Deixando avisado que essa é a penúltima parte da série. A parte final será postada após o ano novo. Desejamos a todos os nossos seguidores e leitores um ano novo repleto de paz, união e prosperidade.
Beto:
Como sempre tive um raciocínio acelerado, perfeito para situações de pressão profissional, enquanto saíamos, acompanhando o delegado, pedi a Laine:
– Acho melhor que você venha também. Tudo isso começa com a sua recusa ao Paulo. Deixe o pequeno com sua mãe, se possível, e me encontre na delegacia.
Ela nem pensou duas vezes, se levantando rapidamente e o preparando para sair. Júlio ainda trocou algumas palavras com a esposa e Fernanda antes de me acompanhar.
Não demoramos a chegar na delegacia. Fui com Júlio em seu carro e deixei que a Laine ficasse com o nosso. Avisei na recepção sobre a possível chegada da minha esposa e Júlio se prontificou a esperá-la. Fui encaminhado até uma sala e o próprio delegado Clóvis conduziu o meu depoimento. Antes de tudo, ele me mostrou as imagens em que eu pareço invadir a casa do Paulo e parto para a agressão. Ele começou:
– Gostaria de ouvir a versão do senhor. O que o motivou a tal ato?
Eu não iria me complicar escondendo fatos cruciais. Fui honesto:
– Vendo assim, apenas essa imagem, parece que é uma agressão deliberada e sem motivos, mas ela é apenas o final de uma situação maior.
O delegado me olhou curioso, mas sem interromper. Continuei:
– Além de meu patrão, ex agora, Paulo é uma antigo colega profissional e também, um dos membros de um grupo de pessoas liberais que eu e minha esposa começamos a frequentar.
O delegado continuava me observando sem interromper. Eu sabia que precisava dar o contexto certo à história:
– Minha esposa e a esposa dele, nesse mesmo dia, estavam em uma situação de intimidade, que eu só tomaria conhecimento depois e que culminou na agressão.
Acabei acelerando e omitindo partes das informações, mas não menti. O escrivão digitava tudo. O delegado perguntou:
– Você disse que só tomou conhecimento depois, quer dizer que foi enganado? Que mentiram para você?
Expliquei:
– Não! Um evento anterior, de certa relevância, uma discussão entre mim e minha esposa, fez com que ela procurasse a Patrícia, esposa do Paulo. – Achei melhor colocar tudo para fora logo. – Enquanto Laine, minha esposa, e Patrícia, esposa dele, tinham intimidades, ele tentou obter vantagem da situação, se forçando sobre minha esposa.
O delegado arregalou os olhos:
– Se forçando? O que quer dizer?
Não aliviei:
– Exatamente o que o senhor entendeu. Com a esposa dele como cúmplice, Paulo tentou, contra a vontade da minha esposa, fazer sexo com ela.
O delegado estava sério, pensativo:
– Isso é grave, muito grave. O senhor pode provar essas acusações? Já que pediu que sua esposa viesse, seria bom tomar o depoimento dela também.
Lembrei de uma informação passada por Silvana no jantar e mesmo sendo obrigado a expor a Laine, disse:
– Provar eu não posso, mas sei que eles têm câmeras na área da piscina onde tudo ocorreu. Não deve ser difícil para o senhor obter as imagens, não é?
O delegado resolveu mudar a forma de conduzir a situação:
– Falarei com sua esposa, então. Acho melhor darmos uma pausa para que eu possa averiguar os fatos narrados pelo senhor.
Ainda bem que me antecipei, imaginando que a Laine seria importante naquela situação. Como eu previ, ela foi honesta e contou ao delegado a mesma coisa que me contou. Do jeito dela, lógico, até minimizando um pouco o que Paulo tentou fazer, não querendo criar mais problemas. O importante era que nossos depoimentos eram próximos, sem contradições.
Senti que aquele delegado era sério e competente, parecendo muito honesto. Talvez ele não estivesse no bolso do Paulo e as minhas chances fossem justas. Como as novas informações necessitavam de apuração, fomos liberados rapidamente, pegamos o pequeno no caminho e voltamos para casa. Júlio esteve comigo o tempo todo, inclusive, me ofertando o seu advogado até o final daquela investigação.
