(Essa vai ser uma história curta (não foi) e, como já sabem, minhas histórias não têm sexo como foco principal. Ok, boa leitura e espero que gostem.)
Acordei assustada no meio da noite com barulhos que pareciam tiros. Olhei para o lado e minha namorada estava acabando de acordar. Quando fui perguntar para ela o que era aquilo, uma bala atravessou a janela e atingiu o espelho do guarda-roupa do nosso quarto. Fez um barulho enorme e os cacos se espalharam pelo chão. Eu estava muito assustada, tentando entender o que estava acontecendo.
Minha namorada me pegou pela mão e disse que precisávamos sair dali. Vestimos nossas roupas, pegamos carteira, celular e saímos para a sala. Lá já estavam meu cunhado, a namorada dele e nosso amigo Davi, todos apavorados. Meu cunhado disse que provavelmente a favela estava sendo invadida.
Os sons de tiros e gritos podiam ser ouvidos em todas as direções. Meu cunhado abriu a porta da sala e disse que era para a gente correr, mas correr muito, sem olhar para trás, até chegar no mato que havia no final do morro. E assim fizemos.
Saímos todos juntos. Meu cunhado e Davi estavam armados, e minha namorada segurava minha mão. Fomos correndo entre as vielas e as ruas estreitas. Estava um pouco escuro; eu não fazia ideia de que horas eram, mas provavelmente era madrugada.
Os barulhos de tiros e gritos estavam mais altos. Quando entramos em uma rua, dois homens saíram de uma viela, ambos armados. Meu cunhado puxou sua namorada e entraram em um barraco velho. Minha namorada me puxou para uma viela, e Davi veio conosco. Os homens nos viram e começaram a atirar. Ouvi o barulho da arma do Davi; ele provavelmente estava atirando para trás, mas eu nem olhei.
Conseguimos sair da viela e entramos em outra. Eu já podia ver o fim da favela e as sombras das árvores do mato à frente. Acelerei minha corrida quando senti a mão da minha namorada se soltar da minha com certa violência. Fui olhar, mas Davi pulou no meu pescoço e me abraçou, dizendo para eu não olhar. Eu não estava entendendo, e ele me arrastou dali, segurando minha cabeça para me impedir de olhar. Eu disse que não podia deixar ela para trás. Aí ele disse que ela estava morta, que não havia nada que pudéssemos fazer.
Nessa hora, entrei em desespero. Eu queria voltar, mas Davi não deixava. Eu chorava e tentava me soltar, mas ele era muito mais forte que eu e me arrastava à força. Ele tentava me acalmar, dizia que, se não saíssemos dali, iríamos morrer. Eu não sabia o que fazer. Davi soltou meu pescoço e segurou meu braço, puxando-me. Eu ainda pude ver, de longe, o corpo da minha namorada caído, imóvel sobre o chão. Quando fui pedir para Davi me soltar, senti um impacto forte no peito, um gosto ruim de pólvora na boca. Minha garganta estava seca, senti uma dor e levei minha mão onde doeu. Minha blusa estava molhada com um líquido quente; quando olhei, meu peito estava todo ensanguentado.
Senti minhas forças se esvaírem. Fui caindo e ainda pude ver Davi atirando e chamando meu nome, mas depois não consegui ver mais nada além da escuridão que tomou conta dos meus olhos.
Eu ouvia algumas vozes às vezes, mas não conseguia identificar de quem eram. Pareciam distantes. Algo me incomodava; eu tinha dificuldades para respirar. Tentava abrir os olhos, mas não conseguia. Me mexer, então, era impossível, e do nada tudo sumia de novo.
Isso aconteceu algumas vezes, mas hoje consegui abrir os olhos. Havia uma luz muito forte naquele lugar, e não consegui mantê-los abertos por muito tempo. Fechei e fui abrindo aos poucos, fiz isso algumas vezes até conseguir mantê-los abertos.
Pude ver que havia um teto azul acima de mim. Olhei ao redor, mas não consegui ver muita coisa porque algo não deixava eu virar a cabeça para o lado. Mas percebi que provavelmente estava em um quarto de hospital. Senti algo me incomodando na hora de respirar; aquilo foi me dando agonia. Tinha algo na minha garganta. Comecei a me debater na cama quando escutei alguém gritar que eu tinha acordado e que era para trazer o médico.
Senti uma mão no meu braço e logo depois uma pequena dor. Minhas forças foram sumindo; droga, estava apagando de novo.
Acordei com alguém me chamando. Quando abri os olhos, vi uma moça loira, toda de branco, com um sorriso bonito na minha frente. Ela dizia para eu me acalmar, que eu estava bem e que o médico viria falar comigo.
Perguntei o que tinha acontecido, e ela disse que eu estava no hospital, que tinha levado um tiro no peito, mas que já estava bem e que o pior tinha passado, e logo eu sairia dali.
Minha cabeça estava meio confusa, mas comecei a lembrar do que tinha acontecido. Nessa hora, uma tristeza enorme tomou conta de mim, e as lágrimas rolaram pelo meu rosto. A enfermeira tentou me acalmar, mas eu só sabia chorar; Jéssica estava morta. Aquela lembrança me destruiu por dentro.
A enfermeira ficou ali comigo. Ela foi bem legal naquele momento. Saiu e ouvi ela pedir para alguém avisar o médico para esperar um pouco. Voltou e limpou minhas lágrimas com um pano branco, passando a mão no meu cabelo e dizendo que, seja lá o que eu tinha passado, eu ia ficar bem porque era uma guerreira e ia superar isso.
Fui me acalmando, e logo ela foi chamar o médico. Ele entrou e foi muito simpático comigo, me explicou que eu tinha levado um tiro do lado direito do peito, que a bala entrou e saiu pelo outro lado, quebrando uma costela e perfurando o pulmão. Ele disse que cheguei ao hospital praticamente morta, mas resisti a uma operação de quase cinco horas e a duas paradas cardíacas.
Disse que eu estava bem agora, que a operação foi um sucesso, que eu não ficaria com nenhuma sequela, e que minha costela já estava quase boa. Em no máximo 15 dias, eu poderia sair daquela cama. Perguntei a ele há quanto tempo eu estava ali, e ele disse que já fazia quase quatro meses. Ele explicou que eu fiquei em coma depois da cirurgia, mas que no dia em que acordei ele fez os exames e eu estava bem, e logo estaria totalmente recuperada.
Agradeci ao médico, e ele se foi. Logo a enfermeira voltou, e eu perguntei se alguém tinha vindo me visitar. Ela disse que só veio um rapaz comigo, junto com os policiais, no dia em que cheguei, mas que não voltou mais depois. Eu imaginei que era o Davi. Ela disse que um detetive da polícia federal veio me visitar toda semana, mas que provavelmente era para ver se eu tinha acordado para pegar meu depoimento e que provavelmente viria logo para fazer isso.
Agradeci à enfermeira, e ela se foi. Ainda bem que ela me avisou sobre o policial; eu teria tempo para pensar no que falar a ele. Ainda mais a PF, eu teria que ser bem convincente no que diria, ou poderia acabar em uma prisão por um bom tempo. Achei meio estranho a polícia federal estar no meio disso, mas também não fiquei quebrando a cabeça por isso. Eu tinha que me acalmar e pensar com calma no que diria a eles, porque se descobrissem que eu era traficante, estaria muito ferrada.
Continua...
(Como sempre digo, sou péssimo em português e escrevo pelo celular, então desculpem pelos erros. Críticas e elogios são sempre bem-vindos, ok... Tmj 🤜🏻🤛🏻)
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper