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Patrícia:
A viagem foi bastante demorada, pois, além de ser relativamente longa, fui com muito cuidado porque estava com a Becky junto comigo. Provavelmente, ela estava com medo e desconfortável dentro daquela gaiolinha. Parei duas vezes em postos de gasolina 24 horas para olhar por ela; no primeiro, aproveitei e abasteci. Cheguei de manhã em Cabo Frio e, depois de pedir várias informações, encontrei a casa da faxineira. Como vi que havia movimento, chamei. Uma garotinha de uns dez anos me atendeu; a mãe dela não estava, mas deixou a chave para me entregar. Perguntei à menina se ela sabia onde era a casa, e ela disse que sim, explicando como chegar lá.
Demorou um pouco para eu conseguir achar a casa, mas finalmente encontrei. Na verdade, era mais uma mansão: bem grande e bonita, com piscina e um enorme jardim com área para churrasco. Deixei minhas coisas e a Becky e saí para comprar algumas coisas. Fui ao mercado, à padaria e a uma pet shop. Não podia comprar muita coisa porque, de moto, fica meio difícil de carregar, mas precisava aproveitar o sábado, já que não sabia se o comércio abriria no domingo.
Quando voltei, deixei a Becky sair. Ela estava tranquila e procurei duas vasilhas na cozinha, colocando ração e água para ela na varanda da casa. Mas antes de comer, ela saiu andando e explorando o jardim até encontrar um canto com areia solta perto do muro. A coitada estava precisando usar o banheiro. Fui para dentro da cozinha e preparei um lanche para mim.
Depois de comer, fui dar uma olhada nos quartos. Eram bem bonitos. Havia um maior e chique; imaginei que era o que Cristina e o marido usavam. Escolhi outro com cama de casal e suíte. A Becky provavelmente já tinha feito suas necessidades e se alimentado, pois estava me seguindo. Busquei minha mochila e fui tomar um banho. Estava com muito sono, e assim que saí, me joguei na cama. A Becky já estava ali, enrolada, dormindo. Eu fiz o mesmo.
Acordei e já era noite. Levantei-me e fui tomar outro banho; meu corpo estava todo dolorido. Coloquei mais ração e água para a Becky. Ela foi comer e eu fui fazer um lanche. Procurei um relógio e já eram quase oito da noite. Estava na mesa da cozinha, comendo meu lanche, quando ouvi o telefone tocar. Fui atender.
Ligação:
Cristina— Como você está? Achou a casa fácil?
Patrícia— Estou bem, obrigada. Não foi difícil de achar, não. Já estou bem acomodada; por sinal, amei a casa. Obrigada mais uma vez.
Cristina— Não precisa agradecer, mas na verdade te liguei para te falar outra coisa.
Patrícia— Lá vem bomba 🤭. Mas pode falar, o que aconteceu? A Keyla está bem? Já percebeu que eu saí de casa?
Cristina— É uma bomba mesmo, mas é boa, kkk. Ela está mais ou menos, mas vai ficar bem sim. E ela notou, sim. Leu seu direct dentro do carro quando estávamos levando-a para casa e chorou muito depois que leu. Na hora, eu nem sabia o motivo exato do choro, mas hoje, no trabalho, ela me contou.
Patrícia— Ela foi trabalhar hoje?
Cristina— Então, é sobre isso que quero falar. Deixei-a em casa e disse para descansar no sábado. Eu já iria dar folga para vocês mesmo. Como era bem tarde e ela estava muito mal, falei para ela descansar, mas ir à loja quando acordasse para a gente conversar. Eu ia falar com ela sobre as reclamações que estava recebendo e que, se não melhorasse, iria tirar o cargo dela.
Bom, eu cheguei na loja hoje já era quase 10 horas e a Keyla estava lá, trabalhando. Chamei-a no meu escritório e perguntei o que estava fazendo ali. Ela disse que não conseguiria dormir e precisava ocupar a cabeça, então resolveu ir trabalhar. Disse que também estava em dívida comigo, mas que eu poderia ficar despreocupada, pois ia voltar a ser a funcionária de antes. Ela disse que já tinha feito uma pequena reunião com as meninas que trabalhavam com ela e explicou o que tinha acontecido, pedindo desculpas a todas.
