Falei zombando com a cara dele. Ele me puxou para mais perto, até nossos membros, apenas semi-eretos, se encostarem. Demos vários beijos estalados e foi só aí que constatamos:
- Rodrigo!
- O quê?
- Estamos parecendo um casal gay! - falei e ele riu.
- Vamos chamar de amizade colorida! - ele falou, rindo. Quem diria?
- É... Pode ser. - falei e caminhamos até a cama.
Deitamos um de frente para o outro. Não ficamos abraçados ou grudados por causa do calor. Mas lhe afaguei os cabelos até mesmo depois de ele estar dormindoDepois dessa noite eu tive várias certezas.
Tive certeza de que sou bissexual, embora isso já estivesse meio que comprovado.
Tive certeza também que sou ótimo no videogame!
Tive certeza que o sexo com o Rodrigo é ótimo e que vou querer mais vezes!
Mas a pior certeza de todas foi a certeza de que algo me fazia querer ficar acordado apenas para vê-lo dormirNão preciso nem falar que depois daquele dia eu e o Rodrigo começamos a ficar cada vez mais, né?
O sexo não rolou muitas vezes desde aquele dia, no máximo umas três, comigo sempre no comando, hehe.
Mas o que me preocupa de verdade é o fato de o tempo passar e eu gostar cada vez mais do Rodrigo.
Eu não quero admitir isso, mas estou me apegando de verdade a ele, e... Eu sei que, no fundo mesmo, sou só sexo para ele.
Aquele dia que ele disse que gostava de mim estava quase inconsciente de tão bêbado.
Aliás, muitas coisas daquele dia me pareceram confusas. Até hoje não sei o porquê de o Rodrigo ter chorado, ter se chamado de mentiroso e falar que mentiu para mim.
Que mentira é essa afinal?
Eu posso estar ficando com o Rodrigo, mas não temos nada sério, portanto, não me sinto à vontade de tocar num assunto tão íntimo que ele só revelou, parcialmente, quando estava muito vulnerável.
Fizemos algumas loucuras de nos atracarmos na empresa, em lugares escondidos, mas onde pessoas poderiam ver.
Envergonho-me por isso, afinal, nunca brinco em serviço, mas ficar na mesma sala com ele, cerca de dez horas por dia, sem poder tocá-lo... Isso parece muito difícil!
O Sr. Roberto chamou ao meu pai e a mim para passarmos o natal e ano novo com ele!
Assim... Eu até gostei da ideia, mas sinto-me desconfortável, pois eles devem ter família e mais amigos, de muitos anos.
Eu vou acabar me sentindo um intruso! Isso sim! Meu pai não; meu pai nem pensa, além de ter aceitado o convite sem pensar está todo empolgado.
Vamos para lá hoje de tarde, na véspera.
Meu pai ajudará o “Betão” a preparar a ceia. Estamos na véspera ainda.
E ah... Eu comprei o novo CD do cantor preferido da Stella. Rodrigo me contou que ela não parava de falar nisso e ele falou que não compraria, pois estaria gastando dinheiro com outras coisas. Sei muito bem que coisas devem ser essas.
Terei férias de duas semanas, começando hoje e indo até o dia oito de janeiro. Mais um ano que estava no fim.
Em janeiro já completarei meus vinte e dois anos. A vida sempre nos pega de surpresa e à partir do momento que nascemos, já estamos predestinados a morrer.
Em um piscar de olhos muita coisa pode acontecer.
Eu já estava pronto para ir. Estaria levando junto comigo apenas o presente da Stella.
Dei uma vara de pescar nova para o meu pai. Não queria dar-lhe na frente de todos. Ele ficou com os olhos brilhando e disse que sou o melhor filho do mundo. Velho interesseiro!
O calor de fim de tarde estava gostoso, depois de muitos dias irritantemente quentes.
O vento entrou pela janela da minha sala e eu me relaxei um pouco.
Meu pai estava terminando de embrulhar as lembranças que ele havia comprado.
Eu estava aqui, querendo ir logo, para logo voltar. Olhava no relógio de cinco em cinco minutos.
Bastou eu ligar a televisão para me distrair, que meu pai saiu do quarto, todo sorridente.
- Podemos ir, filhão! - ele falou.
Estava segurando três sacolas em suas mãos. Eu preferi não falar nada, afinal, tanto presente assim para quem? As pessoas que ele conhece são meu chefe, a mim mesmo, ao Rodrigo e a jovem Stella. Só!
Peguei a chave do carro, que estava em cima da mesa e fiquei-me a esperar o maldito elevador, que parece demorar apenas para me irritar. Nem pensei em ir pela escada, pois meu pai quando bebe é capaz de abrir os dentes para todo lado e dar piruetas, porém, sóbrio, vive reclamando das dores. E descer as escadas levaria uma eternidade com ele, além dele, com certeza, ficar reclamando.
O elevador chegou e a primeira coisa que fiz, logo após pressionar o botão que levava até a garagem, foi conferir-me no espelho.
Essa vaidade adquirida de uns meses para cá me irritava, mas não era algo que eu podia controlar.
Meu cabelo castanho estava um pouco mais comprido, todo desgrenhado, com uma franja que ainda não chegava aos meus olhos, cobrindo apenas minhas sobrancelhas.
Senti-me um adolescente. Já nem possuía mais aquele look sério e discreto que tanto prezei em minhas vinte e uma primaveras passadas. Estava, como agora de praxe, com meu perfume preferido, que, aliás, precisa comprar logo outro frasco, pois esse, não dura muito, não.
Depois de conferir-me no espelho, percebi, através do espelho mesmo, que meu pai me olhava todo sorridente. Um sorriso de satisfação.
Eu suspirei já imaginando o que ele deveria estar pensando. Ele percebeu meus olhos impaciente sobre isso e logo falou:
- Você é idêntico à sua mãe, tanto na aparência quanto na personalidade.
Fiquei surpreso, afinal, achava que ele mencionaria Stella.
- Ela ficaria muito orgulhosa em te ver hoje, Diego. Você já é um homem e é o maior orgulho que eu tenho nessa vida. Já estou desejando feliz natal agora porque provavelmente estarei bêbado meia noite e eu sei que você prefere a mim sóbrio!
Ele disse gargalhando. Eu fiquei envergonhado e, ao mesmo tempo, emocionado com suas palavras.
- Valeu pai. Eu vivo reclamando de você, mas... Devo muitas coisas a você pai, saiba disso. E apesar de sermos tão diferentes, eu te amo.
Mamãe fez a escolha certa em casar com o senhor pai.
Falei virando-me para ele. Ele ficou com os olhos cheios de lágrimas. Adoro gente emotiva! Apesar de ter me emocionado um pouco também.
- Vem cá filhão! - ele falou me puxando num abraço.
Ele secou as lágrimas que escorreram antes mesmo de separarmos o abraço. Senti isso pelos movimentos que ele fez.
Logo em seguida de nos separarmos, ele sorriu maroto para mim. Agora sim viria o assunto que ele sempre toca.
- Eu disse isso sobre sua mãe porque ela sempre foi uma mulher estonteante! Você está um gato, filho! Tudo isso para a Stella. Como meu filho é um garanhão, eu sabia! Você não sabe como estou orgulhoso! - ele falou rindo.
- Pai! Não estou me arrumando para a Stella! Quantas vezes vou ter que falar isso?
Perguntei impaciente enquanto saíamos do elevador. Fui caminhando apressado até o carro e ele vinha atrás de mim.
- Para quem é, então? - ele perguntou sorrindo.
- Para ninguém! Para mim mesmo!
Falei tentando encerrar o assunto. Entrei no meu carro e bati a porta com tudo. Esse assunto me deixa irritado. O vi abrir a porta do banco de trás e acomodar-se ali com todos os presentes!
- Vem cá pai! Está achando que sou seu motorista?
- Deixa de ser chato, estou carregando muitas coisas! E não se engane. Eu te conheço filho, e estou não te reconhecendo mais. Alguém capturou o seu coração! Já o encontrei suspirando pelos cantos... - ele falou.
- Suspirando pelos cantos? EU? Não sou uma adolescente de quinze anos apaixonada pelo professor ‘bombado’ de educação física! - falei irritado dando partida no carro.
- Ora filho, não se irrite! Você anda distraído, escuto-te falando consigo mesmo. Está se vestindo melhor, está mais sociável, sorri mais! Filho! Era uma coisa muito difícil te ver sorrindo! Hoje, podemos dizer que vejo isso todos os dias. Por um motivo estranho nunca nas quartas-feiras, mas mesmo assim! - ele falou.
Que velho chato! QUARTA-FEIRA?
Bem... São os dias que eu e o Di temos mais trabalho e nessas semanas que se passaram apenas não nos beijamos nas quartas-feiras.
Será então que eu... Estou apaixonado pelo Rodrigo?
Isso me soa muuuuuuito estranho! Fiquei quieto enquanto íamos para a casa onde passaríamos o natal.
Fiquei apenas raciocinando.
Será que eu estava apaixonado mesmo? E o pior! Pelo Rodrigo!
Será? Será? Será? MERDA.
Meu pai ficava me olhando, porém quieto, deve ter percebido que eu estava realmente perturbado.
- Então pai... Você acha mesmo que estou apaixonado? - acabei perguntando para ele que deu uma leve risada.
- Ao que tudo indica, Diego meu filho, sim. - ele falou.
- Merda! - exclamei.
- Qual o problema? Ela não corresponde? - ele me perguntou.
Pronto! Agora vai querer dar uma de psicólogo em cima de mim. Ele anda assistindo muito a esses programas que passam de tarde para donas de casa.
- Não é isso. - falei.
- Você pode me falar quem é? - perguntou.
Velho enxerido! Parece uma criança!
- Não! - falei.
- É a Stella? - ele perguntou.
- Não!
- Se eu acertar você me fala?
- Não!
- É a Larissa?
- A Lar... A Larissa? Que Mané Larissa o que pai!
Falei olhando para ele. Ele andava me visitando, aliás, visitando meu patrão e MUITO!
Ódio! Que ódio!
- Erika?
- Não!
- Alguma amiga da faculdade?
- Também não. - falei respirando pesado.
- Eu tenho que pensar então... - ele falou ficando pensativo por um momento. - Alguma assistente?
- Não!
- Namorada virtual!
- NÃO!
- Prostituta!
- NÃO PAI!
- Já sei! Professora da faculdade!
- NÃO!
- O RODRIGO!
Ele falou gargalhando logo em seguida. Que piadinha sem graça! Ele deitou-se no banco de tanto dar risada.
Eu parei o carro com tudo! Finalmente chegamos à casa do Sr. Martins. Fiquei parado, bravo. Batendo as pontas de meus dedos no volante esperando aquele show de risada acabar.
- JÁ DEU NÉ PAI?
Perguntei virando-me para trás.
Ele parou, sentou-se e olhou-me assustado. Eu acho que acabei gritando alto demais. Seu semblante parou de assustado para pensativo.
- Espera aí! Você não negou meu último chute! - ele falou com um sorriso de canto.
- O QUÊ? Pai, você... Err... Você.... Você deve ter bebido algo, VAMOS! - falei tirando o cinto.
- Por que está gaguejando filho? - ele perguntou, sorrindo.
- Não... Não te.. Não tem ninguém gaguejando, caralho! - falei irritado.
- Não se preocupa, filho. Não se esqueça que seu pai foi um aventureiro antes de conhecer sua mãe! - ele disse dando uma longa risada e eu arregalei meus olhos.
- Q...Q... Quê? - perguntei.
- Seu segredo está a salvo comigo! Bem que eu percebi que vocês dois estavam amigos DEMAIS!
Não se preocupa que eu não falarei nada com o Beto, não sei se ele é um pai liberal e moderno como eu! - falou rindo.
Eu ignorei aquelas palavras, embora elas tenham me deixado feliz. Então... Então eu estava tão transparente assim? Eu... Eu estou apaixonado? Acho que não!
Adentramos a casa logo que meu chefe abriu a porta.
CONTINUA…