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Keyla:
Eu já tive esse sentimento de culpa algumas vezes na vida. Não sou perfeita e já cometi erros, além de ter sentido culpa por coisas que hoje vejo que não eram culpa minha. Um exemplo foi quando me culpei por ter abandonado Tamires. Mas, dessa vez, eu realmente era culpada por tudo de ruim que estava acontecendo na minha vida e me sentia horrível por isso.
A primeira coisa que fiz quando cheguei de manhã na loja foi chamar as meninas que trabalhavam comigo para uma conversa. Não fui para um lugar privado; falei com elas ali mesmo no primeiro andar, antes da loja abrir. Todos os funcionários que estavam ali ouviram minhas explicações. Não escondi a verdade; fui o mais sincera possível e me desculpei com elas. Não consegui segurar algumas lágrimas, pois a todo momento lembrava de Patrícia e queria estar me desculpando com ela naquele momento, mas não podia.
Graças a Deus, quando terminei de falar, tive o apoio das minhas colegas de trabalho. Todas, sem exceção, vieram me abraçar. Recebi abraços até de funcionários que não trabalhavam diretamente comigo, mas me conheciam da loja há algum tempo. Sinceramente, aquele apoio me fortaleceu, e eu faria de tudo para me redimir com elas agora, não apenas cumprindo minhas obrigações como chefe de seção, mas também procurando ser uma boa amiga, assim como Cristina faz. Vou procurar me espelhar nos bons exemplos que tenho ao meu redor.
Por falar em Cristina, ela ainda não tinha chegado, e talvez tudo que eu fiz não tivesse valor, pois talvez ela já tivesse decidido me rebaixar ou até mesmo me despedir. Eu sabia que merecia, mas também sabia que Cristina gosta muito de mim e, provavelmente, demitida eu não seria. Porém, o risco de perder meu cargo era grande. Mas quer saber? O que eu fiz tem valor sim, porque era o que eu precisava fazer. Mesmo se eu perder o meu cargo, não vou me arrepender de ter me desculpado com as meninas, porque eu queria e elas mereciam. Não foi só para manter meu cargo na loja; na verdade, eu me sentia aliviada por ter feito aquilo.
Fui para meu local de trabalho. No sábado, o movimento era grande, mas eu estava tão alienada da realidade nos últimos dias que não tinha percebido o quanto o movimento tinha aumentado. A divulgação realmente deu muito resultado; era muita gente na loja. Estava bem corrido e eu tinha deixado as meninas na mão. Nossa, eu fui muito idiota mesmo, mas agora estava ali e ajudei da melhor forma possível. Até atendi clientes, coisa que não era minha função, mas eu sabia fazer muito bem. Quando deu 10 horas, uma das funcionárias mais antigas da loja veio me avisar que Cristina queria me ver no escritório. Eu disse que não tinha como sair dali naquele momento. Ela disse que eu podia ir tranquila, pois ela iria me cobrir na minha folga e ficaria no meu lugar enquanto eu falava com Cristina. Agradeci a ela e fui.
Durante o caminho, algumas mulheres me cumprimentaram, recebi alguns tchauzinhos e sorrisos de pessoas que eu nunca tinha visto. Deu para perceber que a maioria era lésbica; provavelmente me reconheceram por causa das fotos ou me seguiam no Instagram. Um dia atrás, aquilo me deixaria muito mais feliz do que fiquei naquele momento.
Quando entrei, Cristina pediu para eu sentar e depois perguntou como eu estava. Eu disse que péssima. Aí ela perguntou por que eu vim trabalhar já que estava péssima. Eu respondi que precisava ocupar a cabeça e precisava me desculpar com as meninas que trabalhavam comigo, e tinha dado certo, porque apesar de eu estar péssima, estava melhor do que antes de falar com elas. Então ela perguntou se eu realmente tinha me desculpado com todas. Eu disse que sim, que reuni todas no primeiro andar, me expliquei e pedi desculpas. Ela perguntou como as meninas reagiram e eu contei.
