ele não tem muito controle sobre as próprias emoções e reações. Eric é o tipo de cara que te atira um prato na cabeça se você se esforçar muito para tirá-lo do sério.
Percebo que enquanto eu admirava os efeitos da fúria e do óbvio desconforto que estar perto de mim causa em seu rosto e colo, o silêncio se estendeu entre nós e sua expressão demonstra uma insatisfação cada vez maior em continuar esperando que eu o responda. Não resisto, aproximo meu rosto do seu, não deixando-o tão próximo quanto eu gostaria, ou quanto estivemos hoje mais cedo, mas o suficiente para que eu possa admirar cada detalhe da aureola amarelada que circula seus olhos, ele enrijece, mas não se afasta. Encara-me, desafiando-me a acabar com o espaço que existe entre nós e eu tenho certeza de que se eu tentasse, ele me estapearia o rosto sem pensar duas vezes.
— Meu nome é Gustavo, aliás... -Digo e seus olhos se desviam dos meus em uma atitude de desdém, cansaço, e seu eu tivesse qualquer dúvida sobre cruzar ou não a linha que atravessarei ao dizer o que pretendo, elas acabariam exatamente no momento em que Eric me desafia com sua indiferença: ͞ Dos seus gemidos! - sussurro. Seus olhos quase saltam para fora, imediatamente, convidando-me a mergulhar neles, um convite que tenho uma dificuldade imensa em recusar, mas o faço. Seus lábios se entreabrem, soprando ar morno na minha direção, e eu quero tanto saber que gosto ela tem, que minha boca seca.
— O quê? -questiona, virando o rosto levemente, precisando de uma confirmação de que entendeu certo.
— Todas as madrugadas, as três da manhã... Você não tem ideia do que isso faz comigo... Toda maldita noite! -Me pego sussurrando a última parte, precisando que ele saiba, mesmo que não tenha ideia do quanto ou há quanto tempo.
— Você... Você... Você não pode sair por aí dizendo isso pras pessoas! -acusa em uma voz fraca e sussurrada, que não convenceria ninguém de que o sentimento que a percorre é realmente raiva. Volto a passear meus olhos pelo seu corpo, mas é logo a primeira parada que os prende.
Seus mamilos rígidos, apontando na camiseta fina, fazem eu morder o lábio, imaginando a sensação de passear a língua por eles, e depois chupá-los. Engolindo em seco, subo meu olhar, encontrando, outra vez, seus olhos verdes, e ele parece tão pressionado a se aproximar de mim quanto eu estou de me aproximar dele: ͞ O que você está fazendo aqui? O que você quer de mim, Gustavo? -Meu nome em sua boca soa... porra! Perfeito!
Começo a me perguntar se em algum momento vou ser capaz de manter uma conversa com esse homem sem imaginá-lo em posições diferentes enquanto geme meu nome. Expiro com força, encarando-o, desejando-o, dizendo para ele com meu olhar o quanto basta que ele diga uma única palavra. Vejo o entendimento em seu olhar, assim como o desejo e a determinação em limitar nosso contato a isso, desejo e reconhecimento, ele não vai ceder, não facilmente...porra...
— Eu acho que já ficou claro o que eu quero de você, Eric... Assim como já ficou claro que você quer a mesma coisa... -Dou um passo a frente, tornando ainda menor o espaço que nos separa e ele arfa. Mas se mantém firme, só que, agora, eu já não tenho mais certeza se do que me atingirá se eu acabar com a distância entre nós, sua mão ou sua boca, sei o que gostaria que me atingisse, apenas. Sua respiração descompassada e seus olhos vidrados não me dão nenhuma pista sequer. Tudo o que sei é o que o seu corpo me diz, que ele me deseja tanto quanto quer me odiar: ͞ Você não gosta de mim... -afirmo e, imediatamente, em silêncio, minha cabeça completa “mas seu corpo gosta...”
— Não! Não gostava antes de saber quem você é, e gosto ainda menos agora que sei. -Lambe os lábios, umedecendo-os e, assim como fiz hoje pela manhã, acompanho o movimento de sua língua sem qualquer tipo de pudor. Ele não perde a minha atenção e suas próximas palavras deixam claro que a parte dele que está saindo vitoriosa não é aquela que eu gostaria: ͞ Então, por favor, vai embora, porque eu tenho mais o que fazer! -Sua voz diz cada uma dessas palavras de maneira firme e imponente, mas seu corpo, ah, seu corpo. A conversa da qual ele participa é uma completamente diferente.
— Espalhar esses cartazes, eu imagino? -questiono, fazendo sinal com a cabeça para os papeis fortemente abraçados e, provavelmente, já amassados.
— Não é da sua conta! -diz, entredentes. Estreito meus olhos para ele. Isso, definitivamente, não está indo como planejei, e essa é toda a maldita porra do problema. Porque a cada vez que ele me desafia, eu quero dobrá-lo. E esse é um caminho perigoso. Penso em Rodrigo, meu irmão me mataria. Sim, ele me mataria, mas, se analisarmos friamente, foi ele quem mandou eu me manter por perto e disse que a isso havia ficado pessoal para Eric, ele estava certo. Só estava errado quanto a forma de resolver isso.
Sorrio. Um sorriso de “eu sei o que você está pensando, porque seu corpo me diz em alto e bom som”. Eu não estava louco essa manhã quando fui atingido por aquelas sensações ao tocá-lo. E, agora, eu sei que foram exatamente as mesmas que o atingiram. Só que enquanto eu as acho bem-vindas, o cara a minha frente, claramente, está apavorado com elas. Por quê?
Não preciso pensar muito. O motivo pisca em minha mente, levando do meu rosto o sorriso. O namorado. Ele tem um namorado.
— Seu namorado está em casa?
— Namorado? -pergunta com as sobrancelhas franzidas.
— Noivo? Esposo? Companheiro? Amigo Colorido? -sugiro diferentes opções quando, a cada uma que escuta, ele parece mais perdido sobre o que estou falando: ͞ O cara que provoca seus gemidos? -digo, por último, sem poder acreditar no que seu desconhecimento está sugerindo, e, contra o meu bom senso, sentindo uma animação crescente.
Seus olhos se arregalam outra vez e ele arfa.
— Ai, meu Deus! Outra vez isso?! -diz, irritado.
— Nós paramos de falar deles?
— Você não pode me dizer esse tipo de coisa!
— Mas você me disse exatamente esse tipo de coisa! -rebato: ͞ Não me diga que você é do tipo dois pesos, duas medidas?
— Mas o que eu disse era verdade! -Silaba, e eu ergo minhas sobrancelhas enquanto um sorriso de canto de boca surge em meus lábios.
— E você acha que eu estou brincando? -questiono, baixo, e seu corpo estremece levemente: ͞ Eu não estou, Eric... cada palavra do que eu disse é verdade, e, se não fosse, como eu saberia que você ri depois de gozar?
É instantâneo, ele foge, definitivamente, horrorizado com a constatação de que estou dizendo a verdade, me deixando intrigado. Como ele poderia achar que eu não ouviria?
— Parceiro! -diz, apressadamente, e meu rosto deve espelhar minha confusão, porque ela continua: ͞ Meu parceiro não está em casa! Foi o que você perguntou, certo? -meneio a cabeça, desconfiado.
— E como isso é diferente de um namorado? -Cruzo os braços na frente do corpo e não perco o olhar que Eric dá ao movimento, acompanhando a flexão dos músculos para se encaixarem na nova posição. Ele morde os lábios e, depois, sacode a cabeça rapidamente, como se lembrasse de que não deve fazer isso, e, então, volta a me olhar com firmeza. Rio, incapaz de me impedir, e a raiva em seus olhos aumenta.
— Isso não é da sua conta, e se você já acabou o que quer que tenha vindo fazer aqui, tchau, porque, até onde eu sei, esse apartamento ainda é meu. -Ensaia dar um passo à frente, mas, ao se dar conta de que isso vai deixá-lo muito próximo de mim se eu não me mover, exatamente o que pretendo fazer, ele para.
— Com licença? -pede entredentes.
Arrasto meus olhos para baixo, encarando os papeis agarrados em seu peito, demorando-me ali, antes de voltar a encará-lo.
— Você sabe que não pode mais espalhar isso por aí, certo? questiono, e ele finge-se de desentendida: ͞ Você foi esperto o suficiente pra saber que precisava fazer isso anonimamente, e, bem... Parece que o anonimato acabou...
— Eu realmente não gosto de você! -quase rosna e eu sorrio, antes de dar passos para trás, deixando seu apartamento sem desviar meus olhos dos seus.
— A gente se vê, Eric... -A porta bate a centímetros do meu nariz, e eu gargalho. Ando na direção do meu apartamento, já tirando o celular do bolso e discando o número de Rodrigo. Ele atende no segundo toque.
— Conseguiu falar com ele? -São as primeiras palavras que diz.
— Boa tarde pra você também, Rodrigo...
— Deixa de conversa fiada, Gustavo! Nós passamos a manhã inteira juntos e a minha tarde vai ser ótima se você me disser que conseguiu falar com o cara e resolver o problema.
— Bem, então eu lamento informar, mas a sua tarde vai ser meio boa, porque eu falei com o Eric, mas não, eu não consegui resolver nada. Você estava certo de todas os jeitos errados... Ele está disposto a criar problemas, isso se tornou pessoal pra ele e, não, ele não quer conversar sobre isso com o CEO da GAF...
— Puta que pariu! Era o que eu temia, isso pode dar merda, Gustavo! Isso pode dar uma merda gigante!
— Relaxa, irmão! Eu tenho um plano!
Que plano?
— O seu! Me aproximar dela e impedir que o homem faça qualquer loucura.
— Gustavo, não foi isso que eu sugeri... Esse tipo de aproximação foi exatamente o que eu disse pra você não tentar, eu disse, com todas as letras possíveis pra você deixar a porra do pau dentro das calças! -Gargalho.
— Irmão, é como você disse, as coisas ficaram pessoais, e eu não conheço nada que seja mais pessoal do que sexo...
— Gustavo...
— Relaxa, Rodrigo, eu sei o que eu estou fazendo!
— Eu realmente espero, porque se você fizer merda e tudo isso for pelos ares, eu me demito e você vai ter que lidar com o Miguel sozinho! E as gêmeas ficam com você no final de semana que vem. -Despeja tudo sobre mim e desliga o telefone sem nem mesmo me dar tchau. Mas, ainda assim, deixa um sorriso em meu rosto, porque ele não ter tentado me impedir, é quase como ter me dado sua benção. Rodrigo sempre foi o sensato de nós dois e, muitas vezes, por mais que eu nunca vá reconhecer isso em voz alta, foram seus conselhos que me salvaram de me meter em grandes problemas.
— Você não perde por esperar, Eric... -murmuro para mim mesmo enquanto desabotoo a camisa, me preparando para minha corrida diária.
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*** ERIC VIANA ***
Jogo o corpo no sofá, sentindo-me exausto, tão abalado por uma conversa que não levou nem mesmo dez minutos, como imagino que estaria por uma luta corpo a corpo. Por quê? Por que eu precisava reagir tão intensamente à presença e à proximidade desse homem? Mas é óbvio que aconteceria! Se ele era capaz de me deixar melado a 6 andares de distância, sem me olhar, sem que eu pudesse sentir seu cheiro, o calor do seu corpo, ou do seu hálito, é claro que estar tão perto dele faria miséria de mim. Afinal, não era com isso que eu sonhava?!
Os sonhos! Deus, eu espero que eles parem de uma vez por todas agora, porque eu não suportaria ter que continuar a vê-lo todas as noites. As noites, oh céus! Ele me ouve! E como? O que ele ouve? Se eu nem mesmo sabia que fazia barulhos? Meu Deus! Eu gemo por ele, para ele, para aquele maldito vizinho fodedor! Eu não posso acreditar nisso! Quão azarado um gay é capaz de ser, em? Logo eu? Crente e devoto de uma quantidade tão grande de santidades?
Minha nossa senhora das gays que passam vergonha no crédito, porque não tem mais saldo em conta para passar no débito, ajudai-me. Mas tê-lo tão perto... tão... tão perto... Ter aquele cheiro maravilhoso assaltando meu nariz, aquela barba loira e cheia provocando minha imaginação, aquele olhar me devorando inteiro sem nenhum pudor, quer dizer, que tipo de pessoa olha tão descarada e lascivamente para um completo desconhecido quando o tal desconhecido está diante de si?
Gustavo, Gustavo faz esse tipo de coisa. E a cada passo que ele dava na minha direção, meu corpo parecia receber uma gota a mais de um forte paralisante, e eu me sentia exatamente como nos meus sonhos, quando tudo o que eu conseguia fazer era olhar para ele e apreciar cada pedacinho daquele corpo enquanto ele me torturava, despindo-se lentamente.
Basta pensar na palavra despir para que imagens dele sem camisa, deslizando a bermuda por aquelas coxas duras e musculosas encham minha mente e eu, imediatamente, abro os olhos, que nem mesmo tinha me dado conta de ter fechado, até agora, recusando-me a ser vencido, mais uma vez, por esse homem. Chega! Duas vezes por dia são o meu limite e ele já está para lá de ultrapassado.
Encaro os papéis aos quais estive agarrado nos últimos minutos, agora, soltos sobre o colo. Inúteis, agora eles são inúteis. Tanto esforço e tempo dedicado para encontrar uma possível solução, para nada, para que em uma visita inconveniente, que é tudo o que aquele homem sabe ser, o infeliz colocar meus planos abaixo.
Deito a cabeça para trás, no encosto do sofá, e volto a fechar os olhos. Levo as mãos ao rosto, esfregando-o, a ardência em meus olhos anuncia o que está por vir e, em segundos, lágrimas molham minhas bochechas. Esse é o problema com a esperança. Ela é poderosa e um dos maiores agentes de transformação que existem, mas também pode ser um incrível agente de devastação quando arrancada de nós, e, para mim, esse processo sempre foi ainda mais difícil.
Administrar expectativas nunca foi meu forte. Se as crio, não tenho dose ou medida, deixo que cresçam desenfreadamente e tornem-se gigantes, monstros que se alimentam de todo e qualquer sentimento que possa provocar calma e tranquilidade. Das coisas mais complicadas, às mais banais. Por exemplo, se marco de tomar um sorvete com alguém e essa pessoa desmarca em cima da hora, fico frustrado, é mais forte do que eu, porque eu planejei aquilo, esperei também, e, como num passe de mágica, tudo ruiu.
É por isso que a perda do apartamento me dói tanto. Porque foram anos criando e alimentando expectativas do grande momento em que ele seria todo e oficialmente meu. Fiz planos, desejei coisas e sacrifiquei inúmeros outros desejos e vontades em prol desse. Eu não estaria preparado para perder qualquer que fosse o desejo no qual eu tivesse investido tanto tempo e dinheiro, mas, a perda desse, especificamente, está me doendo demais. Sentado no sofá, enquanto deixo que as lágrimas deslizem pelo meu rosto, com um dos meus braços cobrindo os olhos, o toque do meu despertador soa no meu bolso e eu o amaldiçoo silenciosamente, porque sei exatamente do que se trata.
A música anuncia aquela que, até ontem, eu considerava ser a melhor hora do meu dia, e que, agora, é só uma lembrança do quão trouxa sou capaz de ser. Levanto os quadris, fazendo com que a pilha de papéis em minhas coxas deslize e se espalhe em uma completa bagunça pelo chão, o que só me deixa mais irritado. Desligo o despertador e jogo o celular no sofá, de qualquer jeito.
Sinto-me quase sufocar com a vontade, necessidade de odiar esse homem que invadiu minhas fantasias e, agora, ao revelar-se, tem destruído meus sonhos literal e figurativamente. E, pelo qual, ainda assim, eu me sinto tão atraído, a ponto de temer que em algum momento não serei mais capaz de resistir se ele continuar agindo da maneira que age.
Afinal, há menos de vinte e quatro horas senti seu toque de verdade pela primeira vez, agora, quase sinto que preciso dele.
Inspiro e expiro profundamente várias vezes, na tentativa de me acalmar, porque sei que preciso ser racional se quiser alguma chance de resolver isso. Eu não faço ideia de como, mas em algum lugar, há uma solução para o meu problema que não seja simplesmente me conformar. Com os olhos fechados, deixo que os minutos se arrastem e levem com eles a ansiedade, e deixando para mim apenas aquela sensação pesada no peito, de que algo ruim aconteceu, mas sou impotente quanto a isso.
Impotência. Deus, como eu odeio senti-la. Passo a língua sobre os lábios e imediatamente e um olhar esverdeado se ascende diante das minhas pálpebras cerradas. A forma como o cretino acompanhou cada movimento da minha língua quando fiz isso mais cedo... Bem, uma coisa precisa ser dita sobre Gustavo... Gustavo... testo o nome em minha língua, em voz alta, ouvindo-o em minha própria voz e sentindo um prazer estranho em dizê-lo. O vizinho pervertido agora não só tem rosto, como tem nome, e minhas fantasias em suas mãos.
Balanço a cabeça de um lado para o outro. Ele é direto, preciso reconhecer. Mais do que qualquer um que eu já tenho conhecido, até mesmo que eu. Quer dizer, ele se comportou como se estivéssemos em uma balada e precisasse deixar claro quais eram as suas intenções comigo, foi quase inapropriado. Você não diz, na porta de uma pessoa que conhece há menos de vinte e quatro horas, que a ouve gemer há dois meses, você não diz que a quer, você não invade pessoal dela, deixando claro que entende o quanto a afeta. Você não... Mas Gustavo, definitivamente, sim.
Mas o que é que eu estava esperando? Um homem que dorme com uma pessoa a cada noite, não é exatamente alguém que busca compreensão ou profundidade emocional. Gustavo fode, e, por algum motivo, entrei em seu radar, assim como ele entrou no meu.
Se ele não fosse o maldito CEO da empreiteira seria tudo tão mais fácil para a minha libido descontrolada. Eu poderia, facilmente, ignorar o fato de que ele é um comedor e transar com ele, quer dizer, por que não? Nós dois somos adultos e vacinados, cientes de que a única coisa a sair de qualquer tipo de relação que tenhamos serão orgasmos, ficaria tudo bem. Mas o que eu não posso e não vou, de jeito nenhum, é me envolver com alguém que está tentando roubar minha casa de mim.
Tiro o braço de cima dos meus olhos, e, direcionando-os para baixo, fixo meu olhar bem no meio das minhas pernas.
— Não vamos! Ouviu, Seu João?! Você deixe de ser assanhado! Se você quer transar, ótimo! Vamos transar hoje, mas, definitivamente, não com ele!
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— O que você quer? -solto ao abrir a porta e encontrar, pela segunda vez, hoje, Gustavo, agora, com o peito nu, vestindo apenas um short de pijamas, os cabelos molhados, um sorriso estampado no rosto, e uma xícara vazia nas mãos.
Um sorriso cafajeste que eu começo a acreditar ser uma marca registrada sua se espalha pela boca de lábios grossos e rosados.
— Uma xícara de açúcar? Por favor? -Estende o objeto para mim com uma carinha de cachorro abandonado e eu fico dividido entre apreciar a maldita expressão pedinte, e me sentir incrédulo sobre a cara de pau desse homem. Felizmente, é meu bom senso quem vence a batalha interna e eu escolho a segunda opção.
— E você achou, de verdade, que seria uma boa ideia vir pedir justamente pro cara que te disse que não gosta de você pelo menos umas 300 vezes hoje? -questiono, tentando, com todas as minhas forças, fazê-lo entender que eu o quero longe de mim.
Faz um som de descrença com os lábios, me dirige um olhar de “sério?!” e tudo o que sou capaz de fazer é observar, como se eu fosse a plateia do espetáculo de interpretação artística performado por Gustavo, porque uma coisa se pode dizer sobre esse homem, duas, aliás. A primeira, o filho da mãe é gostoso demais, eu nem sei por qual santa chamar, e preciso de um esforço imenso para manter meus olhos no seu rosto, quando tudo o que eles querem é deslizar por sua pele morena e devorar a visão que é o corpo enorme seminu.
Deus, está calor aqui, né? Onde eu consigo um ar condicionado, um ventilador, um balde de gelo, um leque? Qualquer coisa! Qualquer coisa que abaixe a temperatura infernal desse apartamento! E a segunda, qual era a segunda mesmo? Não sei..., me perdi... Ai, Deus! Por que tão gostoso? Por quê?! Isso é tão injusto! Sinto partes muito específicas do meu corpo contraírem, aparentemente, apenas se inundar diante da visão ou dos pensamentos que o maldito me causa, já não é mais o suficiente para o meu corpo, agora, ele precisa de outros tipos de manifestação. Inferno, inferno, inferno!
— Foram só três, eu sei contar, se tivessem sido trezentas, eu não estaria aqui... -Me arranca dos meus devaneios com a piadinha infame.
— Promete que se eu te disser que não gosto de você mais duzentas e noventa e sete vezes você desaparece para sempre? Jura de mindinho? -questiono, com os olhos estreitados e ele gargalha. Inspiro com força, buscando pela paciência que não tenho e começando a me sentir tentado a arremessar um objeto pesado, ou, apenas a xícara que continua estendida na minha direção, em seu rosto, para arrancar dele o sorriso ridiculamente depravado, sexy, gostoso, oh Deus! Lá vamos nós, outra vez!
Não, Eric, não! Foco! Firme! Você consegue! É só um homem ridiculamente grande e que fode como nenhum outro que você já tenha ouvido... Oh céus, o plano não era abstrair? Por que? POR QUE, logo eu, sou obrigado a passar por isso?!
— Se você prometer que até lá vai parar de fingir, talvez possamos fazer um acordo... -sugere e, mais uma vez, sinto-me piscar. Maldito homem quente da porra!
— Huum... curioso! Logo você, falar em parar de fingir? Então, quer dizer que, se eu entrar na sua casa agora e procurar, eu realmente não vou encontrar nem um grão de açúcar?
— Não! Não vai... -responde, desviando os olhos dos meus e, de repente, achando as paredes ao seu redor, o batente e até mesmo maçaneta da porta muito interessantes.
— Sério? Porque a sua porta é logo aqui ao lado, vizinho!
— Tudo bem? Quer saber, eu não vou ficar aqui sendo falsamente acusado, se você não acredita em mim, vamos lá! Declara em um tom tão absurdamente sonso, que é impossível perder sua desfaçatez. Deus, como é sínico! E, enquanto ele abre espaço na minha própria porta e faz uma reverência tosca com o braço para que eu vá na frente, entendo qual é o seu plano e balanço a cabeça, em negação.
— Meu Deus! Você é inacreditável! Qual é o seu problema?
— Inacreditável? Eu? Por que? É você quem tá, repetidamente, duvidando de mim! Eu só quero te mostrar que sou honesto...
— Gustavo, eu não preciso de conhecer mais do que já te conheço, que é nada, pra saber que não existe um único fio de cabelo honesto nessa sua cabeça cafajeste! Me poupe! -brado e ele leva a mão ao peito, como se tivesse se ofendido, então, estreita os olhos, e dá um passo a frente. Instintivamente, dou um passo para trás, e o ar ao nosso redor muda. Ofego, puta merda, puta merda! Maldito, maldito, maldito.
Outra vez, ele invade meu espaço pessoal e anda um passo largo na minha direção. Decido que fugir apenas o estimula, aparentemente, Gustavo é um caçador e minha postura assustada só está alimentando seus instintos cachorros. Permaneço parado, e, repetindo a cena pela terceira vez no mesmo dia, seu rosto se aproxima do meu muito além do que seria aceitável para duas pessoas que não se conhecem, ou que não tem qualquer tipo de intimidade, quando ele abre a boca, seu hálito quente faz mais do que aquecer meu nariz e boca, aquece meu sangue, quase fervendo-o, e eu me pergunto se isso realmente é possível, porque é exatamente como me sinto.
Minha pele se arrepia, e meu corpo inteiro, já em alerta, é impactado pelos efeitos de sua proximidade. Meus mamilos endurecem, e pensar que se ele baixar os olhos verá meus mamilos duros, me deixa puto, e, ao mesmo tempo, faz com que eu queria levar seu olhar exatamente para lá. Esse é o maior dos meus problemas quando o assunto é esse homem. Minha mente quer afastá-lo, meu corpo quer se jogar em seus braços e deixar que ele faça o que quiser.
— Bem, Eric, eu acho que nós dois podemos concordar que o meu problema é você. Não acha? -Rio. Porque a ironia do comentário, assim como a presença de quem o fez, é impossível de se ignorar.
— Eu sou o seu problema? -Questiono, conseguindo imprimir quase nada da afronta que eu gostaria em minha voz: ͞ Da última vez que chequei, vizinho, era você quem queria me expulsar da minha casa, era você quem, continuamente, estava invadindo meu espaço pessoal, foi você que, em menos de vinte e quatro horas, me disse mais coisas inapropriadas do que eu jamais ouvi minha vida inteira... E eu sou o seu problema? Você não acha isso, no mínimo, irônico? -É a vez dele de sorrir.
— Bom, vizinho... -Em seus lábios, a palavra ganha um tom provocativo que jamais deveria ser empregado para dizê-la, mas puta merda! Eu gosto! Gosto tanto que, imediatamente, minha mente viaja para uma realidade em que ele a sussurra em meu ouvido enquanto se mete dentro de mim de novo e de novo, e eu preciso me segurar ao batente da porta para manter minhas pernas firmes: ͞ Eu não vou negar, você realmente tem um ponto... Mas, veja bem como eu enxergo as coisas... Da última vez que eu chequei, você era o homem que me atormentou com a porra dos gemidos mais gostosos que eu já ouvi por dois meses, e que me obrigava a me masturbar noite após noite, mesmo que eu tivesse tido inúmeras rodadas de sexo apenas alguns minutos antes de ouvir você...
Suas palavras atingem meu paj como um chicote, e a vontade de experimentar seu toque se torna tamanha, que me sinto dolorido. Engulo em seco e não preciso de um espelho para saber que, agora, minhas pupilas estão imensas. Respiro ofegante, saber que, ainda que de forma completamente inesperada, as fantasias que venho alimentando há meses não são unilaterais como eu pensava, gira uma chave dentro de mim, e minha santa dos gays inconsequentes! Ela não deveria ter sido tocada. Faço o meu melhor para ignorá-la, para fingir que não sinto, não vejo, o desejo tão duramente contido desde que descobri que o rosto dos meus sonhos e pesadelos é o mesmo, de repente, parece ter tido suas amarras soltas.
— Eu devia me sentir lisonjeado? -Consigo dizer, mas diferente do tom sarcástico que eu pretendia empregar, minha voz sai rouca, baixa, quase sussurrada, e escorrendo tesão.
