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Patrícia:
Acordei com uma preguiça enorme no domingo. Parece que Keyla tinha sugado toda a minha energia durante a noite com aquela boca gostosa. Ela tinha acabado comigo. Depois de muito esforço, consegui levantar e ir ao banheiro fazer minha higiene. Quando saí, ela estava sentada na beirada da cama, olhando para o chão. Quando me aproximei, ela me olhou com uma carinha de preguiça.
Keyla— Amor, estou sem forças, você acabou comigo.
Patrícia— Kkkkk, engraçado que eu pensei a mesma coisa quando acordei. Estou morta, você me destruiu. Ainda bem que foi de um jeito prazeroso, kkkk.
Ela começou a rir. Eu estiquei os braços e ajudei-a a se levantar. Ela foi para o banheiro e eu fui fazer um café reforçado, porque com certeza iríamos precisar. Logo, Keyla apareceu e, enquanto tomávamos café, ela pegou o celular para mexer, mas me olhou e travou. Não sabia se mexia ou não. Eu comecei a rir dela e disse que tudo bem, que ela podia mexer no celular na minha frente como fazia antes, que nunca me importei, porque ela só fazia isso quando a gente não estava conversando.
Ela disse que só iria ver se tinha algo das meninas no WhatsApp. Eu disse que tudo bem. Ela abriu o celular e depois fez uma carinha mais fofa, me mostrando um sticker que Naty mandou. Era nossa foto dando um selinho com um coração ao fundo; nossos rostos se movimentavam dando o selinho. Eu não sei como ela fez aquilo, mas eu amei também.
Keyla mandou um texto agradecendo e disse que a gente tinha amado. Logo, caiu um áudio dela perguntando o que iríamos fazer no domingo. Keyla disse que iríamos almoçar com um casal de amigas nossas e provavelmente passar o resto do dia descansando. Naty disse que ainda não tinha nada combinado, mas que provavelmente iria passar o dia descansando, já que a família estava viajando e seus amigos ocupados.
Falei para Keyla convidar Naty para almoçar com a gente. Keyla mandou um áudio convidando-a, mas demorou um pouco a responder e disse que, se pudesse levar uma amiga, ela iria, porque não iria servir de vela para um almoço romântico, não 🤭.
Keyla falou que podia trazer a amiga, sim. Ela disse que iria ligar para tentar convencer essa amiga a sair de casa, já que estava precisando, e que avisaria a gente em meia hora se iria ou não. Keyla disse que tudo bem e perguntou se era só uma amiga mesmo ou se era algo mais. Naty disse que tinha interesse na garota, mas estava indo devagar, já que sabia que ela era lésbica e já tinha dado algumas aberturas para ela.
Naty mandou um texto se despedindo e voltamos para nosso café. Aí, toquei em um assunto que achava meio delicado. Perguntei a Keyla sobre a mãe dela. Ela disse que às vezes trocava algumas mensagens com a mãe no WhatsApp e que só não voltou a nos visitar porque estava trabalhando muito e preferia descansar no domingo, mas que a relação das duas estava até boa.
Aproveitei e toquei em outro assunto. Esse eu queria ver a reação dela.
Patrícia— Amor, você não se arrependeu de apagar seu Instagram, não?
Keyla— Não, amor, aquilo estava me fazendo mal. Ainda nem parei para pensar nisso com calma, mas não me arrependo, não.
Patrícia— Sei lá, é que você gosta muito de tirar fotos, gostava de postar. Seu Instagram tinha um monte de fotos suas. Acho que, se fosse para você usar como usava antes de colocar aquelas fotos, não precisava ter apagado.
Keyla— Sim, eu gosto de tirar fotos, gostava de postar, mas como disse, aquilo me fez mal. Talvez no futuro eu crie outro, mas privado, e vou adicionar só as pessoas que realmente são importantes. Mas do jeito que era, nunca mais eu quero. Na verdade, mesmo que por algum motivo a vida nos separe, eu não vou ter outro daquele jeito. E quanto às fotos, eu tenho todas salvas, amor, não se preocupe.
Patrícia— Entendi, amor. Só toquei no assunto porque vi você com medo de mexer no celular na minha frente e não quero que tenha medo ou deixe de fazer as coisas que você gosta por minha causa. Desde que não atrapalhe nosso relacionamento, acho que não devemos nos privar de nada que gostamos.
