Marcos pegou o violão e mais algumas outras coisas, como pasta de música e roupas. Fomos prá minha casa.
- As meninas demoraram porquê?
- Cala boca palhaço. A menina aqui – Respondeu Marcos para o Rafinha segurando sua mala por cima da bermuda e a mostrando para meu irmão.
- Calma, “Márcia”, não fica nervosa não. Vou te dar um chá de “minhápica”* para se acalmar... – E caiu na risada. O Rafa não tinha jeito mesmo. (* MINHA PICA; O Rafa pronunciava estas duas palavras unidas como se fosse uma proparoxítona e dava a impressão que estava falando o nome de uma erva qualquer).
O Marcos tinha muito bom humor também e levava na esportiva as brincadeira do Rafa, que não se esgotava nunca. Eu, sinceramente, tinha medo que qualquer dia ele pudesse se meter em algum tipo de encrencas por causa disto.
Apesar, de em suas brincadeiras, o Rafa chamar-nos de “veado”, “meninas”, chamar o marcos de Márcia - fazia tudo isso alterando a voz, como se fosse uma bichinha, ou de vez em quando imitando um traveco qualquer – nenhum de nós, para os olhos dos “héteros”, parecíamos gays. Não éramos femininos, nossas vozes não eram finas, nossos corpos eram bem masculinos, vestíamos como tal, ou seja, estávamos completamente fora do “padrão” que a sociedade preconceituosa enxerga um gay. O RB, que possuía um rosto mais delicado, como já falei, era o que tinha a voz mais grossa, e que quando bravo, ou se fazendo de bravo para o Rafa que sempre o escolhia para zuar, chegava a assutar com seus berros, “Para com isso, filho do Bozo”, gritara certa ocasião para o Rafa que insistia em pintar um olhinhos e umas manchas o pinto do RB, quando este estava cochilando. Quando o RB deu o tal berro, ele cinicamente explicou: Queria apenas ver como seu pinto ia ficar “disfarçado de cobra”, afinal, tamanho de cobra já tem mesmo.. E ele mesmo caia na risada e fazia com que todos rissem. Até mesmo o próprio RB.
- RB e Rafa, venham aqui um pouco.
- Sim, my lord.
- Sem palhaçada agora, Rafinha. O papo é sério e quero falar com vocês dois antes do Vinny chegar.
- Desculpe, maninho querido, do coração, razão de minha existência, paz do meu viver, azul do meu céu, luz da minha vida, azeitona da minha empada...
- Rafael Trevisan Zanini...O papo é sério, pode sossegar um minuto?
- Ôps... Já estou quietinho. Pode falar.
- É o seguinte. Ontem nós quatro transamos aqui um com o outro e nenhum de nós foi responsável o suficiente para trazer e usar preservativos. Conversei como Marcos, e discutimos o assunto. Ele era virgem. Eu só havia transado uma vez com uma “piriguete aí” e usei camisinha na ocasião. Sendo assim, só restam vocês dois para sabermos qual o real risco que corremos. Afinal, os dois, nos disseram antes que já haviam “comido” alguns carinhas. Vocês quando comeram estes carinhas, usaram camisinha?
O “R” olhou para o Rafa e este correspondeu no olhar.
- Vamos. Falem algo. Já, já o Vinny ta ai e não vamos falar nada (ouviu senhor, Rafael?) perto dele, que o faça sonhar que nós...bem...vocês sabem o que, né?
Rafinha virou-se para o RB e disse:
- Conta aí você.
RB, meio sem graça, explicou:
- Eu realmente já tinha comido um carinha antes do que fizemos ontem. Não menti prá você, como o Marcos fez. Mas, não usei camisinha não.
- E quem é esse cara? Não acha que correu perigo em transar com ele sem camisinha? – Falei.
- Não, acho que não.
- E quem é ele. Pode falar? – Insisti.
- Conta pra ele “R”. - Disse Rafinha – Não há problema.
- É o Rafa.
Eu olhei para o Marcos que olhou para mim. Fizemos um silêncio. O marcos até que tentou se segurar, mas não conseguiu e soltou uma gargalhada.
- O “senhor comédia” sentou na sucuri do RB, perdeu todas as pregas...Vai ter de fazer uma plástica no cuzinho.
- Isso Marculino. Ria bastante. Dona Hiena. Meu cu ta inteiro, Pode saber disso. E eu sou muito macho prá da o cu pro RB, viu? Se fosse a senhora, dona Márcia, iria estar chorando e andando de pernas abertas. – Falou e saiu andar pela cozinha com as pernas abertas.
- Ok. Ok. Chega de graça – disse – E você Rafa, quem você tinha comido antes de ontem a noite, quando me disse que não era mais virgem e blá blá blá?
- Oras... O “R”.
- “Perae”. Deixa ver se eu entendi. Quer dizer que as “experiências” que nos contaram que tinham, que já haviam comido outros carinhas, era de um com o outro? – Perguntei.
- Sim. Conheci o “R” no volei e acabou rolando.
- No vôlei mesmo que se conheceram?
- Sim. Por que pergunta isso? Não acredita?
- Falei por falar...E onde transaram?
- Na minha casa mesmo – Explicou RB.
- Ok. Não quero vocês se pegando em qualquer lugar... Bem, se vocês dois só saíram um com o outro, se eu só havia “trepado” uma vez, e com camisinha, e o Marcos era virgem, acho que não corremos perigo nenhum. Mas, de hoje em diante todo mundo usando camisinha.
- Mas e se eu transar somente com o “R”? - Perguntou meu irmão.
- Rafa. Vamos adotar a regra de camisinha sempre...OK? Concorda, RB.
- Concordo.
- Pronto. Este assunto já foi resolvido. Ok, Marcos?
- Sim. Agora estamos todos mais tranqüilos em relação ao fato de termos transado sem camisinha, ontem.
Fui até a cozinha, preparar uma salada e um arroz para o churras, vi aquele liquidificador com uma “pasta” cheirosa dentro. Peguei um pedaço de pão, lambusei-o com a “pasta” e o levei a boca.
- Puta que pariu !!! – gritei bem alto.
- Que foi maninho?
- Que molho delicioso é este que o RB fez ?!?!! Que você colocou aqui, moleque?
- Não adianta mano. A bicha não revela o de jeito nenhum. É segredo de família dela.
- Bicha é a dona Silvia. Lucas, só coloquei umas coisinhas que tinha aí e mais nada. Outra hora te ensino.
-Vou querer aprender mesmo. Mas, já que você cozinha tão bem ajuda eu aqui no arroz e na salada.
- “Perae”, putinha... Por que você ensina a recita do molho prá ele e prá mim, não? Isso não é certo.
- Porque ele não me chama de putinha... só isso. E some da minha frente antes que eu te dê um chute no seu saco.
- No saco não... rsrsrs – E saiu de perto do RB segurando o protegendo o saco com as mãos.
- Rafa, venha até aqui fora, por favor. – chamou-o Marcos, que estava no quintal dos fundos da casa. Ele havia ajeitado sobre o assento de uma cadeira velha de madeira uma camada de areia bem fina, que ele achara não sei onde.A cadeira estava largada na“área de lazer” da casa, onde fica a churrasqueira, e onde faríamos nosso “churras” naquela tarde. Falei área de lazer, pois era assim que chamávamos, com muita ironia, o puxadinho do fundo do quintal, onde havia uma churrasqueira de alvenaria, uma grande mesa de madeira com dois grandes bancos aos lados, Uma pequena geladeira, pia e todos os apetrechos necessários para um churrasco. Não tínhamos piscina, apesar de ter espaço na casa para isso.
Em nossa cidade a pessoas não costumam ter piscina, pois ta sempre frio ou chuva. Ao menos que a piscina seja coberta, caso contrário, ela fica sem serventia, como aconteceu em diversas casas vizinhas, que se enfeiam com piscinas vazias e sujas.
Rafinha olhou pra cadeira e sem entender nada perguntou a Marcos:
- O que você quer, Marqueti?
- Tire as calças e sente aí – disse Marcos apontando a cadeira com a camada de areia.
- Prá que, moleque?
- Vamos fazer o teste das pregas. Quero saber se restou alguma prega no seu cu depois que o RB te enrabou. Falou isso e já caiu na risada e disparou a fugir do Rafa que corria para pegá-lo.
- Quem vai ficar sem prega será você na hora em que eu pegá-lo, sua travesti de circo.
Vi a cena e pensei: “Agora tenho dois palhaços na minha vida – meu irmão e meu ficante”
Tocou o telefone. Era o Vinny avisando que já estava chegando. Já estava na rua de nossa casa.
- Marcos, termina de colocar este molho que o “R” fez neste pote aí, que vou abrir o portão pro Vinny, que já está chegando Enquanto isso, o RB termina o arroz, e o Rafa leva os “refris” e esta batida, que sobrou de ontem, lá pra “geladeirinha”, acende a churrasqueira.
- Sim, Sahib. – Disse Marcos imitando indiano, igualzinho o Rafa havia feito há algum tempo antes.
- Esta piada é minha, senhor “papel carbono”. – Disse o Rafa fingindo-se de bravo.
- A palhaçada é contagiosa, Marcos? – Perguntei.
- Fica bravo não. – Respondeu e deu uma piscadinha e abriu aquele sorriso que lhe era característico – Mas, antes deixa eu dar uma experimentadinha no molho do RB, que ta muito cheiroso. – Quebrou um pão francês ao meio e o ensopou com o molho ainda no liquidificador. – C A R A L H O !!!
Todos nós nos assustamos com seu grito.
- Que foi, cara? – Perguntei intrigado.
- Que é que esse moleque colocou aqui dentro prá ficar tão gostoso?
- Conta prá ele também, “Palmirinha” (quem mora na grande São Paulo sabe que Palmirinha é uma senhora, de mais de 70, que apresenta há muitos anos um programa de culinária na TV Gazeta) – adiantou-se Rafinha a qualquer resposta que eu, ou o RB, pudéssemos fornecer a pergunta de Marcos.
- Olha aqui, Tiririca Júnior!!! Você cala a sua boca rapidão, senão não vai te sobrar dentes pra comer este churrasco.
- Relaxa, relaxa...brincadeirinha – O Rafa falava isso ao mesmo tempo passava as mãos no ombro do “R”, como se estivesse o acalmando.
Deixei todos rindo na cozinha e fui abrir a garagem para o Vinny guardar o carro. Já estava buzinando na frente da casa.
Cumprimentamo-nos com um beijo como de costume.
Eu estava muito feliz com a vinda do Vinny.
- Vamos entrando que a galerinha só ta esperando você pra começarmos a assar a carne.
- Perae. – Ele respondeu enquanto abria o porta malas de seu carro.- Deixe eu tirar umas coisinhas...
Ele tirou do porta-malas uma sacola bem grande. Destas bem baratas, com zíper, que sacoleiras usam ao fazerem compras no Brás e na 25 de março. A sacola estava cheia.
- Que legal!!! Você veio prá morar.- Disse eu fazendo piada.
- Nada disso.
- Então virou “sacoleira” do Brás?
- Não. Encomenda para o senhor Rafael...
Agora que então eu havia ficado curioso. Que diabos era aquilo e qual o porquê ser “encomenda para o Rafa”. Mas não perguntei mais nada.
O Rafa quando viu o Vinny já correu para abraçá-lo e beijá-lo, fez algumas piadinhas prá não perder o costume. O Vinny também correspondeu com outras tantas, já que “fazer graça” parecia ser uma doença que contagiava a todos que adentravam à aquela casa. Apresentamos o “R”, o Marcos e logo todos nós caímos numa conversa sem fim.
- Vamos parar um pouco a conversa e colocar a carne pra assar. Você trouxe a carne que falou, Vinny?
- Coloquei aí em cima da pia?
- È do frigorífico de Lins?
- Sim, picanha e maminha maturada.
Tínhamos parentes em Lins, cidade do interior do estado de São Paulo, onde nossas famílias sempre costumavam passar férias e feriados. O Frigorífico de lá produzia uma carne muito boa para churrasco e o pai do Vinny, o Tio Alberto, sempre trazia, a cada vez que voltava de lá, uma grande quantidade de carne para os “churras” que promovia com freqüência, a cada vez que voltava de lá.
Todos nós fomos preparando a carne e a colocando na churrasqueira. Enquanto um fazia uma coisa, outro fazia outra.
A fome reinava.
- To com muita fome, cara. – Disse Vinny passando a mão no estômago e fazendo careta – Ainda não comi nada hoje. Saí de casa cedo e vim aqui resolver umas questões na faculdade de direito e o “negócio” lá atrasou... Só sei que não comi nada até agora.
- Você acertou a transferência pra faculdade daqui? – Perguntei.
- Sim – Respondeu – As aulas inclusive já começaram, mas eu não pude ainda frequentá-las, pois estava com problemas no trampo... Mas depois eu explico tudo, Uca. To com fome mesmo, não tem nada prá comer?
- Lógico que tem cara. Preparamos umas coisas ai pro churras. Tem arroz, salada, pão, molho, que você pode ir comendo enquanto a carne não ta pronta.
Coloquei o pote de molho na frente dele e lhe passei o saco de pães. Ele encheu um pãozinho com molho alface tomate. Deu uma mordida, fez uma cara de surpresa, deu um grito e perguntou:
- Uau!! Meu Deus!!! Quem fez essse molho e o que colocaram nele?
RB já olhou pra cara do Rafa e sentenciou – Qualquer comentariozinho engraçado que o “senhor” fizer eu enfio este espeto no seu cu. E mostrou-lhe um espero de churrasco vazio que pegara ao lado da churrasqueira.
- Foi o “R” quem fez.
- Cara, parabéns...Isso aqui só não é melhor que boceta. – Disse isso e caiu na risada,e nós todos, para disfarçar e não termos de dizer para o Vinny que boceta não estava na nossa lista de preferências, rimos junto com ele, como se estivéssemos concordando com aquela afirmação. Exceto o Rafa, que, colocado às costas de Vinny, que assim não poderia vê-lo, enfiava o dedo na garganta e fingia que iria vomitar, demonstrando que não gostava de boceta.
Meu primo era “hétero” convicto. Nunca demonstrou qualquer sinal de que pudesse ser gay como nós. Pegava meninas muitas lá em São José. Fazia dói anos que namorava uma menina que morava no mesmo condomínio em que ele, a Cibele. Bonito, loiro, gato. Estudante do segundo ano de direito, transferira-se para a faculdade de nossa cidade, pública, pois assumiria o cargo de investigador de polícia num bairro de São Paulo que fica próximo de nossa região.
Vinny gostava muito de cantar. Adorava música brasileira e principalmente sambas de enredo. Amava carnaval. Por causa dele que, eu e o Rafinha, pegamos gosto pela música e fomos aprender tocar teclado e bateria. Vinny também toava violão e diferentemente de nós, gostava de uma cervejinha, por isso quando vim da casa do Marcos, passei na padaria e comprei algumas latinhas para ele.
- Tem uma gelada aí ? – Perguntou.
- Pega lá, Rafa. – Falei e apontei a geladeirinha que estava ao lado dele.
- “Oui, monsier”- Respondeu meu irmão gracejando em francês.
- Arrumou um mordomo francês agora Lucas? - O Vinny ria a toa, e as graças de Rafinha despertavam o seu riso facilmente.
- O Palhacinho não tem jeito, Vinny. Não fala sério um assunto sequer.
O Rafa trouxe a cerveja. O Vinny já a abriu, encheu um copo e virou-o num só gole.
Depois, virou-se para o Rafa e falou:
- Em agradecimento a sua gentileza de me trazer a cerveja, pega aquela sacola lá que trouxe algumas coisas para você.
Ele pegou o “sacolão” que me despertou tanta curiosidade e o entregou ao Vinny que o abriu e passou a esvaziá-lo sobre a mesa. Trouxera chapéus, roupas e perucas. Entregou um vestido e uma peruca para o Rafa e disse – “acho que estes aqui é que estes aqui são seus”.
Eu via aquilo e não entendia nada. Que diabo eram aquelas roupas? Por que o Vinny deu uma peruca e vestido para o Rafa? Por que meu irmão estava querendo usar vestido e peruca? Teria virado travesti? Várias perguntas passavam dentro de minha cabeça e eu não tinha resposta pra nenhuma.
- Vinny, seu malandrão!!! Você se lembrou... Nem sabia que você viria hoje, quanto mais que traria as “coisas”. RB, venha ver aqui o que meu primo trouxe pra gente.
O “R” que mexia nas carnes que estavam assando passou a tarefa para o Marcos e se aproximou da mesa.
Colocou um chapeuzinho branco, com as abas caindo sobre os olhos e comentou:
- Este serve para o meu papel.
O Rafa já havia se enfiado no vestido e ajeitado a peruca na cabeça, emendou:
- Fiquei bonito, ou melhor, bonita?
Já estava com o “saco cheio” por estar boiando com aquela conversa toda...
- Alguém pode me explicar o que está acontecendo? –Lancei a pergunta sem saber quem me responderia.
- O Lucas não sabe, Rafa? – Perguntou nosso primo.
- Não, Vinny. Mas vou explicar agora - Falou o Rafinha, tirando a peruca da cabeça e virando-se para mim – Mano, queria fazer uma surpresa. Mas, prá você vou contar. Estou fazendo teatro com um grupo amador já faz alguns meses. A prefeitura empresta o local para ensaiarmos. Conheci o RB no vôlei e ele me falou que fazia teatro. Interessei-me também e ele me levou para participar. Vamos apresentar uma peça chamada “Ópera do Malandro”. Comentei isso com o Vinny há algumas semanas, pelo MSN. Ele me disse que conhecia uma galera c que havia montado esta peça lá no “Vale”.
- Eu fazia parte do conjunto musical que acompanhava os atores cantando durante a peça. – esclareceu, Vinny.
- Daí ele disse que o pessoal era “gente fina” e não se impostariam de emprestar alguns trajes, que não mais estivessem usando, para o nosso grupo. Mas, eu achei que ele não fosse lembrar de trazer, pois nem comentamos mais nada.
- Mas eu lembrei. Né, priminho?
- Quer dizer que a peça é um musical? – Perguntei.
- Sim- respondeu o RB – É um musical escrito pelo Chico Buarque de Holanda.
- E fala sobre o que?
- Lucas, é um musical que retrata o Rio de Janeiro na década de quarenta. A malandragem e o cotidiano do bairro da Lapa, se não me engano. – Quem falava agora era o Marcos, largando a churrasqueira e entrando na conversa.
- Então você também conhece esta peça? Só eu que não sei nada sobre ela?
- É que adoro Chico Buarque de Holanda e suas músicas. E as músicas desta peça são incríveis. – Explicou o Marcos mais uma vez.
- Você adora o Chico? – Perguntou o Vinny para o Marcos e já dizendo antes que ele respondesse – Eu venero o Chico. Ele é um gênio.
Fiquei ouvindo os quatro comentarem sobre a peça, as canções e tecendo muitos elogios a respeito do Chico, que eu também conhecia, mas que nunca me atentara à sua obra.
Interrompi a conversa deles e perguntei para o RB e para o Rafa.
- E quais os papéis de vocês na peça? Vocês cantam também?
- Cantamos – Responderam ao mesmo tempo.
- Eu sou um dos capangas de um bandidão da peça. Eu e mais três carinhas cantamos uma música chamada Tango do Covil.
- E você, Rafinha? – quem perguntou agora foi o Marcos – Qual seu papel?
- Eu sou a Geni.
- E quem é a Geni? – Perguntei meio que surpreso e estranhando o Rafa, que apesar das graças dentro de casa,e apesar de agora eu saber de sua sexualidade, se comportava no dia de forma muito masculina e como já contei pra vocês, sem um traço sequer de feminilidade ou de “viadeza”.
- É um travesti. Um veado. – Respondeu-me.
- Lucas, o Chico é muito inteligente. Ele é um gênio mesmo- Falou Vinny todo empolgado em me explicar sobre seu ídolo e sua obra - A “ópera” altera momentos cômicos e trágicos. Uma das partes mais emocionantes da peça é justamente quando a Geni canta a sua música. Na canção ela fala de uma cidade em que a população a discriminava por seu comportamento sexual. Mas, teve um dia que um cara poderoso apareceu e ia destruir a cidade inteira, e todos aqueles que a maltratavam passaram a bajulá-la ,pois o tal poderoso queria comer a Geni e se ela desse prá ele, ele iria embora sem dar um tiro sequer. Mas ela, apesar de dar pra todo mundo, não queria “fudê” com ele. Porém acabou aceitando e salvou a cidade.
- Já sei. – falei achando que tivesse matado uma grande charada – Depois que ela salva a cidade, todos a “carregam no colo” e a trasformam na heroína na cidade e a agradecem pelo que fez.
- Uhauahuh – riu o RB – Exatamente o contrário.
- Não, maninho.- Por incrível que pareça o Rafa falou sem fazer uma gracinha sequer – Assim que ela salva a cidade, eles voltam a discriminá-la, xingá-la e até jogam pedra nela. É uma história nem triste.
- Nessa música, o Chico faz uma crítica ao preconceito e à discriminação da sociedade ao gays e prostitutas. Ele mostra como a sociedade é cruel com estes grupos.
O Marcos falava estas palavras e eu me lembrei que me descobrira gay horas antes. E que a partir de segunda-feira, dali a dois dias, teria de freqüentar a escola e a sociedade sujeito a todo tipo de preconceito discriminação que os gays são vítimas.
- Dá o violão aí, Uca. – pediu Vinny apontando para o violão de Marcos que estava sobre uma cadeira ali próximo – Pelo jeito o único que não conhece a música Geni e o zepelim, aqui é o Lucas. Vamos lá pessoal. Vamos dar uma canja aqui pra ele saber o que ele estava perdendo.
O Vinny ajeitou as cordas do violão no tom que desejava e começou a cantoria:
“ De tudo que é negro, torto; Do mangue ao cais do morto; Ela já foi namorada...”
E quando chegou a parte do refrão, Rafinha, RB e Marcos entoavam com muita euforia:
“Joga pedra na Geni; Joga bosta na Geni; Ela é feita prá apanhar; Ela é boa de cuspir; Ela dá prá qualquer um; Maldita Geni”
Ouvi eles cantarem e senti inveja por não saber a música e não poder acompanhá-los. Fiquei com raiva de mim mesmo. Realmente era uma bela canção. Uma canção que falava de coisas que agora estariam presentes no meu dia-a-dia – preconceito e discriminação à sexualidade do outro.
- O Chico é bom mesmo. – Pensei.
- Rafa, e por qual razão você não nos contou, para mim e para o papai e a mamãe, que estava fazendo teatro e que apresentaria esta peça?
- Ahh... Apenas queria surpreendê-los. Queria, não, eu quero que saibam e me vejam somente no dia do espetáculo. Quero que vejam meu talento, se é que tenho (riu) e sintam orgulho se mim. Por isso não contei. Mas...prá você, eu já ia contar. Eu juro.
- Não precisa jurar não maninho. Eu acredito. E parabéns e capricha nos ensaios.- Fui até ele, abrecei-o e o beijei.
O Marcos e o Vinny se entrosaram bastante. Cada hora um pegava o violão e puxava uma canção. A preferência era Chico Buarque. Mas cantaram de tudo. De rock a sertanejo. De samba e funk. E o Vinny abrindo um a latinha atrás da outra.
Comemos churrasco e nos divertimos a tarde toda.
- Não vai tirar este vestido não, travesti? – Perguntou baixinho o RB para o Rafa.
- Vamos lá no quarto me ajudar a tirá-lo e a guardar estas “coisas”. – Respondeu com uma piscadinha e uma pegadinha no pau do “R”, que cresceu no mesmo instante.
Pegaram o sacolão e subiram. Nem bem chegaram ao quarto do Rafa começaram a se pegar. Beijavam-se e se apalpavam o corpo todo.
Rafinha, enquanto abraçava o RB com o braço esquerdo, com a mão direita abria sua bermuda. E descia sua cueca. A “anaconda” pulou para fora.
RB também tirou o pau de Rafinha para fora da sua bermuda. Beijavam-se e se masturbavam.
O Rafa ergue a camiseta do R e a enrosca em seu pescoço, de tal forma que seu peito ficou desnudo. Começou a lamber os mamilos de seu “ficante”. Abaixou-se para o abdômen lambendo-o. Desceu a boca um pouco mais e começou a passar a língua nas bolas e no “corpo” de pênis de RB. O pau do RB já estava em ponto de bala. Rb segura seu pinto e coloca a cabeça dele nos lábios de Rafinha, que depois de algumas lambidinhas o engole e começa a sugá-lo sem parar. Num mesmo tempo, começou a masturbar-se. RB acariciava a cabeça de meu irmão, enfiando os dedos sob seus cabelos enquanto este o chupava.
A porta do quarto abriu inesperadamente.
Era o Vinny.
Os dois se ajeitaram e desceram novamente para o churrasco. Logo depois Vinny também desceu. Ele tinha subido para usar o banheiro, pois o debaixo estava sendo usado pelo Marcos. Como o quarto de Rafinha era o mais próximo da escada entrou nele para usar seu banheiro, pois sequer cogitara que pudesse estaria sendo indiscreto e que flagaria qualquer coisa como a que viu.
Vinny nada comentou sobre o fato. Continuou a cantar e a agir normalmente, como se nada tivesse acontecido. Ao contrário do Rafa, que ficou todo desconcertado e nervoso.
O telefone toca novamente. O Rafa atende. Eram nossos pais. Ouço o Rafa falar:
- Ta tudo bem aqui sim. O Vinny ta aqui também. Estamos assando uma carninha. Não, não precisam se preocupar que está tudo bem. Ele ta aqui sim. Vou chamá-lo, beijo pra vocês também. – E me chamou e entregou o fone sem fio.
- Oi. Ta tudo bem sim. Não ta dando trabalho não. Se comportou direitinho.
- Ahh. Já estão perguntando de mim, né? – Falou o Rafa.
- Ok. Fiquem tranqüilos. Amanhã nos vemos. Aproveitem o FDS. Beijos.
- Vinny, meus pais te mandaram um beijo e falaram prá você não ir embora hoje, pois amanhã já estarão aqui.
- Não sei, Lucas. Talvez seja melhor eu ir hoje mesmo.
- Nada disso. Você bebeu muito. Você dorme aqui hoje. Não é Rafa?
Rafinha não respondeu. Ficou mudo me olhando e eu insisti.
- Não é Rafa? Você não quer que o Vinny durma aqui hoje?
- Quero sim – Disse todo sem graça e olhando par o RB que se enfiava lá perto da churrasqueira, bem longe do Vinny.
A cantoria continuava. Notei que meu irmão e o R estavam quietos demais.
- Vocês dois brigaram? – Perguntei baixo para o Rafa sem que ninguém ouvisse ou percebesse.
- Não.
- Que aconteceu? Vocês estão quietos. Você não ta cantando. Parou de fazer suas piadinhas. Se não aconteceu nada, você está doente, pois este não é seu estado normal.
- Já falei que não aconteceu nada, Uca. “Me deixa”. Vá la se divertir.
Fui até o “R” e fiz as mesmas perguntas e obtive as mesmas respostas.
- Não, Lucas. Não aconteceu nada. Estou bem.
A cara amuada daqueles dois me intrigava. Entretanto, o comportamento deles mudaria novamente, graças ao Vinny.
Estávamos nós três, eu, ele e o Marcos cantando uma música muito animada, já que os dois emburrados se “apartaram” do grupo, quando Vinny parou de tocar o violão.
- Parem um pouco. Gostaria de fazer um pronunciamento. – Disse em tom solene. – Peço que se aproximem todos.
Muito acanhados, RB e Rafa se aproximaram de nós.
- Eu, Vinícius Torres ( ele tem o sobrenome do pai dele, sua mãe é irmã de minha mãe), quero agradecer a hospitalidade com que sempre fui recebido aqui na residência dos Trevisan Zanini. E quero dizer mais, senhores. – Puxou o Rafa e a mim, posicionando-se entre nós e colocando seus braços sobre os nossos pescoços, abraçando-nos. - Estes dois rapazes que aqui estão são meu primos favoritos e amo muito estes moleques. E digo que aconteça o que acontecer. Estejam onde estiverem. Fazendo o que quiserem e sendo o que desejam ser, ou, o que já são...Eu sempre estarei ao lado deles e jamais deixarei de amá-los.
O Marcos e o R aplaudiram e gritaram “uh hu” . Vinny deu um beijo em meu rosto que retribui e quando virou-se para beijar o Rafa , meu irmão estava chorando muito e suas lágrimas molhavam todo seu rosto. Vinny abraçou-o fortemente e prolongadamente. Notei que cochicharam alguma coisa.
Estranhei a cena. Afinal, não era muito novidade o Vinny, após algumas latinhas de cerveja, fazer “pronunciamentos nos churrascos de família.
A diferença no pronunciamento daquele dia foi a ênfase dada nas expressões “Aconteça o que acontecer. Estejam onde estiverem. Fazendo o que quiserem e sendo o que desejam ser, ou, o que já são...”
Afastei-me um pouco de meu irmão e de meu primo que continuavam abraçados. E falei baixinho para o RB e para o Marcos:
- Não to entendendo nada desta choradeira.
- Ahh...Normal...Cada um expressa seus sentimentos de uma maneira diferente. – Disse Marcos.
- Mas a maneira do Rafinha nunca foi essa. – Retruquei – Não acha que o Rafa ta muito meloso e chorando a toa R?
Vi que o R não respondia. Olhei para ele e ele estava enxugando os olhos vermelhos.
Sai de perto dos dois e resolvi tomar um copo da batida que sobrara do dia anterior.
- Deixe-me sair daqui senão já,já vou estar chorando também. – Falei com ironia.
Eu não havia entendido nada e achava aquilo tudo muito brega. Entretanto, para os três, Rafa, RB e Vinny, que sabiam o que significavam cada palavra do “pronunciamento” de meu primo, aquele momento era de muita emoção.
Hoje que já sei de todo o ocorrido - o “flagra” que Vinny dera no quarto do Rafa – vejo aquele momento com outros olhos, e ao lembrá-lo, também me emociono muito, e choro, pois compreendo a aflição que o Rafa estava passando. Meu primo nunca pediu explicação de nada. Continuou s a tratar o Rafa como sempre tratou e, naquele dia, deu a ele mais atenção que a mim. Fiquei até enciumado.
- Rafa. Venha até aqui cantar aquela música que eu gosto. Mas, com performance.
- Ahh, Vinny... Hoje não
- Venha, moleque.
Eu já sabia a que música o Vinny se referia. Em todos os churrascos ele sempre pedia para o Rafa apresentar o mesmo “número” musical.
Após muita insistência do Vinny, o Rafa foi se preparar para seu show.
Colocou umas bolas feitas com papel higiênico por dentro da camiseta, para que parecessem mamas. Colocou uma peruca que Vinny trouxera – em outras apresentações costumava colocar uma toalha de banho na cabeça, como se fosse longos cabelos.
- Tudo pronto? – perguntou Vinny.
- Sim.
- Então vamos lá. – Vinny fez a introdução no violão e Rafa começou a cantar.
“ Ô, Zé, você foi ingrato, me levou pro mato, me disvirginou.
Agora eu estou fudida, com as “teta caída” que você chupou.
Ô, Zé, vou cortar seu saco prá tapar o buraco que você me fez.
Ô, Zé, prá falar a verdade, eu to com vontade, de te dar outra vez.”
Ele cantava esta musiquinha, antiga, do comediante Ari Toledo, e que até hoje não sei onde ele aprendeu. Mas, mesmo que a canção não fosse tão engraçada, a performance do Rafa era muito hilária. Ele começava a cantar com a o dedo indicador na boca e toso encolhido como se estivesse tímido. Cantava como se fosse uma “caipira” do mato. E também pintava um dos dentes da frente de preto para parecer banguela.. Quando dizia “Ô, Zé”, sempre apontava para alguém presente e obrigava este a ser coadjuvante de seu showzinho. Sentando em seu colo e lhe colocando as “tetas na cara”. O escolhido daquele dia, logicamente, fora o RB.
Ao final da apresentação todos nós aplaudimos. Principalmente o Vinny. Até eu, que já tinha visto aquele show dezenas de vezes, ri muito. Mas, com certeza, iria ainda ver aquela apresentação muitas e muitas vezes ainda.
Tentando se entrosar com o RB, que ainda estava receoso devido ao episódio do flagrante no quarto do Rafa, Vinny puxou conversa com ele para descontraí-lo:
- RB, de todos nós aqui, parece que só você não toca nenhum instrumento musical. Eu e o Marcos tocamos violão, o Rafa batera e o Lucas teclado.
- Mas quem disse que eu não toco também?
- Punheta não vale. – Zombou Marcos.
- Para seu conhecimento, engraçadinho – falou olhando para o Marcos – toco violino.
- Violino!?! – surpreendeu-se Vinny – Por qual razão foi aprender a tocar violino?
- Por causa da igreja da igreja que minha família freqüentava. Os rapazes da igreja se preparam para tocarem nos cultos. Assim, eu fiz música desde os 8 anos e aprendi a tocar violino. Mas, alguns colegas meus da igreja preferiram aprender outros instrumentos, como sax, piston ou trombone.
A partir daí o RB ficou mais solto e notou que realmente o fato do Vinny ter flagrado ele e o Rafa não teria maiores conseqüências que o constrangimento que sentiram quando ele adentrou ao quarto.
Foi um dia legal. Continuamos com nossa festa até uma meia-noite.
O Vinny estava “trebado”. Não foi embora, pois nem tinha condição para tanto.
Eu quis arrumar um colchão ao lado de minha cama para o Vinny dormir, entretanto, ele optou por dormir na sala, pois disse que tava muito bêbado e que se tivesse que levantar para ir ao banheiro vomitar, lá na sala seria mais fácil. Ponderei com ele que no meu quarto tinha banheiro.
- Não, Lucas, pois quando eu acender a luz acordarei vocês. É melhor eu ficar aqui embaixo mesmo, assim não atrapalho ninguém. Afinal, vocês nem beberam nada. Como o beberrão sou eu, tenho de agüentar sozinho as conseqüências.
- Ok. Mas se precisar de alguma coisa chama. Boa noite, Vinny.
Passei no quarto de Rafinha para dar boa-noite pra ele e para o RB. Já estavam deitados, mas não abraçados.
- Lucas, preciso te contar algo.
Rafinha me narrou o acontecido. Que nosso primo o tinha pego com a “boca na botija”.
- Mas, Rafa, você não podia ao menos ter fechado a porta? E porquê tinham que fazer sexo naquela hora.? Você sabiam que iam dormir juntos. Não podiam esperar até a noite?
- Eu sei, Uca. Eu errei. Mas você viu que o Vinny foi legal. Você escutou o que ele disse lá embaixo, né?
- Escutei sim. E agora entendo tudo, principalmente a razão de você ter se emocionado e chorado tanto. O Vinny realmente é formidável.
- Lucas, então quero pedir desculpas, afinal sozinho o Rafa não fez nada e a culpa não foi só dele.
- Os dois estão “desculpados”, apesar de que não me devem desculpas de nada. O constrangimento que passaram foi o maior castigo que sofreram. Mas, que sirva de lição para que tenham mais cuidados. Boa noite. Durmam bem e...tranquem a porta. Se eu precisar vir aqui no quarto eu baterei.
Beijei o rosto dos dois. Meu irmão me deu ainda um forte abraço.
Quando cheguei a meu quarto, Marcos já tinha tomado banho e me aguardava acordado assistindo TV. Tomei banho me troquei e deitei-me ao seu lado. Antes porém tranquei a porta a chaves, do mesmo modo que recomendei ao Rafa.
- Ta com medo de alguém vir roubar seu quarto enquanto estiver dormindo?
- Não é nada disso, Marcos.
Contei para ele o que acabara de saber.
- Putz!!! Como estes moleques vacilam.
- Pois é... Foi o que eu disse para eles. Mas, Marcos, antes de pegarmos no sono tenho de deixar a porta destrancada, pois pode ser que o Vinny precise de algo e venha me chamar...E ele estranhará a porta fechada, pois sempre teve total liberdade de entrar no meu quarto a qualquer momento. Na verdade, ele sempre dormiu junto conosco, toda vez que veio nos visitar.
Entendo perfeitamente. Por isso mesmo não estou te esperando somente de cuecas ou pelado. Notou?
- Lógico que notei, mas enquanto a porta estiver trancada você pode ficar mais a vontade.
- Safado.
Tiramos as roupas e nos enrolamos uma ao outro. Era muito bom sentir o pau de Marcos tocando ao meu. Beijávamos-nos, rolávamos pela cama> Enquanto fazíamos meia nove, ele penetrava meu cuzinho com seu dedo.
- To cansado cara. Hoje só faremos brincadeirinhas mesmo. Sem penetração. Ok?
- Lucas, prá mim, assim ta bom demais. Não reclamei de nada
- Marcos, quando te conheci senti um tesão desgraçado por você. Queria dar prá você. Comer você. Chupá-lo e ser chupado.
- E agora perdeu o tesão?
- Não. Ainda tenho e muito. Porém sinto uma vontade maior, que é de te beijar e estar ao seu lado te abraçando, te fazendo carinho e sendo acariciado.
- Você não sabe como é bom ouvir isso.
- Você merece. Pensa que me esqueci daquela música que você cantou para mim?
- Lá em casa?
- Sim.
- Que é que tem?
- Foi uma declaração de amor?
- Dizer eu te amo no segundo dia que se conhece é meio exagerado e brega, não acha?
- Você não me respondeu.
- Ontem nós já falamos sobre este mesmo assunto.
- Vai me responder ou não?
- Ok, você venceu, respondo. Foi uma maneira de me declarar sim.
- Então você me ama?
- O que sinto por você é amor sim e não tenho vergonha em declará-lo, mesmo sendo o segundo dia que estamos juntos. Entretanto, não sei dizer o tamanho deste amor e quanto durará. Sei que ele é proporcional a toda a alegria que você me deu nestes dois dias que passei ao seu lado e crescerá ainda mais.
- E amanhã, espero que este seu amor cresça mais um pouco então, pois você passará o domingo aqui em casa.
- Mas seus pais não chegarão amanhã?
- Sim. E quero que você os conheça. Afinal, se você quer namorar comigo, é bom já conhecer meus pais.
- O que você falou?!! – perguntou Marcos surpreso e se levantando da cama.
- Ué!! Não quer namorara comigo? Pensei que quisesse. Acabou de dizer que me ama.
- Sim, mas...
- Mas o que? Quer ou não?
- Quero. Mas achei que iria zombar de mim. Por eu dizer que te amo no segundo dia.
- Que nada. Gostei do que disse. Assim eu posso dizer também que te amo, apesar de nem saber se este meu sentimento chama-se amor. Lógico que, como você já disse, é um “amor” proporcional a dois dias e também não sei até quando ele irá durar. Mas o importante é que sei que este sentimento que tenho por você não é de amizade e sim algo bem maior. Então deve ser amor mesmo.
Beijamos-nos mais ainda. Beijar é sempre bom. Mas beijar quem você ama, como diria a propaganda de cartão de crédito, não tem preço.
Marcos, enquanto me beijava, fazia carinho na minha bunda, passava o dedo de leve entre minha nádegas e as vezes empurrava o dedo médio para dentro de me ânus. Sentia um tesão desgraçado, mas eu não estava a fim de dar.
- Marcos, quero te fazer 3 pedidos.
- Não sou o gênio da lâmpada. Acho que você se confundiu senhor Aladim.
- Eu vou ter de agüentar mais um Rafinha na minha vida fazendo piadinhas o tempo todo?
- Relaxa, gato. Quais são os 3 pedidos
- O primeiro é bem simples.
- Diga.
- Tire o dedo de meu rabo. Hoje não vou dar, tudo bem?
- Tudo. Não precisa ficar bravo.
- Não estou. Ao contrário, é muito bom. Só não to a fim, to cansadão, como já te falei.
- Qual o segundo?
- Quero que você cante para mim, mais uma vez aquela música que cantou em sua casa.
- Não vou pegar o violão pra cantar agora. E sem acompanhamento não fica tão bonita. Porém, enquanto você estava tomando banho, a baixei no seu PC, através do Kaasa. Vou colocar prá você ouvir. Assim, você já ouvi com o cantor que a gravou.
- Mas quero que você cante junto para mim.
Ele foi até o PC, localizou a canção, apertou o play e se deitou ao meu lado. Olhava para o meu rosto, acariciava a minha face, passava as mãos em meu cabelos e cantou junto com a gravação – “ Ninguém esconde o amor; Ninguém proíbe o amor; É só olhar no olhar; Pro Amor chegar...” . Realmente aquela canção era linda demais. E ao escutar os dois cantores, na gravação original, pude perceber que a música não era só bonita, ela emocionava e descrevia o amor como algo que não pode ser impedido. Não importa se este amor seja de um homem para o outro, mas não poderia ser proibido ou escondido. Essa música deveria ser um símbolo para os homossexuais - pensei. Afinal, ela trata de amor proibido. E o que a sociedade preconceituosa mais faz com os homossexuais é impedi-los de amar e serem amados.
- Vou ouvir esta música a toda hora, Marcos. Todos os dias. Até aprendê-la. Não a esquecerei jamais.
- E espero que sempre que ao ouvi-la você se lembre de mim.
- Isso você nem precisaria dizer.
- E qual é o terceiro pedido, gatinho?
- Na realidade não é um pedido e sim uma pergunta.
- Faça, se eu puder responder...
- Qual é o seu segredo que você disse ter. Ontem a noite você desconversou e não o revelou. Disse que o segredo não era a sua sexualidade. O que é então que você esconde?
Marcos ficou com um rosto de tristeza de forma repentina.
- Eu preciso mesmo contar para alguém. Que seja para você. Eu sou filho adotivo.
- Esta brincando, não é?
- Este não é um assunto que alguém brincaria. Não acha?
- Tem razão. Desculpe-me. Mas, achei você tão parecido com sua mãe. O rosto, o sorriso.
- Mas não sou filho natural. Sou adotivo.
- E isso é um segredo por quê? Se você sabe, não é segredo.
- Meus pais não sabem que eu sei.
- Não?
- Não. Descobri recentemente.
- Como?
- Gato, podemos falar sobre isso outra hora. Tudo aconteceu há tão pouco tempo e ainda fico triste em pensar nisso.
- Sim. A hora que você quiser e se quiser falar. Se não quiser, respeitarei. Mas, só direi mais uma coisa. Não há motivo para ficar triste. Pude perceber, pelo que você me falou, e por conhecer a sua mãe, que seus pais te amam como se fosse filho natural
- Não tenho dúvida disto. Tenho certeza que me amam, e talvez até bem mais que um filho natural. Mas, compreenda, é uma surpresa e um choque muito grande. Eu os amo e sempre os amarei. Não entendo por qual razão não me contaram desde o início. Eu não estaria sofrendo com isso hoje. Já teria me acostumado.
- Vamos dormir, gato. Esqueça isto por já. - Falei acariciando-o na face.
Dei mais um beijo em Marcos. Ele realmente ficou muito triste e seus olhos estavam lacrimejando.
- Marcos, coloca a roupa, pois vou destrancar a porta.
Ele colocou a bermuda e a camiseta e deitei sua cabeça em meu colo e passei a coçar sua cabeça, fazendo cafuné.
- Não vai destrancar a porta? – perguntou.
- Primeiro vou fazer você dormir. Dorme, gatinho. Quero te fazer muito carinho. Não quero que durma triste. E não poderá dormir abraçado a mim, hoje. Lembre-se disto.
Ele fechou os olhos e fiquei mexendo em seus cabelos. Eram muito cheirosos e sedosos. Parecia que Marcos cuidava muito bem dos cabelos que davam forma a seus rosto, caindo na testa em mechas com a forma da letra C. Também na região das costeletas estas mechas apareciam. Os cabelos de Marcos era o diferencial de sua beleza.
Marcos dormiu rapidamente. Repousei sua cabeça no travesseiro. Fui até o quarto de meus pais e peguei uma tesoura na gaveta da cômoda. Voltei e cortei uma mecha de cabelo de Marcos. Pequena para que não percebesse. Coloquei-a em um envelope e o escondi em meu guarda-roupas. Queria guardar aquela mecha de cabelos para sempre, como uma recordação daquele que entendia ser meu primeiro amor.
Acordei bem cedo. O sol do domingo transpassava as frestas da janela do quarto indicando mais um dia quente e ensolarado. Não chamei ninguém. Fui para o computador e resolvi preparar uma surpresa para os meus pais. Fiquei umas 3 horas no PC.
Eram umas 11 horas quando o Vinny apareceu em meu quarto. Já estava todo arrumado e disse que iria embora.
- Poxa Vinny. Já vai? Pensei que passaria o domingo conosco?
- Não, cara. Quero chegar em São José para o almoço ainda.
- Que pena.
- Nos veremos sempre. A partir da outra segunda-feira, não amanhã, já estarei estudando aí na faculdade de direito e estarei trampando numa delegacia aqui perto de vocês, no bairro da Saúde em Sampa. Aí pertinho do Carrefour.
- Na Vila da Mercês?
- Sim, lá mesmo.
- E vou dividir o apartamento com um amigo, lá perto do trabalho.
- Mas você poderia ficar aqui com a gente, meus pais não se importariam, sabe disso.
- Eu sei. Mas será bom prá mim também, morar só.
- E a Cecília, sua namorada.
- Estamos meio que brigados, até bem por isso que ela não está aqui hoje,
- Estranhei mesmo ela não ter vindo.
- Mas, mais tarde, quero ver se converso com ela e nos entendemos.
- Faz isso sim, ela é legal.
- Dá um abração na galera e diga que logo é meu “niver” e quero todos eles lá em casa comemorando. Quero que o Marcos e O Rb vão prá lá com vocês.
- Falarei sim.
Nos despedimos no portão de casa. Dei um beijo nele. Fiquei com vontade de agradecê-lo pela forma como conduziu o acontecido na tarde anterior. Agradecer suas palavras carinhosas que deixaram claro para todos nós que homofobia não fazia parte de seu vocabulário. Porém, como ele foi super discreto e não tocou neste assunto de forma direta com ninguém, não seria eu que o faria. Estaria sendo até indelicado
Quando voltei para dentro da casa o Rafa e o R já estava se levantando.
- O Vinny já foi?
- Sim, Rafa.
- Que pena.
Contei que ele convidou nós quatro para o aniversário dele.
- Até eu? – insistiu RB
- Sim. Até você e o Marcos. Ele foi bem claro.
RB ficou contente por ter sido incluído no convite. Isto ficou nítido em seu rosto sorridente.
- To terminando umas coisas que to preparando aí no PC. RB, você já mostrou que cozinha bem mesmo. O Rafinha te ajuda e você prepara um almocinho para nós.
- Pode deixar.
Voltei para meu computador. Estou quase terminando minha “obra” quando observo Marcos se mexer na cama. Largo o que estou fazendo e me deito ao seu lado e o abraço. Ele ainda dorme. Fico quietinho ao seu lado acariciando-o. Logo ele acorda. Procuro seu lábios para beijá-lo e ele desvia sua boca da minha.
- Que foi? Por que não quer me beijar?
- Eu quero, mas acabei de acordar e devo estar com um mau hálito tremendo.
- Não me importo. – Disse isso e fui beijá-lo.
- Argh!!- ele estava com mau hálito mesmo -Tem razão, Marcos, vá escovar os dentes. Depois nos beijamos.
- Eu te avisei. Você insistiu e agora eu fiquei envergonhado.
- Não tem problema não. Vá lá escovar os dentes, só isso.
Realmente, mesmo com muito amor, com mau hálito não dá pra beijar ninguém, e nem ser beijado. E todos nós temos mau hálito quando acordamos. Pensando nisso, a partir daquele dia, todas as vezes que dormia com Marcos, acordava antes que ele, escovava meus dentes, passava anti-séptico bucal, lava meu rosto, penteava meu cabelo e me deitava ao seu lado, como se ainda tivesse em sono profundo.
Queria que quando acordasse me visse bonito e cheiroso e não com a cara e cabelos amassados e um bafo de onça.
- Pronto, gato. Minha boquiinha já ta cheirosa.
-Vem cá, quero beijá-lo muiiiiiiiiiito.- Falei isso imitando uma humorista da TV que usava esse bordão.
- LUCAS...
- Que foi?
- Meu cabelo ta esquisito?
- Não, por quê ?
- Estava tendando penteá-lo, mas aqui ele parece que ta meio estranho. Parece até que aqui deste lado ta faltando uma parte dele.
- Ta normal, gatinho. – E beijei-o depressa para que ele mudasse de assunto.
O RB preparou uma macarronada deliciosa. Almoçamos e fomos nos sentar à sala para ver TV.
- Galera, preciso da ajuda de todo mundo.
- O que é, Uca?
- Rafinha, vamos fazer uma festinha surpresa pro casal real.
- Legal, Lucas. Boa idéia. È só dizer no que eu poso ajudar que eu farei.
- Quero que você, que conhece um monte de música, encontre uma que fale de aniversário de casamento para cantarmos para eles.
- Pode deixar.
- E eu Lucas, posso ajudar em que?
- R, quero que você faça um bolo. Tem jeito?
- Chocolate com laranja. Será que eles gostam?
- Vão adorar.
- E eu mano? Você apenas se comporte e não nos dê trabalho.
- Credo, Uca!!!
- To brincando, maninho... Conecte o notebook à TV aqui da sala. Conecte as caixas de som também.
- Pode deixar.
- Galera, todo mundo tem terno? A “festa é de gala”.
- Eu tenho – falou marcos.
- Eu não – respondeu RB.
- Eu te empresto. Disse o Rafa par o R.
O Marcos foi até o computador escolheu uma música. Explicou-me sobre ela. Imprimiu a partitura para que eu pudesse acompanhar nos teclados.
- Mas, esta parte ficaria muito boa se fosse tocada com violino O RB toca- explicou Marcos.
- Mas eu não tenho violino.
- E como você tocava?
- Era da igreja. Como eu não a freqüento mais, tive de devolver o violino.
- Não tem problema. Eu arrumo um.
Ao meu lado morava uma menina feinha, que sempre dava em cima de mim. Ela era simpática, mas, decididamente não me interessava. Havia estudado comigo na findação e tocava violino. Toquei sua campainha.
- Nossa! Você aqui.
- Pois é... Preciso de um favorzinho seu... – Disse na maior cara de pau.
Expliquei para ela o que necessitava e prontamente se propôs a me emprestar o violino.
- Obrigado por já.
- Precisando de mim, basta apertar a campainha – Falou isso com um tom de malícia.
Voltei correndo para casa.
Passamos a tarde toda ensaiando.
Meus pais ligaram e disseram que chegariam por volta das oito da noite.
Preparamos todo o ambiente para esperá-los.
Marcos foi até sua casa e pegou o terno. Voltou rápido.
Quando meus pais chegaram, todas as luzes estavam apagadas.
- Que escuridão, Carlos...
- Que será que estes meninos aprontaram? Queimaram a instalação elétrica? – Dissse meu pai.
A tela da televisão se acende. Um texto aparece nela vindo debaixo para cima:
“ Ainda que falássemos as línguas dos homens e dos anjos, se não houvesse amor, nada seriamos...”
E na tela começou a desfilar várias fotos de meus pais desde quando eram crianças, até quando se tornaram adolescentes e começaram a namorar. Depois vieram fotos do noivado, do casamento, de minha mãe grávida de mim, meu nascimento, meu pai chorando comigo no colo na maternidade. Depois fotos em que eu aparecia com quase um ano de idade no colo de meu pai e minha mãe grávida do Rafa. Fotos de nós todos na praia, em Lins no ano novo com os familiares. Na primeira comunhão...etc Terminava com uma foto de nós quatro juntos, todos sorrindo. Meu pai,com o braço direito abraçado a minha mãe e o esquerdo a mim, e minha mãe abraçava o Rafinha com seu braço direito. A imagem aparecia bem próxima e aos poucos ia se afastando e podíamos observar a foto inteira, que representava toda a felicidade de nossa família. Tudo isso ao som de uma canção francesa chamada “La Mer”. Para quem não conhece, ela também é tocada no filme procurando Nemo, porém em inglês e um pouco mais acelerada que no original.
Quando terminou a apresentação e acendemos a luz e gritamos “surpresa”, meus pais choravam muito e nos abraçavam bastante.
Minha observou que estávamos todos de gravata, camisa branca, terno preto ou azul marinho.
- Vocês estão lindos!!!- Exclamou minha mãe.
- Eu sabia que tinha filhos maravilhosos – falou meu pai – mas acho que eram dois apenas – disse com ironia olhando para o R e para o Marcos.
- Prazer.meu nome é Marcos, sou amigos de seus filhos.
- Eu me chamo Ricardo, Ricardo Bruno. Também sou amigo do Rafinha e do Lucas.
- Eles nos ajudaram, papai a organizar tudo. O RB fez até bolo.
- Rafinha!!! Era surpresa..
- Desculpa, Uca...- e me beijou como sempre fazia quando queria se desculpar.
- Não precisam brigar meus amores, estamos adorando tudo – Minha mãe falou isso com a alegria estampada no rosto.
Meu pai já se entrou com nossos amigos. Servíamos canapés feitos com o molho do R, lanchinhos, feitos com carne do churrasco e um coquetel que nada mais era que um espumante misturado a finalzinho da batida que o R fizera para sexta-feira em que nos todos nos conhecemos.
- Bem, antes de servirmos o bolo, temos mais uma surpresinha.
O teclado já estava colocado à sala, e me posicionei nele, arrumei a partitura. O R pegou o violino e o marcos o violão. Havíamos plugado um microfone ao aparelho de som da sala
Sinalizei com a cabeça e o R movimentou o arco do violino, uma doce melodia surgiu. Em seguida marcos e eu passamos a acompanhá-lo, como havíamos ensaiado. Após alguns segundos daquela deliciosa harmonia musical, empunhando o microfone e com uma voz de fazer inveja a muitos cantores, o Rafa inicia o canto daquela canção escolhida por Marcos, desconhecida por nós, mas que ensaiamos e a executávamos com total perfeição naquele momento de maior emoção:
“ Dois corações, neste dia feliz, revivem momentos sublimes de amor.
Nós dois a dançar e o mundo em flor.
A festa findou, quando o dia surgiu.
Quero brindar, neste dia feliz,
Aquela noite de sonho e esplendor.
No firmamento do céu a luzir
A noite do nosso amor
Era uma valsa linda*e meus pais bailaram pela sala. A voz do Rafa (sério) ressoava aqueles lindos versos,pelas paredes da casa. Quando ele parava de cantar, o violino do R voltava a solar a música. Foi lindo
A canção se chama Aniversary Song, cantada por Al Johnson, e pode ser facilmente encontrada no Youtube ou outro site quarquer
Esta noite foi inesquecível.
Meus pais se ofereceram e levaram o RB para sua casa, Rafinha os acompanhou.
Ficamos eu e Marcos conversando um pouco mais.
- Cara, que final de semana!!!
- Que bom que tenha gostado, Marcos.
- Gostado é pouco, amei. Pena que acabou.
Beijamos-nos pela última vez e nos despedimos.
- Amanhã passo aqui e vamos para o LG juntos.
Subi para meu quarto, coloquei para tocar no PC “Love is in the air”, que Marcos cantou para mim, na noite anterior. Peguei o livro -“O terceiro Travesseiro”- que me emprestara e, apenas por curiosidade, comecei a ler.
Logo na primeira página aquela leitura me prendeu.
Meus pais e Rafa deixaram o Rb na porta de sua casa, bem simples. Morava num quintal grande onde tinham sido construídas 3 casa em que moravam sua família, a família de seu tio e sua avó.
Minha mãe deu um beijo no R e o agradeceu.
- Querido, seu bolo estava maravilhoso e você tocou divinamente. Obrigado mesmo. Sua mãe deve ter muito orgulho de você.
Ele entra pela porta da cozinha, sem fazer barulho para não incomodar ninguém. A luz se acende.
Sua mãe esperava-o, Estava brava.
- Isso são horas? – perguntou.
- Mas eu falei para a senhora que passaria o FDS fora.
- Mas não disse que viria tão tarde.
- Os pais do Rafael me trouxeram e eu deixei o telefone da casa dele anotado na agenda. Não fiz nada demais.
Iniciou-se uma discussão e após mais algumas palavras, um tabefe foi ao rosto do R.
- E amanhã, quando você chegar da escola, quero esta casa limpíssima.- Disse a mãe dele indo se deitar.
RB tirou sua mochila. Sentou-se em uma cadeira qualquer, debruçou sobre a mesa da cozinha e começou a chorar baixinho.
Sua mãe retorna a cozinha e da um grito:
- Vá dormir que amanhã é segunda-feira.
CONTINUA….