Naquele momento me lembrei de um detalhe e, ao entrar na recepção do escritório, lá estava ela, ainda mais linda do que na última vez que nos vimos, naquela despedida que dilacerou o meu coração, com um sorriso radiante no rosto:
– Olá, Clayton! Há quanto tempo. O Juan está esperando por você na sala de reuniões. Venha comigo.
Meu coração pulou uma batida naquele momento. Tudo que eu tentava abafar, todo o sentimento que eu fingia não ter, o amor que eu tentava curar, voltou forte, como uma arritmia desenfreada, um tremor de excitação pelo corpo, a voz embargada:
– Oi, Josi …
Controlei ao máximo meus instintos e desejos, me protegendo daquele sentimento teimoso e irracional que insistia em me desestabilizar. Ela também parecia se segurar:
– O Juan aguarda por vocês na sala de reunião. Me acompanhem.
Não sei por que, mas sem pensar muito, apresentei os dois que me acompanhavam:
– Esses são o Lucas e a Lariane, meus novos associados. Elas vieram de longe trabalhar comigo.
Estranhei minha atitude, dando satisfações que não deveria, apenas tentando prolongar a conversa. Josi foi extremamente profissional, abrindo a porta para nós:
– Eu fico por aqui, boa reunião.
Sorridente, Juan nos cumprimentou um a um:
– Clay! Bom revê-lo, amigo. Sentem-se.
Imediatamente após nos receber cordialmente, Juan começou suas orientações e dicas. Perturbado pelo reencontro com Josi, eu não conseguia me concentrar. Para não tornar a reunião um fracasso para mim, coloquei o celular para gravar, mas somente em áudio. Depois, eu poderia ouvir e revisar toda a conversa.
Percebi que Lariane estava um pouco desconfortável, mas atenta a tudo que era dito. Mas, para foder ainda mais com o meu psicológico, uma hora depois do início da reunião, Josi adentrou à sala trazendo café, chá e algumas guloseimas. Ela fez questão de servir a mesa justamente se posicionando ao meu lado. Seu perfume era como feromônios para mim, inebriando meus sentidos e me fazendo reviver a memória de nosso tempo juntos.
Por sorte, ela ficou apenas por alguns minutos, se retirando após cumprir seu papel, me deixando ainda menos concentrado em tudo o que era falado.
Mais uma hora e meia e finalmente Juan terminou sua fala. Lariane parecia querer dizer alguma coisa, mas a coragem faltava. Ainda conversamos banalidades por alguns minutos e por fim, nos despedimos. Eu queria sair dali rapidamente, tentando evitar a Josi, mas ao chegar ao carro, pronto para entrar, ouvi sua voz doce me chamando:
– Clay, podemos falar? Prometo que vai ser rápido, não quero atrapalhar.
Eu queria muito dizer não, fingir que não ouvi, mas meu corpo se virou automaticamente em sua direção. Ainda tentei me impor:
– Tudo bem, mas só se for rápido. Tenho outro compromisso.
Abri o carro, deixei que Lucas e Lariane entrassem e fui ao encontro dela, a poucos metros de distância, nos dando privacidade para conversar. Ela começou:
– Eu só queria agradecer pessoalmente pela forma que você me tratou no final, por ter sido compreensivo e até mesmo ter arrumado essa oportunidade para mim. Espero que algum dia você possa encontrar em seu coração uma forma de me perdoar …
Ela tentou disfarçar, virando o rosto e secando rapidamente uma lágrima que escorria dos seus olhos. Me segurei para não a abraçar, deixando-a continuar:
– Eu sei que é egoísmo da minha parte me aproximar de você depois de ter feito o que fiz, mas eu jamais o esqueci, não superei, não consigo seguir em frente …
As lágrimas continuavam caindo e Josi respirou fundo, tentando prosseguir:
– Eu errei por omissão, mas eu jamais o traí, jamais cogitei a hipótese de estar com outro. Você é único e sempre será.
Tentei responder:
– Josi … eu não sei o que dizer. Confesso que ainda não me recuperei do que aconteceu e talvez você tenha razão, mas eu … eu não sei … sinceramente …
Com um nó na garganta, achando que não resistiria, apenas me afastei, entrando no carro, dando partida e saindo apressado. Lucas e Lariane se olhavam, calados e confusos.
Achei melhor jogar um pouco de luz nas trevas que invadiam o carro:
– É minha “ex”, uma história complicada.
Lariane se solidarizou:
– Tranquilo, chefinho! Todos temos histórias que queremos esquecer.
Tentando mudar o foco de tensão, ela completou:
– Vi que você gravou o áudio de toda a reunião, você me autoriza a mostrar para a Simone? Tem coisas que ele disse que não entendi, mas também posso estar enganada pois só tenho a teoria acadêmica e o Juan tem a experiência prática.
Lucas finalmente se pronunciou:
– Eu também não entendi algumas orientações, concordo com a Lari. Gostaria de entender melhor toda essa parte comercial também, já que somos uma equipe pequena, iniciando, e todos precisam se ajudar.
Gostei muito da preocupação dos dois, a atenção e dedicação demonstrada, mesmo não sendo exatamente a área deles. Lucas tinha razão, todos precisávamos nos ajudar.
Entreguei meu celular a ela e pedi que compartilhasse o áudio com Simone e com a minha irmã, duas especialistas em administração. Eu não tinha motivos para desconfiar de Juan, mas era melhor mesmo ter especialistas analisando o que foi dito.
Antes de voltar para casa, com Josi martelando meus pensamentos, ainda passamos no escritório em reforma para pegar Simone. Eu, Douglas e os três jantamos juntos naquela noite e mesmo mais quieto, no meu canto, perdido em meus pensamentos, tivemos uma primeira integração de equipe, com todos se entrosando melhor e dando a oportunidade dos três conhecerem um pouco mais do Douglas e a mim também.
Informei a Lariane sobre a nova parceria com a Rafaela e a coloquei como minha parceira naquele trabalho. Lucas iria se dedicar a outros projetos tão importantes quanto, e Simone, minha administradora, iria se ocupar de toda a documentação legal da empresa, prestes a entrar em funcionamento. Douglas seria o suporte de todos, nosso responsável do TI e uma espécie de gerente geral, integrando todos os trabalhos e cuidando do andamento dos projetos.
Só faltava agora a cereja do bolo, minha irmã, a linha de frente, a organizadora e secretária direta, a responsável pela agenda da equipe, pelo andamento e bom funcionamento diário da nova empresa como um todo.
Antes de dormir, ainda conversei um pouco com Rafaela, somente por mensagem, mas com a lembrança constante de Josi nublando minhas respostas. Não estiquei muito o assunto, dando a desculpa de ter acordado cedo e estar cansado, me despedindo após algumas poucas dezenas de mensagens trocadas.
Na manhã seguinte, ao acordar, mandei uma mensagem antes e logo após, fui direto para casa da minha família, fazer o convite formal e saber a opinião da minha irmã sobre as orientações de Juan. Laura era, de longe, a pessoa que mais o conhecia e a melhor para me orientar sobre as dúvidas de Lariane e Lucas. Também conversaria com Simone e Douglas depois, lógico, mas a opinião da minha irmã era a mais importante naquele contexto.
Ela me recebeu com um sorriso caloroso. Era visível que já estava ganhando peso:
– Que arquivo de áudio é aquele que você me enviou? Duas horas e meia, é sério? Desculpe, mas ainda não tive tempo para escutar.
Expliquei a ela do que se tratava, mas disse para ouvir e analisar no seu próprio tempo, pois tinha um pedido mais importante a fazer. Ela me olhou curiosa. Pedi que se sentasse ao meu lado e fiz o convite:
– Eu não sei quais são os seus planos, agora que está melhor, mas gostaria muito que você viesse trabalhar comigo. – Ela me olhou sem acreditar. – Sei que é repentino, mas eu não posso deixar a oportunidade passar. Uma secretária administrativa tão experiente como você, dando sopa no mercado, é uma chance em um milhão, tenho que aproveitar.
Meu pai, chegando silenciosamente por trás, disse:
– Vocês acreditam que eu pensei nisso há alguns dias. Acho que uma ocupação, uma rotina, é até mais importante que o dinheiro em si para Laura nesse momento. Mandou bem, garoto!
Laura estava radiante:
– Eu até já tenho algumas ofertas, mas trabalhar com meu irmão, minha família, supera qualquer uma delas.
– Então você aceita, né?
Ela respondeu sem hesitar:
– Claro que eu aceito. – E brincou. – Mas só porque sou sua irmã, não espere que eu vá trabalhar por mixaria. Sou disputada e muito valorizada.
Todos demos risada e nos abraçamos. Combinamos os últimos detalhes, o salário, as funções que minha irmã exerceria, além das habituais da profissão e nos despedimos. Como ainda faltavam algumas semanas para a sala comercial ficar pronta, ela teria tempo para se preparar.
Curioso, perguntei:
– Quem mais já te procurou?
Sem motivos para não responder, ela disse:
– A empresa que eu trabalhava antes me quer de volta, até porque, fui eu que pedi demissão e eles até tentaram me convencer a não sair. O Juan também me ofereceu trabalho, mas apesar de ainda sermos bons amigos, eu não me sentiria confortável tendo um “ex” como patrão.
Era natural que minha irmã fosse disputada e eu fiquei muito feliz por, mesmo chegando por último, ter sido o escolhido. Nos despedimos e eu voltei para casa.
Com a reforma da sala, a futura sede da empresa, estávamos trabalhando na minha casa. Apenas Douglas se mantinha no local da reforma, cuidando de tudo e sendo o elo de ligação entre a arquiteta e eu.
Lucas se inteirava de todos os nossos clientes, poucos ainda, já que antes eu trabalhava só. Lariane estava imersa e trabalhando exclusivamente no projeto da linha de cosméticos da Rafaela e Simone, nossa burocrata, continuava cuidando da papelada. Eu transitava entre os três, dando suporte e orientação, extraindo o melhor de cada um.
Aquela semana passou voando e Laura começou a vir todas as manhãs, indo embora no final da tarde, já cumprindo uma espécie de expediente. Ela fazia o almoço para todos nós e cuidava da casa. Até a roupa da galera ela começou a lavar, mesmo sob nossos protestos. Ela acabou se transformando na mãezona daqueles jovens, amenizando a saudade que sentiam de casa. Todos a adoravam.
Conversei muito com Rafaela durante aquela semana, algumas vezes por mensagem, outras por vídeo, tentando combinar um horário para nos encontrarmos pessoalmente, mas as agendas eram conflitantes. Ela, inclusive, estava fora da cidade no momento, em eventos da sua patrocinadora. Já eu, com tanta coisa a resolver, não tinha a mínima condição de viajar para encontrá-la.
Na sexta-feira, enquanto se preparava para ir embora no final da tarde, minha irmã me questionou:
– Reparei que você tem estado muito pensativo ultimamente, um pouco triste até. O que está acontecendo? Você sabe que não me engana.
Fiz sinal para ela me acompanhar até o quarto, fechei a porta e me sentei na cama. Ela se sentou ao meu lado, me fazendo um cafuné, uma mania antiga, que mesmo agora, adultos, ela não perdeu. Sempre que tem chance, ela acaricia meus cabelos. Essa mania piorou após a quimioterapia, pois com a perda dos próprios cabelos, ela dizia que sua terapia era alisar os meus. Para minha sorte, seus cabelos já brilhavam orgulhosos, curtos ainda, mas crescendo fortes e saudáveis.
Não fiz rodeios, indo direto ao assunto:
– Quando fui ao escritório do Juan para nossa reunião, acabei reencontrando a Josi. Não foi fácil revê-la. Não consegui parar de pensar nela durante toda a semana.
Minha irmã me repreendeu:
– Se você está se sentindo assim, por que fica dando esperanças para a Rafa? Isso não se faz.
Tentei me defender:
– Não é bem assim, é só que … sei lá, ela ainda mexe comigo. Achei que estava curado, mas me enganei.
Laura foi direta:
– Então perdoa, volta com ela de uma vez. Eu entendo a sua mágoa, mas tecnicamente, não houve traição. Sinceramente, eu até hoje não entendo a sua decisão, por que terminou?
Minha irmã é quase cinco anos mais velha do que eu. Quando minha mãe traiu meu pai eu ainda era muito novo, com apenas nove anos, Laura já era uma adolescente, quase quatorze anos e entendia o que estava acontecendo. Durante algum tempo, alguns anos na verdade, eu vi o meu pai, mesmo de cabeça erguida, sendo motivo de chacota no bairro. Pelas costas, todos se referiam a ele como o corno, o manso, o chifrudo … hoje eu entendo que de manso, meu pai não teve nada, pois ao descobrir a traição, ele expôs minha mãe para todo mundo, a colocando para fora de mala e cuia, sem perdão, a proibindo de fazer parte de sua vida. Por vergonha, ao ser exposta, ela sumiu no mundo, sem se preocupar com os próprios filhos.
Meu pai nunca mais namorou, nunca mais trouxe uma mulher para casa. Eu acredito que como caminhoneiro, ele tenha seus casos por aí, pois ainda é um coroa bonito, em forma, mas nós nunca soubemos de nada.
Tentei responder com sinceridade para Laura:
– Eu até queria, mas não consigo.
Ela insistiu:
– E por que não consegue? Josi errou, mas você perdoou o Douglas, não foi? Pelo que eu sei, o mais errado foi ele, que tentou manipular a situação, fez ela acreditar que você não entenderia e deu no deu. Ela não é santa na história, mas eu também ficaria com medo, pois ele é seu melhor amigo, a opinião dele tem peso.
Sem opções, sabendo que podia confiar em Laura, fui honesto:
– Eu não sei, irmã. Tudo o que aconteceu com a nossa família, o que o pai passou com a mamãe … mesmo que Josi tenha apenas omitido, e não traído, todo o trauma da minha infância voltou de uma vez só. Lembrei do que falavam sobre o papai, as chacotas, as piadinhas e achei que o ciclo iria se repetir comigo. Para me proteger, cortei o mal pela raiz, de uma só vez … não sabia que ia doer tanto, que a saudade seria tão forte.
Calada, Laura apenas me abraçou, me confortando, tentando me acalmar. Não chorei, mas confesso que foi difícil segurar as lágrimas. Ela me aconselhou:
– Eu não sabia que isso ainda estava aí dentro, como uma gangrena, crescendo e te sufocando.
Ela colocou as duas mãos em meu rosto e me fez encará-la:
– Nossa mãe era uma vaca, uma aproveitadora, que só queria boa vida. Você não sabe a metade do que ela aprontou. Eu não acho que a Josi seja assim. Você deveria buscar ajuda profissional para lidar com esse trauma, não só a separação da Josi, mas também, o passado de nossos pais. Vai por mim, vai lhe fazer bem.
Cansado de sentir pena de mim mesmo, me levantei brincando com Laura:
– "Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima". Chega dessa lamentação. O lema do papai é perfeito para o momento.
Ela riu, me deu mais um abraço, bem apertado, e saímos juntos do quarto. Aproveitei para animar um pouco o pessoal:
– Chega de trabalho por hoje, meu povo. Vão se arrumar porque hoje vamos sair, nos divertir um pouco. Afinal de contas, ainda somos jovens.
As meninas deram pulos de alegria e até Lucas, o tímido, deu um sorriso contido. Aproveitei e convidei a Laura também, mas ela tinha outros planos:
– Hoje não dá, irmão. Daiane vai lá pra casa e nós vamos colocar as fofocas em dia. Fica pra próxima. Divirtam-se!
Antes das dezenove horas todos estavam arrumados e prontos. Lucas e eu antes disso, mas como bons cavalheiros, deixamos as meninas em paz, se arrumando no seu próprio ritmo.
Lucas é um sujeito franzino, de rosto delicado e físico adolescente. Eu acredito fortemente que ele não seja heterossexual. Pode até ser que goste de mulher, um bissexual talvez? Isso não é da minha conta, pois a parte que me toca, sua criatividade genial, é a única coisa que me diz respeito. Quem o vê, jamais diria que ele tem vinte e dois anos.
Simone é uma mulher muito interessante. Inteligente, afiada, sarcástica quando contrariada, mas extremamente feminina. Podemos dizer que ela é a famosa "gordelícia". Um rosto lindo, de olhos azuis hipnóticos, cabelo loiro, liso, bunduda e seios médios, mas que acabam parecendo maiores do que são. Tudo isso concentrado em um metro e meio de altura.
Lariane não é tão bonita de rosto quanto Simone, mas compensa a diferença com suas curvas voluptuosas. Exuberante, um furacão, provocante, mas tão inteligente quanto os outros dois. Marombeira de carteirinha, a primeira coisa que fez ao chegar foi se cadastrar na academia mais próxima. Seios médios, cintura fina, coxas torneadas e bunda redondinha, levemente empinada. Assim como Lucas, ela e Simone também têm vinte e dois anos.
Lucas e eu vestíamos o básico: calça, camiseta e tênis. Acostumados a ver as duas meninas sempre de jeans e camiseta durante a semana – Lariane até colocava blusinha e bermuda mais confortável em casa – até me assustei após a produção terminar.
Simone, mostrando suas artimanhas, estava linda em seu vestido mais solto, com uma tira amarrada em laço na cintura. As listras verticais azuis e brancas, alongavam sua silhueta, a fazendo parecer maior. Como algo tão simples pode parecer tão sofisticado? O salto médio, também azul e a maquiagem leve, completavam seu visual.
Lariane estava incrivelmente sexy, bem putinha. Uma calça de couro preto justa, top também preto, barriga de fora, salto agulha e rabo de cavalo. Maquiagem carregada, de olhos bem delineados e batom vermelho forte. Com a intimidade adquirida e sem falsos pudores, ela fez o seu alerta, deixando bem claro que estava para o crime:
– Hoje eu vou me acabar. Estou carente e precisando tirar o atraso. – Ela até brincou. – Já que dormir com o chefe ou com o colega de trabalho não é uma opção, só traz problemas, preciso me virar.
É verdade que criamos uma proximidade bem legal durante a semana e eu dei total liberdade a todos para serem bem informais comigo. Lariane foi a primeira a se libertar e a mostrar sua verdadeira face fora do trabalho, uma mulher divertida e gentil, brincalhona e amiga, mas conhecedora de seus atributos e do apelo sexual que despertava em todos ao redor.
Primeiro fomos ao kartódromo, onde aproveitamos para jantar e nos divertir um pouco, competindo entre nós. O local tinha uma ótima ocupação sempre, principalmente de pessoas da nossa idade. Encontrei um velho amigo, que logo se tornou o alvo de Lariane e os dois se entenderam muito bem. Ele acabou sendo incorporado ao nosso grupo naquela noite.
Por volta das onze horas, convidados por esse amigo, partimos para uma balada famosa na cidade, uma casa de shows que também era danceteria. Lariane e ele não se desgrudavam, Lucas e Simone se divertiam e eu também acabei indo no embalo, curtindo a noite com todos eles, me divertindo e esquecendo do que vinha assombrando meus pensamentos.
Quando a noite estava mais animada, com todos dançando, se divertindo, bebendo e aproveitando, senti a vibração do celular no bolso. Um amigo em comum, meu e do Douglas, tinha enviado um vídeo. Pedi licença ao pessoal e aproveitei para ir ao banheiro. Com menos barulho e sem aquelas luzes estroboscópicas ofuscando a tela, eu poderia ver e ouvir melhor o vídeo. Antes, ele enviou um áudio:
"Caralho, mano! Deu merda aqui."
Assustado, pensando que algum conhecido se machucou, ou coisa pior, assisti ao vídeo:
"Logo de cara reconheci a famosa chácara. O mesmo local onde Josi e eu, fizemos sexo pela primeira vez. Lá também era o lugar onde ela e Douglas ficaram, onde tudo começou para o bem ou para o mal.
Correndo com o celular na mão, quem gravava correu em direção a área da piscina, onde fica a churrasqueira. A pessoa abre espaço na muvuca e consegue chegar para gravar a confusão.
Josi, visivelmente bêbada, furiosa, ensandecida, tanta agredir fisicamente o Douglas:
– Seu desgraçado! É tudo culpa sua. Como eu pude deixar um bosta como tu me manipular, me fazer de refém da sua armação.
Algumas garotas tentam afastá-la, o que só a deixa mais furiosa. Ela tenta acertar Douglas com um copo, mas felizmente, ele é de plástico:
– Me solta! Por culpa desse falso eu perdi o amor da minha vida. Eu vou arrebentar esse desgraçado.
Constrangido, Douglas tenta negociar:
– Para com isso, Josi! Você está passando vergonha. Vamos conversar em um lugar reservado.
A fúria de Josi continua crescendo:
– Conversar é o caralho, seu falso. Um dia o Clay vai abrir os olhos e ver o quão prejudicial você é. Eu sei que ele te deu outra chance, que vocês fizeram as pazes, mas e eu? Tu fodeu com a minha vida e agora eu vou foder com a tua também.
Finalmente, com a intervenção de dois rapazes, as amigas conseguem afastar Josi de Douglas. Quem grava continua acompanhando. Sem saber que está sendo gravado, Douglas debocha:
– Essa garota é louca. Clay terminou com ela porque ela é safada, promíscua, não consegue manter as pernas fechadas.
Quem grava abaixa o celular, parecendo muito bravo, e conhecedor de tudo o que aconteceu, defende Josi. Mas essa parte só tem o áudio e eu não consigo ver a reação do Douglas:
– Não é bem assim. Josi foi fiel ao Clay, vocês dois pisaram na bola com ele. Seja homem e assume o seu erro.
Consigo reconhecer a voz, é o dono da chácara, o mesmo que estava com Josi na nossa primeira vez".
O vídeo acaba e eu tento ligar para o número que enviou o vídeo. Sou atendido rapidamente:
– Clay? Acho melhor tu vir pra cá. Josi está mal, estou com medo dela fazer alguma bobagem. No estado em que ela está, é perigoso acontecer algo mais grave.
Nem pensei duas vezes, agradeci e desliguei. Voltei à pista de dança e chamei Simone. Entreguei um de meus cartões a ela para cobrir as despesas da noite e expliquei por alto que um amigo estava com problemas. Ela entendeu e como já tinha uma cópia da chave de casa, disse que cuidava dos dois, para eu ir tranquilo. Na volta, eles pegariam um carro de aplicativo.
Paguei minha comanda rapidamente, entrei no carro e acelerei. Aquela noite estava longe de acabar.
Continua.