Keyla— Às vezes, acho que você não existe. É sério, você é muito perfeita!
Patrícia— Boba, kkkk. Eu só quero te ver feliz e tranquila para voltar a fazer as coisas sem medo, como a gente era antes.
Keyla— É que esse lance me deixou com um pouco de trauma, mas logo passa, amor. Prometo.
Patrícia— Está bem, eu te entendo de verdade!
Terminamos o café e eu fui lavar umas roupas. Keyla deu um trato rápido na casa e começou a preparar os ingredientes para fazer a torta de frango. Aline mandou uma mensagem confirmando que ao meio-dia elas já estariam chegando. Naty tinha deixado um áudio avisando que conseguiu convencer a amiga a ir com ela. Keyla mandou a localização pelo WhatsApp e avisou que o almoço seria às 11:30.
Naty chegou um pouco antes, era umas 11:20, e ligou avisando que estava em frente à casa. Keyla foi abrir o portão para ela guardar o carro. Eu estava terminando de preparar uma salada quando escutei vozes vindo da garagem, e uma voz em específico me chamou a atenção. Mas não podia ser, era muita coincidência. Eu conhecia aquela voz. Era ela, sim. Coloquei a vasilha de salada sobre a mesa e saí pela porta. Quando ela me viu, acho que o susto foi tão grande que ela paralisou.
Eu não podia acreditar, ela estava ali na minha casa, a poucos metros de mim. Estava com os olhos arregalados e a boca aberta. Eu não consegui segurar o riso e fui em sua direção. Keyla e Naty não entenderam nada quando a garota colocou as mãos ao lado do rosto, parecendo incrédula com a minha presença. Falou:
Garota— Paty, eu não acredito que é você!!!
Patrícia— Sou eu sim, Gabi. Estou tão incrédula quanto você, mas sou eu.
Me aproximei dela e nos abraçamos por um bom tempo. Quando nos soltamos, ela tinha algumas lágrimas nos olhos que logo caíram sobre o seu rosto.
Gabi— Eu achei que nunca mais iria te ver. Nem sabia que você estava viva ou morta. Que alegria te ver de novo!
Patrícia— Eu também pensei que nunca mais te veria, mas que bom que está aqui.
Naty— Espera, vocês se conhecem?
Patrícia— Sim, nos conhecemos, Naty, mas fazia quase uns três anos que a gente não se via. Amor, lembra da minha ex que minha mãe me pegou com ela e deu aquela confusão toda? Então, é a Gabi.
Keyla— Sério?! 😳 Agora entendi. 🤭
Gabi— Keyla, por favor, não fique com raiva de mim pela minha reação exagerada, nem de ter abraçado sua namorada. É que eu fui pega de surpresa, mas te juro que não tive nenhuma intenção de desrespeitar você. Por favor, me desculpe.
Keyla— Que isso, não se desculpe. Eu conheço a história e compreendo sua reação, mas vamos entrar porque acho que temos muito papo para pôr em dia.
Naty— Gabi, se você saísse de casa, já teria achado ela. Eu avisei que você estava perdendo muita coisa da sua vida só ficando escondida dentro de casa.
Gabi— Você tem razão. Obrigado por me convencer a vir aqui hoje!
Gabi foi até Naty e deu um selinho nela, abraçando-a. Naty primeiro fez uma cara de assustada, depois olhou em nossa direção por cima do ombro de Gabi e disse um "obrigado" só movendo os lábios. Keyla colocou a mão na boca para não rir.
Entramos para dentro e nos sentamos à mesa. Eu coloquei o almoço em cima da mesa e logo o interfone tocou. Keyla foi abrir o portão e logo apareceu com Aline e Luciana. Foram todos devidamente apresentados e começamos a almoçar. Notei que Keyla puxou bastante papo com Gabi, porque ela parecia um pouco tímida no início. Acho que Keyla queria deixar claro que estava tudo bem. Logo, Gabi ficou mais solta. Conversamos bastante sobre a coincidência de Gabi ter ido parar na minha casa, e Naty explicou para ela que tem um monte de outdoors com fotos minhas e de Keyla espalhados pela cidade, e que provavelmente ela teria visto um se não saísse só para ir à faculdade. Descobri também que Naty mora no mesmo bairro que meu pai e conhece ele e minha mãe de vista.
Quando terminamos de almoçar, Keyla foi ao banheiro do nosso quarto. Eu aproveitei e fui lá falar com ela rapidinho.
Entrei no quarto e esperei ela sair do banheiro. Quando ela saiu e me viu, já abriu um sorriso e veio me abraçar. Me deu um selinho e disse:
Keyla— Já sei o que você vai dizer, mas pode falar, amor.
Patrícia— É meio óbvio, né? Mas vou falar assim mesmo. Você está de boa com essa situação?
Keyla— Quantas vezes você mentiu para mim até hoje?
Patrícia— Que eu me lembre, nenhuma, amor.
Keyla— E quantas vezes você já disse que me ama?
Patrícia— Nossa, eu não faço ideia, mas foram várias, com certeza.
Keyla— Então, eu estou bem com essa situação, sim. Primeiro, que nem você nem Gabi pediram por isso. Foi uma baita coincidência. Segundo, eu duvido que Gabi seja uma pessoa mal-intencionada, pelo que vi dela hoje e pelo que você já me contou. E o mais importante é que você me ama e eu acredito nisso. Então, estou de boa, sim. Eu confio em você e no nosso amor.
Patrícia— Depois eu que não existo! Te amo, neguinha, muito!
Keyla— Também amo você, minha branquinha! Agora vamos voltar para a cozinha, que é falta de educação abandonar os convidados. 🤭
Voltamos para a cozinha. Keyla perguntou se alguém queria sorvete de sobremesa, porque era a única coisa que tinha. Para sua infelicidade, todos aceitaram. Eu queria rir da cara de tristeza que ela fazia vendo seus dois potes de sorvete sendo devorados, mas infelizmente eu não podia rir.
Naty— Keyla, vocês vão fazer algo o resto da tarde?
Keyla— Não, por quê?
Naty— Bom, é que Aline me falou que a história de vocês é muito interessante, e provavelmente Patrícia deve estar curiosa para saber o que houve com Gabi durante todo esse tempo. Gabi deve estar curiosa em saber o que houve com Patrícia. Por que a gente não aproveita o resto do dia para matar nossas curiosidades?
Keyla— Por mim, tudo bem, porque também quero saber a história da Gabi e como vocês duas se conheceram. Só não sei se Aline e Luciana vão querer participar desse programa.
Aline— Eu topo! Adoro uma boa história e, pelo que conheço do meu amor, ela vai topar também.
Luciana— Com certeza! Histórias reais são melhores que ir ver filme. Bora lá!
Keyla— Bom, então vamos para a sala, que é melhor ficarmos mais confortáveis, porque isso vai demorar, pelo jeito. kkkkk
Eu acho que eu deveria escrever um livro para dar a cada nova amizade que faço, porque ficar repetindo minha história estava ficando chato já. Não que eu não me orgulhe dela ou me importe que os outros fiquem sabendo, mas me deixa triste lembrar de Jéssica. Venho repetindo tantas vezes ultimamente que realmente me cansei. Mas para Gabi, eu precisava mesmo contar e queria saber da sua história também. Espero que ela não tenha passado pelo que eu passei depois do flagra da minha mãe.
A gente foi para a sala, todos se sentaram, e aí eu vi como é ter alguém que nos conhece só de olhar, de ver as expressões no nosso rosto. Keyla percebeu que eu não estava muito afim de contar de novo minha história e simplesmente resolveu me ajudar.
Keyla— Olha, não querendo ser chata, mas Patrícia, na madrugada de sexta para sábado, contou nossa história para a médica que me atendeu no hospital. Eu sei o quanto essa história mexe com ela por causa de algumas coisas tristes que aconteceram. Então, como eu conheço a história muito bem, deixa que eu conto a vocês, aí aproveito e já encaixo a minha também. Pode ser?
Todas concordaram, mas primeiro queriam saber se Keyla estava bem de saúde. Ela explicou que só foi um susto e que estava ótima.
Eu nunca ouvi minha história contada pela boca de outra pessoa. Fiquei feliz por Keyla ter me ajudado sem eu sequer pedir e achei que seria legal ouvir ela contando nossa história pela primeira vez.
Continua…
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper