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Keyla:
Quando eu disse à Patrícia que sabia que ela não ia me deixar, não foi querendo ser presunçosa. É que, quando eu a vi ali segurando minha mão, eu senti aquilo. Sou meio impulsiva às vezes com meus sentimentos; se sinto algo, eu falo. Naquele momento, só falei o que senti, e parece que ela reagiu bem ao que eu disse, porque deu um sorriso lindo, mas senti que ela ainda estava um pouco tensa.
Eu não sabia se era por eu estar em uma cama de hospital ou por a gente ainda não ter conversado sobre o futuro do nosso relacionamento. Pensei em falar tudo que estava engasgado na minha garganta, mas não deu, porque uma mulher entrou no quarto. O estranho é que ela olhou para Patrícia, sorriu e perguntou se tinha demorado. Patrícia retribuiu o sorriso e disse que não.
Ela veio até mim e se apresentou. Seu nome era Rita e era médica. Ela me falou que tinha marcado uns exames para mim e que, se eu quisesse, poderia fazê-los ali mesmo no hospital ou em uma clínica e depois levar os resultados para o hospital. A escolha era minha, mas ela disse que no hospital seria mais rápido e de graça. O único problema é que eu teria que ficar ali até a hora do almoço, no mínimo.
Eu queria ir para casa, mas também queria saber logo o que estava acontecendo comigo. Fiquei meio na dúvida e perguntei para Patrícia o que ela achava melhor. Ela disse que saber os resultados mais rápido seria melhor, então concordei com ela. A médica disse que ia avisar uma enfermeira para vir falar comigo, recolher meu sangue e minha urina, e também me levar para fazer os outros exames. Ela perguntou como eu estava me sentindo e eu disse que muito bem. Ela colocou a mão na minha testa e olhou minhas pupilas, disse que eu parecia estar mesmo muito bem e sorriu.
Ela era bem bonita, morena clara, com cabelos negros longos e lisos, olhos verdes. Deu para ver que tinha um belo corpo; vestida de uniforme, ainda era muito linda. Quando ela foi sair, se virou para Patrícia e disse que o plantão dela terminava às 11 e que poderia voltar ali para elas continuarem a conversa, porque ficou muito curiosa. Patrícia disse que podia sim e sorriu.
Não vou negar que, ali escutando o papo delas, eu senti uma ponta de ciúmes. Também fiquei curiosa em saber o que elas estavam conversando enquanto eu dormia. Ela saiu e eu não falei nada, deixei Patrícia à vontade para me contar se quisesse. Ela se sentou do meu lado, pegou minha mão e já começou a me contar sobre o que elas falavam.
Keyla— Ela é bonita, né?
Patrícia— Ela é sim, uma mulher muito bonita.
Keyla— Hum... 🙄
Patrícia— O que foi?
Keyla— Desculpe, mas fiquei com ciúmes dela, amor.
Patrícia— Sério, amor? Você com ciúmes é novidade.
Keyla— Eu sei, mas é que agora eu não tenho mais tanta segurança. Eu errei feio e senti muito medo de te perder. Isso nunca tinha acontecido. Acho que é por isso que fiquei com ciúmes: é insegurança.
Patrícia— Entendi, mas não tem motivos para isso. Ela foi muito gente boa comigo, e eu gostei do jeito dela, mas só isso. Além disso, ela tem um anel enorme de compromisso no dedo.
Keyla— Eu nem reparei se ela usava aliança, mas como eu disse, é só insegurança mesmo, amor.
Ela me deu um selinho e disse que me amava e que, independente do que fosse acontecer com nosso relacionamento, não tinha nenhum interesse na médica nem em nenhuma outra mulher, porque seu coração só tinha espaço para uma pessoa, e eu já preenchia esse espaço.
Nossa, eu quase chorei de alegria ao ouvir aquilo, mas a enfermeira entrou com um potinho e umas agulhas, e minha alegria sumiu. Ela recolheu meu sangue, eu fui ao banheiro, consegui encher o potinho. A enfermeira perguntou se eu conseguia andar tranquilamente e eu disse que sim. Ela me pediu para vestir uma roupa que parecia mais uma camisola de velha e saímos pelo hospital.
Fiz um monte de exames, e uns eu nem sei o que eram. Quando voltei para o quarto, estavam a médica, Cristina e Patrícia no maior papo. Cristina veio me abraçar, conversamos um pouco e a médica veio falar comigo. Disse que, assim que eu me sentisse bem para ir para casa, estava liberada, mas que eu teria que voltar no outro dia para falar com ela. Eu concordei e ela disse que ainda não tinha os resultados dos exames, mas, pela experiência dela e pelo que Patrícia tinha falado, meu problema era emocional. Ela me passou alguns remédios para eu tomar, e a receita já estava com Patrícia.
Depois, ela disse que Patrícia tinha contado a nossa história para ela e que achou muito linda. Torcia muito para que no fim desse tudo certo e que qualquer hora iria à loja fazer compras comigo. Eu agradeci e ela me deu um abraço muito apertado antes de sair, depois de se despedir de Patrícia e Cristina.
Pedi para Patrícia procurar minha roupa para eu vestir e sair dali para ir para casa. Ela disse que a roupa estava no banheiro. Fui lá e me troquei, descemos e Patrícia pagou tudo na recepção. Cristina se ofereceu para me levar de carro. Pedi para Patrícia comprar os remédios para mim. Logo cheguei em casa. Cristina não quis entrar porque tinha que voltar ao trabalho. Disse que era para eu ficar quieta em casa no sábado e só voltar a trabalhar na segunda, se eu me sentisse melhor; se não, era só avisar a ela. Eu disse que provavelmente voltaria na segunda, sim, porque estava me sentindo muito bem, mas iria aceitar o sábado de folga. Nos despedimos e ela se foi.
Logo Patrícia chegou. Eu já tinha colocado ração para Becky e estava só esperando ela para ir tomar um banho. Ela entrou na cozinha e eu fui para o chuveiro. Tomei um banho rápido e, quando saí, vi os remédios em cima da cama. Eram dois e os dois eram para tomar de doze em doze horas. Achei melhor deixar para tomar os primeiros às 19 horas.
Fui à cozinha e Patrícia estava se preparando para fazer um lanche para nós duas. Eu falei que faria e mandei ela ir para o banho, porque tinha acabado de sair do hospital. Ela concordou e foi. Quando ela saiu, eu estava esperando na mesa da cozinha com os lanches prontos.
Keyla— Preciso te falar umas coisas e preciso falar agora, amor.
Patrícia— Amor, deixa para a gente conversar depois. Você não está muito bem.
Keyla— Eu estou bem, e acho que ficar segurando isso dentro de mim esses dias todos acabou comigo. Você não precisa dizer nada, não vou chorar nem nada, só preciso desabafar antes que eu fique doida. Depois você pode falar ou fazer o que quiser, mas, por favor, me deixa falar com você agora.
Patrícia— Se você tem certeza de que está bem, pode falar, amor.
Keyla— Ok.
Primeiro, quero me desculpar por toda dor que te causei, por não te ouvir, por te ignorar, por tudo de ruim que te fiz passar, mas principalmente por ter te feito chorar. Eu realmente sinto muito mesmo.
Não quero que você ache que estou tentando justificar meus erros, pois não estou. Mas eu te juro que não percebi o que estava fazendo com você e com minha vida. Sei que você tentou abrir meus olhos, mas eu não te ouvi. Não sei te explicar, mas estava completamente alienada de tudo ao meu redor. Só dava importância às coisas que tinham a ver com meu sucesso no Instagram. Eu realmente não sei o que houve comigo, mas só vivia aquilo dia e noite.
Eu só acordei para a vida quando li seu texto. Aquilo foi como um tapa na minha cara, um tapa que eu tinha que receber para acordar, e eu acordei. Quando me dei conta do que tinha feito, um sentimento de culpa me consumiu. Tentei consertar as coisas e consegui, mas faltava o mais importante, que era nosso namoro, e não tinha como eu fazer isso porque você não estava aqui e a culpa era minha.
Cada minuto que passei aqui nessa casa sem você foi uma tortura. O medo de você não voltar ou de voltar e não me desculpar crescia a cada dia que você estava longe. Eu não dormia direito, não comia adequadamente; estava doendo muito sua ausência.
Na hora que eu te vi aqui e me joguei nos seus braços, veio um monte de sentimentos tomando conta de mim. Eu juro que tentei parar de chorar, mas não conseguia. Eu queria me desculpar, me explicar, falar com você, mas não conseguia fazer isso. Quando eu parei de chorar, realmente não me lembro com clareza das coisas que aconteceram. Sei que tentei comer ali na cozinha, sei que a gente conversou sobre algo e que deitamos para dormir, mas não sei direito o que houve. Só tenho as lembranças claras depois que acordei no hospital.
Bom, outra coisa: eu não te trai. Nunca passou pela minha cabeça fazer algo assim. O máximo que aconteceu foi a Naty falar de um vídeo com a gente dando um selinho no final. No início, eu não queria fazer. No dia da festa, já pensei que seria uma boa para eu ganhar mais seguidores. Até falei para a Naty que achava que não teria problema em fazer, porque você era de boa e iria aceitar se eu falasse com você. Mas Naty falou que não iria fazer, tentou abrir meus olhos sobre o que eu estava fazendo, mas eu não acreditei nela. Depois te explico isso com detalhes. Só quero deixar claro que não te trai e nem esse vídeo eu pensei em fazer sem te falar. Como já te disse, mesmo alienada e fazendo as besteiras que fiz, eu nunca deixei de te amar. Nunca pensei em ter outra pessoa ou em terminar com você. Quando percebi o que estava fazendo, não tive dúvidas de que o certo a fazer era ficar com você e lutar pelo nosso amor.
Mas eu fiz coisas erradas, sim, várias, por sinal, e você sabe de todas, a não ser o motivo de eu ter colocado senha no meu celular. Não foi para esconder traição nem nada disso. Eu coloquei para evitar uma briga desnecessária. Era o que eu pensava no momento que coloquei, porque nos directs eu recebia muitos elogios e mensagens de carinho, mas também recebia muitas cantadas de homens e de mulheres. Recebia convites para sair, convites para fazer programas, nudez e um monte de besteira. Eu nunca dei atenção a isso, nunca passei meu número para ninguém. Respondia as cantadas com educação, mas deixava claro que tinha namorada. Nudez e propostas sem noção eu só ignorava, mas não bloqueava. Achava que era normal e não queria que você visse para não brigar à toa. Por isso coloquei a senha. Depois de acordar para a realidade, eu sei que isso era totalmente errado, e te peço desculpas por isso.
Não sei qual vai ser sua decisão, mas seja qual for, eu juro que vou respeitar, mesmo que tenha que chorar de arrependimento pelos restos dos meus dias por ter perdido o amor da minha vida por causa de algo tão fútil. Mas se optar por me dar uma oportunidade, prometo voltar a ser a pessoa de antes e nunca mais negligenciar nosso amor.
E só queria te pedir uma coisa: se me escolher, não me peça para me afastar da Naty. Ela foi a única coisa boa que aconteceu nessa história. Talvez seja pedir muito, mas eu realmente queria manter contato com ela.
Perdão, meu amor. Eu sinto muito por tudo, de verdade. Me arrependo amargamente pelo que fiz, pela forma que agi e por ter colocado em risco o que tenho de mais importante, que é seu amor.
Eu te amo muito, muito mesmo, e espero que você me dê uma chance. Por favor, eu realmente preciso de uma chance, só uma.
Bom, era isso que eu tinha para dizer. Agora você pode falar o que quiser que eu vou ouvir em silêncio. Pode perguntar o que quiser que eu vou responder qualquer pergunta com toda sinceridade possível. Não sei o que vai fazer, se vai conversar comigo agora ou depois, isso é com você. Eu já disse o que queria e o que precisava.
Obrigada por me ouvir, e espero que acredite em mim, porque te juro que essa é toda a verdade.
Ela ficou me olhando nos olhos durante todo o tempo. Quando terminei de falar, peguei meu copo de suco e virei de uma vez, estava com a garganta seca, mas me senti aliviada por ter falado tudo que eu tinha para falar e, principalmente, por me desculpar com ela, que era meu maior objetivo.
Agora estava nas mãos dela. Eu não tinha mais nada a fazer, a não ser rezar para ela me perdoar.
Continua…
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper