Depois de refletir muito sobre seu passado, seu presente, e principalmente como seria seu futuro a seguir, depois de tudo que havia acontecido com relação a ele e ao seu pai e principalmente sua agora ex-noiva aline, Ricardo estava ali sentado no banco do parque totalmente sem rumo e sem saber exatamente o que faria a seguir, porém um encontro que ele não esperava e uma mão segurando seu ombro, uma mão pequena e quente como a mão talvez de alguém que desejava fazer algo a ele, assim como uma voz familiar, poderiam lhe dar o conforto que ele esperava.
— Você está bem?
Ricardo naquele momento olhou para trás e acabou vindo em sua frente aquela mesma mulher da outra vez que ele não sabia o nome, mas que era mãe da tal pequena Isabela. O sorriso e a paz que a voz dela ecoa sobre ele, o encantou, mas não só isso. Aquela bela mulher de olhos verdes e cabelos castanhos tão lisos que voavam com o vento, com um olhar marcante e um sorriso que faria até o sol ficar mais bonito. Ricardo por alguns segundos olhou para aqueles olhos e não tinha notado o quanto eles eram bonitos, então enquanto ele admirava tais olhos, ele respondeu.
— Ah! Oi, moça que não sei o nome. Engraçado, eu vim pra esse parque, o mesmo que te achei da outra vez, e o mais engraçado... É que no fundo eu esperava encontrar, talvez alguém como você pra conversar. Eu estou meio perdido.
— Perdido? Com o que? — Disse a jovem, logo pedindo permissão para se sentar ao lado de Ricardo, enquanto ele estava talvez perdido em seus próprios pensamentos, não sabendo exatamente o que fazer ou como agir.
— Estou perdido, talvez com a minha vida. Descobri coisas não muito legais ultimamente, principalmente por conta da mulher que eu estava planejando casar. Rompemos, ela estava me traindo esse tempo todo, inclusive com o meu próprio pai.
— Mas que horror! — Disse a jovem para Ricardo. — Mas porque até seu pai fez isso? Como você descobriu?
— Porque foi ele mesmo que me contou. Segundo ele, acabou dormindo com ela para provar que minha noiva não valia nada. Parece que ela estava me traindo e me apunhalando pelas costas, tudo por causa de dinheiro! Meu pai descobriu isso, e meio que deu um jeito de me descobrir, embora esteja tudo muito nebuloso para mim, e eu não entenda, porque até ele teve que chegar ao extremo... Mas mesmo assim, mesmo sabendo de tudo isso, eu rachei com a família, e estou aqui.
— Estou entendendo. Dinheiro né? — A jovem então levou uma de suas mãos até as mãos dele e assim tocou seus dedos, passando a acariciá-los. Ficou levemente pensativa, e olhando as roupas do mesmo, imaginou ser talvez um cara de família humilde, cuja noiva o traiu por algum ricaço por aí. Decidiu então fazer algo a respeito, já que ela não sabia por que, mas seu coração pedia isso.
Sabe, acho que você precisa de ajuda, eu quero ajudar... Fora que né? Você está mal demais. E está um trapo também! — Dizia a jovem, que sempre foi meio sem papas na língua mas logo se corrigiu. — Assim, não me leve a mal tudo bem? Mas é que realmente você está com essa camisa rasgada, sua calça meio suja. Você tem onde ficar?
— Como assim? — Perguntou Ricardo. — Bom, na verdade não tenho, mas... — Logo, ele foi interrompido e a moça continuou.
— Eu te devo uma por ter me ajudado com a minha garotinha! Hoje ela não está em casa, vai ficar até o dia 28 com o pai e depois passar o ano novo comigo. A casa está livre, se você não tiver lugar para ficar pelo menos essa noite você pode ir para lá! Prometo que preparo um banho e uma comida deliciosa para você.
— Não, mas. — Ricardo então se calou por um tempo até que algo veio à sua mente. Pensou por alguns segundos e logo a respondeu. — Realmente, você tem razão. Eu não tenho mesmo onde ficar. Eu vou aceitar sua oferta, mas amanhã eu vou embora de lá, ok?
A jovem então levou Ricardo até a sua residência, um prédio onde possui apartamentos de uma região bem nobre de Curitiba. Assim que entrou, ela apresentou a Ricardo o quarto onde ele poderia ficar, era um quarto de hóspedes que ela sempre reservava para alguma visita, ficava praticamente do lado do quarto de sua filha.
— Então, querido, esse quarto aqui que você vai dormir, tudo bem? Acredito que aqui tenha tudo que você precisa, tem um banheiro acessível só para você com chuveiro e tudo mais, um colchão fofinho, e cobertor limpo ali no armário. Eu vou sair por meia hora, acho que sei o que fazer com você. Enquanto isso, aproveite a casa, tá? Tome um banho e relaxe. Se precisar comer, tem algo na geladeira, só esquentar no microondas.
— Espere. — Perguntou Ricardo. - Porque está me dando abrigo se nem me conhece?
— Por que eu confio em você. Você salvou Isabela de ir pra rua daquela vez, e eu nunca o agradeci por isso. Fora que, ela vive falando de você, e eu também. Aliás, quando eu voltar, quero saber seu nome, hein!
Foi então que a jovem misteriosa saiu de casa enquanto o Ricardo ficou ali. A sala era bem mobiliada, e tinha ali um e outro retrato da jovem e de sua filha, Isabela. Ricardo achou bem engraçada a situação de que sequer sabia o nome dela também e nunca havia tido a oportunidade de falar, já que tiveram apenas um encontro, e nunca se falaram depois disso. Porém, se tratavam como velhos conhecidos e isso era estranhamente bom. Talvez aquele carinho e aquela paz eram o que realmente Ricardo estava buscando depois de toda a tempestade que sua vida lhe trouxe naquele momento.
O rapaz Então foi até o chuveiro e assim o ligou, deixando a água cair sobre seu corpo enquanto tomava um breve banho. Ali, ele ficou pensando mais de uma vez no que exatamente acabou levando Aline a trair ele daquela forma, sendo que ele sempre foi um homem muito bom para ela.
Na cobertura dos Montovani, Tércio e Olga já haviam chegado, mas para a tristeza dos dois não encontraram Ricardo ali ou qualquer tipo de vestígio com relação a ele. Mas Tércio encontrou a sua gaveta aberta, sem as chaves do casarão, o que eram provas o suficiente de que Ricardo havia assistido o conteúdo do pendrive. Até o presente momento, Ricardo não havia voltado para casa, mas isso também não significava que ele não iria voltar. Porém, uma outra pessoa apareceu naquele momento e uma pessoa inclusive mais irritante do que qualquer outra que poderia aparecer.
— Cadê o Ricardo? — Chamou Aline, abrindo a porta da casa da cobertura, chamando por Ricardo desesperada.
Tercio e Olga se viram enquanto estavam na sala, então diretamente para a porta, vendo uma então Aline completamente desesperada atrás do seu noivo desejando contar para ele qualquer tipo de mentira possível para continuar com seu noivado com ele. Tercio então, em uma gargalhada sinistra respondeu.
- Olha aí amor! A prostituta voltou aqui depois de tomar um pé na bunda do meu filho! É mole? Hahahaha!
— Como? Seu Tércio, não me diga que...? — Disse Aline, enquanto o velho Tércio foi se aproximando, enquanto fumava seu velho charuto, degustando do mesmo. Puxou o fumo, enquanto tratou de responder a Aline.
— Você tentou fuder meu casamento com a Olga, você acha que eu não sei que foi você que mandou as fotos e vídeos meus? Infelizmente o mesmo detetive que você contratou já era contratado meu antes, e já havia me alertado sobre o serviço que você mandou ele fazer. Então eu simplesmente autorizei que ele mandasse as fotos para você e concluísse o seu serviço, porém em troca ele passou a te vigiar, porém eu já sabia do seu caso com aquele vagabundo há muito tempo.
Aline ficou incrédula com a revelação, sem saber exatamente o que iria fazer. Foi então que num impulso, ela olhou diretamente para Tércio e assim disse.
— Seu puto! Então a culpa foi toda sua de ter arruinado meu noivado. Você não vale nada mesmo, seu filho da puta. Você ainda me paga!
— Ah não, putinha. Quem vai me pagar é você. Você tem 24 horas para devolver o dinheiro que você roubou. Se você não fizer isso, ou eu mando você para cadeia, ou quem sabe eu vejo uma outra forma de lidar com você. Eu quero meu dinheiro de volta e você só tem 24 horas, você está me entendendo?
— Vai se fuder, eu não tenho dinheiro nenhum e não sei do que você está falando!
— Você saber sim, sua vagabunda! — Disse Olga, cheia de raiva no olhar enquanto se aproximou de Aline, e assim que estava de frente com ela, acabou partindo pra cima, disparando alguns tapas e socos, enquanto Aline era agredida e vez e outra agredia junto, porém quase sempre sem sucesso. Olga, na Rússia, sabia defesa pessoal, lutava dois tipos de artes marciais, para se defender de bêbados e valentões. Com certeza ali ela daria uma boa sova em Aline.
— Sua Russa puta, você, AI! — Dizia Aline ali enquanto era agredida com mais um soco que Olga deu em seu rosto, soco esse que fez sair sangue em sua narina.
— SER PUTA SIM, MAS NÃO LADRA NEM SER MENTIROSA SUA IZMENYAYUSHCHAYA SUKA!— Disse Olga, que deu ali um forte tapa em Aline, antes de ser impedida por Tércio de continuar, que assistiu tudo a plenas gargalhadas.
— A rinha de mulher tá boa, mas vocês precisam se controlar, eu sei que sou irresistível, mas mesmo assim! — Disse Tércio na pura brincadeira, enquanto Olga o olhou feio, e Aline pegava suas coisas, encarando a todos ali.
— Vocês me pagam, eu Juro! — Disse Aline, que após ser agredida, e humilhada, vai embora, mas não sem antes ouvir um ultimato de Tércio.
— Eu estou monitorando seu dinheiro roubado na sua conta fantasma. Se essa grana for movimentada, irei ser comunicado, e dai, eu boto até a interpol na sua cola, mas você vai em cana, entendeu sua puta?
Aline não teve muita escolha, a não ser ir embora da cobertura. Mas ela mal sabia, porém seu inferno estava apenas começando e ela pagaria muito caro por ter se metido com os Montovani. Do outro lado, Ricardo havia terminado seu banho, e observou em seu celular algumas ligações vindas de Tércio, Aline e uma de Pedro. Lembrou-se de Pedro, e que provavelmente ele foi ao parque e acabou não encontrando-o. Ricardo então acabou avisando o amigo de que encontrou uma amiga, e ela lhe daria abrigo por essa noite. A mensagem de Pedro, foi uma rápida e ligeira carinha de " ;-)".
Ricardo só riu, mas sabia que não aconteceria nada, afinal, viu a moça apenas duas vezes. Logo ela chegou, com algumas sacolas nas mãos, e Ricardo então foi ajudá-la e colocar tudo no sofá. A jovem então começou a mostrar o que tinha ido atrás para ele.
— Fui ao mercado e comprei algumas coisas, pra gente passar uma gostosa ceia pós meia-noite de natal juntos, por que minha geladeira, só tem coisas comuns! Sabe né, eu acabei passando o Natal fora, então... Nem fiz nada. Também comprei isso aqui.
A jovem então, pegou uma sacola e trouxe para ele uma camisa social branca, uma calça jeans nova e um calçado, totalmente novo para Ricardo, e colocou em cima do sofá. Ela então mostrou cada uma das peças a ele, enquanto ele ficou sem entender nada do que estava acontecendo, enquanto ela dizia.
— Hoje é Natal, então queria dar esse presente de Natal pra você, para deixar essas roupas rasgadas e vestir essa nova. Já tá de banho tomado, né? Aproveite e se vista, enquanto eu faço algo rápido para nós dois.
— Mas, então, eu não preciso. — Ricardo depois disso, pensou melhor, e resolveu ficar quieto e aceitar o presente. É Natal, ela só queria lhe dar um agrado. Fazer desfeita seria algo bem chato, ainda mais para algo feito de coração. — Na verdade, perdão. É meu orgulho falando mais alto, mas realmente eu preciso e aceito seu presente. Você é incrível. Irei usar, com certeza.
Ricardo então pegou as roupas e foi até o banheiro, onde acabou por se trocar e assim colocou todas as vestes, desde sua camisa, calça jeans e até o calçado novo que a jovem havia comprado para ele. Quando se olhou no espelho, achou até que tinha ficado bem bonito, apresentável. Ela tinha bom gosto. Eram roupas de marca, por mais que fosse estranho ele ganhar esse tipo de presente de uma pessoa que até então ele desconhecia totalmente. Mas presente era presente, e Ricardo nunca foi muito de se importar em ostentar o que ele tinha ou deixava de ter. Caiu então do banheiro e desfilou para a mulher ali, que bateu palmas e adorou como eu estava bem vestido.
— Nossa, uau! Você tá muito gato, hein?
— Er... Valeu! Hahaha! — Disse Ricardo, dando assim resposta uma deliciosa risada enquanto encarou a jovem ali, um pouco sem graça devido ao elogio.
— Então. Eu fiz um assado pra gente, com arroz temperado e uma salada de maionese. Espero que você goste...
Ricardo então sentou-se à mesa junto com ela, assim a jovem foi servindo a ambos ali. Ricardo então agradeceu junto a ela pelo alimento, e então os dois passaram a comer ali juntos, conversaram sobre coisas bem triviais, enquanto se conheciam melhor um ao outro. A moça se apresenta para ele como Clara.
— Então, agora vamos nos apresentar, não? Meu nome é Clara, sou divorciada, mãe da pequena belinha que você já conhece, e atualmente eu trabalho no Club Athletico Paranaense. Lá eu trabalho com a parte de Marketing e Design. Minha vida foi uma verdadeira gangorra, eu já tive alta, fui pro fundo do poço, depois eu tive que partir tudo do zero, e hoje eu estou aqui. Vivendo um dia de cada vez, porém pensando no futuro da minha filha. Eu já cometi alguns erros no passado que não me orgulho, mas.. — Nisso, ela foi interrompida pelo Ricardo, que levou uma de suas mãos a mão dela e assim disse.
— O seu passado, o que você fez, devem ficar para trás. Você me parece ser uma pessoa muito boa e amadurecida, eu não sei nada sobre seu passado, e nem quero saber. Estou mesmo interessado nessa pessoa do presente.
— Então me fala seu nome... Por que seus problemas eu já sei! — Disse Clara, mostrando a ponta da língua para ele.
— Meu nome é Ricardo. É um prazer te conhecer.
Ele então se levantou, no meio da ceia dos dois, e assim colocou em seu celular para tocar alguma boa música de romance, e assim estendeu sua mão, convidando assim Clara para dançar. Ela aceitou, e assim, os dois ficaram ali, coladinhos, passando a dançar no meio de sua sala de jantar, rendidos a uma deliciosa música romântica, enquanto um sentimento ia nascendo no coração daqueles dois, mas que iria ser colocado à prova a partir daquele momento.
