O pirata tarado
As primeiras décadas dos anos 1600 não foram propriamente anos pacíficos entre os interesses políticos e comerciais de Espanha e Inglaterra. Travava-se a guerra Anglo-Espanhola como parte da Guerra dos Oitenta anos e da Guerra dos Trinta Anos. Questões financeiras como o enriquecimento espanhol às custas das riquezas nas colônias americanas, sobretudo o ouro e a prata que eram transportados pelas frotas espanholas, questões de sucessão aos tronos de ambos países com arranjos matrimoniais e, questões de ligações militares do rei inglês Jaime I com a República das Províncias Unidas dos Países Baixos levaram ao aumento das hostilidades entre as duas potências.
Longe de todas essas intrigas, e em meados do século XVII eu crescia solitário como filho único numa propriedade rural em Hertfordshire nos arredores de Buntingford que pertencia a meu pai, George Ainsley, almirante da Marinha Real de Sua Majestade e à minha mãe, Anette Bickerton Ainsley, dama de companhia da rainha consorte Ana da Dinamarca. Eu era um órfão de pais vivos, uma vez que o almirante sempre estava em viagens ao redor do mundo, e minha mãe praticamente passava o tempo todo em Londres no séquito restrito da rainha. Passei toda infância e adolescência sob os cuidados de tutores encarregados de me instruir, educar e me tornar mais um cidadão que futuramente também estaria a serviço da casa real. Desde então eu já tinha uma ojeriza pela expressão Vossa Majestade, pois a ouvia constantemente e a associava a privação dos meus pais. Se aos oito anos tivessem me colocado frente a frente com uma dessas Vossas Majestades, eu a teria mandado tomar no cu e chutado suas canelas por me fazerem crescer órfão. Embora eu não soubesse muito bem o que significava – tomar no cu – sabia que não podia ser boa coisa, pois quem vivia a repetir a expressão eram os diabólicos irmãos John e Edward Hawksworth, filhos adolescentes de nosso cavalariço e, quando eu a pronunciava por alguma contradição, a minha tutora Srta. Shaw torcia a minha orelha até quase a arrancar e, o nosso sisudo mordomo Sr. Scowcroft me dava um cascudo na cabeça que chegava a me deixar meio zonzo.
Muito a contragosto e compulsoriamente, ingressei na Marinha Real por influência e pressão do meu pai que me queria ver ocupando um cargo tão prestigiado e influente quanto o seu. Eu definitivamente não levava jeito para a coisa, até tinha me saído relativamente bem nos estudos das cartas marítimas, no domínio dos instrumentos de navegação e nas táticas de esgrima com o florete, onde me destaquei entre os demais cadetes. Já quando a coisa partia para estar embarcado numa nau, mesmo que costeando a ilha para aprendermos o domínio do velame, eu era um completo desastre. Passava a maior parte do tempo debruçado sobre a amurada vomitando as minhas vísceras para fora, enquanto minha cabeça rodopiava mais que um peão. Isso sem mencionar o pavor que tinha daquelas ondas que se agigantavam como paredões ao lado do costado quando soprava um vento mais forte durante as tempestades. Era água demais a minha volta, quando eu durante toda a vida tive medo até das águas do rio Rib que passava por nossa propriedade, e onde os irmãos Hawksworth tentavam me ensinar a nadar tão pelado quanto eles, que já tinham uns pelos estranhos ao redor dos pintos, e o Edward até uns cabelos que iam do peitoral até onde pendia aquele troço cabeçudo dele.
As terras além-mar do Atlântico que estavam enriquecendo a Espanha, também viraram alvo da cobiça inglesa, e a coroa tinha interesse na exploração e conquista dessas riquezas. Para não afrontar diretamente a Espanha, gerando ainda mais conflitos, os navios eram despachados sozinhos ou, quando muito em duplas. Iam sempre muito bem armados com canhões e centenas de barris de pólvora armazenados nos porões, caso fosse necessário se defender de algum capitão espanhol ou dos inúmeros piratas que vagavam por essa rota ávidos por fazerem fortuna saqueando os navios abarrotados de prata e ouro roubados das primitivas civilizações americanas.
Era a minha primeira grande missão após a conclusão da Academia. Meu pai havia mexidos os pauzinhos e fui embarcado como primeiro-oficial num navio que seguiria para as Antilhas, muito embora não tivesse o mínimo preparo para essa função. O pobre capitão se viu obrigado a aceitar a imposição e, ainda por cima, enfrentar a dura missão de fazer de mim um marinheiro. A idade já não lhe permitia mais discutir ordens superiores, o jeito foi aturar e, às minhas inúmeras cagadas, que até o mais reles marujo dominava melhor do que eu. Percebendo que só dava foras ao determinar as ordens, passei a ser mais diplomático e indagava aos marujos o que deveria ser feito em cada situação. Bastaram apenas algumas semanas a bordo para que ninguém mais respeitasse a minha patente e, o uniforme vistoso e exageradamente cheio de insígnias que me vestia se tornou motivo de piadas entre a tripulação.
À medida que navegávamos em direção ao equador o calor infernal só aumentava, era como se estivéssemos rumando direto para o inferno escaldante, o que meu uniforme composto por uma espalhafatosa casaca de lã vermelha só tornava ainda mais torturante. Com o sol a pino durante horas a fio era insuportável ficar em qualquer lugar do navio; no convés se cozinhava, na cabine se fazia sauna, nos porões reinava o ar pestilento e sufocante da maresia. Os ventos mudavam a toda hora e, com frequência, geravam uma tempestade que fazia todas as madeiras do navio rangerem como se fossem gritos agoniados de socorro. Minhas tripas viviam querendo sair pela boca, pois tudo que havia no meu estômago já havia sido vertido sobre a amurada em golfadas de uma bile esverdeada. Eu arrastava meu corpo, como se ele não me pertencesse, como se fosse uma entidade separada do meu ser que sofria de dores, câimbras, espasmos e uma leseira incapacitante.
- Belo dia não, oficial Ainsley! – tripudiavam os marujos quando me viam com o rosto pálido e esverdeado, cambaleando pelo convés nas poucas ocasiões em que restava um pouco de sobriedade na minha mente aturdida.
- Vá se foder! – resmungava eu, tentando não abrir demais a boca para não vomitar a pouca saliva que havia nela, fazendo as risadas se espalhavam entre os marujos.
Bastava o céu enegrecer para o pavor se apossar de mim, pois ele prenunciava os temporais e as tempestades, aqueles raios ricamente ramificados que iluminavam o breu e os trovões que estouravam como se fossem os barris de pólvora que transportávamos nos porões. Eu corria para a cabine apavorado com aquelas enormes massas de água escura que se erguiam para todos os lados e, através das escotilhas, via o céu sumir enquanto o navio balançava e se inclinava até dar a impressão de querer mergulhar no oceano. Aquilo não era vida, aquilo era viver em eterno suplício, que diabos eu estava fazendo ali, longe de Buntingford, longe do solo firme coberto de relva, longe do perfume das madressilvas nas noites estreladas de verão?
Era o terceiro dia de uma calmaria preocupante, a brisa mal passava pelo velame enfunado e o navio não avançava mais que alguns míseros nós. Para um marinheiro experiente aquilo era o prenúncio de problemas, para mim não passava de um enfado. Ao entardecer do terceiro dia a bruma começou a baixar, não se enxergava nem o topo dos mastros, a luz do dia era substituída por um anoitecer precipitado e por uma neblina densa, quase um chuvisco. Os clarões dos raios começaram a surgir longe entre as nuvens, nem se ouviam os trovões. Havia uma inquietude reinando entre os marinheiros, o capitão dava ordens para que tudo fosse amarrado e fixado à estrutura do navio. Eu podia ser marinheiro de primeira viagem, mas sabia o que aquilo significava, problemas, muitos problemas e, principalmente, perigo. Era isso que estava escrito na cara de cada marujo, perigo de que sua existência terminasse no fundo daquelas águas. Do cesto da gávea o grumete gritou agitado.
- Navio a bombordo! Navio a bombordo!
A silhueta demorou a surgir entre o nevoeiro, como se fosse um fantasma com seu velame hasteado. Ao mesmo tempo, o vento começou a soprar forte, assobiando entre as velas cujo tecido parecia querer se esgarçar pelo esforço. Minutos pareciam horas, as duas embarcações se aproximando lentamente.
- Navio Espanhol! – gritou o grumete. – Navio Espanhol! – tornou a berrar a plenos pulmões para superar o barulho do vento.
- Marujos em suas posições! Preparar e apontar canhões! – ordenou o capitão.
Um frio se apossou do meu estômago, íamos provavelmente entrar numa batalha, a primeira que minha inexperiência ia enfrentar e, ela não ia ser simulada sobre um mapa aberto sobre uma mesa, mas entre as ondas enormes que a tempestade estava elevando.
As luzes das lanternas do convés do navio que rumava direto sobre nós já podiam ser avistadas, bem como o grito do capitão ordenando que as velas fossem baixadas para reduzir a velocidade. Subitamente, faltando poucos metros para as embarcações ficarem emparelhadas, ouviu-se o grito de – içar bandeira – e o que ascendeu ao mastro do navio que emparelhou com o nosso foi uma bandeira corsária. Os tiros dos bacamartes começaram a espocar por sobre as amuradas, o primeiro canhão disparou e fez voar em pedaços parte do nosso costado. As pranchas ligando as duas embarcações começaram a ser fixadas e a invasão começou, centenas de homens com pistolas ou floretes em punho despencavam como formigas em nosso convés. Disparei as duas pistolas que tinha na cintura, não acertei nada além do vácuo, e vi um homem histérico e aos gritos saltando de uma das pranchas para cima de mim. Ele mais parecia um louco fugido de um hospício do que um marujo, e não precisei mais do que alguns minutos esgrimindo com ele para enfiar meu florete em seu flanco esquerdo de onde começou a escorrer uma cascata de sangue rutilante que o obrigou a cair de joelhos e tampar a ferida com ambas as mãos enquanto estrebuchava no convés fedendo a pólvora queimada. Entrei em choque, acabara de tirar a vida de um homem, era um criminoso.
- Não morra desgraçado! Não se atreva a morrer, está me ouvindo! Você me obrigou a isso! Por favor, não morra! – berrava eu, enquanto a vida dele se esvaía.
- Mexa-se oficial! Não fique aí parado! Há mais uma centena deles para serem mortos! – gritou furioso um marinheiro. Eu não podia, não, não podia fazer isso novamente. O marujo ainda me encarava com os olhos arregalados perdendo o viço progressivamente. Eu não ia fazer isso de novo, não, não ia.
- Tirem esse imbecil daqui! – gritou meu capitão para seus homens e, minutos depois, eu estava trancado na cabine ouvindo os gritos agonizantes dos moribundos, os tiros, o tilintar das espadas e toda balburdia que acontecia sobre a minha cabeça que afundei nos travesseiros na esperança de tudo aquilo não passar de um pesadelo.
A tranca da porta se rompeu com um chute, me assustando. No vão surgiu um homem que mal passava por ele de tão corpulento, empunhava um florete e o estendeu na minha direção. Era uma figura ímpar, trajando uma camisa larga que lhe caía pelos ombros espadaúdos e tão aberta que boa parte de seu tórax cabeludo estava a mostra, uma calça que se amoldava às coxas musculosas num tecido escuro com finas listras mais claras na vertical, um lenço amarrado à cabeça escondia parte de sua vasta cabeleira e as pontas chegavam-lhe aos ombros. Não tinha trinta anos, ou se tinha, a aparência atlética e enérgica não o deixava perceber. Logo percebi que não se tratava de um marujo qualquer, sua fisionomia tinha algo de intelectual e refinada, o que não o impediu de investir contra mim com a espada em punho. Levantei-me com um salto, florete na mão, não me deixei intimidar. Duelamos por quase dez minutos na cabine apertada, destruindo tudo a nossa volta. Ele era bom e, ao perceber que tinha um adversário à altura, fez daquilo uma espécie de jogo com o qual se divertia. Por uns instantes ainda pensei que nada daquilo estava realmente acontecendo, que eu estava sonhando, pois ele era bonito demais para ser marinheiro espanhol, um pirata ou um corsário. Eu nem deveria estar revelando isso aqui, ainda mais por escrito, mas esse era o tipo de homem com o qual eu vinha sonhando ultimamente, forte, viril, parrudão, charmoso e vertendo testosterona por todos os poros que, aliás, no caso dele estavam suando pelo esforço que a batalha para nos saquear estava exigindo. Na Inglaterra, por muito menos do que isso, soube que homens que haviam se interessado por outros homens e, mesmo que demonstrado um interesse disfarçado, tinham sido executados com o aval da justiça por sodomia. Portanto, eu não devia deixar esses pensamentos passarem pela minha cabeça. Enquanto isso, vieram em auxílio dele, dois marujos sem camisa e com calças desbotadas e puídas.
- Precisa de ajuda, capitão? – perguntou um deles, tão logo bateu sua espada na minha.
- Cuidem dele! Mas, não o matem! Apenas aniquilem-no e o amarrem para que não tenha ideias subversivas. É um espécimen interessante, pode nos ser bastante útil! – ordenou. – Teria o maior prazer em derrotá-lo, mas tenho coisas mais urgentes e importantes a resolver no momento! – sentenciou, lançando-me um sorriso sarcástico.
Pulha desgraçado, quem você pensa que é, sujeitinho miserável, pensei comigo mesmo, quando ele me deixou nas mãos daqueles selvagens, que não demoraram a me render e amarrar como se eu fosse um cabrito fujão. Certos de que eu não tinha como escapar, ambos voltaram ao convés, onde a luta ganhava contornos catastróficos. Nosso capitão fora alvejado por um bacamarte, o navio estava acéfalo, o contramestre procurava desesperadamente ditar as ordens de defesa, mas cada um já lutava só por si, para salvar sua própria pele. Aos poucos, foi-se fazendo silêncio, o que me deixou com uma sensação lúgubre. Apesar da escuridão eu vi pelas escotilhas da cabine alguns corpos caindo no mar, ou talvez tivessem sido lançados ou, seus donos saltado por vontade própria para não serem mortos.
Os dois sujeitos que me amarraram voltaram quando já não se ouvia nada além de conversas distantes. Obrigaram-me a levantar e subir ao convés. O céu tinha algumas aberturas e por elas a luz do luar se infiltrava revelando toda extensão da catástrofe. O chão do convés estava coalhado de corpos inertes, não se sabia se aquilo pegajoso que colava na sola das botas era apenas a água da chuva torrencial que caiu durante todo o duelo, ou se sangue coagulado das vítimas. Alguns rostos me eram familiares, marinheiros do nosso navio, não tinham mais aquela cara zombeteira que me dirigiam, mas uma inércia cadavérica. O corpo do capitão jazia sobre o teto de sua cabine na popa, com um buraco no peito pelo qual se podia estudar sua anatomia interna. Um calafrio percorreu minha coluna, teria eu o mesmo destino dentro em breve, como o segundo mais graduado naquela nau saqueada? Arrastaram-me até onde estava o sujeitinho, empertigado e dando ordens para que tirassem tudo de valor e colocassem no porão do navio que ele comandava.
- O que fazemos com ele? – perguntaram, ao nos aproximarmos dele
- Arranquem-lhe o uniforme e o prendam na minha cabine! Ainda vou decidir o que fazer com ele! – ordenou.
- Assassino desgraçado! Ordeno, em nome de Sua Majestade o rei da Inglaterra que liberte meus homens e devolva tudo que está saqueando! – eu definitivamente não tinha noção do que estava fazendo, não à toa os marinheiros viviam a caçoar das minhas bravatas. Um círculo de marujos se esbaldando de rir se juntou ao nosso redor.
- Eu não sei se você percebeu, senhor primeiro-oficial de Vossa Majestade o rei da Inglaterra, que acabo de capturar seu navio, seus homens e tudo o que há nele. Esse navio agora me pertence. – retrucou ele rindo junto com os companheiros. – Inclusive você! – emendou, o que só fez as risadas aumentarem.
- Cretino! Devolva-me a minha espada e eu vou te mostrar quem pertence a quem por aqui! – esbravejei, gastando apenas a minha saliva, pois a pretensa valentia não encontrava eco naqueles homens talhados para a guerra.
