Quando levantei da cama na segunda-feira, eu tinha dois objetivos muito claros na minha cabeça: fazer as pazes com Alice e ser frio o bastante com Eric para ele entender que não aconteceria mais nada, nunca mais. Quando me sentei para tomar café em meio àquela rotineira bagunça matinal da minha casa, minha mãe, que estava ocupada fazendo mil coisas ao mesmo tempo no fogão, falou uma coisa que chamou minha atenção:
_Quem te viu, quem te vê, hein?
_Como assim?_ perguntei entre uma mordida e outra num pedaço de bolo.
_Antigamente passava semanas trancados dentro do quarto jogando vídeo-game. Foi só entrar pra faculdade pra começar a sair todo fim de semana. Até no domingo à tarde!
_Ah, é...
Eu não tinha parado para pensar, mas era mais ou menos assim que estava acontecendo mesmo. Eu, antes um garoto recluso e praticamente anti-social, agora tinha uma vida agitada, com direito a uma melhor amiga e um rolo sexual com um cara. Realmente, quem me viu, quem me vê...
_Isso é bom._ ela continuou _Nunca achei saudável você ficar tanto tempo enclausurado. Fico feliz que esteja vivendo de verdade sua juventude. Só não me apronte mais uma daquelas cenas vergonhas de você chegando em casa carregado de tão bêbado.
_Não vai mais acontecer, pode deixar.
_Aquilo foi tão triste!_ falou ainda concentrada no fogão _Um filho meu, daquele jeito!
_Ok, mãe...
_Sua avó ficaria envergonhada se visse!
_Já entendi mãe!_ falei para cortá-la e fui para a aula.
Aquele era só a primeira mudança que ocorreu na minha personalidade. Antes mesmo do comentário da minha mãe, eu já tinha percebido que eu estava mais solto, mais perto de ser eu mesmo. Obviamente, ainda tinha um longo caminho a ser percorrido, mas aquilo era um começo. Porém, naquele momento da minha vida, eu ainda estava tentando controlar e definir a pessoa que eu viria a ser, sem saber que isso não depende de mim. Eu não poderia me segurar e me esconder pelo resto da vida, um dia aquilo iria explodir. Mas enquanto eu não chegava a essa conclusão, eu continuava batendo cabeça por aí...
Chegando na faculdade, fui direto para a sala. Como ainda era muito cedo, pouca gente havia chegado ainda. Fui para a porta da sala esperar por Alice, que não demorou a aparecer. Abri meu melhor sorriso para recebê-la, mas ela me ignorou completamente e entrou na sala. Respirei fundo e refleti sobre o quão difícil seria aquele processo de paz.Voltei a entrar na sala e sentei na frente dela, que ainda não me olhava.
_Precisamos conversar._ falei.
_Sobre o que? Sobre você ser um idiota?_ Falou rabiscando alguma coisa no caderno.
_Sim.
_Então você se arrepende das coisas que falou?
_Vamos conversar lá fora?
Ela soltou o ar e lápis, e saiu caminhando para fora da sala sem me esperar. Fomos para um corredor quase deserto que havia no prédio. Ela cruzou os braços, encostou na parede e ficou me olhando.
_Então?_ falou.
_Bom, te respondendo: não, eu não me arrependo de ontem.
Ela bufou e se preparou para ir embora, mas eu a segurei.
_Mas quero que você ouça meus motivos.
Ela ficou me olhando como se dissesse “anda logo, desembucha, quero dar o fora daqui”.
_Bom, minha cabeça é uma bagunça, mas isso você já sabe. Alice,_ falei olhando em seus olhos _eu morro de medo do futuro que me aguarda se eu me permitir ser gay. Você não conhece a fundo minha família ou as pessoas que me cercam em geral. Minha vida seria um inferno. Eu tenho XVII anos, eu não tenho como lutar contra isso. Você diz que entende o que estou passando e tal, mas não entende não. Não há como entender até sentir isso na pele.
_Isso não te redime. Você podia ter ficado calado, não havia necessidade de falar mal do Eric.
_Não julgue as coisas que faço para me proteger. Eu sei que foi horrível, sinto muito, apesar de não voltar atrás nas minhas palavras. Apesar de tudo o que aconteceu, eu não tenho nada contra o Eric, ele não é uma pessoa ruim. Tudo o que fiz e falei foi para me proteger. Eu preciso me proteger Alice, porque mais ninguém vai fazer isso por mim.
_Eu estou aqui, Bernardo!_ falou como se protestasse.
_Eu sei e agradeço. Mas isso tudo não deixa de ser uma luta solitária. Você pode me dar apoio, mas não pode lutar por mim.
_Isso é estupidez! Não há motivos para lutar contra isso, é quem você é!
_Pode ser, mas eu estou no meu direito de lutar. Eu tenho o direito de controlar a minha vida, de decidir como vai ser meu futuro, pelo menos até onde isso for possível. Eu vou lutar com todas as minhas forças contra isso, Alice.
_Mas..._ ela começou, mas e interrompi.
_Se não der certo, que pena, mas eu vou tentar lutar. Se eu perder essa luta, não conseguir sufocar essas coisas que eu sinto, talvez eu possa te pedir ajuda para lidar com isso tudo, mas não vai ser agora, nem amanhã, nem semana que vem. Se eu perder essa luta agora, eu vou ter que enfrentar uma verdadeira guerra, e eu não estou pronto pra essa guerra, aos dezoito ou aos dezenove anos. Eu me conheço Alice, encarar essa guerra agora me mataria.
Falei aquilo tudo com lágrimas nos olhos. Ela me olhava com olhos molhados também, e neles eu via ao mesmo tempo pena e uma luta interna, como se ela estivesse tentando se decidir sobre o que me dizer. Por fim, ela apenas me abraçou.
_Isso é burrice..._ falou sussurrando com o rosto afundando entre meu ombro e meu pescoço.
_Eu preciso tentar...
_Eu vou estar aqui sempre.
_E eu vou precisar de você. Alguém vai precisar me alertar de quando eu estiver passando dos limites, como ontem. E também vai haver os momentos em que vou precisar chorar, e aí você entra também.
_Eu vou dar o melhor de mim.
_Obrigado._ falei apertando o abraço.
_Agora vamos voltar, estamos parecendo dois bobos._ falou me soltando.
Rimos um pouco, limpamos nossas lágrimas, verificamos se estávamos apresentáveis e seguimos de volta para a sala de aula de braços dados. Ao entrar, talvez por magnetismo ou simplesmente pela cor do seu cabelo que se sobressaia, meus olhos foram direto em direção a Eric. Ele me olhava intensamente também, e era impossível saber o que ele estava pensando, se estava com raiva, mágoa ou pouco se lixando para o que aconteceu. Desviei rapidamente o olhar, para que ninguém percebesse e fui para o meu lugar com Alice em silêncio, pois o professor já estava em sala. Mesmo sem olhá-lo, eu podia sentir Eric me olhando. Seu olhar parecia queimar minha pele. Me sentei e tentei prestar atenção na aula, sem muito sucesso. Minha cabeça vagava por aí...
Toda a minha convicção e a minha vontade de sufocar meus desejos por garotos se foram embora quando vi Eric. Era diferente de simplesmente ter falado com ele ao telefone. Quando vi aquela sua pele branca, lembrei de como ela era macia e quente. Ao ver seus cabelos, me lembrei de como eram cheirosos e de como era bom agarrá-los e puxar ele para mim num beijo. Ao ver sua boca vermelhinha, me lembrei dos tremores de tesão que ela me fazia senti ao entrar em contanto com meu corpo. Eric me lembrava da noite mais incrível da minha vida até então. Meu corpo reagia ao dele como se fosse física pura, magnetismo. Meu corpo clamava pelo dele, mas eu tinha que ser forte, eu tinha que resistir.
Na hora do intervalo, enquanto todos saíam da sala, vi Eric vindo em minha direção. Mas eu fui mais rápido, saí de sala antes dele me alcançar, fui para a biblioteca e só voltei para sala quando tive certeza que o professor já tinha chegado. Alice, que tinha entendido tudo, balançou a cabeça negativamente, mas não falou nada. Não me atrevi a olhar para Eric, mas com certeza ele estava me olhando.
Porém, não tive muita sorte na saída. Me distraí conversando com Pedro ao sair da sala, e ao me despedi dele, entrei num banheiro mais isolado. Eu estava no mictório e ouvi alguém entrar. Quando olhei era ele, Eric. O xixi travou na hora. Fechei a calça, lavei as mãos e me preparei para ir embora, mas ele estava barrando a porta.
Por favor, me deixa ir..._ falei suplicando.
_Não até você me explicar direitinho o que está acontecendo.
_Minha cabeça é uma bagunça, cara..._ acho que essa passou a ser minha desculpa pra quase tudo.
_Não foi bom?_ perguntou chegando perto e eu me afastei um pouco.
_A questão não é essa...
_Foi bom ou não?
_Foi..._ respondi encostado e encurralado contra a parede.
_Então, qual o problema?_ falou bem próximo de mim.
Eu tremia todo, mas não de medo e sim de tesão. Estávamos a poucos centímetros um do outro. Com um último sopro de coragem, tentei mais uma vez pará-lo:
_Por favor, Eric... Eu não posso fazer isso, eu não quero essa vida.
_Ninguém precisa saber.
_Mesmo assim, eu não estou pronto pra me relacionar assim com outro cara...
_Calma..._ falou acariciando meu rosto _Eu não estou te pedindo em namoro, estou te pedindo um beijo.
Soltei o ar sem forças para resistir mais e ele deve ter entendido isso como permissão, pois no segundo seguinte sua língua já estava invadindo a minha boca com tesão. Suas mãos me prendiam contra seu corpo, me impedindo de fugir, não que eu estivesse com essa intenção naquele momento. Àquela altura eu também já estava o agarrando e puxando sua cabeça de encontro à minha. Eu nem lembrava que a porta do banheiro estava destrancada e qualquer um podia entrar e nos pegar no flagra. Só existia nós dois ali. Eric foi me empurrando para dentro de uma das cabines, me jogou sentado em cima do vaso sanitário, fechou a porta e desceu a calça até os pés. O seu pau já duríssimo me encarava. Eu olhei para Eric pedindo instruções, nunca havia feito aquilo. Ele entendeu e sorriu safado dizendo:
_Brinca com ele...
Meio receoso ainda, peguei no seu pau. Era quente e pulsava. Comecei a masturbá-lo vagarosamente, apreciando as caretas de tesão que Eric fazia. Com coragem, comecei dando beijinhos na cabeça, meio que imitando como ele tinha feito em mim há alguns dias. Seus gemidos contidos foram o sinal para continuar com aquilo. Comecei lambendo aos poucos, e logo fui engolindo todo o seu membro. Não tinha um gosto diferente, era um gosto de pele, normal, mas valia a pena pelo aumento da intensidade dos gemidos de Eric. Ele agarrou meus cabelos e começou a comandar os movimentos, fudendo de leve com minha boca. Era gostosa a sensação de estar sendo dominado. Então ele fez um movimento inesperado: abaixou minha calça, pegou uma camisinha na carteira e a vestiu em mim. Eu demorei alguns instantes até entender o que ele estava prestes a fazer.
_Pronto para tentar uma coisa nova?_ falou meio ofegante.
Sem aviso prévio, ele se sentou no meu colo e ficou rebolando em cima do meu pau enquanto me beijava. Era uma sensação ainda melhor que a anterior. Ele então usou as mãos para guiar meu pau até a entrada do seu cu, e foi forçando a entrada aos poucos. Além daquela ótima e inédita sensação de sentir seu corpo pressionar meu pau, eu estava adorando admirar seus olhos cerrados com força resistindo à dor. Quando tudo entrou e ele começou a pular no meu colo, eu esqueci de tudo em volta, acho que até dele mesmo. Eu só conseguia pensar naquela sensação indescritível, sem dúvida a melhor coisa que eu já havia sentido. Ele tinha um jeito de fazer aquilo, rebolando ao mesmo tempo que cavalgava e contraía seu cu em torno do meu pau. Ele parecia ser um mestre naquilo. Ele pegou minha mão e guiou até seu pau. Entendi o recado e comecei a masturbá-lo. Eu nem me toquei que devia controlar meus gemidos, eu já ofegava forte. E quando senti o gozo vindo comecei a gritar, mas Eric tampou minha boca com a mão. Ele não demorou mais do que alguns poucos segundo para gozar também.
Não sei quanto tempo ficamos os dois ali, sujos de porra e suor, eu desmaiado em cima do vaso e ele desmaiado em cima de mim. Nós dois só ofegávamos sem dizer nada. Ele pegou papel higiênico e limpou minha mão e seu pau cuidadosamente. Depois saiu de cima de mim, tirou a camisinha, jogou fora e limpou meu pau também. Quando terminou vestiu sua roupa e saiu em direção a pia. Ainda meio desnorteado. Também subi minha calça e fui para a pia também. Nós dois lavávamos as mãos e o rosto sem dizer uma só palavra. Quando terminamos, tudo o que eu conseguia pensar é que mais uma vez tinha cedido aos meus desejos e indo contra tudo aquilo que havia planejado.
_Sério, não podemos mais fazer isso..._ falei com um certo desânimo na voz.
Ele deu de ombros.
_Não te obriguei. Se você não quisesse também não teria feito. É idiotice ficarmos resistindo.
_Mas não é isso que eu quero pra minha vida!
Ele pareceu perder a paciência.
_Não estou te pedindo em namoro! Não quero andar com você de mãos dadas na rua, ir ao cinema assistir um filme melosamente romântico ou conhecer sua família, então, relaxa. É só sexo. Não precisamos nem mesmo conversar e fingirmos sermos amigos. Quando eu e você tivermos vontade, a gente transa, entendeu?
Eu ainda estava de boca aberta pensando no que lhe responder. Ele não quis esperar, veio até mim e me beijou com vontade antes de sair pela porta como se nada tivesse acontecido. Eu fiquei lá, parado no meio banheiro ainda tentando processar tudo o que havia sido dito e feito. Aparentemente, eu estava num relacionamento exclusivamente sexual com outro cara. Eu não sabia se aquilo era bom ou ruim. Então, brilhantemente, eu decidi me enganar dizendo que como não haveria um compromisso sério, aquilo não ia de encontro a tudo que havia planejado. Eu ainda não estava namorando uma menina, então o que tinha errado em me divertir um pouco até chegar a hora de parar? Ninguém precisava saber daquilo, Alice inclusive, ela não entenderia. Eu não sabia explicar como ou quando exatamente aquilo aconteceu, mas eu acho que começava ali meu primeiro relacionamento com outro cara.