Bernardo [02] ~ Ciúmes

Um conto erótico de Bernardo
Categoria: Gay
Contém 2270 palavras
Data: 29/11/2023 16:06:17

Eric... Eric... Eric... Eric... Eric...

A noite passava lentamente enquanto o nome dele se repetia em minha mente. Aquele garoto não saía da minha cabeça. Eu fechava os olhos e via nitidamente seu rosto. Seus cabelos loiros, sua pele clarinha, seus olhos azuis... Até seu nome era bonito: Eric. Eu não entendia o que estava acontecendo comigo, então decidi chamar aquilo de tesão. Mas no fundo eu sabia que era muito mais do que simples desejo. Desejar, eu já havia desejado muitos caras, alguns bem intensamente, mas por aquele garoto era diferente. Era uma coisa que ia muito além da questão sexual. Eu queria ter aquele cara, mas não tê-lo somente na minha cama. Eu queria tomá-lo em meus braços e nunca mais deixá-lo se afastar de mim. Eu gostaria de prendê-lo na torre mais alta do castelo mais distante da terra mais inóspita e torná-lo, assim, meu eterno prisioneiro, meu eterno escravo, meu pertence mais precioso. Vocês podem estar dizendo, “ah, isso é amor”. Não, não era amor. Era muito mais intenso que amor.

Isso são coisas que eu penso olhando a situação hoje. Na época, mergulhado na inocência dos meus dezessete anos e na negação da minha verdadeira sexualidade, eu enxergava aquilo como tesão e só. Eu nunca admitiria que fosse alguma coisa maior do que aquilo. E isso não queria dizer que eu tinha intenções reais de transar com Eric. Sim, eu o desejava, mas ficaria só nisso, no desejo. O meu plano continuava de pé, eu sufocaria todo e qualquer desejo homossexual que pudesse vir a ter e no futuro me casaria com uma linda garota que me daria filhos

Eric mexeu com minha cabeça. Pela primeira vez na vida eu sentia um real desejo por outro cara, um desejo que me deixasse curioso a respeito de descobrir o sexo com outro cara.

Com muita dificuldade, consegui dormir para acordar poucas horas mais tarde. De manhã se seguiu minha rotina até a universidade. Aquele seria nosso primeiro dia de aula propriamente dita e a primeira vez que conheceria minha turma, aquele grupo de pessoas que, querendo ou não, se tornaria minha segunda família pelos próximos quatro ou cinco anos. E torcia para Eric não estivesse entre eles.

Outra coisa que estava me afligindo eram os trotes, que ainda não haviam acontecido. Acho que os veteranos faziam de propósito, apenas para nos deixar mais amedrontados, puro terror psicológico.

A sala ainda tinha poucas pessoas, era muito cedo ainda. Num canto da sala, um amontoado de moletom e cabelos subia e levantava lentamente, no ritmo de uma respiração. Sorri ao perceber de quem se tratava: Alice. Me dirigi à cadeira ao seu lado. Não era minha intenção acordá-la, mas fiz barulho ao sentar e ela despertou meio desnorteada. Quando me viu, bufou:

_Aff, só sabe me acordar? Vai encontrar uma outra idiota que queria dar pra você, já disse que não estou interessada.

_Também não estou interessado, prefiro meninas de melhor humor.

Ela me olhou como se tentasse entender o que estava se passando em minha cabeça. Eu ainda sorria. Estar ao lado dela me deixava assim, eu achava engraçado seu mau humor.

_Então, Alice, parece que seremos da mesma turma.

_Uau, sua capacidade de percepção é ótima, não é a toa que você passou no vestibular._ respondeu debochada.

_Você é sempre mal humorada assim pela manhã?

_Só quando me acordam.

_Mas já está na hora, o sinal já está quase batendo.

_E?_ mesmo com seu mau humor, percebia-se que ela estava se divertindo com aquela conversa _Você sempre fica sorrindo que nem retardado assim?

_Sim, sou uma pessoa feliz.

_Odeio gente feliz.

_Mas você vai me amar assim mesmo.

_Vou?

_Vai. Sou apaixonante.

Eu não era aquele tipo de pessoa, de ir puxando papo e fazendo amizade do nada, mas com Alice era diferente. Desde a nossa primeira conversa, nós tínhamos uma dinâmica só nossa, de ir falando rápido, um atropelando o outro, e quase sempre era uma conversa bastante agressiva. Não nos tornamos aquele tipo de amigos que coloca o outro no colo e passa a mão na sua cabeça. Não éramos nem um pouco carinhosos um com ou outro, mas isso não atrapalhou em nada nossos sentimentos um pelo outro. Posso afirmar sem medo de errar que Alice é uma das minhas melhores amigas.

_Já te disseram que você é um porre?_ respondeu.

_Nunca na minha frente.

Aos poucos as pessoas foram entrando e eu fui conhecendo minha turma. Por ser uma pessoa que fala pouco, sempre escutei muito. Com o tempo essa característica se transformou na habilidade de ler muito bem as pessoas, sem que para isso elas tenham dito uma só palavra. Assim, fui identificando os tipos. Tinha as patricinhas que se sentaram junto às janelas, tinha os garotos atléticos e despojados que foram para o meio da sala, figuras estranhas e soturnas que foram para o fundo, aqueles que pareciam ser muito inteligentes ficaram na frente. Poucos conversavam entre si, não nos conhecíamos ainda.

E nada do Eric. Por mais que conscientemente eu desejasse que ele não fosse da minha turma, tornando assim a tarefa de sufocar meus sentimentos por ele mais fácil, inconscientemente eu queria que ele fosse sim da minha turma. Eu queria tê-lo por perto. Eu queria sentir seu perfume, fosse ele qual fosse. Mas ele não apareceu. O professor entrou na sala e ele não tinha chegado. Ele devia ser de algum outro curso.

_Bom, aqui estamos._ começou o professor _Meu nome é Heitor. Além de professor de vocês, sou também o coordenador do curso.

Era um homem de meia idade de aparência séria, mas nem por isso mal humorado.

_Para começarmos, que tal vocês falarem seus nomes e o motivo pelo qual escolheram o curso.

Cada um foi dizendo nome e o motivo de ter escolhido o curso. Eu, que sempre tive uma boa memória para nomes, guardei todos, mas não vem ao caso. Muitos ali foram importantes para mim, e alguns deles fizeram muita diferença na minha vida, mas vou apresentá-los aqui aos poucos. Vamos começar pelo primeiro deles.

Era um dos garotos atléticos sentados no meio da sala. Ele era muito bonito. Parecia ter um corpo legal. Cabelos e olhos castanhos, pele levemente morena, um legítimo “latino”. Mas ele era mais. Ele exalava uma energia, uma alegria que parecia contagiante. Parecia ser daquelas pessoas extremamente bem articuladas, extrovertidas, plenamente felizes e que conquistavam todos à sua volta. Ele era o anti-eu.

_Meu nome é Rafael._ ele exibia um largo sorriso, que mostrava seus dentes todos certinhos e brancos _Não faço a mínima idéia do que estou fazendo aqui...

Falou e arrancou risos da turma, de mim também. Não que tivesse dito algo super engraçado, mas naquele clima tenso de primeiro dia de aula, ele nos descontraiu. E outra, era impossível não simpatizar com ele.

_Acho que quis fazer uma engenharia para provar para os meus pais que sou inteligente e que todo o dinheiro com escolas particulares todos esses anos não foram em vão.

E mais uma vez rimos, dessa vez acompanhados pelo professor. Então alguém bate na porta e entra. Era ele, Eric. Seu rosto estava levemente vermelho, como se tivesse corrido para chegar ali. Meu coração se acelerou e parecia querer arrebentar meu peito. Todos pararam para olhá-lo. Não sei se somente por ele estar em exposição por ter chegado atrasado ou por exercer nos outros o mesmo fascínio que exercia em mim. Acho que era a segunda opção. Seus olhos correram rapidamente pela sala e encontraram o meu. Aquela troca de olhares não deve ter durado mais do que um segundo, mas pareceu durar séculos. Ele sabia que eu o desejava, e eu era quase capaz de afirmar que ele também me desejava. Com medo de passar a impressão errada, de que o queria, desviei o olhar para a parede.

_Seu nome?_ perguntou o professor.

_Eric.

_Procure chegar no horário, faço chamada no começo da aula.

_Sim, desculpe.

_Pode se sentar.

Ele se dirigiu a um dos únicos lugares que haviam sobrado vazios, ao lado do tal Rafael. Eu evitava olhá-lo diretamente, apenas disfarçadamente. As apresentações continuaram. Enquanto o resto da turma se apresentava, notei que Rafael puxou papo com Eric, começando assim um papo através de cochichos. Senti o veneno do ciúme percorrer minhas veias e queimar meu corpo inteiro. Era irracional, eu nunca tinha trocado uma palavra com o cara, abominava a simples idéia de fazer sexo com ele, mas mesmo eu sentia ciúme dele conversar com outro cara. E o fato desse outro cara ser um “anti-eu”, dava proporções ainda maiores às coisas. Na minha cabeça sempre trabalhando a mil, Eric já estava apaixonado por Rafael, porque Rafael era apaixonante. Mas se eu queria continuar distante de Eric, não era melhor justamente ele se envolver com outra pessoa e assim não abrir possibilidades de nós ficarmos juntos? Seria bem mais fácil sufocar meus desejos por ele... Porém, como eu disse anteriormente, ciúme é uma coisa irracional. Eles podiam estar apenas conversando bobagens. Podia ser que eles nunca mais se falassem na vida. E eu ali, imaginando os dois se apaixonando. Me disseram uma vez e eu sou obrigado a concordar: meu maior defeito é pensar demais.

Balancei a cabeça como se tentasse espantar aqueles pensamentos e tentei me concentrar na aula no professor, que havia começado a passar matéria. Cerca de uma hora depois, Heitor nos liberou e fomos lanchar.

_Vamos?_ falei me virando para Alice.

_Você não vai mesmo me deixar dormir em paz, vai?

_Não.

Ela bufou como se se conformasse. Levantou e fomos andando juntos para fora de sala. Eu andava com ela em silêncio, ainda pensando em Eric e Rafael. Não adiantava ficar repetindo como um mantra que ciúme era irracional. Ainda incomodava.

_Uai, pra quem me encheu pra sair de sala, você está me saindo uma péssima companhia._ falou Alice.

_Me desculpe, tava perdido em pensamentos.

_Você é uma daquelas pessoas que pensam demais, né?

Olhei para ela assustado. Parecia que ela havia lido minha mente. Aliás, isso seria recorrente em nossa relação. Líamos pensamentos e completávamos frases um do outro.

_Sim..._ falei meio envergonhado.

_Bom, eu sou do tipo que pensa demais, mas põe pra fora. Você não. Já vi que terei que te submeter a torturas periódicas para extrair informações.

_Não há necessidade. É só perguntar que eu respondo.

_Posso perguntar qualquer coisa?

_Pode._ respondi sem medo. O que ela poderia me perguntar de mais?

_Você é gay?

Senti um arrepio frio descer pela minha coluna. Eu estava dando pinta! Sabia que devia estar me policiando mais! E agora?! Como seria? Eu teria de implorar para ela não espalhar. Eu teria que contornar a situação. Tentei fingir que a pergunta não me afetou, e, pela cara dela, acho que não tive muito sucesso.

_Você é lésbica?_rebati.

_Não. Mas responder uma pergunta com outra pergunta é sinal de insegurança._ respondeu sem se abalar.

_Hã? Claro que não! Só queria te mostrar como é uma pergunta evasiva.

_Evasiva ou não você continua dando voltas para não responder.

_Óbvio que não sou gay._ falei perdendo um pouco o controle, mas depois consegui me recolocar nos eixos _Por que você pensaria isso?

_O jeito como você ficou olhando para aquele menino que chegou atrasado. Eric, não?

_Eu não estava olhando pra ele de nenhum jeito especial.

_Ah, estava sim.

E agora? Como escapar daquilo?

_É... É que ele é muito... Muito loiro, muito branco, tem olhos muito azuis. Sei lá, chama atenção..._ falei tentando parecer tranqüilo.

_Ah, sim, com certeza. Deve ser isso._ falou sem me olhar.

Não tive certeza se ela acreditou ou não naquilo.

_Vamos comer? Tô com fome.

_Vamos._ respondi aliviado.

[...]

Quando voltávamos para a sala, me deparei com aquilo que não queria ver. Eric e Rafael conversavam animadamente na porta da sala. Pareciam velhos amigos. Mais uma vez o ciúme bateu lá no fundo e doeu. Se antes eu achava Rafael hiper simpático, agora eu já começava a odiá-lo. Ele nunca havia me feito nada de mais, mas eu o odiava. Como Eric conseguia mexer com minha cabeça daquele jeito?

Como Alice continuou andando, a acompanhei tentando parecer indiferente à presença dos dois. Não olhei para eles, mas percebi que Eric me olhava intensamente enquanto eu caminhava para dentro de sala. Alice também percebeu:

_A sua desculpa é que ele é nórdico demais._ cochichou para mim já dentro da sala _Agora, qual será a dele?

_Cala a boca._ respondi mal humorado.

Ela riu ao ver que havia conseguido me tirar do sério.

_Uai, cadê aquele bom humor todo, aquele pessoa alegre, sorridente, esfuziante?_ falou em tom de deboche.

_Foi dormir.

E ela riu mais uma vez.

Quando o próximo professor entrou, todos entraram junto com ele, Rafael e Eric também. Continuaram conversando animadamente como velhos amigos de infância. E o ciúme me corria e incomodava cada vez mais. Eu já sentia ódio de Rafael sem nunca ter trocado uma palavra com ele.

Até ali, eu achava que o que estava sentindo era o máximo de confusão que Rafael e Eric poderiam me fazer sentir. Eu estava tão errado...

_____

Pessoal esse conta eh MARAVILHOSO! Na época eu li tudo em 5 dias, dia e noite sem parar! Eh um pouco longo, mas eh mto encolvente, a escrita, a história, os personagens!

Vocês terão raivas e alegrias! E esse conta passa diversas mensagens sobre amor, amizade, trabalho, e crescimento! Espero que gostem! Sempre que puderem comentem! Eh mto importante essa troca de msg hehehe!

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Comentários

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Olha, acho que todos nós passamos por esses amores no ensino médio e na faculdade. Tomara que Bernardo e Eric tenham mais sorte do que eu tive...😔

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Terminei de ler mais um e estou achando que vai ser bom

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A galera tá devorando kkkkkk lendo rápido e pedindo postagem!

Vc vai se indentificar bastante

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Alice é vivaz e Bernardo está perdido por ter conhecido alguém que o lê rapidamente.

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