Esse novo problema acabou deixando o meu ultimato para a Laine em segundo plano. Nos três dias seguintes, ela estava extremamente carinhosa comigo e com o pequeno, mas as palavras de Fernanda, a história que ela nos contou, mexeram profundamente comigo.
A gente sempre ouve esse tipo de história, de pessoas que perdoaram seus cônjuges após uma traição, mas o casamento nunca mais foi o mesmo. A própria Laine confessou que não havia me perdoado verdadeiramente, que ainda doía.
Minha traição deu a ela o direito de exigir mais de mim, de até tentar me fazer aceitar coisas que eu não estava pronto para ceder. Será que meu ultimato estava mesmo certo? Fidelidade, monogamia, não deve ser imposta, virar uma obrigação. A pessoa precisa querer estar com a outra incondicionalmente, ser exclusiva.
Acabei passando muito tempo com Fernanda naqueles dias também. Ela queria pagar logo a multa e acelerar os processos, mas as coisas precisavam de um pouco mais de tempo para acontecer. Eu ainda não estava com cabeça para me comprometer cem por cento em novos projetos.
Por mais que minha vida estivesse complicada, era o meu casamento que mais me tirava o sono. Contei a Fernanda sobre o meu ultimato para a Laine, a escolha que pedi a ela para fazer e, confiando nela e em nossa amizade, acabei perguntando:
– Você acha que a Laine estaria mesmo disposta a abrir mão do mundo liberal e consertar o nosso casamento? Eu penso nas coisas que aconteceram com você, em tudo o que me contou … tenho medo dela apenas aceitar por causa da minha pressão e futuramente se arrepender. Nenhum casamento é garantia de felicidade eterna. Num primeiro momento, ela até pode achar que é o certo a ser feito, mas tudo isso pode virar ressentimento no futuro, principalmente nos momentos de dificuldade.
Fernanda preferiu se abster:
– Posso falar muito sobre você, amigo, mas quase nada sobre ela. Mal a conheço, não sei como pensa, quais são os valores dela. É muito difícil opinar. Isso é uma coisa que só você pode responder. Sei que tomará a melhor decisão.
Eu precisava pensar melhor sobre tudo, nenhuma decisão deve ser tomada com base em emoção e achismo.
Cheguei em casa logo após aquele almoço com Fernanda e como estava sozinho, já que Laine estava no serviço e o pequeno na creche, tive muito tempo para pensar sobre o que precisava fazer. Uma solução drástica ganhava cada vez mais espaço na minha mente.
Primeiro, o pequeno chegou e poucas horas depois, a Laine. Ela percebeu que eu estava estranho e acabou tentando me animar, toda carinhosa. Assim que colocamos o pequeno para dormir e tive a certeza de que ele pegou no sono, sabendo que poderíamos conversar sem interrupções, pedi que Laine se sentasse comigo na sala. Percebendo a tensão em que eu estava, ela resolveu falar primeiro:
– Sei que as coisas estão complicadas agora, mas eu quero que saiba que eu pensei muito sobre o que você exigiu e eu o amo mais do que tudo nesse mundo. Você e o pequeno são a minha vida, o meu mundo e eu jamais os trocaria. Podemos esquecer o que aconteceu e voltar a ser só nós três? Eu aceito a sua condição. Podemos tentar seguir em frente?
Não tinha uma forma fácil de falar o que eu precisava, então, fui direto, até um pouco implacável:
– Não, Laine! Acho que nunca voltaremos a ser só nós três. Acho que não temos como seguir em frente. Acredito que o melhor, o mais correto, seja seguirmos separados.
Laine travou, não acreditando nas minhas palavras.
{…}
Laine:
Eu não devo ter escutado muito bem. As palavras do Beto pesavam toneladas, me atingindo como bordoadas. Tentei reagir, já sentindo as lágrimas escorrendo por minhas bochechas:
– Você não me ama mais? É isso? Vai jogar fora tudo o que a gente tem?
Só então percebi a grande tristeza no rosto do Beto, o quanto aquilo estava sendo tão difícil para ele também:
– Eu te amo com toda a força do meu coração, isso não mudou. O que mudou e me fez reavaliar a nossa vida, foi ser obrigado a exigir monogamia, a chegar ao ponto de precisar te colocar contra a parede, praticamente te chantagear para ficar comigo. Isso não é certo e só mostra que não estamos bem.
Tentei barganhar, ainda não conseguindo pensar direito, concatenar adequadamente as ideias:
– Mas eu aceito, já disse que aceito. Eu paro com tudo. Paro de exigir, paro de cobrar, prometo me dedicar apenas a nós. Por favor, não faça isso.
De cabeça baixa, também com lágrimas nos olhos, ele estava decidido:
– Aí é que está Laine, eu não deveria precisar exigir, precisar cobrar. Você se dedicar ao nosso casamento deveria ser intrínseco, feito automaticamente, natural, não deveria precisar ser uma opção a escolher.
Tentei ser mais direta, entender o que estava acontecendo para que ele tomasse aquela decisão:
– Mas por quê? O que mudou em três dias? Você disse que ainda me ama, nós podemos consertar isso.
Beto tentou ser gentil, pesar as palavras, mas o efeito era pesado, destruidor:
– Eu pensei muito no que a Fernanda nos contou, em como ela praticamente se anulou para tentar consertar o casamento. Eu não quero prender ninguém a mim, obrigar você a me amar e ser exclusivamente minha.
Tentei interromper, me ajoelhando a sua frente e segurando seu rosto com as mãos:
– Mas eu já prometi, já aceitei …
Ele foi direto novamente:
– Seja honesta, sem enrolação: você adorou sua experiência liberal, não foi? Eu tenho certeza disso, você mesmo já deixou isto claro.
Eu me enrolei:
– É verdade, eu gostei sim. Mas entre você e esse mundo, eu sempre vou escolher você.
Ele tinha a resposta que precisava:
– Ninguém deve ser obrigado a se anular pelo outro. Casamento só funciona se os dois querem a mesma coisa, se tem os mesmos objetivos …
Tentei interromper novamente, afoita:
– Mas nós temos, queremos a mesma coisa.
Ele me abraçou:
– Não, Laine! Nós não queremos a mesma coisa. Ou melhor, você pode até querer, mas só nesse momento, porque eu a pressionei. Como será quando a rotina se instalar outra vez? Como vai ser quando a gente brigar ou quando um de nós estiver insatisfeito? Eu amo você, mas abro mão para que seja feliz. Seria egoísmo obrigá-la a ficar. Viva tudo o que precisa viver. Quem sabe, lá na frente, a gente não acaba se encontrando de novo?
Ele se levantou e fez sinal para que eu não o acompanhasse. Eu estava em choque, incapaz de raciocinar e perceber que era o melhor para nós dois. Que a decisão dele era justa e bem pensada. Antes de sair, ele ainda tentou acalmar o meu coração:
– Saiba que eu jamais a afastaria do nosso pequeno. Você é a mãe dele, a única que ele conhece. Podemos até oficializar isso, com você o adotando legalmente.
Para marcar o quanto falava sério, ele concluiu:
– Vou deixar essa casa para você, é justo. Foi você que a transformou em um lar. Podemos dividir a guarda do pequeno, criá-lo juntos.
Beto entrou para o quarto de hóspedes e trancou a porta. Eu fiquei ali sem acreditar, achando que aquilo era um pesadelo. Sozinha, perdida, após ter pedido um relacionamento aberto, fui surpreendida pela decisão do meu marido. Dei vazão ao sentimento preso no peito, deixando que a tristeza daquela decisão unilateral do Beto fosse colocada para fora. Eu o conhecia e sabia que ele falava sério, Beto não volta atrás em sua palavra. Ele jamais tomaria aquela decisão de forma leviana, sem ter pensado muito antes.
{…}
Em algum lugar dos Estados Unidos:
Desde que foi mandada para os Estados Unidos por Paulo, Samanta se tornou uma pessoa bastante solitária e paranoica. Ficar sozinha era uma tortura. Como gostava de vida mansa, pouco esforço e muito ganho, a mesada que o Paulo enviava era o suficiente para ela se manter. Quando a solidão apertava, para ter um pouco de calor humano, ela fazia pequenos serviços rápidos, como entrega de comida, por exemplo. Conversava com algumas pessoas, aplacava um pouco a solidão e logo depois voltava para casa.
Nesses quase três anos fora, fez apenas uma amiga, Lauren, que era tão vida mansa como ela. Deserdada pelos pais, sem formação superior, algo raro para um americano de trinta anos, Lauren era entregadora em tempo integral. As duas eram vizinhas e se ajudavam. Também eram companheiras na hora da seca, já que na falta de homens, se tornaram amantes.
Naquele dia específico, sem dinheiro para consertar o próprio carro, sabendo que Samanta não iria trabalhar, pediu a ela que lhe emprestasse o seu veículo. Não era uma coisa incomum de acontecer e Samanta apenas lhe indicou as chaves no aparador perto da porta.
O dia estava frio, nevava e Lauren vestia gorro e uma pesada jaqueta acolchoada. Ela pegou as chaves e saiu para mais um dia normal de entregas. Com aquele tempo ruim teria bastante serviço e conseguiria o valor necessário para a troca da peça do seu próprio carro.
O horário de almoço foi agitado e as estradas escorregadias lhe tiraram um pouco do ritmo. Precisaria dobrar as entregas durante a noite para conseguir o valor de que precisava. Estava indo bem e já passava das vinte horas quando percebeu dois homens em uma moto a seguindo. Como vivia em uma cidade relativamente segura, não deu muita importância, parou o carro e vestiu mais um agasalho para se proteger da baixa temperatura. Como não queria desviar o caminho e perder tempo indo em casa, vestiu o blusão corta vento de Samanta, jogado no banco de trás.
Vendo que ela parou, o homem na garupa da moto conferiu a placa, a cor dos cabelos, a roupa e não teve dúvidas, sacando sua submetralhadora modelo Uzi e fuzilando o veículo. Algumas rajadas e mais de vinte munições depois, eles aceleraram o máximo que a via congelada permitia e em pouco tempo, estavam longe do local.
Após uma dúzia de ligações de pessoas que presenciaram o crime, o xerife do condado chegou ao local. Rapidamente reconheceu a vítima, pois ela sempre fazia entregas na delegacia. Pelos documentos do veículo chegou até Samanta. Fez a ligação. Ele primeiro confirmou as informações de praxe e logo deu a notícia.
– Infelizmente, a srta. Lauren sofreu um atentado violento enquanto trabalhava. Acredito que vocês sejam amigas, já que ela dirigia o seu carro.
Imediatamente a ficha de Samanta caiu. Ela sabia muito bem quem era o alvo. Sabia que Lauren apenas estava no lugar errado e na hora errada. Precisou mentir:
– Amigas, amigas, não. Somos vizinhas e nós nos ajudamos.
O xerife precisou detalhar o que aconteceu e Samanta não conseguiu segurar as lágrimas. Enquanto falava ao telefone, uma viatura da força de segurança já estacionava em sua porta. Sem saída, apenas acompanhou os oficiais até a delegacia e deu seu depoimento.
Foi honesta e contou toda a sua relação com a amiga. O experiente xerife, um veterano da corporação, teve a certeza de que ela falava a verdade. Samanta foi liberada cerca de quatro horas depois.
Samanta correu até sua casa e preparou uma pequena mala só com o básico: roupas e documentos importantes. Tinha assistido a um filme recentemente que dizia que a melhor maneira de se manter escondida era estar sempre em movimento.
Angustiada, se deu conta de que não havia ninguém com quem pudesse contar, traíra a todos, sendo Paulo, até aquele momento, seu único cuidador.
Numa atitude de desespero, de seja o que Deus quiser, pegou todas as provas, os áudios e gravações feitas para se proteger durante os anos em que ajudou Paulo a arruinar a vida das pessoas e os dividiu em e-mails específicos, já que os arquivos ficaram grandes demais, sendo necessário diversos envios separados para concluir o que pretendia. Quebrou o notebook e o celular e os jogou dentro da lareira a gás, abandonando definitivamente a casa e indo a pé até a rodoviária, a dez minutos de caminhada dali.
Comprou uma passagem para uma rota que cruzava o país, pelo menos doze horas de viagem. O ônibus sairia em quarenta minutos. Aproveitou o tempo para tentar conseguir ajuda. Sem escolha, se sentindo acuada, comprou um telefone pré-pago e discou os números que havia memorizado alguns anos atrás.
Tentou três vezes, mas a ligação não era atendida. Pelo fuso horário, imaginou que já era madrugada no Brasil. Na quarta, a última tentativa, acabou dando sorte:
– Carina? Por favor, não desligue. É a Samanta.
Sem acreditar em tamanha cara de pau, Carina explodiu com ela:
– É sério? Depois de tudo o que você fez, ainda tem coragem de me ligar? Você me usou, quase me fez perder o emprego e do nada, resolve …
Samanta começou a chorar:
– Por favor, me ajuda. Minha vida está em risco, o Paulo tentou me matar.
Achando que fosse mais uma armação, Carina desligou na cara dela. Samanta tentou ligar outras vezes, mas não foi atendida. Sem opções, enviou uma mensagem:
“Confira o seu e-mail profissional e verá que estou falando a verdade. Por favor, Paulo já matou alguém muito próximo a mim. Quando souber que eu ainda estou viva, ele virá atrás de mim. Estou enviando provas de quem ele é realmente. Sei que não mereço, mas não tenho mais ninguém”.
Enquanto Samanta tentava desesperadamente encontrar ajuda, a milhares de quilômetros de onde ela estava, o telefone de Paulo tocou:
– Tudo certo. Alvo eliminado.
Paulo sorria satisfeito, sem ter ainda a noção da tempestade que se aproximava. Após anos semeando o caos, os frutos de suas ações estavam quase prontos para a colheita.
{…}
Carina:
Não acreditei que após tudo o que ela tentou fazer, Samanta teria coragem de me ligar pedindo ajuda. É claro que tudo aquilo só poderia ser alguma armação. Ainda mais com Paulo envolvido. Com raiva, desliguei na cara dela, mas sua mensagem, minutos depois, me preocupou.
Peguei o notebook e abri minha conta de e-mail corporativa. Realmente, existiam seis e-mails do mesmo remetente, todos com anexos grandes. Abri o primeiro áudio e a voz era mesmo do Paulo, ele conversava com Samanta:
“– Não tem nada de novo, você já fez isso diversas vezes. É só mais um otário para enganar”.
Samanta parecia apreensiva:
“– Esse otário não é qualquer um. Não é um daqueles fiscais ou auditores que você me pede para seduzir e depois chantagear. Júlio é poderoso, mais até do que você”.
Paulo desdenhou:
“– Por enquanto, minha cara. Júlio só é forte por causa da Silvana, separando os dois, nenhum deles sozinho é adversário para mim”.
Fiz o download do áudio seguinte:
“– Pense nisso como a sua aposentadoria. Se tudo der certo, se Júlio e Silvana se separarem, eu a transformarei numa diva. Sua recompensa será tão satisfatória, que você não precisará mais trabalhar durante a vida. Ainda pode ficar com o Júlio se quiser, já que você mesmo disse que ele fode muito bem”.
“– Eu já tenho certeza de que ele está apaixonado, totalmente na minha. Hoje darei o golpe final. Aquela mocréia está desconfiada, mas agora é tarde. Nos falamos mais tarde, prepare o champanhe”.
Fiz o download e escutei mais umas duas dezenas de áudios parecidos, com diferentes vítimas do Paulo e da Samanta. Em todos eles, fica bem claro que Patrícia é cúmplice também. Inclusive, sendo ativa em algumas situações de extorsão e chantagem. Comecei a carregar os vídeos e de cara, me deparei com um do Beto no resort, igual as fotos que Patrícia mostrou na casa da Laine. A gravação é feita de longe, com a lente em zoom:
“Inicialmente, Beto está se divertindo no bar, bebendo como se não houvesse amanhã. Ele praticamente desmaia no balcão. Samanta e Paulo conversam bem próximos e logo ele chama dois funcionários do resort para carregar o Beto”.
Outro vídeo:
“Algumas imagens de câmeras de segurança pelos corredores com Beto sendo carregado até o quarto. Paulo e Samanta sempre na frente”.
Outro vídeo, agora já dentro do quarto, uma gravação limpa e com áudio. Parece uma gravação feita por celular, escondido em algum móvel, mas com visão total do enorme quarto:
“Beto está apagado na cama enquanto Samanta e Paulo conversam. Ele diz:
– Agora ferrou. Dificilmente ele vai acordar.
Samanta dá a ideia:
– Mas ele não precisa acordar. Podemos apenas simular que aconteceu.
Samanta vai até o Beto e tira sua roupa. Admirada com o dote dele, ela agarra o pau mole e brinca com o Paulo:
– Nossa! Até em descanso deve fazer estrago.
Samanta tira a própria roupa e começa a se esfregar em Beto. Paulo, excitado com a cena, começa a apertar o pau e logo o coloca para fora, punhetando devagar. Samanta se empina inteira e o provoca:
– Vem aqui, vamos foder em cima dele. O efeito vai ser o mesmo. Nosso suor e fluidos, assim como o cheiro, vão ficar impregnados nele. – Samanta continua se esfregando em Beto.
Paulo não resiste e também se despe, fazendo Samanta simular uma DP sobre Beto. Devagar, ele vai enfiando o pau inteiro no cu dela”.
Eu pausei o vídeo naquele momento e acordei o Alex. Eu me sentia tão enojada com a atitude daqueles dois, muito chateada pelo que assistia. Eu já tinha a clara noção de que Beto foi enganado, mas precisava assistir até o final para ter certeza.
Esperei até Alex estar devidamente atento e contei a ele sobre a ligação de Samanta e expliquei o que ouvi e assisti até ali. Precisei repassar os áudios e voltar ao início do vídeo para que ele visse com os próprios olhos. Rapidamente estávamos no mesmo ponto em que pausei:
“Samanta não só era fodida por Paulo, como ainda beijava e brincava com o pau do Beto, totalmente sem reação, completamente apagado.
Uma segunda mulher entra no quarto, a mesma mulher que também estava de mãos dadas com Beto na foto. Ela entra na orgia. Enquanto Paulo fode uma, a outra tenta chupar o pau do Beto, achando que ele ficaria ereto. Samanta tem um primeiro orgasmo, bem intenso e aproveitando o embalo, se esfrega ainda mais em Beto, espalhando seus fluidos no corpo dele.
A segunda mulher faz o mesmo, assim como Paulo, ejaculando sobre Beto aos risos, numa atitude de total desrespeito. Só uma pessoa com sérios problemas de caráter seria capaz de tal atitude doentia. Paulo sorri como um psicopata, realizado após sua crueldade”.
Já é o bastante para mim. Aqueles vídeos e áudios são provas de diversos crimes cometidos por Paulo, Patrícia e Samanta. Preocupado, Alex se levanta pensativo:
– Eu acho que você devia entregar isso tudo para o Júlio e rápido. Nós somos pessoas simples, comuns e a corda sempre arrebenta do lado mais fraco. Como poderíamos ajudar uma pessoa do outro lado ao mundo?
Sem opções, me vendo obrigada a acreditar em Samanta, liguei de volta para ela. Sou atendida no segundo toque:
– Como você pôde se rebaixar tanto? Talvez você mereça o que está acontecendo.
Percebi que passei do limite, mas estava tão revoltada que nem me desculpei. Samanta novamente suplicou:
– Eu sei que me mereço, mas não quero morrer. Por favor, me ajude.
Pensei por alguns segundos e fui direta:
– Eu não tenho como ajudar, mas sei quem pode. Mantenha o telefone com você, retorno a ligação quando for possível. Onde você está?
Samanta já chorava novamente:
– Estou em um ônibus, cruzando o país. Devo ficar protegida por pelo menos doze horas.
De qualquer forma, ninguém merece morrer, pelo menos é nisso que eu acredito. Tentei acalmá-la:
– Vou falar com o Júlio, só ele pode te ajudar. Eu não tenho dinheiro e nem condições de te tirar daí. Aguarde o meu retorno, é o melhor que posso fazer.
Desliguei e imediatamente liguei para o Júlio. Sabendo que ele está sempre próximo ao telefone, pois tem negócios no mundo todo, fui atendida rapidamente:
– Carina? Algum problema? Por que está me ligando a essa hora?
Não perdi tempo:
– Patrão, me desculpe, mas é urgente. Alex e eu estamos indo até aí. Acorde a Silvana também, pois o que tenho para falar é grave.
Continua.