Helena Matozzano - Parte 2

Da série Helena Matozzano
Um conto erótico de Al-Bukowski
Categoria: Heterossexual
Contém 3452 palavras
Data: 28/11/2023 20:14:56
Última revisão: 10/01/2024 18:02:06

#Sexta-feira

Amanheceu nublado em São Paulo, anunciando que aquele seria um dia típico do outono paulistano; ou seja, nem quente, nem frio, mas sujeito a alguma garoa vespertina. Minha manhã seguiu a rotina familiar de sempre, e, após o almoço, segui para a região dos Jardins, pegando o trólebus em direção ao escritório de Henrique.

Cheguei pontualmente às 15:00, identificando-me à secretária que me aguardava para me levar até a sala dele. Enquanto adentrava o local pude notar a beleza do imóvel, um casarão suntuoso da época áurea do ciclo do café e modernizado para abrigar os escritórios dos Moraes Mendonça e demais associados. A recepção era muito luxuosa, e os vários cômodos pelos quais passamos em direção ao de Henrique eram muito requintados. A fama e competência explicavam os ganhos e alto investimento feito naquele negócio.

Fui anunciada pela secretária junto à porta de sua sala, e, assim que entrei, Henrique veio me receber, com sua assistente retornando para a recepção e fechando a porta ao sair. Notei de imediato os trajes dele em sintonia com os trabalhos do dia a dia, as mangas de camisa arregaçadas e deixando o terno pendurado no espaldar de sua cadeira. Porém, mesmo assim ele mantinha a elegância, com o suspensório atado à calça, e em linha com corte da mesma. Retribuí o sorriso dele antes mesmo de escutar suas primeiras palavras:

- Helena! Que prazer tê-la aqui comigo! - ele me cumprimentou já junto a mim, quebrando o protocolo profissional e dando-me dois beijos no rosto por conta de nossa amizade.

- Obrigada, Henrique! Eu que tenho que agradecer sua atenção em conseguir me atender tão prontamente. E, a propósito, suas instalações são lindas, fiquei impressionada.

- Você gostou? Que bom! Contratamos um arquiteto que elaborou um projeto especial para nós. Tudo com a intenção de deixar os clientes bem confortáveis e à vontade quando nos visitam.

- E conseguiram, é muito acolhedor. Parabéns! - eu dizia isso observando os detalhes de sua sala, um cômodo muito amplo onde se destacava uma mesa trabalhada em estilo inglês com confortáveis cadeiras ao redor dela.

- Mas me deixa ajudar com seu casaco, Helena. Vamos nos acomodar para discutir seu caso.

- Ah, muito obrigada - e virei-me de costas para ele, desamarrando o pesado sobretudo que usava de maneira que ele pudesse me auxiliar a despi-lo.

Preocupada com a minha apresentação, eu escolhera para aquele dia um vestido em peça única em tons carmim claros, onde a saia pregada chegava até a altura dos meus joelhos. Já a parte de cima terminava em duas alças largas amarradas atrás do meu pescoço, dispensando o sutiã e moldando separadamente cada um dos meus seios, com uma boa parte do meu colo exposto entre elas. Além do vestido, eu usava um cinto largo de cor preta que marcava minha cintura e sapatos de salto alto, ambos contribuindo no realce de meus quadris. Quando me olhara no espelho de casa, conferindo os detalhes antes de sair para a rua, eu estava confiante no conjunto das roupas. Contudo, naquele momento em que me vi sozinha ali com Henrique, fiquei em dúvida se não havia inconscientemente me mostrado um pouco mais sensual do que deveria; e talvez passando uma mensagem equivocada para ele.

De qualquer forma, com o cavalheirismo esperado, ele me conduziu pela sala e puxou uma das cadeiras à frente de sua mesa para eu me sentar. Ele foi, então, para o outro lado, sentando-se em seu lugar enquanto eu me acomodava cruzando minhas pernas, e vendo a barra da minha saia subindo um pouquinho acima do esperado; algo que foi discretamente percebido por Henrique num rápido lapso de olhar que consegui captar.

- Bom, vamos então entender melhor esse imbróglio todo, Helena. Você trouxe os documentos e papéis do inventário como lhe pedi?

- Sim, estão todos aqui comigo. Veja, por favor - e lhe entreguei a pasta que havia organizado com tudo referente ao caso.

Passamos a discutir todos os detalhes do processo, ele me perguntando e eu esclarecendo dúvidas acerca do histórico de todas as ações tidas até então. Mesmo com uma mesa entre nós, a proximidade me permitia sentir muito da colônia amadeirada que ele usava, bem diferente da mais suave utilizada por Geraldo. Eu me concentrava como podia em dar as respostas a ele, mas as trocas de olhares que tínhamos, e o som de sua voz grave ecoando em meus ouvidos, foram aos poucos me envolvendo e me causando sucessivas reações. Não entendia como aquilo tudo podia estar brotando de dentro de mim, e imaginava que talvez fosse parte em culpa na frustração da noite anterior e do gozo ainda represado em meu ventre.

O certo é que, à medida em que o tempo passava, eu fui me sentindo cada vez mais quente, meus hormônios em ondas subindo e descendo pelo meu corpo, e se acumulando em fluídos que eu rezava para ficarem contidos dentro de minha fendinha, e que não terminassem por molhar excessivamente o tecido de minha calcinha já umedecida. Mas estava difícil, e ficou ainda pior quando eu percebi olhares indiscretos de Henrique desfocados do meu rosto e indo mais abaixo, em direção dos meus volumosos peitos.

Eu houvera confiado no forro e na espessura do bojo do vestido, mas só então percebera como eles não conseguiam fazer frente ao tamanho e rigidez dos meus mamilos quando excitada. Abaixando o olhar, conferi discretamente o que estava atraindo a atenção dele; notando, então, como meus bicos atravessavam e despontavam no tecido, apontando firmes e empinados em direção a ele. Tudo isso mais que completando sua antevisão do volume de meus peitos, encorpados nas alças do vestido e delineados pelo convidativo decote.

Ao voltar meu olhar para ele, eu mesma me denunciei, sentindo-me corar de vergonha por não estar conseguindo controlar ou ao menos disfarçar a excitação que sentia. Para mim era como se estivesse explicitamente escrito em minha testa tudo que passava conturbadamente pela minha mente, em particular o desejo errado, mas inegável que passara a sentir por aquele homem. E, para mim, Henrique parecia saber daquilo, conseguindo ler tudo em meu rosto; e sorrindo provavelmente já ciente do seu dominante poder de sedução sobre mim.

Esse nosso joguinho continuou, com o próximo lance dele sendo o de se levantar de sua cadeira e passar a ler partes de um contrato enquanto se movia ao meu redor em passos lentos. Contudo eu pouco prestava atenção às palavras dele. Pois, protegida pela concentração dele na leitura das folhas e pautas do documento, eu pude livremente ter minha oportunidade de o admirar sem o risco de ser flagrada. E comecei por sua boca e seu maxilar másculo, imaginando qual seria a sensação de ser beijada por ele. Logo depois, eu fui descendo meu olhar de desejo para suas mãos grandes segurando aqueles papéis, mas fantasiando o quanto hábeis elas não seriam nos carinhos a uma mulher, a despeito das alianças em nossos dedos estarem me alertando o tempo todo quanto da impossibilidade disso poder ocorrer.

Segui nesses pensamentos, suas palavras ao fundo sem fazer mais nenhum sentido para mim, quando, então, me perdi por mais alguns eternos segundos ao admirar a região abaixo de sua cintura; vendo o volume aparente entre suas pernas, forçando o tecido da calça em um formato que não deixava dúvidas sobre o quanto era alongado e volumoso o seu membro. Curtos momentos de uma visão me dando água na boca, e me fazendo disfarçar um suspiro e um leve morder de lábios enquanto minha boceta fervia e pulsava muito molhada, como que dizendo estar pronta para o receber.

A partir desse momento, eu sinceramente não mais recordo de nada relevante que tenhamos acertado, apenas respondendo a suas perguntas com afirmações na confiança de que ele resolvesse nosso problema da melhor forma possível. Internamente eu estava em guerra comigo mesma. Se, por um lado, eu me repreendia por aquele comportamento adolescente e inaceitável para uma mulher madura, casada e mãe de família, por outro eu dava vazão a uma outra mulher que gritava por se fazer sentir viva, querendo descobrir o prazer. E Henrique vinha avançando aos poucos para ocupar esse espaço vazio dentro de mim; o de um homem que poderia me possuir de uma maneira mais primitiva, ainda que até ali fosse apenas uma fantasia maluca de minha parte.

Nosso tempo foi rapidamente se esvaindo, na uma hora prevista para concluirmos os primeiros entendimentos. O que, de certa forma, acabou sendo um alívio para mim, me tirando da tortura que estava sendo negociar sensações e sentimentos com a racionalidade que nossa reunião exigia. Eu certamente iria me penalizar mais tarde pelos pensamentos pelos quais me deixei dominar, saindo de lá apenas com o mérito de não ter sucumbido à tentação de fato.

Conhecidos todos os pormenores, Henrique me explicou, ao final, que elaboraria um requerimento para reabrir o inventário de meu avô, ao mesmo tempo em que outros procedimentos e documentações validariam escrituras e outros registros então incorretos. Faria isso já de imediato, pois nas próximas semanas teria pouco tempo disponível devido a uma viagem a Minas Gerais, seguida de um congresso aqui na cidade onde era um dos palestrantes e ainda nem havia terminado de preparar sua apresentação. Entregou-me uma procuração para eu pegar a assinatura de todos da família e que me autorizaria a representá-los dali em diante; e me adiantou que precisaria colher minha assinatura em diversos outros procedimentos e etapas do processo, após darmos início a ele.

Henrique terminava de organizar uma pasta com meus documentos e anotações que fizera sobre o processo, enquanto eu, parcialmente refeita do meu descontrole temporário, desviei o assunto para a festa do final de semana:

- Você e a Cecília irão ao Regatas nesse sábado? Para o baile de caridade à noite?

- Sim, Helena. Ela comentou comigo e já inclusive acertamos com a babá para ficar com o Miguelzinho. Creio que devemos todos nos encontrar lá, não é?

- Ah, com certeza. Pelo menos com quem conversei, todos confirmaram estar indo. A festa promete!

- Hum, seria um prazer poder dividir uma dança com você, Helena. Será que o Geraldo permitiria? - ele me pegou de surpresa, num simpático e singelo pedido, mas que me fez erubescer pela segunda vez naquela tarde.

- Hã… oh… imagino que sim, afinal somos… amigos, não? Quer dizer… que mal haveria nisso? - respondi meio sem jeito, o vendo me olhando com um sorriso enigmático enquanto eu gaguejava e me enrolava com as palavras.

Acabamos por terminar nossa reunião com ele me acompanhando até a saída do escritório, não sem antes me ajudar a vestir novamente meu sobretudo. Já na porta, nossa despedida repetiu a troca de beijos no rosto, acompanhada de um discreto apalpar de sua mão grande espalmada em minha fina cintura; algo que me provocou uma última descarga elétrica que me deixou arrepiada por boa parte do curto caminho entre os jardins do casarão e a calçada da rua. Lá chegando, arrisquei um último olhar para trás, cruzando com Henrique me observando acompanhando minha partida, ao que nos despedimos com sorrisos e acenos finais.

Já no caminho de volta, sentada junto à janela de um trólebus relativamente vazio, eu repassava tudo o que acontecera naquela tarde. Via e revia os olhares de Henrique para meus seios e meu corpo, sua aparente excitação marcada na calça; e bebia um pouco mais da inquietude que sentira naqueles momentos, um sorriso arteiro de menina brotando em meu rosto sem que eu pudesse conter aquela sensação de felicidade e prazer levemente temperada com uma dose de culpa. E, enquanto fazia isso, pensava na mistura dos comportamentos similares dos homens, lembrando dos comerciantes do bairro e agora de Henrique. Fiquei refletindo se os homens não seriam mesmo todos iguais, nos lançando sempre esses olhares indiscretos que em nada escondem seus desejos e intenções. Concluindo com uma certa decepção e amargura, ao lembrar de meu marido e seu comportamento todo certinho para comigo, parecendo não sentir essa mesma atração instintiva por mim.

#Sábado

O dia seguinte, e em particular a parte da tarde, foi muito agitado em nossa casa. Soninha ficou às voltas com Cidinha a lhe ajudar com um penteado diferente que queria experimentar, deixando-nos malucas até conseguir que ficasse exatamente como imaginara. E, não posso negar, ela ficou linda, com o cabelo longo parcialmente preso, dando-lhe um ar mais sensual ainda; minha filha já uma mulher completa e pronta para a vida.

Quando a noite se aproximou, Geraldo se encarregou de primeiro levar Soninha e mais duas amigas para o local da festa delas, onde se encontrariam com os demais colegas, e também Bruno, o namorado de nossa filha. Nesse meio tempo, eu tive tempo suficiente para tomar banho e me arrumar, aguardando-o retornar para irmos então ao nosso baile no Regatas.

Assim que chegou, ele ficou me aguardando alguns instantes no carro, enquanto eu passava algumas instruções para Cidinha:

- Bom, acho que é isso. Por favor, cuide de tudo aqui em casa, Cidinha, pois hoje devemos voltar tarde. Ok?

- Pode ficar tranquila, dona Helena. Aproveitem bem a festa, e namore bastante com o doutor Geraldo! Rsrsrs

Sai rindo do conselho de Cidinha, mas pensando mesmo em ter momentos gostosos com meu marido naquela noite. Meu fogo não se aplacava, estando sempre com uma chama acesa pronta para se alastrar. Apenas esperando ele perceber isso em mim, deixando-se contaminar para me dar o carinho e prazer que eu tanto desejava.

Eu sabia que Henrique também estaria lá, e não estava indiferente sobre o ocorrido em seu escritório. Porém eu havia gastado boa parte do tempo desde nossa reunião para me penitenciar e colocá-lo no devido lugar; ou seja, o de ser apenas um tempero picante a mais em minhas fantasias, não sendo nada que eu pudesse se tornar realidade algum dia. Eu queria e precisava unicamente de Geraldo, e ele haveria de me bastar de alguma forma.

Assim que chegamos à festa fomos surpreendidos pelo esmero com que ela fora preparada. Volta e meia tínhamos eventos como aquele, mas geralmente mais simples e usando as instalações padrão do clube. Naquela noite, contudo, se percebia como capricharam na decoração, na seleção dos músicos e em todos os arranjos de mesas. Estava mesmo divino!

Buscamos pelo nosso lugar já encontrando parte dos amigos nas mesas ao redor, que reservamos para ficarmos todos bem próximos. Aos poucos os mais atrasados foram chegando, e diversas e divertidas conversas aconteceram entre todos. As mulheres naturalmente comentavam sobre os vestidos usados, e fofocavam a respeito de algumas socialites que ali estavam presentes. Já os maridos se mantinham mais focados na política e turbulências recentes do país, mas sem deixar de espichar olhares para a pista de dança onde outros casais presentes já se aventuravam.

Um tanto alegre pela bebida, Catinha foi a primeira a convocar o marido para dançar. Tive um leve tremor e frio na barriga, ao ver Henrique se levantando logo a seguir e lançar um olhar discreto para mim. Contudo, ele teve bom senso, e esticou a mão para a esposa Cecília o acompanhar. Em poucos instantes ambos estavam em sinuosos rodopios, encarando-se entre risos e troca de olhares apaixonados. Aquele casal realmente era lindo, e combinavam perfeitamente um com o outro.

Vendo mais alguns amigos saindo para a dança, dirigi meu olhar para Geraldo, que finalmente pareceu captar minha mensagem e tomou a iniciativa para também dançarmos. Assim que encontramos nosso lugar na pista, ele me enlaçou pela cintura, e passamos a sincronizar nossos passos ao ritmo de “Estão voltando as flores”, os músicos e a cantora performando o sucesso e a voz grave de Helena de Lima.

Eu encarava meu Geraldo bem em seus olhos, apostando em seduzi-lo com o vestido que escolhera para a noite, e que se revelou em mais detalhes apenas quando tirei meu xale antes de irmos para a pista. Era um vestido novo, azul escuro com bolinhas brancas, com uma saia rodada longa e esvoaçante, e com a parte de cima num decote reto preso aos ombros, e apertado firmemente contra meus seios.

- Você está linda, meu amor! - aquelas suas palavras me aqueceram o coração, me sinalizando estar no caminho certo.

- Você também não está de se jogar fora, doutor Geraldo Matozzano - e respondi isso me aproximando mais dele, sentindo seu corpo e calor junto a mim, meus braços o envolvendo no entorno do pescoço.

Seguimos dançando uma boa sequência de músicas, todas baladas recentes e um muito românticas. Paramos para descansar um pouco, eu tomando um coquetel de frutas, para logo a seguir puxar Geraldo de volta para pista quando a banda passou a entoar as mais agitadas de Roberto Carlos, Celly Campello e outros; a animação tomando conta de todo o salão quando entoaram “Banho de Lua”, no ápice da noite.

Durante essa última parte do baile, por vezes, e não resistindo à tentação, eu me peguei observando Henrique e sua esposa, ambos já um tanto suados e se entregando de corpo e alma às danças. Eu via o desempenho dele, mas, a bem da verdade, estava também invejando Cecília. Linda, os cabelos loiros volumosos e balançando com seus movimentos, e um corpo perfeito em cada detalhe. Elegante, magra e alta, as pernas lindas e esguias se mostrando nos passos e rodadas mais agitadas.

Observava como Henrique se perdia em seus braços, ambos despreocupados em trocarem beijos e carinhos até mesmo mais ousados; às mãos dele por vezes escorregando mais abaixo e indo parar levemente sobre o bumbum da esposa, ali ficando na condução de partes da dança. Seu vestido mais provocante e convidativo, particularmente no decote insinuando os seios de tamanho médio e empinados, fazendo-a se destacar entre todas ali.

A madrugada se apresentando, fomos aos poucos nos despedindo, um a um cada casal partindo de volta para sua casa. Mesmo não sendo mais um desejo meu, percebi que Henrique se esquecera do meio-convite insinuado no seu escritório, o que se somou ao efeito das bebidas para me deixar um tanto deprimida ao final da festa. Apesar da animação toda, pouco a pouco eu fui me sentindo meio amargurada, imaginando como deveria ser a vida de Henrique e Cecília, numa inveja não propriamente ruim sobre eles, mas sim em comparação com a minha.

É certo que Cecília e eu tínhamos diferenças. Ela mais meiga, uma beleza suave e meio juvenil, enquanto eu toda encorpada, madura e séria. Uma loira e outra morena, mas ambas bonitas e sensuais a seu jeito. Eu também sentia olhares de desejo, inclusive recentemente no escritório de Henrique isso se comprovava com seu marido. Então eu me perguntava onde estaria o meu problema com meu marido na cama? O que eu estaria fazendo errado, para ele não se interessar tanto por mim?

Já no carro de volta para casa, sentia minha insegurança e medos me remoendo por dentro, eu me questionando como mulher, querendo saber como poderia ser mais feminina e trazê-lo para meus braços com aquele olhar dos amantes; aquele mesmo dos que via nos filmes e dos que imaginava ao ler meus livros de romance.

- O que foi, Helena? Você está tão calada… - Geraldo me perguntou ao me ver com o olhar perdido vendo as luzes noturnas da cidade passando pelo vidro do carro.

- Não foi nada, meu amor. Estou só cansadinha mesmo. Acho que aquele último licor me derrubou, e estou com um pouco de sono - dei-lhe uma desculpa, sorrindo disfarçada, e acariciando seus cabelos, quase sentindo pena daquele homem e de mim mesma.

Assim que chegamos em casa, por volta das 2:00 da madrugada, fui conferir como estavam as crianças. Soninha já havia chegado, e dormia tranquilamente em sua cama, o mesmo com Juninho em seu quarto. Não precisei incomodar Cidinha, pois vi a cozinha e sala arrumadas como eu esperava encontrar. Fiquei ainda algum tempo ali embaixo, sentada no sofá e pensando em tudo que vinha me acontecendo, e sem saber o que fazer, como e o que mudar. Suspirei no consolo de ter uma linda família, e um marido amoroso e provedor, antes de subir vagarosa e silenciosamente as escadas para dormir.

Entrei no meu quarto encontrando Geraldo já banhado e dormindo deitado em seu lado da cama. Segui, então, para o banheiro, onde me limpei da maquiagem toda e tomei meu banho, antes de ir me juntar a ele. Eu olhava os fiapos de luzes da rua parcamente iluminando a penumbra do quarto, enquanto me abraçava a meu travesseiro. E, em um silêncio contido, eu adormeci chorando, as lágrimas escorrendo por meu rosto, sofrendo por me sentir algo frígida e desinteressante; o sexo dos amantes e pessoas normais sendo um mundo tão distante e inalcançável para mim; e eu não tendo nenhum mapa para poder me ajudar a o encontrar.

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Comentários

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Li tudo até agora e já estou ansioso pelos próximos textos. Essa história promete.

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Vejamos…. Década de 60, elite paulistana, uma herança, uma dama recatada e insatisfeita, um marido desinteressado… Conclusão: a culpa é da Cidinha! Rs

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Acho que a questão no casamento de Helena e Geraldo é um só: falta de diálogo.

O momento em que essa barreira for quebrada as coisas entre eles na cama irão melhorar. Mas na época em que a história se passa, a mulher exigir ousadia seria algo vergonhoso

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Listas em que este conto está presente

J67
Esposa satisfeita