—
Patrícia;
A algumas decisões que mudam a vida da gente de uma hora para outra, às vezes para melhor e às vezes para pior. Quando decidi fazer as fotos, foi apenas para ajudar Cristina. Eu não queria fazer, mas achei que não custava nada ajudar alguém que me ajudou. Bom, eu pensei que não custaria nada, mas no final me custou muito. Às vezes, decisões tomadas com boas intenções podem destruir tudo de bom que temos.
A primeira semana após a divulgação das fotos foi péssima. Keyla começou a viver apenas em torno da sua rede social, não fazia nada em casa e não conversava comigo. Ela deixou de cumprir suas obrigações em casa e no trabalho. Tentei conversar com ela, mas só consegui duas vezes. Na primeira, a conversa foi interrompida por uma ligação que ela disse que precisava atender. Essa ligação durou horas, e ela simplesmente esqueceu da nossa conversa. Aquilo me deixou muito chateada, então acabei desistindo de tentar conversar novamente. A outra conversa foi mais uma briga: ela veio me dizer que o fotógrafo estava esperando nossa resposta para fazer outros dois trabalhos, e eu disse que não tinha interesse em fazer mais fotos, mas que, se ela quisesse, poderia fazer. Ela se irritou e me chamou de egoísta, o que me deixou ainda mais chateada, e acabei falando algumas coisas que não deveria.
Mas não foi só por causa dela que a semana foi péssima. Um belo dia, fui chamada no escritório de Cristina. Quando cheguei, vi que havia um homem lá dentro. Ele se apresentou como advogado do meu pai. Eu logo disse que não tinha pai. Ele me olhou assustado e falou meu nome completo, perguntando se aquele não era meu nome. Eu confirmei, mas reiterei que não tinha pai. Acho que ele entendeu, mas mesmo assim continuou falando.
Disse que meu pai não queria fotos da filha em trajes impróprios e beijando outra mulher espalhadas pela cidade, e que veio pedir que as fotos fossem removidas. Ele ofereceu ressarcir todo o dinheiro gasto e disse que, se isso não acontecesse de forma amigável, entraria com um processo para retirar as fotos e que eu seria deserdada. Nossa, aquilo me deu uma raiva, mas me segurei.
Perguntei a Cristina se havia alguma chance de ele conseguir algo na justiça. Ela me respondeu que nem com os melhores advogados do Brasil ele conseguiria, e que, se entrasse na justiça, só perderia tempo e dinheiro. Era o que eu precisava saber. Virei para o advogado e disse que as fotos continuariam onde estavam até o momento em que Cristina quisesse. E que ser deserdada não fazia o menor sentido, já que eu não tinha pai. Me despedi de Cristina, virei as costas e voltei ao trabalho, mas aquilo me chateou ainda mais.
O final de semana foi péssimo. Keyla não fez nada em casa, então, além de cozinhar, tive que fazer faxina e lavar nossas roupas. Ela passou o tempo todo com o maldito celular na mão. A única atenção que recebi foi da Becky, que agora vivia grudada em mim, já que era eu quem colocava ração para ela todos os dias.
Carinho, beijos, sexo... tudo isso acabou. De sábado para domingo, tentei fazer carinho no rosto de Keyla à noite, quando nos deitamos. Eu sentia falta da minha namorada e rezei para que ela me desse um pouco de atenção e tivéssemos uma noite de amor. Mas ela só me pediu para tirar a mão, porque eu estava atrapalhando. Saí da cama e fui chorar no sofá. Por lá, dormi e provavelmente ela nem percebeu.
Na semana seguinte, as coisas pioraram. Keyla estava igual a um zumbi, porque não dormia direito, ficando até tarde com o celular na mão. Outra coisa que notei foi que agora o celular dela tinha senha, coisa que nunca teve desde que começamos a namorar. Só percebi porque a vi desbloqueando perto de mim. Nunca mexi no celular dela, e não seria agora que eu iria fazer isso. Mas se tinha senha, era porque havia algo a esconder. Não sei o que era, mas tinha, e isso só piorou as coisas para mim.
Eu realmente estava triste, chateada, e sinceramente, já passava pela minha cabeça terminar nosso relacionamento.
Cristina me chamou no escritório na quinta e perguntou se eu iria à festa. Eu disse que não queria, mas iria porque ela pediu e era importante eu ir, já que a revista insistiu. Ela também me perguntou o que estava acontecendo com Keyla, porque todo dia recebia uma reclamação diferente das meninas que trabalhavam com ela. Não escondi nada de Cristina e falei a verdade. Ela disse que ia falar com Keyla no sábado e que, infelizmente, se ela não melhorasse, teria que tirá-la do cargo. Cristina disse que gostava muito dela, mas não podia misturar as coisas. Eu disse que entendia e conversamos por um tempo antes de eu voltar ao trabalho.
Na sexta à tarde, o fotógrafo me ligou, dizendo que Keyla tinha passado meu número. Ele veio falar sobre trabalho. Ele era bem simpático e conversei com ele numa boa, mas expliquei que realmente não tinha interesse em fazer mais trabalhos. Se Keyla quisesse, era com ela, mas eu não iria mais fazer nenhuma foto. Ele disse que tudo bem, mas que não tinha trabalho para Keyla sozinha; os trabalhos eram para nós duas juntas. Eu disse que, infelizmente, não iria rolar, então. Ele me agradeceu e se despediu.
Provavelmente, ele ligou para Keyla para avisar, porque quando saí do banho, ela estava com uma cara de ódio para mim. Perguntei o que tinha acontecido e ela disse que eu sabia o que era, mas que não ia perder tempo discutindo comigo, e saiu do quarto. Eu nem tentei ir atrás; minha paciência já estava no limite.
Cristina iria nos buscar para ir à festa. Às 21 horas, ela apareceu e fomos. Ela estava com o marido, que até então eu não conhecia. Seu nome era Carlos, e ele me pareceu ser muito gente boa, pelo menos foi super simpático comigo. Chegamos à festa e havia bastante gente e muitas bebidas. Era em um salão de festas de um hotel enorme. Vi que havia alguns fotógrafos, muita gente bonita e até um DJ. Keyla estava com uma cara melhor, mas continuava mexendo no celular e tirando um monte de fotos. A gente se sentou em uma mesa perto do palco, e Cristina foi conversar com algumas pessoas junto com o marido.
Eu tinha acabado de chegar, mas já queria sair. Keyla, logo depois que sentamos, fez uma ligação e ficou explicando para alguém onde era nossa mesa. Depois, ficou olhando, como se estivesse procurando alguém. Logo vi quatro garotas se aproximando da mesa. Keyla se levantou e foi abraçar elas. Ficaram ali conversando, e parecia que eu nem existia. Ela só lembrou de mim porque uma das garotas me olhou e perguntou se podia tirar uma foto comigo. Aí, ela me apresentou às garotas. Uma delas me chamou a atenção pelo nome: Naty. Ela deveria ser a menina de quem Keyla falou, porque Keyla parecia querer chamar a atenção dela desde que chegaram. Elas foram muito simpáticas comigo, principalmente a tal Naty, que me elogiou bastante e elogiou as fotos. Tirei uma foto com cada uma delas, e logo elas disseram que iam sair para fazer alguns vídeos. Naty disse que ia fazer uma transmissão ao vivo quando a festa realmente começasse. Elas me convidaram para dar uma volta com elas, mas eu disse que estava meio cansada e que iria ficar ali mesmo. Elas se despediram e saíram.
Minha namorada simplesmente falou com Naty que iria com elas e saiu. Acho que até Naty estranhou ela ter me ignorado. Ela me olhou e deu um pequeno sorriso amarelo. Eu apenas levantei os ombros, e ela sorriu de novo e se foi.
Naquele momento, percebi que não tinha mais namorada. Keyla simplesmente não lembrava da minha existência. Aquilo me deixou muito mal, e algumas lágrimas teimosas apareceram. Respirei fundo, segurei o choro e me levantei, fui procurar um banheiro. Quando encontrei, fui lavar meu rosto. Fiquei ali um tempo tentando recuperar minha dignidade e, depois, saí. Quando fui voltar para a mesa, vi Keyla e as garotas tirando fotos. Uma delas parecia estar fazendo um vídeo ou algo do tipo. Keyla estava agitada, com um sorriso estampado no rosto, se divertindo e feliz ali no meio das suas novas amizades. Naquele momento, tomei uma decisão. Vi que Naty me olhou de novo, então dei um sorriso forçado para ela e voltei para a mesa.
Logo começaram alguns discursos. A dona da revista falou sobre o foco das futuras publicações, Cristina fez um pequeno discurso, falou sobre a loja e agradeceu algumas pessoas. Fiquei muito feliz porque ela lembrou de mim. Eu realmente a admirava cada vez mais; era uma boa amiga.
Os discursos demoraram quase duas horas, e Keyla não deu sinal de vida. Eu já esperava por isso. Dei um tempo e fui falar com Cristina. Quando ela me viu, veio até mim e disse que queria me apresentar algumas pessoas, que seria coisa rápida. Eu disse que tudo bem, mas que depois precisava falar com ela sobre algo muito sério. Ela concordou e perguntou onde estava Keyla. Eu disse que fazia mais de duas horas que ela saiu da mesa e não voltou mais.
Cristina me apresentou a algumas pessoas. Apertei várias mãos, dei um monte de sorrisos, recebi vários elogios e fui muito bem tratada, mas eu só queria sair dali. Cristina provavelmente notou, me pegou pelo braço e me levou a um local mais calmo, perguntando o que eu queria falar com ela.
Eu perguntei se não tinha como ela me dar sete dias de folga. Eu sabia que ainda não tinha direito a férias, mas precisava muito me afastar por um tempo, que precisava resolver minha vida e pensar com calma no que fazer, mas não queria perder meu emprego. Ela disse que não teria problema em me dar esses dias de folga. Perguntou se era por causa da Keyla, e eu disse que sim, que a amava muito, mas que não tinha como continuar do jeito que estava. Então, resolvi me afastar por uns dias e pensar com calma no que fazer.
Ela estava com o semblante triste ao falar comigo e me perguntou para onde eu iria. Eu disse que ainda não sabia, mas que iria ficar incomunicável durante um tempo, e falei que era para ela não se preocupar. Ela pensou um instante e disse que poderia me ajudar, que tinha uma casa em Cabo Frio que só era usada durante o verão. Se eu quisesse, poderia ir para lá. Disse que eu só teria que comprar algo para comer; o resto tinha tudo, até roupa de cama. Eu gostei da ideia e disse que seria legal, mas que não era para ela contar para Keyla. Ela garantiu que não contaria, mas que iria me ligar todo dia à noite no telefone fixo da casa para saber como eu estava. Eu concordei, era bem justo.
Ela perguntou quando eu iria, e eu disse que minha ideia era sair dali naquele momento, pegar um Uber para casa, fazer as malas e ir. Ela disse que ia me mandar dois endereços no WhatsApp: um da casa e o outro da mulher que fazia faxina para ela e tinha as chaves da casa, que ia avisar que eu estava indo. Perguntou se eu precisava de dinheiro e eu disse que não, que eu tinha. Pedi para ela avisar Keyla que eu já tinha ido embora, mas que era para ela só avisar na hora que eles fossem sair.
Dei um abraço muito apertado em Cristina, agradeci muito pelo que ela estava fazendo por mim e saí. Olhei em direção à mesa onde estava, mas não vi Keyla. Nem sei porque ainda fui perder tempo olhando. Eu ia pedir um Uber, mas pelo horário provavelmente iria demorar. Como sempre tem táxi na porta de hotéis, fui procurar um. Não foi difícil achar, entrei e fui para casa.
Arrumei umas roupas básicas, coloquei na mochila, peguei meu celular e baixei o Instagram, criei um perfil rápido só com uma foto. Procurei o da Keyla e a segui, mandei um texto no direct dela e desliguei o celular. Peguei a gaiolinha de levar a Becky ao veterinário; não ia deixá-la ali correndo o risco de passar fome. Coloquei a moto para fora, coloquei a gaiola entre minhas pernas em cima do tanque, a mochila nas costas, conferi minha carteira, olhei para a casa e lembrei o quanto fui feliz ali naquele pouco tempo que passei com Keyla. Mas agora eu tinha que partir e nem sabia se algum dia voltaria. Com algumas lágrimas no rosto, coloquei meu capacete, liguei a moto e saí.
Continua…
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper