8. Confissão e consequência.
Beto:
Enquanto a água fria regenerava meu corpo, mesmo com a cabeça latejando eu tentava me lembrar do que tinha acontecido na noite anterior: “Eu bebi demais, isso é fato. Eu estava no bar, cantando, alguns casais e mulheres solteiras se uniram a mim e ao Paulo … demos uma volta de buggy pela praia, voltamos ao bar … bebemos mais, dançamos …”.
Eu tentava forçar as memórias, mas a cabeça doía ainda mais.
“E eu acordei ao lado dessa mulher que eu não faço a mínima ideia de quem seja. Na verdade, acho que dancei com ela, bebemos, acho que foi isso. Mas entre o bar e acordar agora, tudo é um branco só. A última vez que tive uma amnésia alcoólica foi ainda na faculdade, e pelo que eu soube, mesmo completamente bêbado, minha performance foi das melhores. Talvez, Paulo saiba o que aconteceu, vou esperar ele acordar”.
Terminei o banho e tomei um analgésico para tentar aliviar a dor. Paulo e as mulheres ainda dormiam. Eu estava fraco e precisava comer. Me troquei e desci para o café da manhã. Assim que entrei no amplo salão, vários casais vieram me cumprimentar:
– Fala, Betão! Que noite, hein?
– Cara, tu é irado! Nos divertimos à beça. Minha mulher adorou te conhecer, vamos marcar alguma coisa em breve.
– E aí, Júlio Iglesias! Arrasou no vocal. Que noite! Aguardo o seu contato para o negócio que discutimos.
Fora o branco, o resto eram apenas fragmentos de memória do que eu supostamente fiz. “Que porra de negócio era aquele? Quem é a mulher do outro cara?”. Pensei, enquanto me servia de frutas, suco de laranja, torrada e queijo branco, me sentei numa mesa ao fundo do salão, o mais afastado possível de todos, tentando passar despercebido.
Após o desjejum, ainda com um pouco de náuseas pela ressaca, busquei um ofurô com vista para o mar e tentei relaxar, começando a conjecturar a melhor forma de contar a verdade para a Laine. Eu poderia ser um canalha, usar a desculpa do beijo dela em Alex e assim justificar minhas ações. Mas nem eu mesmo acreditava em tal artimanha e jamais encobriria um erro com outro. Laine merecia a verdade, por mais dolorosa ou destrutiva que fosse. Aquele seria um duro golpe no nosso já combalido casamento.
Devo ter ficado ali sozinho por duas ou três horas, até que Paulo e as garotas apareceram. Cheia de intimidades, a morena que estava em minha cama, vendo minha confusão, que eu não me lembrava dela, se apresentou novamente:
– Tudo bem que estávamos muito bêbados, mas esquecer o meu nome é coisa de cafajeste. Eu sou a Samanta, prazer novamente.
Constrangido, aproveitei a deixa que ela deu:
– Me desculpe, eu estava realmente muito bêbado. Não quis ofender, apenas não lembro de muita coisa.
Paulo, acho que sentindo o meu desconforto, conseguiu, educadamente, se livrar das duas. Ele até as acompanhou enquanto se despedia, voltando alguns minutos depois. Fui direto:
– Que porra aconteceu ontem? Como você me deixou fazer uma cagada daquela? Caralho, Paulo, Laine e eu ainda não decidimos se entraremos para esse mundo louco de vocês.
Paulo parecia ofendido, mas ao mesmo tempo sorria debochado:
– Vai tomar no cu, Beto! Eu tentei cortar sua onda, avisei que ia dar merda, mas você não queria nem saber. Assim que entramos no quarto, tu se atracou com a Samanta. Para piorar, ainda convidou outras pessoas e deu uma festinha. Você é quase uma celebridade por aqui hoje.
O desgraçado ria de se acabar e eu, incrédulo ao saber tudo o que fiz, me calei. Ele continuou a ofensiva:
– E não para por aí, não … eu tentei acabar com a festa, expulsar o pessoal e te colocar pra dormir, mas você me xingou, disse que tudo era culpa da Laine, que já que ela queria ser a putinha de outros, tu também iria se divertir. O que eu poderia fazer? Te sedar à força? Tu é um homem adulto, sabe o que é certo e errado, bebida não é desculpa para aprontar.
