Acasos #8

Da série Acasos
Um conto erótico de Keyla
Categoria: Lésbicas
Contém 2368 palavras
Data: 10/11/2023 15:08:46
Última revisão: 28/12/2024 23:57:25

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Keyla;

Eu não estava entendendo nada naquele momento. Patrícia parecia realmente se importar comigo. A gente tinha se dado super bem; ela cuidou de mim na noite passada. Poxa, a gente dormiu juntas! Fora que eu tinha quase certeza de que estava rolando algo entre a gente. Pode ser coisa da minha cabeça, sei lá, mas eu vi os olhares dela me desejando e não vou negar que também reparei em cada curva do seu corpo. Mas, pelo jeito, eu me enganei muito, porque agora ela queria simplesmente ir embora, sem deixar nenhum tipo de contato ou uma forma de eu a procurar. Aquilo me deixou triste; meu peito doeu na hora e senti meus olhos lagrimejarem.

Quando olhei para ela, depois que não conseguiu terminar a frase que começou, vi que seus olhos estavam cheios de lágrimas. Eu precisava saber o que estava acontecendo; ela estava me escondendo algo e eu precisava saber o que era.

Keyla— Olha, eu confiei em você, te contei coisas que nem minha mãe ou meu pai sabiam. Então, pode confiar em mim. O que está acontecendo? Por que você não pode me dar seu endereço?

Ela ficou calada. Vi algumas lágrimas escorrerem pelo seu rosto. Ela se levantou para sair, mas eu não deixei. Me levantei e segurei seu braço. Quando ela se virou, eu a abracei bem apertado.

Keyla— Olha, está tudo bem. Se você não quer falar, eu vou tentar entender, mas quero que saiba que não queria te perder. Queria poder contar com você, queria que você fizesse parte da minha vida. Sei que você pode me achar meio doida por dizer isso, já que a gente se conhece há poucas horas, mas eu gostei de você. O que disse ontem é verdade: você me faz bem!

Patrícia— Eu não tenho um endereço para te dar.

Keyla— Como assim? Não entendi.

Patrícia— Eu não tenho um endereço para te dar, ou um lugar para eu ir. Não é que eu não queira te dar meu endereço; o único endereço que eu tinha era esse.

Keyla— Meu Deus, Patrícia! Por que não me falou? Você estava indo para a rua? É isso?

Patrícia— Era sim. Não é fácil falar sobre isso.

Keyla— Vai desfazer suas malas, se acalma um pouco e depois a gente conversa.

Patrícia— Como assim desfazer minhas malas?

Keyla— Você não tem para onde ir. Vai ficar aqui comigo.

Patrícia— Mas eu...

Keyla— Sem "mas". Não é um assunto para discutir. Você desfaz as malas e fica. Depois a gente vê o que faz, mas para a rua você não vai de jeito nenhum.

Patrícia— Obrigada.

Ela me apertou tanto naquele abraço que achei que iria me quebrar. 🤭

Eu não fazia ideia de que ela não tinha para onde ir, mas depois me lembrei de algumas coisas que ela falou, como ter vindo direto do hospital para cá. Não me respondeu quando perguntei se a família dela não se importou. Ela disse que meu pai a ajudou quando ela perdeu tudo. Será que a família dela morreu?!

Eu não sabia o que tinha acontecido com ela, só sabia do tiro e que meu pai a ajudou, mas com certeza havia muita coisa por trás disso e eu queria saber. Achei melhor deixar para perguntar depois. A única coisa que eu tinha certeza é que não ia deixar ela desabrigada.

Ela foi até o quarto, provavelmente desfez as malas. Depois voltou, seu rosto estava um pouco mais alegre. Eu estava no sofá, ela sentou ao meu lado e me deu outro abraço, mais uma vez me agradecendo.

Keyla— Não precisa agradecer. Vai ser bom ter companhia aqui comigo. Não gosto de ficar sozinha, mas temos um problema: nenhuma de nós duas está trabalhando, eu não tenho um centavo no bolso e não sei o que temos para comer. Se tivermos pouca coisa, vamos ter que dar um jeito.

Patrícia— Temos bastante coisa para comer. Eu fiz as compras do mês semana passada e você tem dinheiro sim, pouco, mas tem. Eu posso procurar um trabalho durante esse tempo.

Keyla— Trabalho eu acho que consigo para nós duas na loja onde eu trabalhava, nem que seja para mim, eu consigo. E que história é essa de eu ter dinheiro? Não entendi.

Patrícia— Seu pai recebeu seu décimo terceiro mês passado. Ele pagou as duas últimas parcelas do empréstimo, depositou sua pensão e guardou um dinheiro que era para fazer um almoço especial para você. Não é muito dinheiro, mas deve ter uns mil reais na conta dele no banco. Tem também quase duzentos reais na gaveta da mesa do escritório. Ele deixava lá para eu comprar nosso café da manhã ou se tivesse alguma emergência e eu precisasse. Foi lá que peguei o dinheiro para comprar nosso café hoje. Bom, esse dinheiro agora é seu.

Keyla— Coitado do meu pai, nem teve a chance de falar comigo. Ficamos um ano sem conversar. Eu fui muito idiota de não tentar achar um jeito de falar com ele. Eu podia ter entrado em contato com a PF. Se eu tivesse confiado nos meus instintos, teria resolvido isso.

Patrícia— Ei, você acreditou na sua mãe. Como você poderia saber que era mentira? Não fique se culpando por algo que você não tem culpa. Seu pai te amava muito. Tenho certeza de que lá de cima ele já entendeu o que houve e com certeza está olhando por você agora.

Keyla— Você tem razão. Meu pai era um homem incrível e com certeza está cuidando de mim. Só que ainda dói muito a falta dele!

Patrícia— Eu imagino, mas você teve sorte de ter um pai que te amava e esteve ao seu lado sempre.

Ela falou aquilo e pude sentir um certo rancor na sua voz, mas não quis perguntar o motivo. Quando ela se sentisse confortável, me contaria. Resolvi mudar de assunto.

Keyla— Mudando de assunto, como eu faço para pegar esse dinheiro na conta do meu pai? Tenho que ir no banco?

Patrícia— Bom, eu posso sacar para você segunda ou até hoje mesmo, se você me levar a um caixa eletrônico.

Keyla— Você tem acesso à conta do meu pai?

Patrícia— Tenho sim. Ele me passou porque geralmente eu que ia ao banco para ele depositar ou sacar dinheiro. Também sabia a senha do cartão porque às vezes ele deixava comigo para eu fazer compras ou pagar alguma coisa. Mas o cartão estava com ele no dia que tudo aconteceu. Não sei o que houve com as coisas dele; provavelmente sua mãe pegou.

Keyla— Pegou sim, mas eu peguei ontem. Suas coisas estão na minha mochila.

Patrícia— Então o cartão deve estar também, provavelmente dentro da carteira dele.

Fui até a mochila ver se o cartão estava. Achei dentro da carteira. Tinha 180 reais em dinheiro também. Eu vi o celular dele e, nessa hora, lembrei de algo que eu queria fazer, mas acabei esquecendo. Peguei o celular dele e o meu antigo e coloquei para carregar. Eu queria ver se tinha alguma mensagem neles que me interessasse.

Patrícia foi fazer um almoço. Eu fui até a padaria e comprei um refrigerante e um pote de sorvete para nós duas. Voltei e a gente almoçou, sentamos na sala e tomamos um pouco de sorvete. Patrícia levou os copos para a cozinha e depois voltou. Eu sentei igual ela tinha sentado no sofá no dia anterior e chamei ela para sentar entre minhas pernas. Ela deu um sorriso e se sentou, escorando em mim.

Eu queria retribuir o carinho que ela tinha me dado, queria deixá-la segura como ela me deixou. Acho que funcionou porque, do nada, ela começou a me contar uma história de uma ex dela e essa história foi tomando um rumo que eu não esperava. No fim, eu fiquei totalmente de boca aberta ouvindo tudo que ela me contou, de tudo que tinha passado até se mudar para cá com meu pai. Eu nem sabia o que dizer, só a abracei e fiquei fazendo carinho nela enquanto ela limpava as lágrimas do seu rosto.

Ela tinha passado por muita coisa nos últimos anos. Ainda bem que não deixei ela ir para a rua; ela já tinha sofrido o suficiente na vida dela. Eu iria cuidar dela agora, e tenho certeza de que ela iria cuidar de mim. Por algum motivo, o destino nos juntou. Eu não sei o que ia acontecer entre nós, mas só sei que tinha certeza de que a gente fazia bem uma à outra. Pelo menos para mim, ela fazia um bem danado.

Ficamos ali um bom tempo. Depois, ela se levantou para ir ao banheiro. Eu aproveitei e peguei os dois celulares que já estavam carregados. Liguei os dois; o do meu pai começou a disparar vários sinais de notificação, enquanto o meu ficou em silêncio. Provavelmente o chip nem funcionava mais, tinha quase um ano que eu não colocava créditos nele.

Abri a caixa de entrada de mensagens e tinha várias mensagens que eu nunca tinha visto, a maioria da minha ex e outras do meu pai. Comecei a ler as do meu pai e logo as lágrimas rolaram. Patrícia voltou, sentou do meu lado e me abraçou, sem falar nada. Eu virei o celular para seu lado para ela ver as mensagens.

Tinha várias do meu pai falando que estava preocupado comigo, outras dizendo que tinha me mandado mensagem no WhatsApp, mas as mensagens não eram entregues. Ele perguntava por que eu estava ignorando ele, se tinha feito algo de errado, e dizia que me amava. Quando eu voltasse, iria descobrir o que tinha acontecido para eu não falar com ele.

Li todas. Foi muito dolorido ler aquelas mensagens. Peguei o celular dele e, para minha surpresa, tinha senha. Eu não sabia, mas Patrícia sabia. Ela disse que pegava o celular dele às vezes emprestado para fazer pesquisas na internet e sabia a senha. Quando ela destravou, fui direto no WhatsApp. Só entrei na nossa conversa. Ele tinha mandado vários textos e áudios para mim, mas nenhum foi entregue, já que no celular antigo eu tinha excluído o aplicativo.

Era quase a mesma coisa que estava nas mensagens que li, mas ouvir os áudios dele preocupado comigo, dizendo que me amava e estava com saudades, dele dizendo que ligou em um número que deram para ele no colégio, dizendo que era de onde eu estava, mas ele não entendeu quase nada do que a moça falou. Ele deixou recado para eu ligar para ele.

Eu nunca fiquei sabendo dessa ligação dele. Li tudo da nossa conversa, até as mensagens antigas que estavam ali antes de eu mudar de número. Nossa, eu fiquei muito triste. Patrícia ficou ali do meu lado e se emocionou também ao ouvir a voz do meu pai nos áudios.

Peguei meu celular antigo novamente, depois de me recompor, e abri as mensagens de uns números estranhos que eu já sabia que eram da minha ex. Mostrei para Patrícia as mensagens dela me pedindo uma chance, me ameaçando, me xingando. Patrícia disse que ela provavelmente era doida.

Ficamos ali um pouco. O clima não estava muito bom, ambas estavam tristes. Aí pensei em algo para dar uma animada em nós duas.

Keyla— Vamos ao shopping?

Patrícia— Fazer o que no shopping?

Keyla— Ver um filme, fazer um lanche. Você pode sacar o dinheiro em um caixa eletrônico. Sei lá, vamos sair um pouco, fazer alguma coisa. A gente precisa dar uma melhorada na nossa vida. Chega de chorar, vamos pelo menos tentar nos divertir um pouco. Topa?

Patrícia— Você tem razão, vamos sim! Faz muito tempo que não vou a um shopping.

A gente se levantou, tomamos um banho, vestimos uma roupa e saímos. Peguei o dinheiro que tinha em casa, passei em um posto e abasteci o carro. Fui com todo cuidado do mundo, porque, apesar de saber dirigir bem, eu não tinha CNH e nem podia pensar em perder meu carro.

Chegamos e Patrícia quis ver um filme. Assistimos a uma comédia para rir um pouco, fizemos um lanche reforçado e conversamos sobre várias coisas aleatórias. A gente tinha alguns gostos em comum, outros nem tanto. Eu vi o sorriso dela várias vezes e era muito bom vê-la sorrir.

Saímos e passamos em um caixa eletrônico. Tinha mil quatrocentos e cinquenta reais na conta do meu pai, mas só podia sacar quinhentos por vez. Seguimos para casa e Patrícia foi direto tomar outro banho. Eu fui arrumar nossos colchões para dormir. Ela saiu do banho só de toalha, entrou no quarto e ficou meio que sem saber o que fazer. Acho que ficou com vergonha de mim. Eu peguei a minha toalha e fui para o banho para ela poder se vestir.

Quando voltei, ela tinha colocado um colchão na cama e o outro não estava mais no quarto.

Keyla— Cadê o outro colchão?

Patrícia— Devolvi para a cama do outro quarto.

Keyla— Acho que perdi alguma coisa. Pode me explicar?

Patrícia— Ele não foi usado na outra noite. A gente dormiu só em um colchão e algo me diz que vamos dormir do mesmo jeito de novo, então é melhor a gente dormir na cama mesmo.

Keyla— Faz sentido. Kkk.

Eu saí do banheiro já com um short, só vesti uma blusa e fui me deitar. Ela já me esperava de barriga para cima, com os braços abertos e um sorriso no rosto. Eu amei aquilo, mas antes apaguei a luz e me deitei agarrada a ela.

Keyla— Acho que vou comprar uma cama de casal para a gente.

Patrícia— De casal, é?

Keyla— Uhum...

Não me toquei no que tinha falado, mas não iria voltar atrás nem me explicar.

Patrícia— Eu iria adorar, com certeza!

Levantei o rosto e consegui ver seus olhos me olhando. Eu não sei o que me deu, mas fui levantando meu rosto em direção ao dela e ela foi abaixando até nossos lábios se encontrarem. Nossa, eu senti algo tão bom quando senti a boca dela na minha. Era uma sensação única que eu nunca tinha sentido antes. Acho que ali ficou claro para mim: eu estava completamente apaixonada por ela.

Continua…

Criação:Forrest_gump

Revisão: Whisper

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Foto de perfil de Forrest_gumpForrest_gumpContos: 391Seguidores: 87Seguindo: 62Mensagem Sou um homem simples que escreve história simples. Estou longe de ser um escritor, escrevo por passa tempo, mas amo isso e faço de coração. ❤️Amo você Juh! ❤️

Comentários

Foto de perfil de Jubs Oliver

CARACAAAAAAAAAAAAAA, que química 🤌🏻😍

Estou apaixonada nesse último parágrafo! ❤️

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ate o momento tudo flores e amor sara que vai continuar assim para as duas ?

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Provavelmente ainda aparecerá alguns problema mas vamos aguardar 🤭

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Pode ter certeza que vai ter alguns problemas pelo caminho, nós conhecemos o nosso amigo autor rsrs.

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Putz sou muito previsível né kkkkkkk

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Depois de cicatrizes não tem como não lembrar de todo drama KKK, nem irmãs Ferreira que teve sofrimento, não chega perto.

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Sicatrizes foi um caso a parte, não acho que vou escrever outra com tanto drama não kkkk eu acho 🤷🏻‍♂️

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Drama faz parte, tem que ter um pouco, por exemplo como foi difícil para, Ceci e Clara ficarem tanto tempo sem saber uma da outra, é só recebendo informações falsas da mãe delas, só foram ficar sabendo de tudo, quando ela morreu. Quase que uma perdia a outra, então continua escrevendo dessa forma misturando um pouco de drama e romance, só não exagera pra não virar um conto mexicano.

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Kkkkkkkkkkkk pode deixar, não sou muito fã de drama demais não, como eu disse cicatrizes foi um caso aparte 🤭

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E cá estou eu, rindo que nem um bobo com essa cena. Meu coração ficou quentinho agora 😍

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Cenas como essa da até mais prazer de escrever!

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Que continue tendo esse prazer por muito tempo. Os leitores agradecem kkkkkkkkkk

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Meu sonho poder escrever só cenas românticas e felizes kkkkk

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Que bom elas estão se entendo, é as verdades foram ditas, e Keyla viu o quanto Patrícia sofreu nos últimos anos, é as duas amam de forma diferente a mesma pessoa no caso o Marcos, uma como filha e uma com uma pessoa que foi acolhida e salva por ele.

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