- Levem-no antes que eu me irrite e dê umas palmadas nesse moleque! – ordenou o sujeitinho, o que fez meu sangue ferver nas veias. Me tratar como um garotinho traquinas já era demais.
Trancaram-me na cabine só de ceroulas, nunca gostei daquele uniforme pomposo, mas estava sentindo falta dele agora que estava praticamente nu. À luz do lampião de estava pendurado numa trave que ajudava a sustentar o tablado do convés, vasculhei tudo o que se encontrava sobre uma mesa na qual havia uma porção de cartas náuticas espalhadas, alguns documentos com timbres da Coroa Espanhola, da Inglaterra, Holanda e França, eram documentos oficiais que foram surrupiados junto com os saques dos navios que os transportavam. Pelas gavetas da mesa de carvalho havia mais documentos, joias, estampilhas de quitação pecuniária de diversos países e mais uma miríade de pequenos objetos de ouro e prata, o que só comprovava a atividade ilícita na qual aquele sujeitinho estava envolvido, enquanto se arvorava com o título de capitão. Num escaninho camuflado ao lado de umas prateleiras presas à parede encontrei uma pistola, da qual imediatamente me apoderei ao ouvir passos descendo a escada que levava do convés à cabine. Ele abriu a porta novamente num rompante, fazendo-a bater violentamente no batente. Apesar dos pesares, o desgraçado era bonito, e isso me intimidava um pouco.
- Parado, e feche a porta! – berrei, apontando a pistola na direção dele. Minhas mãos tremiam e estavam suadas, será que eu daria conta de matar o segundo homem num mesmo dia? Ele obedeceu, não por que estivesse intimidado, mas por que achou graça da minha coragem que, cá para nós, eu não tinha, pelo menos não naquele momento.
- Vai me matar? – perguntou, com a cara deslavada onde começava a se esboçar um risinho debochado.
- Vou! E não pense que não tenho coragem! Seria o maior erro da sua vida! – respondi de pronto, tentando fazer aquele cano não tremer tanto.
- Se pretende me matar, deveria ter pensado em carregar a pistola com pólvora e um projétil. Já te explicaram que sem isso ela não funciona? – ele ria tanto que eu não sabia se estava apenas me testando ou se a pistola estava mesmo descarregada. Por que raios eu não conferi isso antes? E deu tempo? Esse fulaninho apareceu antes de eu sequer verificar como se atira com aquele negócio.
- Acha que sou tão tolo de acreditar no que está me dizendo? Mova-se, um milímetro que seja, e vai saber que não estou brincando. – ameacei, mais irritado por que ele continuava a caçoar de mim.
Lentamente ele desembainhou o florete da cintura, colocou a ponta dele junto ao meu mamilo esquerdo e ficou me encarando. Meu coração queria saltar pela boca, senti uma vertigem se formando, mas respirei fundo jurando não desmaiar. Meu dedo tremia no gatilho, fechei os olhos e o comprimi, um discreto clique se fez ouvir, mas pelo cano da pistola não saiu nada. Com a mão livre ele a tirou de mim, enquanto a outra apertava com mais força o florete na minha pele, até surgir um pequeno filete de sangue.
- Ai! – soltei quando ele furou minha pele. Minha hora havia chegado, ele ia me matar, seu olhar penetrante me dava essa certeza.
Contudo, não foi o que aconteceu. Ele lançou tanto a pistola quanto o florete sobre a mesa das cartas marítimas, deu dois passos na minha direção, levou dois dedos até o ponto sangrante, roçou meu mamilo e o biquinho rosado saliente e lambeu meu sangue. Minhas pernas tremiam, os dentes também, e aquele olhar parecia estar me enxergando por dentro.
- Não é azul, mas tem um gosto bom, doce! – exclamou ele, enquanto lambia os dedos.
- Cretino! Se vai me matar, faça-o de uma vez! Porém, esteja certo que o almirante Ainsley da Marinha Real o perseguirá até a morte pelos sete mares. Você não se sairá ileso dessa! – ameacei.
- Você é bastante atrevido para um moleque que mal saiu dos cueiros e brinca de ser soldado! Não sei se gosto disso, ou se preciso te dar umas lições de como se comportar diante de um capitão de verdade. – disse ele, voltando a roçar meu mamilo, o que, dessa vez, provocou um espasmo no meu cuzinho, um espasmo gostoso como se ele estivesse querendo engolir aquele volume alongado colado à perna esquerda do sujeitinho. – Como se chama, oficialzinho de Sua Majestade o rei da Inglaterra?
- Você não é um capitão, é um bandido, um saqueador, um pirata sem eira nem beira, um assassino! – devolvi irado. – Ainda vai se arrepender por me tratar assim! Chamo-me Louis Charles Edward Philip Bickerton Ainsley, guarde esse nome pois se lembrará dele quando for enforcado por ter saqueado um navio da Marinha Real de Vossa Majestade!
- Não teste a minha paciência! Se me irritar jogo-o para os tubarões, essas águas estão infestadas deles, eles vão se deliciar com toda essa carne, Louis do nome comprido! – retrucou, dando um tapa na minha bunda roliça e rindo.
- Miserável! – berrei humilhando, antes de começar a socar aquele tronco sólido que parecia ter sido talhado na madeira. – E você, por acaso, tem um nome?
- Para você, Capitão Diego Naragon! Senhor, capitão Naragon! É bom que se lembre. – salientou.
Ele me conteve, lançou-me sobre o catre desarrumado que estava impregnado com seu cheiro e montou em mim. Eu me debatia, tentava acertar um soco naquele rosto arrogante, mas tudo que consegui foi que ele ficasse tão próximo do meu que senti o hálito morno de sua boca se aproximando perigosamente da minha. O beijo veio quente e molhado, fez meu corpo todo estremecer, fez esvair as minhas forças, roçava e prendia meus lábios, me fazia sentir seu sabor, durou quase uma eternidade. Quando parou, eu arfava, o sujeitinho também, ele me encarava devasso, estava excitado, o volume dentro de sua calça estava duro contra a minha coxa. Quis golpeá-lo novamente, ele bloqueou meus braços e os apertou contra a cama, meu peito insuflado pela respiração acelerada subia e descia e, numa dessas, ele abocanhou o mamilo ferido, chupou e mordiscou, tracionando o biquinho até eu soltar um gemido de rendição.
- Ah moleque Louis e dos mais trocentos nomes, você e eu ainda temos muitas coisas para acertar! – afirmou ele, sem que eu soubesse o que aquilo significava.
Eu ainda estava agitado com aquele beijo, seu sabor persistia na minha boca, seu impacto ainda se fazia sentir por todo meu corpo, meu cu ainda piscava quando ele voltou a concentrar seu olhar sobre mim. Mantive meus olhos fixos nele e notei uma transformação incompreensível no olhar dele, tive a impressão que ele também estava abalado com o resultado daquele beijo. Porém, não consegui chegar a conclusão alguma, uma vez que outro se seguiu, tão inesperado e devasso quanto o primeiro, voltando a convulsionar meu corpo junto ao dele. Dessa vez não reagi, deixei-o consumar o beijo e o tesão que meu corpo lhe provocava, esperando pacientemente que me soltasse. Quando o fez, levantou-se, caminhou à esmo pela cabine, tirou a roupa ficando apenas de ceroulas e voltou a se atirar na cama, estava tão cansado que nem levou cinco minutos para adormecer.
- Suma daqui! – ordenou quando as pálpebras já lhe pesavam.
- Estamos em alto mar, não tenho como sumir, por mais que o queira! – retruquei
- Saia da minha cabine, esse lugar não é para marujos de segunda classe! – grunhiu sonolento
- Eu não sou .... – de que adiantava argumentar com um bárbaro feito ele? Calei-me e o observei adormecer.
Eu não devia estar me sentindo assim, não devia ficar olhando para aquele colosso ali deitado parecendo tão inocente quando um bebê, não devia me sentir tão atraído por aquele corpanzil tão másculo e tão viril, mas não conseguia. Capitão Diego Naragon. Você nem capitão deve ser, nunca deve ter pisado numa Academia, nem deve saber o que é hierarquia, seu pirata criminoso, pensei com meus botões, enquanto ouvia o ressoar sereno de sua respiração. Por que me beijou, seu cretino? Foi impressão minha ou você gostou da minha boca e do meu corpo? Bárbaro selvagem. Por que eu gostei, e nem devia permitir que essa constatação se formasse na minha mente. Seria uma pena se o enforcassem, tantos músculos desperdiçados, esses lábios suculentos invalidados, essas mãos enormes desbaratadas, uma lástima. Meus pensamentos foram interrompidos quando ele se virou na cama, esparramou os braços e abriu as pernas, ronronou um pouco mais alto e pela fenda da ceroula fez surgir o tufo negro de pelos de sua genitália e a ponta cabeçuda e grossa de seu membro enorme. Juntei alguns cobertores e me deitei aos pés da cama, adormeci com aquela imagem pululando na minha mente.
Ele quase pisou em mim na manhã seguinte quando acordou gritando comigo.
- O que ainda faz aqui moleque do nome infindável? Não o mandei sair? – bradou furioso, equilibrando-se num pé quando quase perdeu o equilíbrio para não pisar em mim.
- Para onde queria que eu fosse, estou praticamente nu! Devolva-me meu uniforme! – exigi, esfregando os olhos.
- Imediato! Imediato! Onde caralho se enfiou esse imprestável? Imediato! – gritava ele pela porta da cabine.
- Sim, capitão! – disse o homem corpulento que surgiu descendo a escada quase aos saltos.
- Tire esse moleque da minha frente, arranje-lhe algumas roupas e uma ocupação! Ninguém come de graça a bordo do meu navio! – sentenciou para o sujeito que apenas concordou acenando.
- Eu exijo que me devolva meu uniforme, sou um oficial, não pode me tratar assim! – exclamei, cobrindo pudicamente meu tronco com os braços, pois ambos mantinham um olhar estranho sobre mim.
- Caso ele se recuse a fazer qualquer coisa, enforque-o na mais alta das vergas do mastro para que sirva de lição para qualquer um que ouse se rebelar, ou lance-o para os tubarões, eles saberão tirar bom proveito dessa carne suculenta! – determinou, voltando a estalar um tapa sobre as minhas nádegas.
O imediato fechou sua mão em garra ao redor do meu braço e me arrastou escada acima. Era um homem forte e musculoso, com cerca de quarenta anos, uma cintura barriguda revestida de pelos, assim como toda extensão de suas costas, tinha uma grande cicatriz profunda na face direita, parcialmente escondida na barba, bem como uma sequela dela que lhe mutilara o nervo facial que paralisou toda musculatura daquele lado do rosto e desviara sua boca para o lado contralateral. Isso o fazia parecer ameaçador, por isso deixei-me conduzir sem impor muita resistência, não queria um embate com aquele sujeito. Ele me levou a um dos porões, lançou-me alguns trapos fedidos de aparência duvidosa.
- Isso deve servir! Caso contrário, improvise, aqui ninguém se importa com a aparência, mais vale continuar vivo! – disse ele com aquela boca torta. – O que sabe fazer? – perguntou
- Sou primeiro-oficial! É isso que sei fazer! – respondi de pronto.
- Bem! Isso não vai lhe valer de nada por aqui, eu já exerço essa função e não estou disposto a abrir mão dela! Talvez sirva para lavar o convés, há sangue coagulado por todo lado, quero-o tão limpo quanto o tampo de uma mesa ao entardecer, ou terei o maior prazer de seguir as ordens do capitão, pendurando-o numa verga ou alimentando os tubarões. – afirmou ele
- Todos vocês não passam de selvagens! – retruquei ofendido e humilhado, mas naquela situação não havia muito a se fazer. – O que fizeram com os meus homens? Quero saber se estão bem! – emendei
- Alguns estão muitíssimo bem, deixaram esse mundo de inequidades, outros desesperados se jogaram no mar durante a tempestade e devem já ter se juntado aos que morreram lutando, e outros se juntaram a nós, escolhendo o melhor lado para se ficar. – revelou com sarcasmo
- Exijo vê-los!
- Meu rapaz, você deve ser um cabeça-dura! Enquanto estiver a bordo desse navio você não exige nada, absolutamente nada, está entendendo? Você apenas cumpre o que lhe é determinado, estamos combinados? – sentenciou, agarrando e amassando meu queixo com sua mão que mais se parecia com uma torquês.
- Facínora! – revidei, o que quase o fez quebrar meu queixo.
Sob um sol de rachar, passei o dia com mais alguns dos meus marinheiros, esfregando as tábuas lamacentas daquele maldito convés, voltando a sentir engulhos cada vez que a gosma sanguinolenta grudava no esfregão, obrigando-me a correr até a amurada e despejar a bile no oceano, sob o escárnio da tripulação de piratas. Ao final do dia estava exausto, minha pele branca ardia, minha cabeça latejava, não havia conseguido ingerir nada e sabia que em breve desmaiaria, o que de certa forma seria uma benção, talvez até fenecesse. Quando anoiteceu e a constelação da Ursa Maior começou a se delinear, procurei pela estrela Polar e a encontrei brilhando na escuridão; portanto, à minha direita ficava o Leste e era nessa direção que a proa do navio apontava e rumava tocado por um vento alísio de nordeste que imprimia uma boa velocidade a embarcação. Concluí que as Antilhas deveriam estar próximas e que era para lá que o navio seguia. O domínio sobre as centenas de ilhas que os espanhóis negligenciaram em detrimento da espoliação das riquezas do Império Asteca e Inca, serviam de refúgio para os piratas que saqueavam as frotas carregadas de ouro e prata que seguiam para a Europa, não restava dúvida de que esse capitãozinho Naragon fazia parte dessa súcia. Mas, por que nos assaltar, um navio britânico que rumava em direção contrária e não trazia nada de valor em seu bojo? Essa pergunta carecia de uma resposta, e eu estava disposto a encontrá-la.
Vali-me de algumas jarras de água doce armazenada em barris próximos à cozinha para tomar um banho, mesmo que sumário. A água fria resfriava um pouco o ardor da minha pele queimada pelo sol e me devolvia um pouco da dignidade e do asseio. Como o tempo estava bom, resolvi me deitar sobre algumas lonas e restos de velas que se encontravam espalhadas pelo convés. O porão que servia de dormitório dos marinheiros fedia e o ar pestilento da maresia era um convite a não se aproximar daquele lugar. Além, é claro, daquele bando de machos selvagens quase nus roncando e fazendo estremecer tudo que se encontrava lá dentro.
Nem bem havia amanhecido quando fui acordado violentamente por uma bofetada certeira do capitãozinho empertigado postado a minha frente.
- Aonde pensa que está, seu moleque do nome comprido? – assustado, não sabia onde queria chegar com aquela pergunta. – Responda, seu imprestável! Desperdiçando uma água preciosa destinada a matar a sede dos marinheiros e ao preparo das refeições num banho desnecessário! Acha que está nalgum hotel? Responda, oficialzinho Louis! Eu já não sei mais o que fazer com você! Ou melhor, sei, sei sim, vou te matar moleque mimado! Vou me livrar de você para sempre! Pronto, Imediato! Eis a solução, vamos matar esse janota e nossos problemas estarão resolvidos! – gritava ele, possesso e cuspindo perdigotos.
- Não é porque vocês são um bando de porcos que eu vou me juntar a vocês! Banho desnecessário! Desde quando um banho é desnecessário? Talvez para você que não passa de um bárbaro homem das cavernas! – revidei ultrajado, sob o olhar atento dos marujos que festejavam com a discussão.
- Faça-o caminhar sobre a prancha, Imediato! – ordenou secamente, gerando uma euforia entre os marujos.
- Foi o que você sempre quis, desde o começo, não foi? Encontrar um meio de me matar e depois não sentir remorsos! – declarei, pois era maneira pela qual os algozes amenizavam o peso de sua consciência, e evitar de receberem futuramente uma pena por assassinato.
Sob uma histeria coletiva fui obrigado a me afastar, passo a passo da amurada à qual a prancha estava fixada, já próximo a extremidade, ela balançava, a espuma branca que o deslizar do casco sobre as águas provocava me hipnotizava. Eu estava apavorado, ia cair, isso era certo, ia me afogar com a minha inabilidade para nadar, ia morrer na boca de um tubarão. Ele me encarava esperando que eu implorasse pelo perdão, pela minha vida, mas nada saía da minha boca. Um silêncio expectante reinava entre a tripulação, esperando pelo desfecho trágico. Lembrei-me da minha casa em Buntingford, de como me sentia seguro ali, de como a vida era simples e feliz naqueles campos de relva verde onde eu corria sem rumo de braços abertos deixando o vento amenizar o calor dos verões. Fui abrindo lentamente os braços, o vento estava quente, roçava-os de leve e ao meu tronco nu, olhei para o céu, tinha um tom azul bonito, etéreo, fechei os olhos e dei o derradeiro passo, só senti meu corpo flutuando no vazio e o baque na água que foi me engolindo aos poucos.
- Caralho de moleque imbecil! Cacete de Louis da coleção de nomes! Ele se jogou mesmo! Merda! – gritou o capitão Diego, enquanto os marujos corriam para a amurada procurando pelo corpo abaixo da espuma branca.
Ele saltou ligeiro atrás de mim! As águas de um tom esverdeado quase translúcido fizeram-no me encontrar ainda submerso, tentando voltar à tona me esperneando desesperado. Seus braços se fecharam ao redor do meu corpo e ele me apertou com força contra o dele, agarrei-o fincando os dedos em seus ombros e me deixei conduzir até voltar a ver a luz do sol brilhar e o ar voltar a entrar nas minhas narinas.
- Homens ao mar! Homens ao mar! Rápido, seus moloides, rápido! O capitão está no mar, baixem as velas, lançar boias na água, lançar boias na água! Baixar bote salva-vidas a estibordo! Baixar bote a estibordo! – berrava o Imediato, tomado pelo desespero.
- Obrigado! – exclamei, quando vi o rosto agoniado dele procurando ver se eu estava bem, e suas mãos deslizando firmes pelo meu corpo.
- Idiota! Você é um idiota, Louis do nome comprido! Estava pretendendo se matar? – perguntou, me encarando.
- É você quem quer me matar! – retruquei.
- Cala essa boca, moleque! Cala essa boca! – devolveu ele, me esmagando contra seu peito.
Não se falou noutra coisa a bordo durante o restante do dia, e nas rodinhas de conversa que adentraram a noite. Uns já me tinham por maluco, outros por corajoso, as opiniões se dividiam, mas ninguém mais duvidava de eu ser um homem de atitude.
Logo depois que fomos içados a bordo, ele me levou à cabine, ordenou que tirasse as roupas molhadas e fez o mesmo com as dele. Não se atrevia a olhar na minha direção, conversava com o rosto virado para a porta de saída, o que me fez perceber que minha nudez o incomodava, ou o fazia sentir coisas contra as quais relutava. Eu, por meu lado, não tirava os olhos dele, era a primeira vez que o via completamente pelado e ele se tornou ainda mais belo, mais sexy, mais atraente. Também foi a primeira vez que meu olhar se fixou naquela coisa enorme e grossa entre suas pernas, eu nunca tinha visto nada igual, embora também não tenha visto muitos homens nus, porém fiquei impressionado e extasiado com toda aquela virilidade.
- Ainda não se vestiu? – questionou, ao se virar e me encontrar nu, ficando encabulado
- Não tenho nada aqui para me vestir! – respondi
- Ao menos cubra-se com isso aqui! – exclamou, tirando o lençol da cama e atirando-o sobre meus ombros. – Você já me perturba o suficiente quando está vestido, não preciso que me deixe ainda mais confuso pelado! – emendou, afastando-se rapidamente de mim, como se a proximidade o instigasse a perder o autocontrole.
- Por que me salvou? Não quis que eu morresse? – indaguei, quando o vi atordoado, passando a mão na cabeleira.
- Por que sou um imbecil, só por isso! – devolveu
- Disso eu já sabia! – exclamei, abrindo um sorriso amistoso. Ele voltou a me encarar e retribuiu o sorriso.
- Imediato! Imediato! – berrou porta a fora em direção ao convés. – Devolva o uniforme ao oficial Louis e mais um punhado de nomes. – ordenou quando o Imediato apareceu e, com um olhar inquisitivo, procurava entender o que estava acontecendo com seu capitão.
Era tarde da noite, ambos havíamos perdido o sono pelo que pareceu, pois ele veio se juntar a mim sentado no convés a observar a calmaria do oceano e o silêncio do céu estrelado. Demorou a puxar conversa, como se não soubesse por onde começar.
- Você está bem?
- Sim, estou!
- Me deu um susto quando se atirou no mar! Essa região está infestada de tubarões, como já falei.
- Também estava morrendo de medo! – confessei
- Então por que pulou da prancha?
- Por que não suporto te ver zangado comigo! – revelei sincero
- É você mesmo quem provoca isso em mim! E eu juro que estou me esforçando para entender o porquê!
- Às vezes criamos carinho por certas coisas! – afirmei
- E eu, por acaso, seria uma dessas coisas para você?
- Sim! – exclamei tão prontamente que ele se voltou para mim.
- Por quê? Não fiz outra coisa que não tratá-lo mal e com desprezo desde que capturamos seu navio.
- Não sei explicar! Só sinto! – respondi sincero.
Ele se calou, devia estar remoendo a informação e procurando uma justificativa que a explicasse. Estava bastante próximo, eu resvalei meu ombro no dele, como não fui rejeitado, encostei-me na solidez ele.
- Para onde estamos navegando? – perguntei, achando que ele voltaria e me dar uma carraspana.
- Trinidad! – respondeu. Estranhei a maneira como pronunciou o nome da ilha, num inglês perfeito.
- O que tem lá?
- Um porto onde ninguém nos incomodará!
- Ou seja, onde os piratas criminosos se juntam depois da pilhagem! – afirmei
- Se é isso que pensa, fique com suas convicções!
- Foi o que você me mostrou até agora, o que queria que eu pensasse?
- Pense o que quiser! – exclamou aborrecido com a minha pergunta. – Pode ficar com a minha cabine até chegarmos ao porto! – acrescentou.
- Não quero, estou bem aqui! – devolvi, o que fez desaparecer a sisudez de seu rosto.
Três dias depois, aportamos ao entardecer no precário Puerto de los Hispanioles cercado por manguezais e onde um recinto amuralhado servia de forte com três canhões apontados para o Golfo de Paria. O navio começou a ser descarregado antes do anoitecer, por indígenas Cumucurapo, e o butim armazenado noutra construção de paredes de lama a algumas centenas de metros do cais, eram basicamente barris de pólvora, muitos mais do que eu havia imaginado empilhados nos porões, além de inúmeros caixotes pesados de madeira cujo conteúdo eu desconhecia. Como pode um primeiro-oficial desconhecer o que seu navio está transportando, era a pergunta que eu me fazia. Talvez o capitão Diego Naragon estivesse certo a meu respeito, eu era um imbecil, pois parecia que ele sabia exatamente o que aqueles caixotes continham.
- Você dorme aqui! – disse, ao me deixar diante da porta de um aposento numa construção menor ao lado do armazém.
- Continuo sendo seu prisioneiro? Não vai me trancafiar? – perguntei, ante a completa insegurança daquela porta.
- Se quiser fugir, fique à vontade! Para o interior da ilha a mata se adensa, há indígenas hostis prontos para tirar a vida de um branco e mosquitos o bastante para se banquetearem com sua pele imaculada e sensível; enquanto na direção do golfo há 90 milhas náuticas até a ilha de Granada, se seus braços forem fortes o suficiente talvez chegue lá em uma semana ou pouco mais. – ironizou
- Não tenciono fugir! Como sabe que minha pele é imaculada e sensível? – questionei encarando-o. Ele se atrapalhou todo.
- Foi maneira de dizer! – defendeu-se
- Ou foi o que sentiu naquela noite em que me capturou e me roubou aqueles beijos deitado sobre mim? – era divertido ver como estava embaraçado
- Cacete, moleque! Você me põe nervoso! – confessou.
- Eu te excito, você quer dizer! – provoquei
- Sim, caralho! Sim, você me excita, você me deixa de pau duro, você ..., você ... é uma tentação! Não consigo olhar para a sua bunda carnuda sem ficar tarado para me apossar dela! Contente agora? – devolveu, perdendo a pose.
- Você provoca o mesmo em mim, quando me deparo com seu caralhão! – confessei. Ele veio até mim, me empurrou quarto adentro e fechou a porta.
Minutos depois eu estava nu em suas mãos deitado sobre ele, tendo as costas acariciadas por suas mãos vorazes e a boca chupada por seus beijos libidinosos. Nunca imaginei que estar com um homem podia ser tão gratificante e me entreguei aos desejos dele. Com a bunda toda assentada sobre a virilha dele e por meu reguinho estar ligeiramente aberto por minhas pernas estarem afastadas ao lado do corpo dele, conseguia sentir o volume que se encontrava ali. Durante os beijos iniciais, ele não se manifestou ou, se o fez, foi muito sutilmente. Porém, com os beijos se tornando cada vez mais devassos, o volume cresceu, tornou-se rijo e, à medida em que eu rebolava sobre as coxas dele, foi se introduzindo entre as minhas nádegas. Ele estava excitado, muito excitado, o tórax havia se insuflado com sua respiração acelerada e suas mãos já me apertavam com mais força. Inclinei-me sobre ele deslizando as mãos espalmadas sobre o peitoral cabeludo, mordisquei a base da mandíbula, rocei as pontas dos dedos em seu pescoço, fitava-o diretamente no olhar predador tentando adivinhar quais eram seus fetiches e o que queria de mim.
- Agora é você quem está querendo me matar! – murmurou, guiando as mãos sobre a minha bunda.
Beijei-o entre os mamilos e, lentamente, fui lambendo o torso agitado descendo até o abdômen concentrando mordiscadas ao redor do umbigo. Havia um aroma peculiar nas proximidades e diferente daquele que eu vinha aspirando até então, tinha notas almiscaradas e penetrantes. Arriei-lhe a ceroula até a altura dos joelhos, por cuja fenda se via o tufo de pelos negros que já me atraíra uma vez, e libertei o caralhão que imediatamente apontou como se fosse o mastaréu de um navio e; constatar que ele se sustinha sem a ajuda de estais ou brandais, mas tão somente pelo tesão que ele estava sentindo por mim, me deixou em êxtase. Nunca antes tive essa sensação de sentir um homem me desejando com todo esse fervor. Era dele e do sumo aquoso que vertia que vinha aquele aroma estonteante. Tomei-o numa das mãos, estava melado até os pentelhos, pulsava enérgico, a cabeçorra que o encimava, arroxeada e estufada, brilhava feito uma joia. Cerquei-a com meus lábios e, delicadamente, sorvi o sumo que a lambuzava. O capitão Diego soltou um grunhido rouco nesse instante, a musculatura de seu ventre se contraiu em ondas, suas mãos penetraram pela minha cabeleira comprida que eu trazia presa num rabo de cavalo.
- Ah moleque! Você é a perdição, que o deus Caronte cuide da minha alma! – sentenciou, dando-me seu falo para que o cobrisse com minhas carícias.
Lambi-o, chupei-o, mordisquei-o com desvelo e carinho ouvindo os gemidos guturais que o capitão liberava enlevado pelo tesão. Acariciava e tateava sobre o sacão sentindo a consistência borrachoide dos imensos e pesados bagos. Ele se segurava para não gozar, o que lhe exigia mais do que podia suportar. Em dado momento, jogou-me para o lado, de bruços, apartou minhas pernas e enfiou a cara barbuda e pinicante entre os meus glúteos, e começou a lamber as pregas que rodeavam meu cuzinho; gemi alto como se estivessem a me sugar a vida pelo ânus e pronunciei repetidas vezes
- Diego, Diego, Diego ... até sentir que meu corpo já não me pertencia, que era dele, e que estava liberado para sua tara.
Ele sondou a exiguidade daquela fenda com um dedo que, ao ser penetrado no cuzinho me fez ganir, se movia em círculos testando a elasticidade numa tortura sem fim. Deitou-se sobre mim me aprisionando com seu peso, tirou hesitante o dedo do meu cu e passou a acariciar a parte interna das minhas coxas pouco abaixo dos glúteos iniciando a posse que se consumou quando pincelou o cacetão ao longo do meu reguinho liso e o meteu com um único golpe no ponto central de onde as preguinhas se abriam com os raios do sol. Eu gritei, as pregas, os esfíncteres as entranhas se esgarçavam numa dor pungente para dar passagem aquele intruso colossal e obstinado. O capitão me calou tapando minha boca para que não nos ouvissem, e quando teve a certeza de que não gritaria mais e nem ganiria feito um animal ferido, meteu dois dedos na minha boca, e eu os chupei enquanto ele se empurrava energicamente contra a minha bunda deslizando o caralhão fundo dentro do meu cu até lhe restar tão somente o sacão do lado de fora. Rendido e completamente entregue a sua tara, sentia-o assoprando o lóbulo da minha orelha com seu hálito quente e o tomando entre os lábios antes de o chupar. Jamais havia sentido algo igual, estava no paraíso e não queria voltar ao mundo terreno, só queria continuar a sentir aquele macho pulsando dentro de mim. Ejaculei fartamente enquanto meu corpo se contraía em espasmos debaixo do capitão, levando as seguidas e potentes arremetidas que ele dava contra o meu rabo. Agarrado ao meu tronco, arfando no meu cangote ele dava vazão a seus instintos procurando desenfreadamente a satisfação e o prazer. Tomei sua mão na minha fazendo meus dedos se entrelaçarem aos dele, beijei-a e a trouxe para junto do peito; nem mesmo um cabeço de amarração era mais seguro do que aquele braço musculoso e aquela mão vigorosa e quente que me segurava com toda ternura. Ele se empurrou para dentro de mim mais algumas vezes antes de sobrevirem as contrações pélvicas, seus grunhidos se tornaram mais urgentes antes do urro lhe escapar por entre os dentes, fazendo-o se despejar todo no meu casulo anal. Os jatos libertadores e quase desesperados de esperma leitoso inundaram meu cuzinho com sua virilidade, amenizando o ardor que me consumia e presenteando-o com o mais genuíno prazer. Estávamos ambos arfando quando o coito se consumou, nossos corpos ainda tremiam pela excitação e pelo prazer enquanto continuávamos engatados e abraçados em conchinha.
- Queria nunca mais sair daqui de dentro! – sussurrou ele no meu ouvido
- Então fique! Não quero que me deixe! – devolvi, beijando sua mão entrelaçada a minha.
Acordei ainda estava escuro, não fazia a menor noção de quanto tempo se passara, ele continuava acoplado às minhas costas me abraçando, respirava mansa e profundamente acalentado pelo calor do meu corpo. Tudo a nossa volta estava silencioso, à exceção de ruídos que vinham da mata que cercava a construção. Eram sons desconhecidos para mim, não faziam parte do mundo que eu conhecia. Ele foi acordando aos poucos, como se contrariado por Hipnos e Morfeu lhe tirarem daquele devaneio onírico, aconchegou-se mais a mim e me apertou contra o tórax, como a garantir que não lhe escaparia.
- Por qual de seus infinitos nomes gosta de ser chamado, moleque do nome comprido? – saindo-se repentinamente com essa. – Aliás, quais são eles mesmo?
- Louis Charles Edward Philip Bickerton Ainsley. – ele riu e começou a repetir
- Louis Charles .... eu desisto, nunca vou me lembrar da sequência toda.
- Não devia me chamar de moleque, não sou tão mais novo do que você! – retruquei
- Não gosta que eu o chame de moleque? Você se parece com um moleque, é ingênuo feito um moleque, tem o corpo imaturo de um moleque! – devolveu.
- Fiquei puto nas primeiras vezes que me chamou assim, queria esganá-lo! – revelei.
- E o que mudou? – perguntou curioso, enquanto seus dedos brincavam com o biquinho de um dos meus mamilos.
- Quando me chamou de moleque no dia em que se atirou no mar para me resgatar e me tomou em seus braços como está fazendo agora, foi ali que tudo mudou. – confessei
- Então de agora em diante será Louis, meu moleque! – exclamou, beijando minha nuca, enquanto tentava enfiar novamente o cacetão rijo que roçava nas minhas nádegas dentro do meu cu; só o conseguindo quando lhe arrebitei a bunda até ela se encaixar em sua virilha, e fazendo-o soltar um longo e profundo suspiro ao ouvir meu ganido de consumação.
Eu não fazia a menor ideia do que fazíamos ali, do que ele tratava com os homens com os quais ficava conversando longe de mim para que não ouvisse suas tratativas, do que trouxeram os outros dois navios que atracaram no cais no dia seguinte, um de bandeira espanhola, outro com a bandeira corsária e, menos ainda, fazia ideia se um dia me libertariam ou se zarparíamos novamente para o mar. Minha vida e meu futuro estavam nas mãos daquele homem pelo qual me sentia apaixonado, e com o qual poderia passar o restante dos meus dias.
- O que foi, está triste? – perguntou-me ao final daquele dia
- Apreensivo! – respondi lacônico
- Por que?
- Não sei quem você é, o que pretende fazer comigo, como vai se livrar de mim, se vai me deixar voltar algum dia para a Inglaterra, o que realmente estamos fazendo aqui, são tantas questões sem resposta. – respondi
- Não vou me livrar de você, a menos que seja essa a sua vontade, o que também responde a sua quarta pergunta. Pretendo ficar ao seu lado, se assim você o quiser, pois estou me apaixonando por você. Quem sou e o que estamos fazendo aqui é mais difícil de responder. – retrucou
- Por que?
- Porque preciso primeiro confiar em você!
- Não confia em mim? Eu te confessei meus sentimentos, me entreguei a você, ainda sinto sua umidade entre as minhas pernas e você diz não confiar em mim? – questionei desolado
- Eu não disse que não confiava, disse que precisava confiar!
- Isso faz diferença?
- Muita! Quero que se engaje comigo, que lute ao meu lado pela mesma causa, que se apaixone por mim. – respondeu
- Estou apaixonado por você desde o dia em que me resgatou do mar! – asseverei. – Como posso me engajar em algo que desconheço? Até onde eu sei você é um pirata, um criminoso, um assassino que dizimou quase toda a tripulação do navio da Marinha Real de Vossa Majestade e, mesmo assim, meus sentimentos por você só aumentam a ponto de deixá-lo tirar minha virgindade. Me sinto confuso em relação a você capitão Diego Naragon, muito confuso. – afirmei. Ele me apertou em seus braços.
- Meu moleque!
- Se sou mesmo seu moleque, me diga quem é você? – exigi, antes de sermos interrompidos por dois homens que haviam chegado nos navios daquele dia.
- As cargas deverão estar todas descarregadas até o início da noite, podemos zarpar em um ou dois dias, o tempo suficiente para reabastecer os navios de víveres, capitão Farnham. – disse um dos homens, enquanto eu lançava um olhar inquisitivo para o Diego, e ele logo soube porquê.
Afastei-me deles, caminhei a passos firmes despejando neles toda a minha raiva, sem ter um rumo definido querendo apenas sumir dali, acordar daquele pesadelo e descobrir que nada daquilo tinha acontecido, e fui em direção à ponta do cais onde um rochedo baixo determinava seu fim. Eu chorava, não sabia bem por quê, sentia-me enganado, traído, abandonado, mas não era isso que mais doía. Era o sêmen dele formigando no meu cuzinho que me corroía por dentro como um ácido a dissolver todos os meus sonhos.
- Vou te explicar tudo! Só peço que me ouça! – começou ele quando se sentou ao meu lado no rochedo de onde eu olhava perdido para o horizonte na linha em que mar e céu já não se distinguiam.
- Essa madrugada você me perguntou como eu queria ser chamado, agora sou eu quem te faz essa pergunta, capitão Diego Naragon ou, seja lá qual for o seu verdadeiro nome, ou quem é de verdade. – devolvi secamente
- Diego Naragon Farnham, é esse o meu nome! Minha mãe é espanhola, meu pai inglês. Sou capitão formado na Academia da Marinha Real de Vossa Majestade, ou melhor, fui. Me expulsaram quando descobriram o que eu fazia durante as missões que me destinavam. Eu não menti para você, Louis, não menti nunca. Omiti, essa é a palavra, mas não menti, acredite em mim!
- Eu quero Diego, eu quero muito acreditar em você, mas tenho medo do que será de mim quando descobrir tudo a seu respeito. – confessei
- Eu tenho o mesmo medo, por que não suportaria a ideia de te perder, não agora que me sinto tão ligado a você. – admitiu
- Então me diga quem você é, que negócios têm com esses homens, por que se tornou um pirata? Eu preciso saber Diego para poder confiar em você. – afirmei impositivo.
Ele me tomou pela mão, fomos à construção para onde havia sido levado o butim do nosso navio. Os sujeitos que lá estavam me encaravam com desconfiança. Ele abriu os caixotes que tiraram do navio e me apresentou seu conteúdo, armas, caixotes e mais caixotes repletos de armas inglesas.
- Para onde seguiriam essas armas? – perguntei estarrecido, por nunca ter desconfiado da carga que transportávamos.
- Para as mãos dos espanhóis que estão dizimando as populações Asteca e Inca para pilhar suas riquezas e levá-las a Europa, às casas reais da Espanha, Inglaterra, França e Holanda enriquecendo seus cofres para que a nobreza possa desfrutar de regalias. Nós as estamos interceptando, estamos saqueando o ouro e a prata que são transportados por essas frotas de navios que, duas vezes ao ano, e bancadas por nobres espanhóis empobrecidos tentam chegar a Europa. E, as estamos distribuindo às populações pobres das ruas de Londres, Madri e outras cidades da Inglaterra e Espanha onde as pessoas mal têm o que comer; bem como aos produtores rurais que não suportam os altos impostos que lhes são cobrados, ficando à mingua depois de verem suas colheitas sendo transformadas em taxas e impostos. Os homens que me ajudaram a atacar seu navio são basicamente mercenários recolhidos entre essa população de miseráveis que são pagos para saquear os navios que estão transportando essas riquezas e essas armas. Ficam do lado de quem paga mais, não se filiam a uma ideologia, querem o dinheiro tanto quanto os nobres que os subjugam. Esse ouro e essa prata jamais chegam aos cofres dos reis, entram por portos clandestinos e se transformam em dinheiro que é distribuído aos pobres das cidades e dos campos para ajudá-los a pagar os impostos exagerados. Eu sou um bandido sim, Louis, por isso fui expulso da Marinha Real de Vossa Majestade como você enche a boca para pronunciar. Minha cabeça está a prêmio na Inglaterra, pelos mares e até por essas ilhas dominadas tanto pela Espanha quanto pela Inglaterra, sou um criminoso Louis. – revelou ele. Fiquei atordoado com a revelação, seria ele o bandido ou seria eu que ajudava a fomentar toda aquela engrenagem de conluio e acordos escusos entre as casas reais de ambos países?
- Está me parecendo mais um Robin Hood dos mares do que um bandido! – afirmei, o que lhe tirou um sorriso. – Sou mesmo um tolo ingênuo! Sempre estive do lado errado nessa questão! – admiti
- Você é só o meu Louis ingênuo e puro do nome comprido! Não deve se sentir culpado. Há tanta podridão nos bastidores das monarquias de Espanha e Inglaterra que você não faz ideia. Por trás de uma aparente hostilidade, acontecem conchavos e trocas de favores que só as beneficiam, que só beneficiam aos poderosos. – disse ele, certo de poder contar com a minha confiança, pois a maneira como eu o encarava agora, cheio de paixão e ternura, não lhe deixava ter dúvidas. – Não é irônico e engraçado que os cofres dessas monarquias recebem o pagamento dos impostos com um dinheiro que é no fundo deles mesmos?
- Sinto orgulho por você! Meu destemido e valente espadachim e meu exímio atirador de pistolas não podia ser mais lindo e encantador do que está agora. – afirmei, aproximando-me dele sem me importar com todos aqueles olhares que nos observavam.
- Não está mais zangado comigo?
- Como poderia estar? Na verdade, me sinto ainda mais atraído por essa pistola acintosa. – respondi, enfiando minha mão em sua calça para alcançar seu membro onde parecia estar toda a virilidade máscula dele que tanto me seduzia.
- Vou usá-la dentro em breve, esta noite, para te obrigar a se aliar a mim nessa empreitada. Você não perde por esperar! – devolveu lascivo e devasso.
- Vai me torturar? – questionei, enquanto fazia meus dedos deslizarem sobre a glande sensível do caralhão, que já dava mostras de sua inquietude dando pinotes curtos e vigorosos.
- Se for preciso! Mesmo que depois me sinta culpado por ter feito suas pregas sangrarem como fiz na noite passada. – respondeu, amassando minha bunda libertinamente. – Não é fácil fazer passar um camelo pelo fundo de uma agulha! – exclamou caçoando com a metáfora.
- Especialmente um camelo enorme como esse! – devolvi, entrando na brincadeira sem parar de afagar a glande que já liberava seu sumo de excitação.
- Ah, meu moleque do nome comprido, o que seria da minha vida se não o tivesse conhecido? – indagou ao me beijar.
- Teria sido tão insípida quanto a minha antes de saber que você existia! – devolvi, com o coração aos saltos dentro do peito.
Talvez o que tenha me motivado no começo quando me engajei naquele grupo de homens que procurava fazer justiça por meios indiretos e até escusos, tenham sido os momentos tórridos de amor e sexo que tive o Diego que, afinal, era mesmo um capitão e não um criminoso como eu supunha. Nos amávamos a todo momento, nas manhãs chuvosas que assolavam os portos precários das Antilhas, nas tardes de calor abrasador e úmido, nas noites de brisa fresca e céu enluarado. Nos amávamos em alto mar nas travessias arriscadas do Atlântico durante as calmarias que prolongavam indefinidamente a viagem, e durante as tempestades provocadas pela ira de Poseidon, o deus de humor instável dos oceanos e tormentas. Decerto também era ele o responsável pela fertilidade do Diego que brincava comigo dizendo que era seu esperma que havia me curado da cinetose que outrora me deixava mareado, palidamente esverdeado e vertendo as tripas sobre a amurada. Ou quem sabe, não foi seu amor por mim que me incutiu coragem e determinação, me libertando dos temores de uma criação solitária, e me tornando um ser autoconfiante e independente.
Obtive sucesso na minha primeira viagem de regresso a Inglaterra como capitão em exercício do HMS Contessa restaurado das avarias que sofreu, e com uma tripulação já não mais fiel à Vossa Majestade, carregando em seus porões todo o ouro e prata estocado na construção rudimentar da ilha de Trinidad, o qual jamais chegou a um porto inglês oficial, sendo descarregado na clandestinidade da noite em atracadouros improvisados e posteriormente transformado em moedas correntes que iam parar nas mãos de desvalidos; e fui recebido com honras e nomeado oficialmente capitão da Marinha Real pelo próprio rei. Era o disfarce perfeito do qual precisávamos uma vez o Diego havia sido banido da marinha.
No tempo em que me demorava em solo inglês, meu pai não se cansava de repetir nos salões e festas da nobreza, os meus feitos nas Américas, de como trouxe são e salvo o HMS Contessa, a despeito da minha tenra idade e inexperiência. Bajulavam-me por todos os lados, queriam me apresentar pretendentes a um casamento sólido, me endeusavam, enquanto meus pensamentos, meu coração e minha alma tinham ficado naquelas ilhas distantes saudoso do homem que eu amava. Tivesse meu pai sabido desse pormenor, certamente teria ele mesmo posto fim a minha vida para que seu nome não fosse manchado pela minha sodomia concupiscente.
Durante os oito anos que se seguiram participei dos saques aos galeões espanhóis, capitaneei navios da Real Marinha de Vossa Majestade como um membro acima de qualquer suspeita daquele grupo de pessoas que procuravam melhorar as condições de vida das populações desfavorecidas. Senti que minha passagem por esse mundo não seria desperdiçada, e me sentia amado pela pessoa que mais valorizava e amava. Ao longo desses anos outros foram se juntando a nós; aterrorizávamos os mares tropicais e implantávamos o pavor nos marinheiros das armadas reais.
Durante um saque, no qual eu não estava presente por estar comandando o carregamento de um navio que conduziria à Inglaterra, o Diego foi ferido. Trouxeram-no depois de quatro dias de navegação quase moribundo, por pouco não morri ao lado dele, vendo-o definhar sobre um leito contando apenas com os parcos recursos e um médico holandês que havia perdido sua licença em seu país e, desde então, vagava pelos continentes ajudando a quem precisava. Depois de semanas ele abriu finalmente os olhos, chorei como uma criança desvalida, cobri-o de beijos e o recebi de retorno à vida.
Essas semanas me deram tempo de reavaliar nosso papel naquele grupo e, tão logo o estado de consciência do Diego o permitiu, propus que deixássemos os novos engajados continuar o projeto e que nós fossemos procurar um lugar para viver longe desses perigos. Ele pouco tinha aproveitado de seus anos de vida e concordou comigo, precisávamos ter um canto nosso, onde todo aquele amor podia ser desfrutado sem se tornar alvo de escárnio, de justiceiros, de preconceituosos hipócritas.
Novamente dono de suas energias e do corpão viril, onde restou apenas uma longa e saltada cicatriz abaixo da omoplata direita, nos estabelecemos em Antígua que acabara de ser vendida a Grã-Bretanha pelos espanhóis e nos dedicamos ao cultivo da cana-de-açúcar um luxo altamente desejado nas mesas europeias. O governador da ilha precisou de pouco tempo associar meu sobrenome ao do meu pai, o Diego e eu até pensamos em fugir para outra ilha antes que fossemos denunciados e presos por ordem real. Contudo, o governador jamais nos delatou e até tivemos um convívio social amistoso com ele, pois fora afastado de seu cargo no ministério por ser tão homossexual quanto eu. Pessoas influentes ajudaram a lhe poupar a vida, mas ele precisou aceitar os termos e condições que lhe impuseram, tendo que viver na desolação das ilhas de barlavento das Pequenas Antilhas. Era um senhor maduro, cujo maior atrativo talvez fosse a fortuna de sua família. Para o desterro trouxe seu secretário pessoal, um homem vinte anos mais jovem e sem o mesmo refino, que também era seu parceiro de cama.
O Diego nunca deixou de exercer sua tara sobre mim, fodia-me com vontade, luxúria e prazer demonstrando o amor que sentia por mim. Entre os tribais éramos tidos como devassos, embora eles mesmos fossem mais adeptos do amor livre praticado em sua cultura do que dos dogmas morais do clero que os procurava catequisar. Não se importavam de nos ver fazendo amor na areia fofa e quente das praias enquanto o sol se punha no horizonte; apenas se divertiam, quando muito procuravam um lugar ali próximo para também se unirem carnalmente.
- Está feliz, meu moleque do nome comprido? – perguntava-me o Diego, depois de haver deixado mais um de seus abundantes gozos escorrendo pela minha mucosa anal.
- Muito, minha paixão! – respondia eu, cobrindo seu rosto e seu torso com meus beijos cheios de ternura.
- Pergunto-me se é alguma magia desse lugar que nos enfeitiça e nos faz sentir toda essa felicidade. – questionava ele, quando dava para devanear, saciado de seus instintos.
- Acredito que sejamos nós, o amor que nos une, pois sinto que seria feliz ao seu lado em qualquer lugar desse planeta. – devolvia eu.
- Meu precioso Louis Charles Edward Philip Bickerton Ainsley, o que seria de mim sem você? – foi a primeira vez que ele pronunciou meu nome por inteiro, e eu precisei rir.
- Finalmente o decorou? – perguntei, ao beijá-lo como recompensa pelo feito.
- Sim, pois cada parte dele passou a fazer parte de mim, como o coração, o fígado, os pulmões, sem eles eu não existiria, sem você eu não existiria! – devolveu, tomando-me em seus braços e enfiando sua língua libidinosa na minha garganta, apenas o começo de mais uma transa que nos fundiria num único ser.