Eu nem falei nada, já que era isso mesmo que eu queria dela. Mas ela continuou falando, disse que sabia muito bem o quanto errou comigo e se desculpou, prometendo que nunca mais iria acontecer. Disse que excluiu o Instagram dela e que iria se dedicar ao trabalho dali para frente, se eu desse uma oportunidade a ela.
Fiquei muito feliz de ouvir aquilo e falei que ela teria a oportunidade dela, sim. Ela me agradeceu e perguntou se eu sabia onde você estava. Eu disse que sabia, sim, que você estava bem e em um lugar seguro, mas não ia contar para ela onde era.
Ela disse que não tinha problema, que o importante era saber que você estava bem e que iria respeitar o que você decidiu, apesar de já estar com muita saudade de você. Disse que assim que você voltasse, faria de tudo para recuperar o namoro de vocês e sua confiança.
Ela falava aquilo e as lágrimas já cobriam seu rosto. Eu tinha chamado ela ali para dar uma bronca, mas depois de tudo que ouvi, em vez disso, fui abraçá-la e acabei dando uns conselhos e a consolando. Ela estava arrasada e muito triste, mas parecia determinada a mudar. Bom, foi o que me pareceu, e conheço bem a Keyla; acho que ela voltou a ser a Keyla que a gente conhecia.
Patrícia— Ela excluiu o Instagram dela? É isso mesmo que você me disse?
Cristina— Isso mesmo, excluiu e é verdade. Eu conferi depois, o perfil dela não existe mais! Acho que ela acordou para a vida com o choque quando viu que você tinha deixado ela.
Patrícia— Ela não precisava excluir. Nunca me importei dela ter rede social, dela postar fotos, nem nada disso. Eu resolvi sair de casa e dar um tempo porque ela me excluiu da vida dela. Eu via ela colocando tudo a perder, de tão alienada que ficou com a realidade. Eu não aguentava mais aquilo.
Cristina— Eu sei e te entendo, por isso mesmo te ajudei e apoiei sua decisão. Mas entendo ela ter tomado essa atitude radical; acho que ela quer cortar o mal pela raiz e voltar a ser quem era para recuperar você.
Patrícia— Tomara, Cristina. Nada me deixaria mais feliz do que ter ela de volta como antes. Eu amo muito ela e dói estar longe dela, mas eu precisava e ainda preciso ficar sozinha.
Cristina— Eu te entendo. Só acho que você não precisa ficar aí a semana toda, mas isso é com você. Vou te deixando informada de tudo e, se precisar, pode ligar. O meu número e o do meu marido estão na discagem rápida; o meu é o número um e o dele, o dois. Tá bom?
Patrícia— Está bem, se eu precisar, eu ligo. E mais uma vez, obrigada por tudo, Cristina. Você é uma amiga incrível!
Cristina— Por nada. Amanhã te ligo no início da noite novamente. Fica bem, minha querida! Boa noite.
Patrícia— Combinado, vou aguardar. Boa noite para você também!
Fim da ligação.
Fiquei muito feliz de ouvir o que Cristina falou. Tinha esperança de que, em algum momento, Keyla abriria os olhos e voltaria a ser a mesma de antes, mas meu medo era que isso acontecesse tarde demais ou que ela realmente seguisse com aquela vida e me deixasse de lado. Mas, pelo jeito, ela me escolheu e também escolheu as coisas importantes que tinha.
Minha vontade de sair e ir vê-la era enorme, mas eu não podia. Era melhor esperar para ver o que aconteceria nos próximos dias. Aproveitar aquela casa e descansar também era uma boa ideia, então resolvi ficar. Fui para a sala e assisti TV, já que era o que tinha para fazer para passar o tempo.
Os dias foram passando lentamente. Cristina me ligava todos os dias e me dava notícias das coisas. Disse que, quando eu voltasse, tinha um novo serviço para mim, mas só ia me contar quando eu retornasse. Fiquei curiosa, mas ela não me adiantou mais nada, mesmo eu fazendo uma pequena pressão para saber o que era.
As notícias sobre Keyla eram em partes boas e em partes ruins. Cristina disse que ela voltou a ser uma ótima funcionária, não teve mais reclamações, mas que era nítido que ela estava sentindo muito a minha falta. Ela andava bem triste nesses dias, quase não sorria e, quando sorria, era um sorriso meio forçado. Disse que ela perguntava todos os dias se eu estava bem, mas não tentou saber onde eu estava em nenhum momento. Pelo jeito, ela resolveu mesmo respeitar minha decisão de me afastar por um tempo.
Na quinta-feira, acordei de manhã, fiz um café e depois fui dar uma volta na praia, como fazia todo dia de manhã e à tarde. Quando voltei, a Becky estava deitada no sofá da sala. Quando me viu, veio correndo e já foi miando. Fui colocar ração para ela, mas ainda tinha bastante. Ela continuava miando e me olhando com uma carinha meio triste. Imaginei que provavelmente ela estava sentindo falta da Keyla ou era só o jeito dela miar mesmo, mas achei melhor acreditar que era isso para ter mais um motivo para justificar o que fiz em seguir em frente.
Fui ao quarto, arrumei minhas coisas, limpei tudo que tinha sujado na casa, deixei as coisas como as encontrei, coloquei a Becky na gaiolinha e saí dali. Eu iria voltar antes do programado. Passei na casa da faxineira, deixei a chave e falei para ela que tinha deixado algumas coisas para comer e um resto de ração para gatos. Pedi para ela pegar o que quisesse e achar algum dono de gato para doar a ração. Ela disse que faria isso, e eu a agradeci e peguei a estrada.
Cheguei no RJ era umas 4 e pouco da tarde. Fui direto para casa. Como imaginei, a casa estava vazia, mas tudo estava bem limpinho e arrumado. Entrei no quarto e deixei a mochila lá. Fui à sala e soltei a Becky, que já foi direto deitar no sofá. Fui à cozinha procurar algo para comer, mas não tinha nada pronto. Resolvi fazer um jantar enquanto esperava a Keyla chegar do trabalho. Quando terminei, fui tomar um banho, arrumar minhas coisas e peguei meu celular. Liguei e não tinha nada além de uma mensagem da Aline perguntando por que eu tinha sumido. Resolvi não responder; no outro dia, iria à padaria e conversaria com ela pessoalmente.
Fiquei no sofá vendo TV. Deu 19:30 e nada de Keyla chegar. Imaginei que ela tinha voltado a ir à autoescola, mas mesmo assim já era para ela ter chegado. Mandei uma mensagem no WhatsApp avisando a Cristina que tinha voltado e que no outro dia iria à loja para a gente conversar.
Era quase 21 horas quando escutei o barulho do portão. Corri e apaguei a luz da sala, desliguei a TV. Logo depois, escutei ela guardando o carro. Fiquei na sala quietinha, mas me lembrei das panelas no fogão; ela iria ver e minha surpresa já era. Bom, a chave já fazia barulho na porta, então não tinha o que eu fazer e fui para a porta da sala. Ela abriu a porta da cozinha e, quando achei que ela iria acender a luz, escutei ela dar um grito. Eu até me assustei, mas logo ouvi ela falando.
Keyla— Becky, é você mesmo, meu amor?
Provavelmente, a Becky escutou ela chegar e foi esperar na porta. Ela acendeu a luz e a vi com a Becky nos braços. Olhou rápido na cozinha, virou-se para olhar onde eu estava e, quando me viu, colocou a Becky no chão, passou por cima de algumas sacolas que provavelmente estava com ela e veio em minha direção correndo, pulando em mim e me abraçando, colocando as pernas ao redor da minha cintura. Seu abraço era muito apertado.
Keyla— Meu amor, me perdoa, por favor. Eu te amo muito, me perdoa...
Ela falava aquilo com alguma dificuldade porque estava chorando ali abraçada comigo. Seu choro foi ficando mais forte. Eu tentei acalmá-la, mas não resolveu muito; ela estava chorando e soluçando, às vezes tentava buscar ar porque não estava conseguindo respirar direito. Levei-a até o sofá e sentamos, mas ela não soltou os braços do meu pescoço. Seu choro não tinha parado. Às vezes, notava que ela ia dizer algo, mas não conseguia. Eu falava para ela se acalmar, que estava tudo bem, mas não resolveu. Ela ficou ali agarrada em mim e chorando muito. Achei melhor deixá-la chorar à vontade e depois ter nossa conversa, que para mim seria definitiva para decidir o rumo que nossa relação seguiria.
Continua…
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper
