Acasos #36

Um conto erótico de Keyla
Categoria: Lésbicas
Contém 2162 palavras
Data: 23/11/2023 23:14:23
Última revisão: 21/12/2024 21:09:26

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Keyla;

Eu conheço bem meu amor; ela raramente se chateia com algo, mas quando Naty falou sobre contar as histórias, percebi que ela se incomodou um pouco. Imaginei que fosse por ter que reviver sua história em tão pouco tempo. Sei que ela não se importa que ninguém saiba, mas mesmo hoje, conseguindo falar sobre a perda de Jessica e do meu pai sem chorar, sei que isso a deixa triste.

Resolvi ajudar. Quando me ofereci, olhei para ver sua reação e percebi que fiz a coisa certa. Ela me olhou com uma carinha linda. Como as meninas concordaram, comecei a contar a história dela. Fui até o momento em que contei minha história para ela e fiz o mesmo ali, contando minha história e depois a nossa, até o momento em que Gabi apareceu. Resumi bastante, contei apenas os pontos importantes, mas mesmo assim foi bem demorado.

Enquanto eu contava, notei as reações das meninas: vi sorrisos, lágrimas, expressões de espanto. A cada parte da história, havia uma reação diferente. Aline e Luciana já conheciam quase toda a história; Gabi sabia apenas o início e Naty só conhecia os últimos dias. Mas todas prestaram atenção a cada palavra que eu dizia e se emocionaram com o que ouviram.

Naty sugeriu uma pausa antes de Gabi começar a contar sua história. Pediu um copo de água, e Patrícia se ofereceu para buscar, trazendo logo duas jarras de água gelada e um copo para cada uma. Eu disse que, se alguém quisesse ir ao banheiro lavar o rosto, podia ficar à vontade. Todas decidiram ir, e eu falei que havia outros banheiros na casa e mostrei a elas.

Patrícia— Obrigada, amor!

Keyla— Por nada, amor. Eu percebi que você não gostou muito da ideia.

Patrícia— É pelo motivo que você falou, amor. Eu contei nossa história para Rita no hospital. Você sabe o quanto isso mexe com meu emocional, por causa da Jessica e do seu pai.

Keyla— Eu sei, amor. Por isso resolvi ajudar.

Patrícia— Obrigada, e você daria uma boa contadora de histórias, viu? 🤭

As meninas voltaram, e Gabi então se sentou e disse que ia contar o que houve com ela e começou a falar.

{...}

Gabi— Antes de começar, quero deixar algumas coisas claras. Eu e Patrícia namoramos, sim, mas tenho certeza de que nunca nos amamos como namoradas. O brilho que ela tem nos olhos hoje, quando olha para Keyla, ela nunca teve por mim, e da minha parte, nunca houve esse amor também. Acho que por isso nunca chegamos aos finalmentes. Nosso namoro tinha muito carinho e respeito, mas faltava algo. Hoje vejo que Patrícia encontrou o que faltava no nosso relacionamento, e fico muito feliz por ela, de verdade.

Mas isso não quer dizer que eu não gostasse muito dela; pelo contrário, eu gostava muito da Patrícia. Acho que ela também gostava de mim. Tínhamos muito em comum; duas adolescentes descobrindo sua sexualidade, que não gostavam de chamar a atenção e, infelizmente, com problemas familiares. A gente não era só namoradas; éramos, acima de tudo, grandes amigas. Estou dizendo isso para que não entendam errado o que vou contar a seguir.

Bom, depois que fui colocada para fora da casa de Patrícia, fui para minha casa chorando. Estava desesperada de medo do que ia acontecer com ela e comigo também. Eu não era assumida na época; meu pai era bem rígido, mas minha mãe sempre foi muito amorosa comigo. Era uma mãe perfeita. Já tinha pensado várias vezes em contar para ela, mas, por medo, não contei.

Quando cheguei em casa, fui direto para meu quarto, mas minha mãe me viu e estranhou eu não ter ido até ela dar o abraço e o beijo no rosto que sempre dava quando chegava de qualquer lugar. Ela foi ver o que tinha acontecido. Quando ela entrou, eu estava chorando na minha cama. Ela, como sempre, foi perfeita comigo, me abraçou e deixou eu chorar à vontade em seus braços. Depois que me acalmei um pouco, ela perguntou o motivo do meu choro. Não sei por quê, mas resolvi contar toda a verdade. Respirei fundo e fui soltando tudo de uma vez. Minha mãe disse que já desconfiava, porque eu era muito bonita e nunca tinha arrumado um namorado. Ultimamente, vivia grudada na Patrícia e falava muito o nome dela.

Mas ela disse que a gente teria um problema para enfrentar: meu pai provavelmente não iria aceitar bem. Eu já imaginava, porque meu pai é um homem rígido, daqueles das antigas, que tem a cabeça muito fechada para certos assuntos. A homossexualidade para ele era algo muito errado.

Bom, minha mãe ficou ali comigo um bom tempo. Acabei dormindo e só acordei com os gritos do meu pai. Ele estava discutindo com minha mãe, ou melhor, gritando com ela. O pai da Patrícia tinha ligado para ele. Eu ouvi coisas horríveis saindo da boca do meu pai sobre mim. Acho que ele só não veio me bater porque minha mãe não deixou, mas ele deixou claro que não tinha mais filha.

O clima na minha casa ficou pior do que já estava. Nessa época, os gritos do meu pai com minha mãe não eram novidade para mim; já tinha ouvido algumas vezes. Na época, os negócios da empresa não estavam indo bem, e ele andava descontando sua frustração na bebida e na minha mãe. Agora, provavelmente, iria descontar em mim também.

Os dias foram passando, e Patrícia não atendia minhas chamadas nem respondia minhas mensagens. Depois de um tempo, minha mãe me contou que o pai dela tinha jogado ela na rua. Eu e minha mãe procuramos por ela em todos os lugares que eu podia imaginar, mas não tivemos sucesso. Ligamos para hospitais, delegacias e nada; parecia que a terra tinha a engolido.

Eu chorava toda noite, com saudades da Patrícia e com os gritos do meu pai com minha mãe e comigo. Minha vida tinha virado um inferno. No início do ano, minha mãe veio me falar que iria me mandar para o Canadá morar com minha tia. Eu não queria ir de jeito nenhum, mas minha mãe me convenceu a pelo menos pensar no assunto. Ela disse que seria o melhor para mim, porque ficar ali dentro daquela casa seria muito ruim e que, infelizmente, não podia abandonar meu pai justo no momento ruim da vida dele. Ela acreditava que, apesar dos gritos, ele não agredia ela e que, quando as coisas melhorassem, voltaria a ser o bom marido que era antes.

Ela me prometeu que continuaria procurando saber sobre Patrícia e que, se tivesse qualquer notícia, me contaria. Eu conhecia minha tia e sua família; eles eram muito gente boa. Fiquei de pensar até o final de janeiro. Nada mudou nos últimos dias, a não ser a saudade de Patrícia, e a esperança de encontrá-la foi diminuindo.

No final de janeiro, acabei aceitando os conselhos da minha mãe e fui morar com minha tia e estudar no Canadá. Minha vida lá era ótima, a não ser pela saudade da minha mãe e de Patrícia. Eu chorava muito à noite, de tanta falta delas. No meio do ano, pensei em desistir, mas minha mãe veio passar as férias comigo e me convenceu a ficar. Infelizmente, na minha casa, nada tinha mudado; minha mãe não achou Patrícia e nem teve notícias dela.

Nessa época, minha mãe teve uma briga feia com a mãe da Patrícia, que foi falar mal de nós duas para minha mãe. Então, as duas não se falavam mais. Meu pai ainda era amigo do pai de Patrícia, mas minha mãe nem olhava na cara dele, de raiva do que ele tinha feito.

O tempo foi passando, e eu fui me acostumando com minha nova vida. Minha mãe sempre vinha nas férias. No início do ano passado, ela disse que meu pai estava mais calmo e que a empresa estava indo bem. Fiquei feliz por ela.

Em setembro daquele ano, caiu uma bomba no meu colo: minha mãe me ligou chorando e contou que descobriu que meu pai estava traindo ela com uma funcionária 15 anos mais nova. Ela colocou ele para fora de casa e entrou com o pedido de divórcio. Meu pai tentou, no início, se desculpar e abafar o caso, mas minha mãe não o perdoou e fez questão de contar para todos do ciclo de amizade dela o que meu pai tinha feito.

Muitos se afastaram dele, porque minha mãe sempre foi muito querida por todos. Os amigos mais próximos sabiam que meu pai só tinha construído a empresa por causa do dinheiro da família da minha mãe. Não que ele não tivesse algum dinheiro ou que não tivesse dado o sangue ali, mas sem o dinheiro da minha mãe, ele nunca teria conseguido.

Eu queria voltar para ficar com minha mãe, mas ela disse para eu esperar até o final do ano, assim o divórcio já teria sido concluído e tudo estaria mais calmo. Acabei concordando. O divórcio dos meus pais foi uma guerra nos tribunais, mas minha mãe arrumou uma das melhores advogadas da cidade e, depois de várias audiências, saiu satisfeita com o acordo. Ela ficou com tudo: casa, carros, casa de praia, 4 apartamentos e mais 30% da empresa. Meu pai não queria perder o comando da empresa e cedeu todo o resto para ficar com a maior parte. Minha mãe odiava aquela empresa; foi por causa dela que meu pai começou a beber e a gritar com ela. Foi lá que ele conheceu sua amante, que ainda trabalha lá e estava agora com meu pai, morando no mesmo quarto de hotel. Minha mãe não pensou duas vezes e vendeu sua parte para um empresário do mesmo setor que meu pai odiava. Ela disse que era o presente dela de despedida para meu pai.

No fim do ano, eu voltei a morar com minha mãe, mas, infelizmente, o final do casamento, a traição e as brigas do divórcio deixaram minha mãe muito mal. Ela começou a ter crises de ansiedade, não saía de casa, passava a maior parte do tempo triste e, às vezes, eu ouvia ela chorando à noite. Então, eu ficava ao seu lado o tempo todo, tentando ajudar como podia. Eu só saía de perto dela para ir para a faculdade.

Quando voltei para o Brasil, a saudade de Patrícia voltou a me machucar. Eu queria muito saber onde ela estava, se estava viva, se estava bem, mas não descobri nada. Como nem eu nem ela tínhamos amigos e não vi ninguém da nossa antiga escola na faculdade, não tinha nem para quem perguntar.

Nos últimos meses, as coisas começaram a melhorar. Eu sempre ficava no meu canto na faculdade, não conversava com ninguém e ninguém me notava, até que um belo dia, a garota mais popular da sala e provavelmente da universidade resolveu vir falar comigo. Era Naty. Não sei por quê, mas ela começou a conversar sempre comigo nos intervalos. No fim, trocamos números de telefone, e ela começou a tentar levantar meu astral com suas risadas e brincadeiras, me chamando para sair um pouco de casa. Ela acabou se tornando uma boa amiga em pouco tempo.

Minha mãe, depois de algumas idas ao psicólogo, começou a melhorar. Já sorria mais, estava com uma carinha bem melhor. No último final de semana, saiu para ir ao cinema com algumas amigas. O clima foi melhorando e, hoje, quando Naty ligou, eu resolvi aceitar o convite dela, porque estava precisando me divertir um pouco, ainda mais porque ela disse que era um almoço com dois casais de amigas lésbicas. Eu achei que seria um bom lugar para fazer amigas e ter um bom papo. Eu só não sabia que aqui encontraria a pessoa que tanto procurava e que ainda me fazia sentir um vazio no peito. Agora, acho que posso dizer que o pior já passou e que vou poder voltar a ser feliz como era antes daquele maldito dia em que a mãe da Patrícia nos flagrou juntas.

Bom, é isso. Se alguém quiser perguntar algo, pode falar.

{...}

Não vou negar que a história da Gabi me deixou emocionada, mas Patrícia estava mais. Era nítido, até porque seu rosto estava todo molhado de lágrimas. Eu fui até seu ouvido e disse para ela parar de chorar no meu ombro e ir dar um abraço na amiga dela. Ela olhou para mim e sorriu, se levantou e foi até Gabi, dando um abraço muito apertado nela. Naty também se levantou e abraçou as duas, depois Aline. No fim, aquilo virou um abraço coletivo.

Acho que esse vai ser um daqueles dias que ficarão marcados na nossa história. Não sei o que nos aguarda dali para frente, mas eu estava muito feliz por ter um relacionamento tão incrível e sabia que, naquele abraço, estava cercada de boas pessoas que, com certeza, fariam parte da minha vida dali para frente.

Continua…

Criação: Forrest_gump

Revisão: Whisper

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Foto de perfil de Forrest_gumpForrest_gumpContos: 380Seguidores: 85Seguindo: 93Mensagem Sou um homem simples que escreve história simples. Estou longe de ser um escritor, escrevo por passa tempo, mas amo isso e faço de coração. ❤️Amo você Juh! ❤️

Comentários

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Beto obrigado por postar mais um capítulo, dormir o dia todo praticamente, estou com uma dessas viroses que causa diarréia, sai pra trabalhar mais não dei conta voltei pra casa.

Agora falando da Gabi cara a história dela também e muito triste, mais que bom ela está melhor agora depois de encontrar a Patrícia, e contar a sua historia para as novas amigas, tomara que Naty e Gabi engatem um namoro, Naty e uma boa pessoa, precisa de alguém do seu lado que nem a Gabi, será que agora vamos ouvir histórias das outras meninas, Luciana, Aline e Naty ?

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Não só a Gabi mais a mãe dela está bem, descobrir uma traição e muito triste, e fez nem vender as ações pra um rival do ex marido, pra ele ver como é bom trair as pessoas principalmente a esposa, que esteve ali do lado dele, quando começou a empresa.

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Acho que história da Aline é da Luciana não vai ter porque as duas são do tipo que tiveram uma vida sem muitas emoções, acho que o a história da Aline é da Luciana é legal mas já foi cobrada aqui, a história da Gabi é da Naty se for virar namoro vai ser contada no desenrolar da história! Gabi sofreu bastante sim mas ainda bem que teve o apoio da mãe e da família que ela morou, o pai dela é um idiota, perdeu a esposa que sempre esteve do lado dele até quando não merecia e também perdeu o respeito da filha que é uma pessoa invisível, mas o dele está guardado 😈🤣🤣

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