Joana era uma garota recatada do interior. Estava no segundo ano do curso de odontologia e mesmo com esse tempo na faculdade ainda não havia feito amigas. Ela era muito diferente daquelas garotas loiras, de belos sorrisos e corpos ardentes. Sempre estava acompanhadas de homens de outros cursos, as vezes até homens muito mais velhos. Ela se importava apenas com curso, não ia festas e muito menos barzinhos. Ela tinha que admitir que no começo negou convites e as poucas vezes que compareceu nessas festas, se arrependeu. Pensava que não era o momento de festejar, ela precisava estudar muito para ajudar sua família.
Seus pais eram pessoas de poucas posses que se esforçaram para manda-la para a capital. Ela tinha um irmão e uma irmã menores. Ela era o exemplo da casa e vivia dessa forma. Um exemplo para todos. Havia deixado Régis, seu namorado na cidadezinha. Ele havia ficado para ajudar a família e se falavam sempre. Seu sonho era terminar o curso, abrir um consultório e se casar. Porém, para Joana as coisas estavam um pouco fora do controle. Era caro morar na capital e ela estava procurando dividir apartamento com alguém. Manter uma quitinete sozinha era custoso, pensava que dividir sairia mais barato. Conseguiu contato com um moça chamada Larissa, que alugava um apartamento e queria dividir o valor.
Era fim de tarde, as aulas já haviam terminado. Ela iria ver o apartamento e conhecer Larissa. Ela sabia que deveria deixar claro que era silenciosa e que queria alguém que agisse da mesma forma. Não procurava amizade e sim alguém fácil de conviver. E principalmente, um lugar limpo. A localização era boa, fácil de pegar ônibus em direção a faculdade em uma via relativamente pouco movimentada e um local seguro. Era perfeito.
O prédio era um pouco antigo, porém bem conservado. Tocou no interfone e uma voz feminina, um tanto melodiosa, atendeu. Subiu usando o elevador, que parecia novo. Tocou na campainha e a porta foi aberta.
- Olá, boa noite! Prazer, sou a Larissa! Entre!
A impressão inicial foi boa para Joana. Larissa parecia uma modelo: tinha cabelos negros longos emoldurando um rosto de queixo marcante e lábios grossos, mas sem exagero. Um par de brincos prateados combinavam com o tom da sua pele. Os olhos azuis claros, talvez fosse a característica mais marcante no seu rosto. Ela era muito bonita mesmo e Joana lembrou das suas colegas de turma. Imaginou se Larissa iria aceitar.
Sentaram em um sofá confortável. Joana olhou para o apartamento, de decoração simples e o mais importante, parecia limpo. Nas paredes quadros de filmes que ela imaginava ser de terror e alguns vasos de plantas aqui e ali, dando mais vida ao local.
- Aceita água?
- Não obrigada. Gostei do apartamento.
- Que bom! Eu quero dividir logo as contas com alguém. Sai muito caro manter um apartamento sozinha, eu sou estagiária e não dou conta. Minha mãe me ajuda alguns meses.
- Sei como é. Quero diminuir meus custos.
As garotas conversavam mais. Joana percebia que Joana a olhava de uma maneira diferente. Ela não sabia o que era exatamente, o que importava é que não era de indiferença. Talvez desse certo. Os assuntos eram variados: de onde cada uma era, a história de vida, sobre o curso que faziam na faculdade.
- Faço odonto. E você?
- Cinema! Futura desempregada!
Ela ria, parecia se divertir. Ela usava um short preto que contrastava com a cor de suas longas coxas grossas e exibia a barriga com um piercing prateado. Usava uma regata que fazia com que destacasse seios médios e era possível perceber o formato de um piercing em seus mamilos. Joana não percebeu esses detalhes pois evitava olhar para o corpo da moça na sua frente. Estava curiosa, porém não queria parecer esquisita.
- Vêm ver o quarto!
Ela se levantou e saiu em frente. Joana relaxou e olhou para as costas de Larissa. Sua cintura fina finalizava em quadris largos e ao olhar rapidamente para o bumbum percebeu que o short não escondia tudo que deveria. Ela sentiu seu rosto ficar vermelho ao pensar que era um corpo muito atraente. Larissa olhou para trás e Joana imaginou se ela percebeu algo.
- Não é grande, mas é confortável. Tem cama, armário e uma mesa pra você estudar. Não tem nada muito sofisticado, mas dá pra você ficar. O que acha?
Era simples e ao mesmo tempo passava conforto. Talvez fosse do tamanho do quarto de sua quitinete, logo seria uma troca similar.
- Eu gostei. Meu quarto é similar.
- Que bom! Eu acho que a gente pode se dar bem. Você parece quietinha, não vai ser uma problema.
- Eu acho que não, gosto de silêncio.
- Eu também. Eu gosto de falar, mas sou tranquila. Quase não recebo ninguém, mas tenho um ficante. Não sei se serve pra namorado, as vezes dorme aqui. É problema pra você?
- Se é as vezes, não tem problema.
- E você, tem alguém?
- Tenho, mas ele mora na minha cidade.
- Que chato!
- Sim, é. Assim que me formar a gente vai ficar junto.
Continuaram com a conversa e perceberam que apesar de um tanto diferentes, possuíam algumas similaridades. Tanto Joana quanto Larissa perceberam que aquilo poderia funcionar e Larissa propôs.
- Você é legal. Quer dividir comigo?
- Quero.
Conversaram mais detalhes sobre como as contas iriam ser divididas, detalhes burocráticos gerais. Enquanto pegava o ônibus, sentiu-se feliz pela oportunidade, iria economizar em um lugar ótimo. Havia insegurança em relação a Larissa, ela se incomodou um pouco com a vestimenta da mulher. Ela parecia querer se exibir e essa demonstração de sexualidade era estranha para Joana. Talvez fosse um pouco de preconceito, pois ela a havia tratado muito bem, com simpatia. Não era um short curto que a faria ser uma pessoa ruim. Porém, aquele bumbum no short era uma imagem que Joana lutava para que desaparecesse.
(continua)