A aposta #3

Da série A aposta
Um conto erótico de Jucélia
Categoria: Lésbicas
Contém 2215 palavras
Data: 04/12/2023 12:07:02
Última revisão: 26/12/2024 16:09:42

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Jucélia—

Passei o domingo todo em casa. A maior parte do tempo, estive no meu quarto tentando organizar as ideias, mas não estava nada fácil. O problema não era eu ter beijado uma mulher; nunca tive nenhum tipo de preconceito. O problema era que eu nunca tive nenhum tipo de interesse por mulheres. Aí, do nada, uma maluca me beija e vira meu mundo de pernas para cima.

Passei um tempo na garagem também, fiz alguns exercícios e socava muito meu saco de areia, tentando gastar o máximo de energia possível. Depois, tomei um banho e fui para a cama relaxar. O pior disso tudo é que eu não tinha ninguém para conversar sobre isso. Geralmente, quando estou com algum problema, falo com minha mãe, mas dessa vez achei melhor não comentar.

Na segunda, acordei bem cedo, fui para o trabalho e tive uma pequena surpresa. Assim que cheguei, fui informada de que teria uma nova colega de trabalho. Meu patrão, Dr. Carlos, me chamou no escritório e me apresentou a Marina, uma garota ruiva, com olhos azuis, corpo normal, provavelmente 1,70 de altura. Ela não era gorda nem magra, tinha seios médios, um bumbum bonitinho, cabelo curto e repicado, pele bem branquinha e um sorriso tímido. Ela parecia ser um pouco mais nova que eu, provavelmente 19 ou 20 anos.

Dr. Carlos disse que ela iria me ajudar, que ficaria responsável por recolher e distribuir tudo que passasse pelas minhas mãos: documentos, processos, correspondências, encomendas. Meu trabalho dali para frente seria só buscar e entregar; o resto ela faria. Eu adorei, porque já tinha reclamado que estava muito complicado para mim fazer tudo sozinha. Dr. Carlos me pediu para ajudar a explicar o trabalho para Marina, e assim o fiz. Ela era do tipo que prestava muita atenção no que a gente falava. Porém, notei duas coisas nela: primeiro, que ela era muito calada. Durante o tempo que ficamos ali, só ouvi a voz dela duas vezes; ela geralmente respondia as perguntas movendo a cabeça, com respostas para sim ou não. Mas o que mais me chamou a atenção foi uma pequena correntinha que ela tinha em um dos pulsos; nessa correntinha, havia vários pingentes pequenos, e um deles era um coração com as cores LGBT.

Como ela era muito calada, não conversamos praticamente nada, mas deu para ver que ela sempre estava com aquele sorriso tímido no rosto. Me pareceu ser uma garota legal; acho que a gente iria se dar bem. A parte da manhã foi bem corrida; passei praticamente o tempo todo na rua: fórum, escritórios, correios, cartório. Fui a vários lugares.

Na hora do almoço, quando fui à cantina, vi Marina sentada sozinha em uma mesa no canto. Pensei em puxar papo com ela, mas não funcionou muito bem. Perguntei se podia sentar com ela e ela balançou a cabeça sinalizando que sim. Depois perguntei se estava gostando do trabalho e ela fez a mesma coisa. Por fim, achei melhor deixar ela comer em paz.

À noite, fui para a faculdade. Estava no quarto ano do curso de Engenharia Mecânica; eu era uma das poucas mulheres da turma, 90% era homens. Queria seguir os passos do meu pai, mas queria trabalhar com motos e não com carros, e queria ter um diploma para isso.

As aulas foram tranquilas; início de ano geralmente é assim. Mas eu gostava de prestar muita atenção todos os dias para não correr o risco de passar aperto depois.

Naquela rotina de sempre, minha semana foi passando: trabalho, faculdade e casa. A única diferença era que eu não conseguia tirar aquele beijo da cabeça. Eu lembrava quase o tempo todo, principalmente à noite e na hora do banho. Não vou negar que me masturbei três vezes pensando naquela boca fazendo loucuras no meu corpo; meus orgasmos eram muito intensos.

Outra coisa que me incomodava muito era lembrar que a garota me beijou e simplesmente saiu fugida depois de se desculpar. Essa lembrança me deixava triste às vezes, outras vezes com raiva. Sei lá, ela podia pelo menos ter falado seu nome ou conversado comigo, mas não; ela fugiu e provavelmente nunca mais vou encontrá-la.

No sábado, estava deitada na minha cama, era umas 21 horas. Novamente, as lembranças daquela garota vieram povoar meus pensamentos e resolvi agir. Troquei de roupa, avisei minha mãe que iria sair e fui. Eu iria na boate de novo; precisava ver aquela garota mais uma vez. Não sei exatamente por quê, mas queria pelo menos falar com ela. Talvez assim eu conseguisse tirar aquilo da minha cabeça.

Depois de quase uma hora, estava dentro da boate. Estava um pouco vazia ainda. Fui ao balcão e peguei uma cerveja sem álcool. Comecei a circular para ver se encontrava aquela garota, mas não a vi. Peguei outra cerveja e fui para perto do local onde foi o beijo. Nada dela. Resolvi ir até uma das mesas e ali fiquei um bom tempo. Dei mais algumas voltas, conversei com alguns conhecidos das antigas, bebi mais duas cervejas e nada de ver a garota. Já era quase uma da manhã; resolvi ir embora. O cansaço estava batendo e provavelmente eu estava perdendo meu tempo. Antes de ir, fui até o banheiro. Quando saí, uma garota parou na minha frente, me olhou nos olhos e falou: "Desculpe." Eu não esperei ela nem terminar a frase; parecia um déjà vu. Automaticamente, dei um passo para trás, ela desistiu de falar o que ia dizer e sorriu para mim.

Garota— Calma, eu não vou te beijar, não. Só quero conversar.

Jú— Desculpe, é que lembrei de algo. Mas a gente se conhece?

Garota— Eu sei exatamente do que você se lembrou. Eu vi a cena. 🤭 Eu conheço você sim, já faz um bom tempo, mas provavelmente você não me conhece.

Jú— Você viu? E me conhece de onde?

Garota— Vem, vamos sentar que te explico tudo. Pode ser?

Fui com a garota; fiquei curiosa. Sentamos em uma das mesas e ela me contou que, há muito tempo, pegou uma garota tentando roubar seu celular do bolso ali na boate. Discutiram e chegaram até a se agredir fisicamente, mas a garota parecia estar bêbada e drogada, então acabou derrubando ela no chão. Aí o pessoal separou e a garota jurou ela. Depois, começou a ver essa garota junto comigo ali às vezes e ficou com medo porque eu tinha uma cara de brava.

Eu comecei a rir dela, disse que eu só tinha cara, mas que eu era de boa, e que provavelmente a garota que tentou roubar ela era minha prima. Mas eu nunca fiquei sabendo disso na época; só podia ser ela porque era a única que andava comigo que fazia essas besteiras para manter o vício.

Ela me perguntou sobre minha prima e eu falei que estava internada em uma clínica de reabilitação em BH. Eu não queria ficar falando sobre minha prima porque isso me traz algumas lembranças muito ruins e resolvi mudar de assunto. Perguntei como ela viu a cena; imaginei que ela falava do beijo e eu estava certa.

Ela me disse que estava naquela mesma mesa que a gente estava e que teve uma visão bem privilegiada do beijo. Fiquei com muita vergonha na hora e abaixei a cabeça. Ela sorriu e disse que não estava me julgando nem nada, e que, na verdade, adorou a cena, que parecia beijo de filme. Eu disse que não tinha nada a ver, que só foi um beijo e que eu ainda por cima fui pega de surpresa.

Ela disse que foi um beijo muito bonito de se ver, que até achou que não iria mais acabar porque durou muito tempo, e que, pelo jeito, mesmo eu sendo pega de surpresa, eu tinha gostado muito. De novo, fiquei com vergonha, mas disse a ela que até que foi legal. Eu não ia contar a verdade para uma estranha. Acho que ela percebeu que eu estava desconfortável e mudou de assunto, me perguntou se eu ainda morava ali perto.

