Bernardo [26] ~ Estou namorando um homem!

Um conto erótico de Bernardo
Categoria: Gay
Contém 2212 palavras
Data: 03/12/2023 16:58:09
Assuntos: Gay, Início, Sexo, Traição

Eu estava namorando Rafael. Eu tinha um namorado. Eu namorava um outro cara. Quando acordei na segunda-feira de manhã, tudo ainda parecia surreal. Estar num relacionamento sério com um homem ia contra tudo aquilo que eu havia planejado para a minha vida.

“Então por que aceitou o pedido de namoro?” vocês podem se perguntar. Para agradar Rafael, como já havia virado hábito. Eu não tinha me acostumado com meu novo status e não fazia a mínima ideia de como iria lidar com a questão, mas de certo modo eu estava tranquilo. Vocês podem me imaginar pirando com a questão, chorando desconsoladamente abraçado aos meus joelhos num canto escuro do quarto. Mas não. Sim, ainda não estava totalmente à vontade e a coisa toda me preocupava, mas eu estava melhor do que seria de se imaginar. No fundo eu estava feliz com o pedido de namoro, por mais que eu não quisesse admitir para mim mesmo.

“Eu era só do Rafael e ele era só meu”. Sorri sozinho pensando assim. Contanto que ele cumprisse a promessa de não nos expor, daria certo.

Bem animado, fui para a cozinha praticamente saltitando para tomar café da manhã. Infelizmente para mim, estou cercado de pessoas observadoras.

_Que alegria toda é essa?_ perguntou meu pai.

_Que alegria?_ respondi já me contendo.

_Você entrou na cozinha flutuando e cantarolando.

_Eu? Impressão sua.

_O fim de semana deve ter sido bom, hein?_ completou meu irmão mais velho.

Eu devo ter ficado muito vermelho porque começaram a rir sem parar, chamando a atenção do resto da casa, que em segundos apareceu na cozinha para saber o que estava acontecendo. O inferno estava instalado.

_O que foi?_ perguntou minha irmã.

_O Bernardo andou aprontando no fim de semana.

_Como assim?

_Seu irmãozão tá com a vida sexual em dia.

_Para com isso!_ gritei já não me aguentando quando meus irmãos caçulas começaram a rir também.

_Agora vai ter que contar!_ falou minha irmã.

_Não tenho nada pra contar pra nenhum de vocês!

_O que está acontecendo aqui?_ falou minha mãe chegando na cozinha.

Minha família nunca se reunia pra fazer uma refeição juntos, mas para tirar sarro de mim era uma união de dar gosto.

_O Bernardo se deu bem no fim de semana!_ falou meu irmão.

_Para com de falar isso Tiago! Não aconteceu nada!

_Como assim? Você não ia pra festa de um colega e acabou dormindo lá?_ perguntou minha mãe toda inocente.

Todos começaram a rir da inocência da minha mãe e do meu rosto já estava roxo de tanta vergonha.

_Você andou mentindo pra gente, Bernardo?_ perguntou ela num tom sério.

Sim, eu estava mentindo pra eles. Aliás, eu estive mentindo para eles durante minha vida toda. Eu não era quem eles pensavam que eu fosse. Eles moravam na mesma casa que eu há dezoito anos e não sabiam quem eu era. Isso era triste. Triste e desesperador.

_Não é assim, mãe...

_Teresa, o Bernardo não é mais uma criança._ falou intervindo meu pai, já percebendo que o tom de brincadeira tinha sumido _É normal que ele tenha uma vida sexual. Mas sim, meu filho, está na cara que você andou mentindo sobre seu fim de semana.

O meu pai era um homem sério. Ele era de dar medo em qualquer um, apesar de não amedrontar a mim e meus irmãos. Olavo era um advogado corporativo competente e com fama de agressivo. Ele era grande, alto, forte, com uma barba escura sempre alinhada. Ele tinha uma farta cabeleira em diferentes tons de preto e cinza. Sua aparência era completada com sobrancelhas grandes e um olhar intimidador. Ele nunca levantou a voz ou a mão para mim ou para os meus irmãos. Apenas o olhar dele era o bastante para nos fazer tremer, embora eu sempre o tenha considerado um pai carinhoso na medida que a sua personalidade permitia. As únicas pessoas que eu já tinha visto enfrentar o meu pai eram o meu falecido avô, seu pai, e minha mãe. Por isso, não havia como enfrentá-lo ali, ainda mais com aquela plateia tão atenta.

_Não é assim, pai...

Obviamente, eu não podia lhe contar toda a verdade. Mas também não adiantava continuar mentindo pra eles. Me decidi pela estratégia de meias verdades:

_Sim, eu fui numa festa de um amigo, me diverti muito,_ devo ter ficado azul quando disse isso, mas continuei _dormi na casa dele e no outro dia me ofereci para ficar e ajudar a arrumar tudo. Aí acabamos chamando mais uns amigos para acabar de beber a bebida que tinha sobrado, e achei melhor dormir por lá de novo.

A segunda parte era uma mentira deslavada, e a primeira era um pouco fantasiosa, para dizer o mínimo. Como eu disse, meu pai era um bom advogado, e como tal podia sentir cheiro de mentira a milhas de distância. Eu vi nos seus olhos que ele não acreditou numa vírgula do que eu disse. Eu me segurava para não tremer ou chorar.

_Bom, está mais claro agora, não é, Teresa?_ perguntou desviando os olhos de mim para a minha mãe.

_Eu ainda não gosto disso.

_Ele não seria sua criança para sempre.

Tive que me controlar para não soltar o ar depressa num sinal de extremo alívio. Era óbvio que eu não tinha enganado meu pai, mas ele estava cobrindo minha mentira. No mínimo achava que o machão do filho dele estava pegando putas por aí.

_Agora, todos circulando. Vocês vão se atrasar._ completou meu pai sem me olhar.

Saí de casa o mais rápido que pude, com medo de cair num interrogatório outra vez.

[...]

Ao sair do meu prédio, me deparei com Rafael de braços cruzados encostado no seu carro. O que sempre tive medo dessa coisa toda de namorar Rafael era a vontade dele de agir como um namorado. Eu não estava preparado para isso. Era o tipo de coisa que me constrangia e me despertava o medo de ser descoberto. Mas eu decidi que não ia brigar com ele sobre aquilo naquele dia. Primeiro porque meu dia já tinha começado com uma certa dose de adrenalina, e segundo, porque eu não tinha coragem de desmanchar o lindo sorriso que ele sustentava para mim.

_Bom dia, moço!

_Bom dia, Rafa. Você não tem jeito, né?

_O que foi? Não posso ser um rapaz gentil que prestou o favor de dar carona para um colega de sala que mora no caminho dele?

_Minha casa não fica no seu caminho. É um desvio de dez minutos.

_Sim, mas só nós dois sabemos disso.

Ri do sorriso safado que ele mantinha enquanto falava isso. Sem mais demora, entrei no seu carro. Assim que entrou no carro, ele se curvou para me beijar, mas eu fui mais rápido e me afastei.

_Sério? Na frente da minha casa, com todos prestes a sair?

Ele riu sem graça, apesar de eu ter tentado falar isso com humor. Ele apertou minha perna e deu partida no carro. Ele fingiu que não tinha ficado magoado com o que fiz, mas eu já o conhecia muito bem, além do fato dele ser um péssimo ator.

_Desculpa, Rafa, eu...

_Eu que me desculpo, prometi ir devagar. É que você estava tão lindo ali que não resisti.

Ri encabulado pelo elogio.

_Eu me sinto péssimo ao ficar podando suas aproximações assim, mas eu...

_Tudo bem, Bernardo, eu te amo. Nós vamos conseguir fazer isso funcionar.

Sorri e apertei sua mão sobre a minha perna.

Mas nem as palavras dele conseguiram me aliviar. Eu estava num relacionamento sério com ele, mas não podia ser aquilo que ele desejava que eu fosse como namorado. Eu não podia andar de mãos dadas por aí, dar-lhe um beijo sempre que o via, ou mesmo deixar que ele me buscasse todo dia em casa. Sem contar que a minha família não poderia desconfiar que eu estava num relacionamento com alguém, como aconteceu hoje. Isso implicaria em apresentá-lo eventualmente, o que estava completamente fora de questão. Rafael dizia que estava tudo bem, mas não estava. Isso feria ele, mesmo que nem ele percebesse.

Talvez aí morasse uma das maiores diferenças entre eu e Rafael. Meu objetivo de vida era ser feliz, mas aquela felicidade pacata e tranquila. Já Rafael gostava da felicidade do caos. Ele queria um grande amor, um daqueles cheios de lágrimas, desencontros, reencontros e discussões turbulentas. Enfim, ele gostava do drama. Ele fantasiava com aquele grande amor das ficções, aquele que marca a vida. O grande problema é que, naquele momento específico da nossa vida, eu não poderia oferecer a Rafael o amor que ele queria, nem ele poderia me dar a felicidade que eu tanto almejava. Era um relacionamento fadado ao fracasso, mas nós não víamos. Ou víamos e ignorávamos. Muita coisa poderia ser evitada se tivéssemos essa consciência na época.

Ironicamente, era isso que faria do meu relacionamento com Rafael um grande amor daqueles com os quais ele sonhava: cheios de lágrimas, desencontros, reencontros e discussões turbulentas.

[...]

_É oficial agora?_ perguntou Alice.

_Sim!_ respondemos juntos.

Alice era a primeira e a única pessoa que sabia do nosso relacionamento, e permaneceria assim se dependesse de mim.

_Até que enfim! Tinha que aparecer alguém pra tirar o Bernardo dessa vida chata!

_Agora só falta encontrar alguém pra tirar essa sua amargura!_ respondi no mesmo tom.

_Sem brigar, crianças._ interferiu Rafael, mesmo sabendo que era tudo brincadeira.

_Uai, é só me arranjar alguém que preste.

_Já arranjei e você dispensou o coitado. Agora que arrume um sozinha.

_Prefiro morrer solteira a me contentar com alguém com o caráter do seu amiguinho.

_Pois é justamente o que vai acontecer.

Era o meu estilo de conversa com Alice. Estávamos brincando? Sim. Mas estávamos cutucando as feridas um do outro? Também. Era aquilo que proporcionava a dinâmica toda especial das nossas conversas. Rafael nem ousava se meter com medo de sair ferido.

_Eu vou deixar vocês se amarem em paz e vou ali lanchar._ ele falou se afastando da gente.

_E como vai ser agora?_ perguntou Alice quando ele saiu do nosso campo de visão.

_Eu não sei. Eu estou muito feliz onde estamos agora, mas Rafael não vai se contentar com isso. Ele vai sempre querer mais de mim.

_E ele está certo. Você é o tipo de pessoa que se não for empurrado pra frente, não anda. E Rafael sabe disso.

_Não precisava ofender.

_Não é ofensa se for verdade. Você se acomoda com as coisas, Bernardo. Você tem sonhos, mas não tem ambição. Sem ambição, fica muito difícil alcançar seus sonhos.

_É fácil de falar, mas eu...

_Tem que enfrentar o mundo, blá, blá, blá._ ela falou me interrompendo _Eu sei, já falei que te entendo. Mas não vale a pena? Quantas pessoas não sonham em encontrar alguém que ame e as ame de volta? Você tem isso! Rafael tem seus defeitos, mas é um garoto de ouro. Bonito, educado, simpático, inteligente, o genro que toda mãe quer, o sonho dourados de muitos meninos e meninas, e você está deixando isso escapar.

_A gente oficializou não faz nem dois dias direito, Alice, não é pra colocar essa pressão toda em mim e nele.

_Estou apenas te expondo os fatos. Rafael vai, sim, sempre querer mais de você, e você não se dispõe a dar o que ele quer. Quanto tempo você acha que vai durar o namoro de vocês assim? Isso cansa, viu? Ele não vai ceder pra sempre com você, uma hora vai jogar tudo pra cima. E aí, meu amigo, ou você se assume pro mundo todo de uma vez ou perde o Rafael.

_Me assumir não é uma possibilidade, mas...

_Então, é uma questão de tempo até ele terminar com você.

Ela estava certa. Alice sempre estava certa quando se tratava em analisar minhas atitudes e meus pensamentos. Eu nenhum momento da conversa eu me senti ofendido pelas suas palavras, justamente por saber que elas eram verdadeiras. Em algum momento eu teria que escolher entre continuar com Rafael ou continuar no armário.

“Mas você não quer tanto ser feliz? Escolha Rafael e que o mundo se dane!” vocês podem pensar, mas nada é tão simples assim.

Um erro crucial que muitas pessoas cometem é associar o amor como sinônimo de felicidade. Muitas pessoas amam e são amadas, mas não são felizes por diversos outros motivos. Muita gente é feliz mesmo solteira, ou viúva, cercada apenas por família e amigos. Não é uma questão fácil. E se eu me assumir? Existia uma possibilidade enorme de eu perder meus amigos e minha família. Se não perdesse no sentido mais literal da palavra, eles passariam a me tratar diferente, eu deixaria de ser o Bernardo que eles conhecem, um cristal se quebraria sem chance de ser remendado. Não acho que me dariam uma surra ou me expulsariam de casa, mas eu seria capaz de conviver com seus olhares de nojo e de julgamento? Tem como ser feliz assim?

Então, não, meus caros, eu não considerei a hipótese de me assumir, nem que fosse para um pequeno número de pessoas com quem eu convivia. Assim, a única dúvida que restava era: quanto tempo eu ainda tinha com Rafael?

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Comentários

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Muuuuuuito bom. Alice é uma menina muito madura. VivAlice!

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