Os últimos meses do Rapaz foram muitos intensos, porém nada se comparou aos acontecimentos da noite passada. Pensou em como tudo era um crime: sequestraram José e o ameaçaram com violência. Nada de concreto ocorreu, mas mesmo assim ele não conseguia dormir à noite. Ainda se sentia nervoso e as imagens não iam embora de sua cabeça. Tinha que dormir por causa de seu emprego diurno. Apenas cochilou e seus sonhos sempre acabavam nos gritos de perdão de José. Sem conseguir dormir, resolveu ir mais cedo trabalhar. Ao chegar ao escritório, a fofoca era a que esperava, que José havia pedido demissão. Não o viu mais e percebeu que sua vida oculta impactou outras pessoas. Por outro lado sentiu alívio, mesmo de forma violenta seu segredo estava a salvo. Para seus colegas era um acontecimento confuso e apenas ele sabia da verdade.
Teve outro pensamento, mais sinistro. Raquel e Gusmão fariam de tudo para mante-lo junto a eles. Ao começar a trabalhar para ambos sentia medo e com o tempo a sensação se dissipou. Raquel dava segurança a ele, apesar de ser uma mulher dominadora e adorar humilha-lo. E Gusmão, que fez a proposta, não se envolvia mais tanto. Agora a sensação de medo voltou. Insegurança. Sentiu que precisava conversar com alguém. Apenas Maria poderia ser sua confidente, por estar em uma situação similar. Mandou mensagem para ela e marcaram no seu apartamento. Os dois teriam espaço vago para essa conversa. Ele não sabia se poderia confiar em Maria, porém era sua única alternativa.
Foi para casa e se maquiou, vestindo um vestido florido curto, que não era tão colado quanto suas outras roupas e mesmo assim deixava aparente a curvatura de sua bunda. Chegou no apartamento e Maria o atendeu de short bem curto e uma camisa regata que mal cobria os seios. Ela estava deliciosa. E cheirosa.
- Quanto tempo! Tá linda nesse vestido, Gabi.
- Obrigada! É novo, gostou?
- Adorei. Ficou ótimo em você. Entra.
Se sentaram próximas e começaram a conversar amenidades. Em seguida a conversa começou a ficar mais densa. Falaram sobre os desafios dessa vida noturna, onde homens iam e vinham. De manter as coisas separadas e não se misturarem. Neste ponto, resolveu iniciar o assunto que realmente o interessava.
- Preciso te contar algo que aconteceu recentemente.
- Vai falando enquanto faço um gin com tônica.
- Um cara do meu trabalho me descobriu.
- Minha nossa!
- E ele me chantageou. Caso eu não transasse com ele iria contar pra todo mundo. Tive medo de espalhar no meu trabalho, já pensou?
- Isso é sério. Ainda mais você que é crossdresser. Iriam te julgar mais do que se fosse comigo.
- E não foi o pior.
Maria levou os drinks e deu para ele, que tomou quase metade, como se procurasse por coragem no fundo do copo.
- Eu contei o que aconteceu pra Raquel. Então ela, Gusmão e mais um segurança levaram o homem pra um lugar remoto.
- Meu Deus! Qual segurança?
- Cássio.
- Ah sei quem é. Gato.
- Então, eu tive que ir até lá e ele estava sentado em uma cadeira, amarrado.
- Bateram nele?
- Não, apenas ameaçaram. O Cássio abaixou as calças e tiraram fotos dele junto ao pau dele.
- Sério isso?
- Aham! Foi bizarro! O pau do Cássio é enorme, sabe aqueles caras que o pau mole é grande? Ele é assim.
- Bom, pelo visto dessa parte você gostou.
Ele apenas sorriu pois realmente era detalhe demais. Então Maria, que já havia finalizado o drink pediu licença e abriu o sofá. Pegou uma manta e deitou ao lado do Rapaz.
- Vêm aqui. Deixa de acalmar, você parece nervosa.
Ela então o abraçou por trás. Sentiu o corpo quente colado ao seu, os seios duros roçando na suas costas.
- Ah sei lá, eu fiquei com medo da Raquel e do Gusmão.
- Eles sempre me deixam nervosa, Gabi. Mais a Raquel do que o Gusmão. Ele parece não ter muito interesse nessa parte do negócio.
O Rapaz pensou se perguntaria ou não da relação dela com Raquel. Ele estava gostando daquele momento: a luz estava baixa, sentia o corpo de Maria e sua respiração no pescoço. Nunca imaginou que ela era tão carinhosa.
- A Raquel às vezes é difícil. Tenho até uma pergunta, como ela te trata?
- Que curiosa! Mas quer saber? Ela é dominadora. Ela me fez...
Ela parou por um momento. Gabi sabia o que ela iria dizer.
- Transar com ela. Isso que ia dizer?
- Sim. Eu nunca tinha feito sexo com outra mulher. Ela queria que eu tivesse a experiência.
- Ela também é assim comigo. Ela me ensina a ser uma garota.
- Te ensinou bem. Às vezes te olho e não vejo um homem e sim uma garota tímida. Sua pele é macia, você cheira bem.
- Obrigada.
Ficaram em silêncio mais um tempo. Ele não sentia nada sexual neste momento de intimidade. Era algo raro em seus dias, apenas o sexo era motivo para receber um abraço caloroso. Geralmente nessas horas já estava sendo sodomizado, o que não ocorreria agora. Maria continuou.
- Estava até pensando numa coisa.
- Conta.
- Queria te ver mais. Você sumiu. Adorei os momentos juntas, mesmo que às vezes fossem meio estranhos. Como tirar aquelas fotos! Lembra?
- Claro que lembro.
Ele se virou para ela e a olhou nos olhos. Ele tinha um belo par de olhos verdes. Era muito bonita. Ela puxou sua cabeça para perto. O beijou.
- Já beija como uma garota.
- Beijo?
- Sim. É o que eu quero, uma garota. Entende? A Gabi. Um dia quero conhecer o menino, mas agora quero só a Gabi.
Se beijaram novamente e ficaram se tocando carícias até que o despertador do celular de Maria tocou.
- Tenho atendimento em meia-hora.
- Tudo bem. Também tenho outros hoje a noite.
Se despediram. Um beijo e um boa noite. Ao sair percebeu que talvez tivesse uma namorada. E diferente do que pensava iria também ser a namorada.