O tiro de misericórdia não demorou a chegar:
– E se prepare, pois tem pelo menos uns três casais amigos que tiraram fotos da gente ontem. Como estávamos na área de convívio, elas são permitidas, contanto que respeitemos a privacidade dos outros. Não duvido nada que essas fotos já tenham chegado até a Patrícia e a Silvana, pelo menos.
Paulo sempre foi um debochado e parecia se divertir com a minha desgraça. Mas mentiroso, isso ele nunca foi e eu não tinha motivos para duvidar das coisas que ele disse. Revoltado comigo mesmo, perguntei:
– Já deu, né? Quando voltamos para casa?
Se juntando a mim no ofurô, ele respondeu:
– O helicóptero vem nos pegar em três horas. Fretei um jatinho para a gente, devemos chegar em casa no começo da madrugada.
Aproveitamos o tempo para falar de trabalho e como combinado, Paulo cumpriu tudo o que prometeu:
– Agora é com você. Eu quero aproveitar um pessoal administrativo de uma das empresas que estou fechando, só gente de base, mas os diretores e cargos de confiança, esses ficam a seu critério. Posso ajudar, mas sei que você vai escolher os melhores profissionais possíveis.
Ele ainda disse:
– De qualquer forma, ainda tem uns trâmites burocráticos a serem finalizados. Aproveite esses dias para descansar e se resolver com tua mulher. Depois vai ser pauleira, correria pura.
Na hora certa o helicóptero chegou e nós partimos do resort. Já no avião, pensativo, tentando ainda encontrar uma forma de me confessar para a Laine, e só tendo o Paulo para falar, resolvi perguntar:
– O que você faria no meu lugar? Acha que devo contar para a Laine? Como tem essas fotos, acho que não tenho opção.
Paulo, sonolento, disse:
– Eu sou um liberal, não tenho esse problema, pois Patrícia sabe que tendo oportunidade, eu aproveito mesmo. No seu lugar, eu ficaria quieto, mas sendo você, tenho certeza de que não vai aguentar a culpa e confessar. Jogue os dados e torça pela sorte.
Ele concluiu:
– Você é certinho demais, sempre foi. E outra, é como você disse, foi Laine que começou com esses papos, divida a responsabilidade com ela. No fundo, foi ela que te levou por esse caminho, que plantou a semente. Quem planta, colhe.
A viagem correu bem e como previsto, cheguei em casa por volta das duas da manhã. Laine e o pequeno dormiam, mas assim que entrei em nosso quarto, ela acordou, pulando em meus braços e me dando um abraço apertado:
– Que saudade, amor! Patrícia já me disse que deu tudo certo. Estou muito feliz por você.
Tentei sorrir, mas ela percebeu que algo não estava bem:
– O que foi, amor? Se é por causa do que aconteceu antes da sua viagem, saiba que …
Interrompendo, tentei acalmá-la:
– Não é isso. Minha cabeça está explodindo, a viagem foi cansativa.
Me despi e fui para o banheiro tomar uma ducha. Laine, com um analgésico já em mãos, veio atrás de mim:
– Aqui, amor! Toma o remédio e se deita, mais tarde, quando eu chegar do trabalho a gente conversa com calma. Um dia a mais, um a menos, não vai fazer tanta diferença.
Ela se aninhou no meu peito e ficou acariciando meu braço, aumentando ainda mais o meu sentimento de culpa. Pensei em tudo que Paulo disse no avião, mas achei que ele estava apenas tentando ser solidário, me apoiar, pois o único errado era eu. Resolvi ficar na minha, por enquanto, aquele não era o momento certo de confessar. Já eram quase três da manhã e Laine acordaria em poucas horas para trabalhar.
Antes de pegar no sono, ela disse:
– Ah, vi as fotos do resort. Você se divertiu, amor? Você parecia tão feliz. Esse novo emprego está mesmo fazendo muito bem a você.
Laine me deu um beijo carinhoso, virou para o lado me puxando junto com ela, nos fazendo ficar de conchinha e em poucos minutos, adormeceu. Esperei mais alguns minutos e me levantei. Nervoso como eu estava, com a culpa me assolando, e após ter cochilado um pouco no avião, eu não conseguia dormir.
Fui até a sala e me servi uma dose dupla de whisky, puro. A culpa transformou a bebida em fel, amarga, queimando dentro de mim. Eu não conseguia suportar o arrependimento e a vergonha. E após a conversa com Paulo no dia anterior, ainda no resort, tendo a certeza dos meus atos, mesmo que não lembrasse, o remorso fazia meu cérebro recriar a cena usando as palavras de Paulo e minha ilusão se transformava em realidade. Realidade se transformando em memória.
Nem percebi as horas passarem e fui surpreendido por Laine, se levantando para o trabalho:
– Amor? O que aconteceu? Por que está chorando?
Mal percebi as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Eu não suportava a culpa, a dor, o arrependimento. Tudo se misturava dentro de mim. A sensação era dolorosa, dilacerante, culminando no meu desabafo:
– Eu traí você. Não! Traí a gente, nossa família, nosso futuro, nossos votos …
Eu não conseguia encontrar um pouco de dignidade dentro de mim e encará-la. Ela parecia em transe, incapaz de reagir. Ela apenas disse:
– Hã? O que foi que você disse?
Eu falava sem pensar, sem estratégia definida, apenas tentando ser honesto:
– Me desculpa! Eu não sei o que aconteceu e nem tenho como explicar. Uma hora eu estava no bar do resort, na outra, com uma mulher na minha cama, sem lembrar de nada. Estávamos os dois nus …
Finalmente reagindo, Laine começou a se exaltar, falando alto:
– Como assim você me traiu, mas não lembra? Que desculpa é essa? Cê tá brincando, né? É algum tipo de piada de mau gosto? Ainda é por causa do beijo no Alex? Você mesmo disse que iríamos conversar. Quem trai e não lembra? Você está tentando me punir, inventando essa história pra testar minha reação, só pode?
Laine se aproximou e levantou meu rosto, olhando em meus olhos, tentando entender minhas reações e então sua ficha caiu. Pelo meu semblante, ela sabia que eu não estava mentindo. Minhas lágrimas e meu jeito arredio desde a hora em que cheguei de viagem, eram as provas que ela precisava.
Eu achei que ela iria explodir, me xingar, até mesmo me bater. Laine é, por natureza, uma pessoa impulsiva, que não tem o costume de pensar antes de agir. Para a minha surpresa, completamente apática, ela se sentou ao meu lado no sofá, inerte, travada, sem reação, olhando para o nada. Acho até que ela estava em choque.
Por mais de meia hora ela permaneceu ali, parada, sem dizer uma única palavra. Incapaz de justificar minhas ações, sem saber o que fazer, acabei respeitando o seu silêncio. Nós dois chorávamos baixinho. Por fim, ela se levantou, mas sem me olhar, falando enquanto saía:
– Eu preciso sair daqui. Preciso me afastar de você.
Tentei segurá-la:
– Eu sei que errei e aceito as consequências. Vamos conversar, por favor!
Laine deu um tapa forte na minha mão:
– Não encosta em mim, seu desgraçado. Se eu não sair daqui agora, vou perder a minha razão e fazer uma besteira. – Quando me levantei e tentei me aproximar, ela gritou. – Sai de perto de mim, seu nojento.
Laine voltou ao nosso quarto e eu conseguia ouvir o seu choro e o barulho que ela fazia. Vinte minutos depois, de roupa trocada, antes de sair de casa, ela disse:
– Não venha atrás de mim. Nesse momento, eu preciso de distância de você, estou com raiva, muita raiva. Não sei se consigo te perdoar.
Laine saiu batendo fortemente a porta.
{…}
Paulo e Patrícia:
Paulo chegou em casa quase no mesmo instante que Beto, mas diferente do amigo, ele se sentia leve e feliz. Ansiosa, Patrícia o aguardava saboreando uma taça de seu vinho preferido:
– E então? Deu tudo certo? Como foi? Me conta.
Paulo, a puxando para um longo beijo, tentou conter a ansiedade da esposa:
– Calma, cacete! Vou contar, só preciso de um banho antes.
Paulo subiu para a suíte do casal, se despindo enquanto colocava a banheira para encher:
– Não sei quem está mais frustrado, o Beto ou a Samanta …
Paulo conferiu a temperatura da água e colocou os sais de banho. Patrícia não conseguia se segurar:
– Fala logo, caralho! Quer me matar de ansiedade.
Paulo aproveitou o momento:
– Relaxa! Tira essa roupa e venha aqui. Só vou contar se você me agradar do jeitinho que eu gosto: bem putinha e submissa.
Patrícia não perdeu tempo, se despindo rapidamente e engatinhando em direção ao marido, pegando no pau ainda mole e iniciando um boquete caprichado. Em segundos, a rola endureceu em sua boca. Paulo a puxou para junto dele na banheira e, vendo a ansiedade nos olhos dela, decidiu contar:
– Não foi do jeito que a gente esperava, mas o ambiente, a inocência do Beto, acabou ajudando.
Patrícia estava perdida:
– Ué? Afinal, ele transou ou não com a Samanta?
Dando risada, Paulo confessou:
– Porra nenhuma! Ele apagou ainda no bar. Estava tão bêbado que precisei pedir ao pessoal do hotel para levá-lo para o quarto e suborná-los para ficarem de bico fechado.
Patrícia não entendia como Paulo poderia estar feliz se os planos deram errado:
– Mas se ele não traiu, por que você está com esse sorriso idiota de vitória no rosto?
Paulo riu ainda mais alto:
– O que ele fez não importa. Só importa o que ele acredita ter feito.
Patrícia continuava sem entender e irritada, apertou cuidadosamente o saco dele:
– Vai falar logo ou precisa de tortura?
Paulo resolveu contar:
– Calma! Eu o coloquei na cama para dormir, mas a sacana da Samanta, achando que eu não iria pagar o combinado, acabou me dando uma boa ideia.
Patrícia largou o saco dele, voltando a punhetar levemente o pau e prestando atenção em suas palavras:
– Nós tiramos a roupa dele e trepamos com ele no meio, fazendo o cheiro de sexo se impregnar em sua pele. Quando gozou, Samanta montou nele e ficou se esfregando, espalhando seus fluidos pelo corpo dele. Eu acabei gozando em cima dele também.
Patrícia não conseguia segurar o riso, a história a divertia e excitava. Paulo continuou:
– Quando estávamos acabados, saciados, Samanta foi dormir com ele e tiramos várias fotos. Infelizmente, eu ainda estava dormindo quando ele acordou e acabei perdendo a reação.
Patrícia, pegando fogo por dentro, se sentou de pernas abertas no colo do marido e direcionou o pau dele para a entrada de sua buceta, sentando com calma. Paulo levou as duas mãos a sua bunda e deixou que ela subisse e descesse, curtindo o momento entre os dois. Sacanear os outros dava prazer ao casal.
Paulo ainda tinha mais a contar:
– Após acordar, encontrei com Beto na área da piscina, em um ofurô e ele estava desesperado. Ele não lembrava de nada da noite anterior e eu inventei uma história qualquer, dizendo que tentei segurar a onda dele, mas ele ainda ficou bravo comigo. Ele caiu igual a um patinho. Foi difícil segurar o riso.
Patrícia, curtindo as sensações do sexo com o marido, não conseguia parar de pensar em Beto. Paulo continuou:
– Ele não vai conseguir suportar a culpa. Ele é certinho demais, disse isso a ele. Para ele não desconfiar, até falei para não contar nada, e se contar, dividir a responsabilidade com ela, mas você sabe como ele é. Imagino até que ele esteja se confessando nesse exato momento.
Feliz com a possibilidade de ter Beto livre no “mercado”, Patrícia não conseguia disfarçar sua ansiedade. Paulo deu um tapa forte na bunda dela, fazendo um alerta:
– Presta bastante atenção! Você é minha, ouviu? Eu sei que tu sempre quis dar para aquele trouxa, mas o seu dono sou eu. Só concordei com isso, para me livrar de vez desse fantasma. Tenho certeza de que ele jamais vai te foder do mesmo jeito que eu.
Patrícia sabia muito bem como contra-argumentar:
– E você não tem nenhum interesse em foder a Laine? Concordou com tudo isso apenas por minha causa, para me agradar? Menos, né? Você não presta, está doido pra foder aquela safada. Ainda mais depois de saber que eles estavam curiosos sobre o mundo liberal.
Antes de se concentrarem apenas no sexo, Paulo disse:
– Acho que vou ligar pra ele quando acordar. Ele vai precisar de um ombro amigo.
Patrícia sabia o que precisava fazer:
– Bom, se ele confessou, Laine vai precisar de bons conselhos. Traição não tem perdão.
Os dois sorriam um para o outro maliciosamente. Patrícia e Paulo eram o casal perfeito: a víbora e o escorpião.
{…}
Beto:
Laine se foi e eu fiquei ali, jogado no sofá, só acordando para a vida quando o pequeno puxou o meu pé, brincando comigo. Tentei esconder minha tristeza, colocando um falso sorriso no rosto. Me levantei e fui cuidar dele. Dei banho, café da manhã e o preparei para a creche. Assim que a van o pegou, voltei para a minha autopiedade, lamentando minhas ações e temendo pelo final do meu casamento. O mínimo que eu poderia fazer, era aceitar as consequências das minha ações e dar a Laine o tempo que ela achasse necessário para voltar a me procurar.
Sem cabeça para qualquer outra coisa, acabei não atendendo ligações e nem respondendo mensagens. Não voltei a beber, pois para mim, o álcool era o culpado pelo meu martírio. Eu achava que Laine poderia voltar a qualquer momento e queria estar sóbrio para ser confrontado, dando a ela o melhor de mim, integralmente.
As horas passavam e nem sinal dela. No horário de costume, no final da tarde, a van retornou com o pequeno e a primeira coisa que ele fez foi perguntar pela mamãe Laine. Sem saber o que dizer, acabei dando uma desculpa qualquer:
– Ela está ajudando a vovó, não sei que horas volta e nem se volta hoje.
Ele protestou:
– Eu queria ir também. A casa da vovó é a melhor.
Tive que mentir novamente:
– Elas estão ocupadas, fazendo coisas de adulto, você só iria atrapalhar.
Para distraí-lo, deixei que ficasse por mais tempo no vídeo game e, como toda criança, a saudade da mamãe Laine foi rapidamente substituída pelos seus próprios interesses infantis.
Por volta das oito da noite, ele jantou e eu o coloquei para dormir. Assim que voltei à sala, ouvi batidas na porta. Até pensei que poderia ser a Laine, mas ela não tinha motivos para bater e minha esperança logo foi substituída pela curiosidade. Olhei pela câmera de segurança e era o Cristian, meu cunhado, o irmão mais velho da Laine. Apreensivo, fui recebê-lo. Após me dar um abraço, ele logo entrou no assunto:
– Você e a Laine brigaram, não é?
Apontei para o sofá e ele se sentou. Ofereci uma dose de whisky e ele aceitou. Ele nem esperou minha resposta e voltou a falar:
– Tá todo mundo preocupado. Laine chegou de manhã na casa de nossa mãe e se trancou em seu antigo quarto. Não saiu nem para comer ou tomar banho. O que aconteceu?
Cristian é um psiquiatra forense muito respeitado, acredito até que, atualmente, seja o meu melhor amigo. Nos demos bem desde o momento em que fui apresentado por Laine a sua família. Ele sempre me dizia que eu era um livro aberto, muito fácil de ler e isso me tornava uma pessoa confiável. Incapaz de mentir novamente, fui completamente honesto:
– Fiz merda, cara! Traí sua irmã.
Primeiro ele riu, desacreditando:
– Não! Não você. Você não é assim, não tem como.
Vendo minha tristeza, as lágrimas que voltavam a escorrer no rosto, ele começou a me levar a sério:
– Explica isso direito. Eu não acredito. Eu jamais erraria assim, o conheço e sei que isso, nem de longe, é uma coisa que você faria.
Contei a ele tudo o que aconteceu na viagem, sem omitir nada. Inclusive, contei até sobre a conversa com Paulo. Ele se levantou e caminhando de um lado ao outro da sala, pensativo, tentava criar alguma explicação:
– Você disse que não se lembra de nada, isso é muito estranho. Como pode ter certeza de que traiu?
Repeti o que Paulo me contou, mas Cristian continuava desconfiado. Ao invés de explodir comigo, ele disse:
– Vou conversar com a Laine, pois mesmo que tenha existido o ato, você não estava em pleno controle.
Eu não entendi nada e vendo meu espanto, ele explicou:
– Diferente de quando a pessoa desmaia ou adormece por conta do consumo excessivo de álcool, durante períodos que ocasionam o blecaute, a amnésia alcoólica, a pessoa, mesmo parecendo acordada no momento da embriaguez, tem pouca consciência dos seus atos, acarretando um enorme prejuízo no julgamento.
Sinceramente, aquilo parecia uma desculpa para mim, uma forma de amenizar meus erros e dar alguma coisa concreta para que Laine pudesse se apegar e me perdoar. Suas palavras não amenizaram meu sentimento de culpa, pelo contrário, só fizeram eu me sentir ainda pior.
Indiferente aos meus protestos, pedindo que desse tempo e espaço à irmã, Cristian se foi prometendo que iria nos ajudar a superar essa crise, mesmo que não tivéssemos pedido por sua ajuda. Ele disse que era o irmão mais velho e cabia a ele a função de orientar sua irmã e ajudá-la a superar qualquer problema, por menor ou maior que fosse.
Incapaz de fazer com que ele mudasse de ideia, sabendo que era um teimoso por natureza, achei melhor aceitar sua ajuda. Pior do que estava, não poderia ficar. Se Laine aceitasse seus argumentos e me desse uma nova chance, eu passaria cada dia da minha vida tentando me redimir e reconquistar a confiança perdida.
Com a saída de Cristian, achei que aquele dia tinha acabado. Eu estava cansado, arrependido, me sentindo um lixo, o pior ser humano da face da terra, mas poucos minutos depois, quando me preparava para tomar banho, ouvi novas batidas na porta. Novamente olhei pela câmera de segurança e para a minha surpresa, eram Alex e Carina.
{…}
Carina:
Desde pequena eu sempre tive uma certa sensibilidade. Naquela semana, não foi diferente. Fui até a casa de Laine porque sentia que alguma coisa ruim estava prestes a acontecer. Naquela noite, Patrícia estava calada demais, me transmitindo uma energia muito ruim. Foi assim também na época dos problemas com Silvana, Júlio e Samanta. Eu não sabia o quê, mas sentia que algo ruim estava prestes a acontecer com Laine. Novamente, meus sentidos disparavam perto de Patrícia. Eu nunca proibi Alex de nada, mas depois da única vez que esteve com Patrícia, eu não me senti mais confortável que eles estivessem juntos outra vez. Usei minha autoridade e pedi a ele que não repetisse.
A mesma sensação eu sentia com Paulo e nunca me deixei levar por suas cantadas baratas e sua arrogância, ele se acha o rei do mundo. Mas como tudo nunca passou de uma sensação, uma certa repulsa em estar perto dos dois, eu sempre achei que era apenas o meu Santo que não bateu com o de Patrícia. Como todos sempre gostaram do casal e eu acabei chegando mais tarde naquele grupo, acabei me acostumando e deixando pra lá.
Quando Patrícia puxou o celular e começou a mostrar as fotos de Beto e Paulo no resort, todos os meus sentidos dispararam, uma energia ruim se instalou no ambiente. Eu até tentei alertar a Laine antes de ir embora, mas no final, após o mal-entendido no churrasco de domingo, sua desconfiança estava toda voltada para mim. Achei melhor não insistir, pois estava lidando com uma mulher adulta, dona de si.
Quando Alex chegou em casa naquela noite dizendo que Laine tinha faltado ao serviço e sequer dado uma justificativa, senti novamente aquela sensação ruim. Tentei ligar, mandei mensagens, mas nem ela e nem o Beto responderam. Achei que era hora de agir, saber o que estava acontecendo, mesmo que não fosse da minha conta. Pedi ao Alex que me levasse até a casa deles. Meu marido me conhece só de olhar e imediatamente chamou um carro de aplicativo.
Quando Beto nos atendeu, por mais que ele tentasse negar, seu semblante demonstrava uma dor profunda. Assim que entramos, ele desabou:
– Fiz merda! Me achei no direito de testar a Laine, duvidar da honestidade dela, mas na primeira oportunidade, fui eu que enfiei a faca em suas costas.
Beto parecia derrotado, um arremedo daquele homem imponente e de olhar penetrante. Entregue a dor, ele nos contou o que aconteceu naquele resort. Alex me olhou desconfiado e eu entendi o motivo. Assim como acontecera com Silvana e Júlio, novamente Samanta estava envolvida em uma nova traição. As circunstâncias eram diferentes, mas o elenco e a situação eram idênticos.
Assim como Beto, Júlio também traiu Silvana após uma viagem de negócios com Paulo. Não teve a amnésia alcoólica, pois até então, Silvana autorizou o Júlio a se divertir, mas o que era pra ser único, acabou se transformando em dias e até em uma confissão apaixonada de Samanta e um pedido para que ele deixasse a Silvana.
Aquela história de Beto e Samanta estava muito mal contada. Aquele angu tinha caroços demais.
Continua.