Eu disse que não, que já fazia um ano que tinha mudado para o outro lado da cidade. Que a primeira vez que voltei à boate depois que me mudei foi naquele final de semana. Ela disse que, pelo jeito, eu tinha gostado porque voltei nesse final de semana novamente. Eu vi na hora o sorriso cínico no rosto dela; com certeza foi uma indireta. Pior que ela acertou em cheio, eu tinha gostado mesmo, mas não falei nada.

Ficamos ali conversando um tempão. Descobri que ela morava ali perto, em um bairro vizinho ao que eu morei, que até tinha estudado com uns conhecidos meus no mesmo colégio que estudei. Era até estranho eu nunca ter encontrado com ela antes. Seu nome era Karen; a garota era boa de papo e muito divertida. Ela não tocou mais no assunto do beijo, mas soltava umas indiretas e eu soltava um sorriso amarelo. O papo rendeu e nem vi a hora passar.

Quando olhei no celular, já era quase 3 da manhã. Falei para ela que precisava ir embora. Ela disse que iria também e me acompanharia até a saída. Quando chegamos lá fora, ela perguntou se eu podia emprestar meu celular para ela rapidinho. Achei estranho porque ela estava com o celular no bolso, mas fiquei sem jeito de negar e emprestei o meu já desbloqueado. Ela mexeu nele rapidinho; aí ouvi o dela chamar. Ela me devolveu o meu, disse que tinha salvado o número dela e que, da próxima vez que eu viesse, era para eu avisar ela para a gente marcar de beber umas e conversar mais. Que tinha gostado muito de ter conversado comigo, que tinha a sensação de que a gente seria ótimas amigas.

Eu disse que avisaria sim, porque tinha achado ela bem legal também e que com certeza seria ótimo ter a amizade dela. Aí ela me olhou de cima a baixo e disse que eu era muito bonita, mas sabia que eu gostava era de loira. Deu uma gargalhada bem gostosa e saiu andando. Eu acabei rindo dela; a garota era mesmo divertida. Acabei não vendo a garota do beijo, mas a noite foi bem divertida graças à Karen.

Voltei para casa, acordei tarde no domingo. Minha mãe até estranhou e veio perguntar o que eu tinha aprontado. Contei a ela o que tinha acontecido, mas omiti o motivo de a gente ter se conhecido. Só disse que conheci uma garota gente boa e que passamos a noite conversando. Contei o que falamos, mais ou menos, omiti novamente a parte que falamos sobre o beijo.

Eu acho que minha mãe ficaria muito surpresa, mas não iria brigar comigo nem nada. Mas, sinceramente, eu não me sentia à vontade para contar isso para minha mãe. Depois do almoço, meu pai veio perguntar como estavam indo meus estudos. Eu disse que estava tudo bem. Meu pai é mecânico desde que me entendo por gente. Ele trabalhou muito tempo em uma oficina que tinha em sociedade com um amigo, colado na minha casa. Foi lá que começou meu encantamento pelos motores. Mas, há seis anos, ele recebeu uma proposta de emprego muito boa. A oficina dele, na época, até ia bem, mas a concorrência era grande. Então, ele resolveu aceitar a proposta de emprego para dar uma segurança melhor para nossa família. Hoje, temos uma vida até boa. Meu pai tem seu carro, me deu uma moto assim que fiz dezoito anos, a casa em que moramos é boa, ele paga metade dos meus estudos e, no próximo ano, já vai ter direito à aposentadoria. Até que enfim vai poder descansar, já que trabalhou a vida toda.

Minha semana começou na mesma rotina. Marina estava se soltando comigo; agora já ganhava um "bom dia". Ela já usava mais a boca do que a cabeça para me responder. Eu não forçava nada; deixei ela ir se soltando aos poucos. Mas estava curiosa sobre ela e ter uma amiga lésbica seria ótimo para eu poder desabafar sobre meu problema. Mas, pelo jeito, isso iria demorar, e eu nem tinha certeza absoluta de que ela era lésbica. Eu achava que sim, por causa do pingente da sua correntinha.

Eu não conseguia tirar aquele beijo da cabeça. Quase me abri com Karen na quinta à noite. Ela me mandou mensagem no WhatsApp e conversamos um pouco. Acho que se eu ver ela novamente, vou acabar falando com ela porque eu queria muito desabafar com alguém e, pelo jeito, com Marina iria demorar.

Na sexta, estava indo dormir quando recebi uma mensagem no WhatsApp. Quando olhei, não tinha foto e não reconheci o número. Só tinha um "oi" na mensagem. Quase ignorei, mas resolvi responder. Mandei um "oi" e perguntei quem era. A pessoa respondeu que era a Daynna. Eu não fazia ideia de quem era Daynna. Só disse que provavelmente ela tinha errado o número porque eu não conhecia nenhuma Daynna. Aí não recebi resposta e resolvi dormir. Mas, um tempo depois, escutei uma notificação. Resolvi olhar e era a tal Daynna dizendo que era a garota do beijo na boate. Naquela hora, duas dúvidas vieram na minha cabeça: será que devo responder? E onde diabos ela conseguiu meu número?

Continua…

Criação: Forrest_gump

Revisão: Whisper

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Foto de perfil de Forrest_gumpForrest_gumpContos: 391Seguidores: 86Seguindo: 62Mensagem Sou um homem simples que escreve história simples. Estou longe de ser um escritor, escrevo por passa tempo, mas amo isso e faço de coração. ❤️Amo você Juh! ❤️

Comentários

Foto de perfil de Paulo Taxista MG

Outro erro parágrafo 27 conte no lugar de contei, pode ir apagando os comentários pra não deixar cheio rsrs.

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Foto de perfil de Forrest_gump

Obrigado meu amigo 🤝🏻

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Foto de perfil de Jubs Oliver

IHUUUUUUUL 🥳

Karen fez a ponte 🤩

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Foto de perfil de Whisper

Melhor personagem dessa história na minha opinião rsrs

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Foto de perfil de Leitorav

Estou gostando dessa história, já estou me identificando com a personagem principal porque ela estava vivendo a vida numa boa e foi surpreendida assim

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Foto de perfil de Forrest_gump

Se gostou de uma vai gostar da outra também, as duas se descobriram juntas 🤭

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Muito bacana o desenrolar da historia,

É a primeira vez que leio um xonto com essa temática e estou adorando.

Obrigado!

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Foto de perfil de Forrest_gump

Quando estiver sem o que ler e gostar dessa leia as outras, tem bastante coisa para ler aqui,so falta leitores mesmo 🤭

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Estou lendo, só não fico comentando muito por que as séries já estão finalizadas. Mas são ótimas.

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Foto de perfil de Forrest_gump

Só de saber que você está gostando está ótimo.

Obrigado 🤝🏻

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Foto de perfil de JESSICA ALVES

Que lindo, desenrolada viu ir atrás da menina cuida prosta outro

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Foto de perfil de Paulo Taxista MG

Eita esse final foi uma surpresa boa, tomara que elas marquem um encontro pra bater papo, pelo visto Marina passou o número pra ela, tomara rsrs. Agora vamos ver como vai ser o início de amizade dela com a Karen é a Marina, pelo visto Karen vai se soltar aos poucos.

Agora aguardar o próximo capítulo, tô gostando dessa história, comecei a ler "The L House" tô lá matando saudades daquela história.

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Acho que você trocou o nome das personagens aí mas eu entendi 🤣

Vamos ver o que acontece!

Eu releio todo ano as que já postei, não só elas como alguma que gosto muito aqui na casa

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Foto de perfil de Paulo Taxista MG

Foi sim hahaha, confudi aqui, vc tá falando em reler algum conto que já léu aqui no site, um dos autores que eu indiquei, o Bob Barbanegra eu já li várias vezes, alguns mais de 10 vezes rsrs, já que ele foi o primeiro autor aqui da casa que eu li, acabo voltando lá as vezes. É uma pena que lê parou de escrever em 2021.

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