Também disse a ela que fiz isso porque realmente as meninas mereciam. Não foi para garantir meu cargo, e mesmo que ela tivesse me chamado ali para tirar ele ou até mesmo me demitir, eu não iria me arrepender de ter pedido desculpas a elas. E se fosse isso que ela queria me dizer, eu iria aceitar numa boa, porque eu merecia. Aí ela falou que queria conversar comigo antes de tomar uma decisão. Eu disse que, se a conversa fosse sobre os motivos de eu ter agido errado no trabalho, ela podia ficar tranquila, pois o motivo não existia mais. Eu tinha excluído meu Instagram e não iria criar outro. Acho que ela se surpreendeu com isso.
Dali para frente, a conversa foi mais emocional, porque ela me perguntou por que eu tinha decidido excluir meu Instagram. Aí eu falei toda a verdade, não escondi nada, falei do texto que Patrícia me deixou, do meu arrependimento e do desejo de consertar as coisas. Eu falava e limpava as lágrimas que escorriam pelo meu rosto. Quando meu choro já me fez sentir dificuldade de falar, respirei fundo e me desculpei com ela, dizendo que a decisão que ela tomasse eu iria acatar, e isso não mudaria o respeito e a admiração que eu tinha por ela.
Ela se levantou, veio até mim, sentou na cadeira ao meu lado e segurou minhas mãos. Disse que me chamou ali para conversar e me dar um ultimato: ou eu melhorava ou perderia o cargo e talvez até o emprego. Ela ficou muito decepcionada comigo, mas que, depois de tudo que eu falei, não precisava dizer mais nada, porque dava para ver que eu já tinha entendido. Eu poderia continuar no meu cargo, mas não teria segunda chance.
Depois, ela me contou que sabia onde Patrícia estava, mas não iria me contar porque prometeu a ela. Eu disse que, apesar de querer muito ver Patrícia para tentar consertar a merda que eu fiz, eu iria respeitar a decisão dela de se afastar por esse tempo. Mas assim que ela voltasse, eu faria de tudo para recuperar a confiança dela e salvar nosso relacionamento, porque eu a amava mais do que tudo nessa vida. Cristina disse que estava torcendo para isso dar certo, porque via o amor que existia entre nós duas, além de gostar muito de nós.
Ela me deu alguns conselhos e puxou minha orelha também. Eu escutei tudo em silêncio, porque eu merecia. Ela me liberou, mas antes pediu para eu ir ao banheiro do escritório lavar o rosto, porque eu estava com uma cara horrível.
Eu aceitei, lavei o rosto e voltei ao trabalho. Mais uma vez, algumas mulheres me cumprimentaram, me deram tchauzinho e sorriram para mim. Eu fiz o possível para parecer bem, mas acho que não convenci muito.
Depois do trabalho, fui direto para casa, tomei um banho e nem almocei. O sono tomou conta de mim e eu dormi. Acordei às 22 horas com meu celular tocando. Era Naty. Pensei em não atender, mas ela foi gente boa comigo e me deu conselhos. Atendi e ela perguntou como eu estava. Eu disse que estava péssima. Contei a ela que tinha excluído meu Instagram, contei o motivo e ela teve uma reação bem legal. Disse que já sabia que eu tinha excluído o Instagram e que, por isso, ligou, porque para eu ter excluído algo, algo tinha acontecido, e ela imaginou o que era. Ela disse que no meu lugar faria o mesmo.
Ela me disse que só levava aquela vida porque era solteira e que levava aquilo como um trabalho, até porque ganhava uma boa grana com propagandas, eventos e patrocínios. Mas que ela não fazia só aquilo; estudava e tinha sua família e amigos. Tinha seus horários para não deixar as pessoas que ela gostava de lado. Ela disse que aos domingos não mexia em nada e deixava seu tempo livre para passar com sua família e amigos.
A gente ficou conversando um bom tempo. Eu falei para ela que esperava que a gente pudesse manter contato, porque eu realmente tinha gostado dela como pessoa e não por ser famosa. Ela disse que poderíamos sim e que queria marcar algo qualquer hora para conversar direito comigo e com minha namorada, porque tinha gostado muito de mim e dela também. Eu falei que, se conseguisse recuperar Patrícia, a gente marcava sim. Ela falou que eu conseguiria, porque com certeza Patrícia me amava; por isso, estava chorando na festa quando eu a ignorei. Mas que, com certeza, ela iria me perdoar. Eu a agradeci e nos despedimos.
Tentei dormir novamente, mas não consegui. Eu estava com fome, fiz algo para comer e fui ver TV. O sono só apareceu às duas da manhã. Dormi e só acordei no domingo às 9 horas. Passei o domingo todo fazendo faxina, lavando roupa e pensando na Patrícia. A falta dela era muito dolorida. Deixei a casa impecável. À noite, tentei me distrair, mas não consegui. Ver aquela casa vazia estava me deixando muito mal; nem a Becky eu tinha para me fazer companhia.
A semana começou e eu foquei em consertar meus erros. Trabalhei o mais focada possível, voltei a fazer minhas aulas na autoescola. Como eu estava meio atrasada, perguntei se tinha como eu fazer dois horários e pude. Então comecei a fazer dois horários e passei a estudar o livro todo dia na hora do almoço e antes de dormir.
Todo dia eu perguntava a Cristina se Patrícia estava bem e ela dizia que sim. Falei para ela que, se descobrisse o dia que Patrícia fosse voltar, queria preparar uma surpresa para ela. Cristina falou que podia contar com ela e que avisaria sim.
Eu estava péssima. A saudade foi apertando. Comecei a chorar sempre que chegava em casa, não conseguia dormir direito. O medo de Patrícia não me perdoar me deixava desesperada, mas eu iria lutar por ela. Como ela disse que voltaria no final de semana, eu resolvi, na quinta à noite, comprar algumas coisas. Queria fazer um almoço ou um jantar para ela e preparar uma surpresa bem romântica. Sei que o risco de eu quebrar a cara existia, mas talvez algo assim me ajudasse a conseguir o perdão dela.
Comprei alguns balões em forma de coração e algumas coisas para deixar o ambiente bem romântico. Queria comprar flores, mas teria que saber o dia que ela voltaria, então estava dependendo de Cristina. Quando soubesse, eu compraria as flores e algumas pétalas de rosa. Queria caprichar mesmo.
Fui para casa com um monte de sacolas. Cheguei, e depois de guardar o carro, peguei algumas e fui entrar. Abri a porta e, assim que entrei, senti algo esfregar nas minhas pernas. Eu levei um susto enorme, porque estava bem distraída. Dei um grito e só não pulei para trás porque as sacolas me prenderam no chão. Quando olhei para baixo, vi uns olhinhos brilhando com o reflexo da luz da rua. Eu não podia acreditar: era a Becky! Soltei as sacolas e a peguei nos braços. Olhei para ela e perguntei se era ela mesma ali. Sei que ela não iria responder, mas mesmo assim perguntei por causa da incredulidade que senti naquele momento. Isso tudo aconteceu muito rápido. Aí caiu a ficha: se Becky estava ali, Patrícia tinha voltado. Acendi a luz, olhei na cozinha e vi as panelas no fogão. Ela realmente tinha voltado! Quando olhei para a porta da sala, só consegui colocar a Becky no chão e correr na direção dela. Ela estava ali, parada, me olhando com um sorriso no rosto.
Eu me joguei em cima dela. Naquele momento, só conseguia me desculpar. Queria falar mais coisas, queria dizer o quanto eu a amava, o quanto eu estava arrependida, que queria ela de volta, mas só consegui falar algumas palavras porque meu choro tomou conta de mim. Ela disse que estava tudo bem; aquilo era um bom sinal. E aí eu chorei mais ainda, só de pensar que era um sinal de que ela iria voltar para mim. Ela me sentou no sofá e pediu para eu me acalmar, mas eu não conseguia conter meu choro nem soltar ela. Meu medo de soltar ela e nunca mais ter aquele abraço era grande. Tentei respirar e dizer que estava com muita saudade, mas não consegui novamente. Ela não falou mais nada, ficou ali comigo me fazendo carinho. Eu demorei a conter meu choro. Quando consegui, ela se afastou e disse que a gente precisava conversar. Eu só fiz sinal de positivo com a cabeça. Agora era a hora de eu saber o que ela tinha decidido nesses dias longe.
Continua…
Criação:Forrest_gump
Revisão: Whisper