— Devia! Porque isso não é tudo... Da última vez que chequei, você era o cara que, depois de meses me atormentando sem ter um rosto, quase colocou minha porta abaixo de manhã e me desestabilizou, porque ao invés de me preocupar com os seus motivos, tudo o que eu conseguia fazer era olhar pro seu pijama de seda vermelha minúsculo. Ah, Eric! Da última vez que eu chequei, você era uma pedra imensa no meu sapato, um enorme problema em potencial pra um negócio que pode me custar milhões se não der certo, mas, ao invés de pensar nisso, tudo o que eu consigo pensar quando olho pra você, é no quanto eu quero te foder, e eu só te vi três vezes na vida, porra!
Desisto de tentar controlar minha respiração e abro a boca, expirando livremente por ela, desesperado pelo ar que, repentinamente, me foi roubado pelas suas palavras e pelas imagens que elas invocaram. Deus, esse homem... Eu... Eu simplesmente... Não posso! Porque eu o quero assim, exatamente assim... Minha santa das gays que estão a um toque de abrir as pernas para quem não deveriam, tenha compaixão de mim! Ele dá mais um passo em minha direção, e, agora, estamos separados por um fiapo de nada, o espaço é tão insignificante que, talvez, nem mesmo um fio de cabelo pudesse passar por ele. Fechos os olhos, incapaz de suportar a intensidade do seu olhar, da sua presença, da minha própria fraqueza.
Gustavo não me toca, mas meu corpo queima com suas palavras em um incêndio proporcional ao que me teria sido causado pelo uso de um lança chamas. Ele abaixa a cabeça, e sinto seu olhar em mim, mesmo que não o veja, e, então, lambe os lábios. Sua boca está tão perto da minha que quase sinto seu gosto, seu toque, sua saliva em mim.
— Então, você é sim o meu problema, e eu não sou um homem que deixe pendências pra trás, vizinhi.... -De novo, a palavra em seus lábios faz eu me sentir escorrer, e, não satisfeito, ele me dá o golpe final.
— Me diz, Eric... Você vai gritar? -pergunta com a boca quase colando na minha, umedeço os lábios, precisando ocupar minha língua com alguma coisa que a impeça de se enfiar na boca dele. A pergunta consegue me desestabilizar ainda mais, porque embora eu não faça ideia do que ele está falando, a simples menção a me fazer gritar preenche minha mente de imagens desesperadoramente desejadas, mas ele não acha que elas sejam o suficiente, e continua:
͞ Quando eu te foder naquela parede pela qual você me atormenta há meses? Você vai gritar pro prédio inteiro ouvir que eu estou te comendo? -Arrebenta com violência o último fio que sustentava meu controle e resistência. Completamente rendido, mesmo sem ter nenhum centímetro de sua pele em mim, eu gemo, e, então, ele se afasta, me deixando com um frio súbito e obrigando-me a abrir os olhos. Já do lado de fora do batente da minha porta, o sorriso cretino volta a se espalhar pelos seus lábios, me dizendo que ele sabia, o tempo todo, exatamente o que estava fazendo. Prende-me em seu olhar tempo o suficiente para que a certeza disso se assente em minha mente, coração e estômago, vira as costas e deixa-me aqui. Sozinho, duro, plantado e mais excitado do que nenhuma das suas corridas diárias ou que as nossas preliminares nos sonhos jamais deixaram.
Filho. De. Uma. Puta!
Fico parado, ofegante, lutando para recuperar o controle de mim mesmo por vários minutos antes de conseguir me mover e fechar minha própria porta. Quando isso acontece, há em mim uma batalha gigante acontecendo, o desejo luta contra a raiva crescente e eu não preciso saber quem vai sair vitorioso para não ter dúvidas de uma coisa: essa foi a última vez que ele me paralisou desse jeito, ou eu não me chamo Eric Viana.