Laine:
Aquilo não era real. Não podia estar acontecendo. Após meia hora de choque, apatia, eu precisava reagir. Beto ainda tentou me segurar, mas eu estava em ponto de ebulição:
– Não encosta em mim, seu desgraçado. Se eu não sair daqui agora, vou perder a razão e fazer uma besteira. – Ele ainda tentou se aproximar, mas eu gritei. – Sai de perto de mim, seu nojento.
Nem sei como consegui me arrumar e sair daquela casa. Eu estava arrasada, sem forças para nada. “Como ele pôde fazer aquilo comigo? Como pôde destruir a nossa família daquela forma”. Pensei, pegando o meu celular e caminhando em direção a porta. Ele não era nem capaz de me olhar. Saí batendo a porta, não sem antes falar:
– Não venha atrás de mim. Nesse momento, eu preciso de distância de você, estou com raiva, muita raiva. Não sei se consigo te perdoar.
Eu não sabia o que fazer ou para onde ir. Devo ter andado, sem rumo, por mais ou menos uma hora e, quando dei por mim, estava em frente à casa da minha mãe. Entrei, mas não havia ninguém ali. Acabei buscando refúgio no meu antigo quarto de solteira.
Naquele momento a dor me acertou em cheio, o choque deu lugar a realidade. Protegida pelas paredes da minha infância feliz, um local seguro, desabei completamente, chorando em posição fetal, sentindo fortes crises de ansiedade e desespero.
Tudo seria tão mais fácil se o meu casamento fosse ruim, se Beto fosse um mau caráter, mas não, ele sempre se desdobrou para me agradar, para superar as crises, uma traição era tão fora da realidade, que se não fosse por sua confissão, eu jamais levaria em consideração acreditar.
Destroçada, sofrendo, comecei a buscar na memória qualquer erro ou indiscrição do Beto que me desse o motivo necessário para seguir em frente e superá-lo.
“Quando nos conhecemos, ele estava fechado para o amor. Acabei sendo sua fortaleza, sua muleta e isso despertou o meu interesse. Aos poucos, de ajudante, uma mão gentil e solidária, nos tornamos amigos. Confesso que me apaixonei à primeira vista, mas ajudei de boa-fé, sem segundas intenções. O convívio diário fez a concha se abrir e Beto, aos poucos, se tornava mais alegre e receptivo a mim. Levou três meses para que ele me roubasse um beijo. E que beijo! Intenso, transcendental”.
Eu me policiava, me lembrando da traição: “Deixa de ser boba. Ele traiu, merece ser punido”. Mas logo os pensamentos me levavam de volta à verdade: Beto traiu, mas confessou imediatamente, mostrando um arrependimento verdadeiro, isso era inegável.
Por mais que eu tentasse justificar, as lembranças ruins eram culpa minha. Beto até aturou mais do que deveria. As brigas, as decepções, os erros, eram sempre cometidos por mim, por minha inocência e falsa sensação de poder sobre ele.
Nossa primeira vez foi como em uma comédia romântica, perfeita e inesquecível. Fazia seis meses que eu o ajudava com o filho e a química entre nós chegava a mudar o ambiente ao nosso redor. Naquela noite, Beto me convidou para jantar, o primeiro convite. Mas, diferente do habitual, ele iria cozinhar e servir.
A casa estava a meia luz, a mesa à luz de velas, o caminho com pétalas de rosas … eu já amava aquele homem, o desejava com toda a força do meu ser. O pequeno dormia calmamente, nos dando tempo e liberdade.
O salmão com crosta de gergelim, acompanhado pelo leve vinho tinto Pinot Noir, estava espetacular, digno de um chefe profissional. O ambiente mágico, a atmosfera envolvente, até minha música preferida tocava, I Don't Want To Miss A Thing, do Aerosmith, quando ele me puxou para dançar:
“Don't wanna close my eyes
(Não quero fechar meus olhos)
I don't wanna fall asleep
(Não quero pegar no sono)
Cause I'd miss you, babe
(Porque eu sentiria a sua falta, amor)
And I don't wanna miss a thing
(E eu não quero perder nada)
Cause even when I dream of you
(Porque mesmo quando eu sonho com você)
The sweetest dream will never do
(O sonho mais doce nunca vai ser suficiente)
I'd still miss you, babe
(Eu ainda sentiria a sua falta, amor)
And I don't wanna miss a thing
(E eu não quero perder nada)”
Foi impossível não me entregar. Era a primeira vez que um homem de verdade, um amante experiente, tomava posse sobre mim. Beto me conduzia com tamanha experiência. Minha entrega era apenas um fato consumado, impossível de ser negado.
Beto me estimulava ao ritmo da música, beijando meu pescoço, sussurrando palavras doces em meu ouvido, trazendo meu corpo de encontro ao seu. Sua barba roçando em mim era covardia, suas mãos descendo pelas minhas costas, carinhosas, o aperto delicado e irresistível na minha bunda, a pressão perfeita para que eu me apertasse mais contra ele, sentindo sua potente ereção. Naquele momento, todas as terminações nervosas do meu corpo se eletrificaram.
Eu precisava senti-lo dentro de mim, desesperadamente, precisava ser dele, pertencer a ele. Com o corpo febril, em brasa, levei a mão até o zíper de sua calça e tirei o seu pau para fora. Fiquei absolutamente encantada com o que vi: um membro grosso, de cabeça proporcional e lustrosa, o pau mais bonito que já vi na vida. Automaticamente me abaixei, abocanhando aquele membro poderoso e sentindo-o em minha boca.
Lambi, suguei, punhetei, voltei a chupar, o encarando com cara de safada, tendo a certeza de que ele curtia o meu boquete com admiração e paixão. Aquele homem era meu e eu iria fazer de tudo para que ele jamais se cansasse de mim.
Fiz com que ele se sentasse no sofá e montei sobre ele, apenas levantando meu vestido e afastando a calcinha para o lado, direcionando aquele mastro robusto para a entrada da minha xoxota. Beto me segurou pela cintura e controlou o movimento, tomando a iniciativa e me fazendo submissa aos seus desejos. Excitada como eu estava, mesmo aquela pica grossa encontrou facilmente o seu caminho para dentro de mim.
Beto me comeu de todas as formas e maneiras imagináveis. Primeiro deixou que eu cavalgasse sobre ele, me dando um orgasmo arrebatador. Depois me levou para o quarto e me fudeu com a boca e os dedos, massageando meu ponto “G” e meu clitóris ao mesmo tempo, me dando o orgasmo mais avassalador e espetacular que eu sentira na vida. Ele ainda me fodeu de quatro, muito carinhosamente, estocando com delicadeza para não forçar minha xoxota já inchada e vermelhinha. Por fim, ele ainda me deu banho e uma massagem caprichada.
Aquela noite terminou com o pedido para que eu viesse morar com eles. O pequeno já me tinha como sua mãe e a falta do meu cheiro por perto o deixava irritado e manhoso. Foi naquela mesma noite que Beto me pediu em casamento e explicou por que não deveríamos esperar. Suas palavras exatas foram:
– Quando se ama, não se deve perder tempo com convenções sociais inúteis. Você já é parte dessa família, e vê-la ir embora todas as noites é a parte mais triste do meu dia.
Eu nunca mais saí daquela casa, pelo menos, até aquele momento em que ele confessou a traição. A verdade é que não existiam memórias ruins criadas pelo Beto e eu já sabia, bem lá no fundo do meu coração, que iria perdoá-lo. Ele errou? Sim, um erro grave, mas que eu tinha certeza de que ele passaria a vida tentando compensar.
Fui tirada dos meus pensamentos por batidas na porta do quarto:
– Crislaine, é você? Tá fazendo o que aqui uma hora dessa?
Resolvi não abrir, eu ainda não estava pronta para falar com ninguém, mas precisava dar um desculpa qualquer:
– Sou eu, mãe. Briguei com o Beto, só quero ficar quieta no meu canto um pouquinho.
Por diversas vezes ela tentou me fazer sair do quarto e conversar. Durante a tarde ela até trouxe o meu irmão mais velho para tentar falar comigo, mas eu continuei ali, quietinha e refletindo, sabendo que perdoaria o Beto, mas criando a situação para que ele se sentisse ainda mais culpado pelo que me fez. Eu sabia que ele mesmo, sendo o homem correto que é, acabaria revelando a verdade para a minha família.
Mas como tudo que é ruim, tende a piorar, daquela vez não seria diferente. Por que eu atendi aquela maldita ligação? Eu recusei mensagens e chamadas de várias colegas do trabalho, do Alex, da Carina, por que resolvi justamente atender a Patrícia?
– Laine? Mandei mensagens mais cedo, por que não respondeu?
Por que fui tão ingênua, me abrindo para a pior pessoa possível?
– Você sabe, né? Sabe tudo o que aconteceu naquela maldita viagem?
Era a deixa que ela esperava:
– Sei, amiga. Paulo e eu não temos segredos, ele está muito mal com tudo isso. Se sentindo culpado.
Ela era esperta:
– Beto confessou? Paulo disse que ele o faria.
Eu me deixei envolver:
– Sim, amiga. Ele confessou. Pelo menos isso, não é?
Acabei entrando no jogo dela sem perceber:
– E você? Já tem ideia do que vai fazer? Se fosse comigo …
Inocente, fui presa fácil:
– Se fosse com você, o que faria? Perdoaria o Paulo? Se bem que vocês são liberais, acho que nem conta …
Patrícia me dominava facilmente:
– Para nós é ainda mais grave. Liberais não têm a necessidade de mentir. O prazer está na cumplicidade, na parceria. O respeito é a base fundamental do amor. Eu até poderia perdoar o Paulo, mas não sem um bom castigo, sem dar a ele um pouco do próprio veneno, de fazer com que ele sinta a mesma dor.
Eu estava um pouco perdida:
– Você está dizendo para eu pagar na mesma moeda, é isso?
Ardilosa, Patrícia me envolveu completamente:
– Claro que não! Mas agora, você tem um trunfo poderoso em mãos para barganhar. Faça com que ele aceite abrir a relação, já que era esse o seu objetivo inicial. Dê o troco, mas sem mentiras, usando a culpa dele como castigo e sem precisar descer ao mesmo nível.
Pronto! Com a semente plantada, Patrícia sabia que era hora de dar um passo atrás e deixar a natureza seguir seu curso:
– Preciso desligar, amiga! Tenho um compromisso agora, mas se precisar, não hesite em me chamar. Eu largo tudo e vou correndo até você.
Tentei demonstrar que estava bem:
– Eu estou bem, estou na casa da minha família. Ainda não tenho condições de encarar o Beto. Preciso pensar sobre tudo isso e me decidir.
Nos despedimos cordialmente e a sugestão de Patrícia ficou gravada na minha mente, martelando como um bate-estacas. Já era noite e eu nem percebi a velocidade com que as horas passaram e a porta do quarto sendo aberta pelo lado de fora. Cristian, meu irmão mais velho, acompanhado por minha mãe, brincou comigo:
– Casas antigas são maravilhosas. Todas as chaves internas são iguais.
Ele me olhou de forma mais séria:
– Acabei de voltar da sua casa, Beto me contou o que aconteceu.
Novamente, tendo minha vergonha exposta, voltei a chorar. Minha mãe rapidamente se sentou ao meu lado e me abraçou:
– Meu amor, minha caçulinha, o Beto errou e eu não posso passar a mão na cabeça dele, mas você tem certeza de que não consegue perdoar? Beto é louco por você, eu não acredito que ele apenas não te ama mais …
“É isso mesmo? Ela está defendendo o Beto?” Pensei, mas logo meu irmão também falou:
– Laine, você acha que consegue perdoar seu marido? Eu prometo ajudar, indicando um terapeuta de casais muito bom. Beto está arrasado, realmente arrependido pelo que fez. Por favor, volte pra casa, converse com ele. Eu sei que vocês se amam.
Sinceramente, comecei a me sentir desamparada vendo todos ao meu redor, os que deveriam me proteger, me pressionando a perdoar o Beto. As palavras de Patrícia começaram a fazer cada vez mais sentido. Beto mesmo disse que errou e aceitava as consequências, mas naquele momento, eu começava a me sentir a errada, a culpada pela traição que sofri.
Sem acreditar naqueles dois, apenas me levantei e fui ao banheiro lavar o rosto. Se continuasse ali, eu não teria paz. Pensei em ligar para a Patrícia e pedir que ela me ajudasse, mas lembrei que ela estava em um compromisso e não quis atrapalhar. Eu não tinha outra saída, precisava voltar para casa.
Peguei o celular e pedi um carro de aplicativo. Meu irmão me encarava e eu mostrei a ele o pedido de corrida:
– Satisfeitos? Estou voltando pra casa.
Minha mãe me abraçou:
– Nós só queremos o seu bem, sabemos que você ama seu marido.
Meu irmão fez todo um discurso sobre perdão e família, sobre dificuldades e perseverança, que sinceramente, entrou em um ouvido e saiu pelo outro. Por sorte, o carro chegou em poucos minutos e a corrida foi rápida.
Parada em frente de casa, avaliando como eu lidaria com a situação daquele momento em diante, eu pensava: “Eu apenas o perdoaria? Seguindo em frente com nossas vidas e tentado voltar a confiar em Beto algum dia? Eu o castigaria com um longo tratamento de silêncio, não deixando que ele me tocasse e mostrando a ele o quanto ele me feriu?”. O conselho da Patrícia continuava martelando a minha mente e finalmente, após vários minutos de indecisão, entrei em casa.
Alheia a tudo, fui direto até o quarto do pequeno e o abracei, me deitando junto com ele em sua cama. Ele dormia profundamente, mas instintivamente, retribuiu o meu abraço, se aninhando em mim. Fiquei ali por um bom tempo, tentando encontrar naquele pedacinho inocente de gente, a força que eu precisava para seguir adiante. Podemos não ter o mesmo sangue, mas eu sou a sua mãe, eu o criei e jamais poderia abandoná-lo de uma hora para outra.
Finalmente ouvi barulho na cozinha e me levantei. Era hora de encarar o Beto, saber se existia mais alguma coisa a ser dita. Mas antes, eu precisava muito de um banho. Subi as escadas tentando não o alertar, mas nossos olhares acabaram se encontrando no meio do caminho. Ele estava um trapo, com o semblante cansado, olhos vermelhos e olheiras profundas. Eu não deveria estar muito diferente. Apenas segui em frente, fazendo sinal para que ele não se aproximasse. Ele respeitou o meu pedido e voltou para o que estava fazendo.
Aquele deve ter sido o banho mais demorado que eu tomei na vida, aproveitando para repensar e avaliar cada passo que eu daria ao sair daquele banheiro. Aproveitei para caprichar no pós banho, abusando dos cremes, querendo que Beto sentisse o quanto ele tinha a perder. Coloquei meu pijama mais safado, um shortinho e top minúsculos, transparentes, deixando seios e xoxota a mostra, pronta para descer e confrontá-lo. Eu queria que ele sofresse e ao mesmo tempo, me desejasse. Nenhuma mulher tinha o poder de tirar o meu Beto de mim. Meus sentimentos eram incoerentes e conflitantes.
O conselho de Patrícia ainda martelava em minha mente e só naquele momento eu me dei conta de que nem sabia com quem Beto me traiu. Mandei uma mensagem a ela:
“Você sabe quem é a mulher com quem Beto ficou? Pode me mandar uma foto?”
A resposta foi rápida. A mesma foto que ela mostrou na quarta à noite, do Beto dançando com duas morenas, uma delas com o rosto destacado pela edição e um nome: Samanta.
Imediatamente me lembrei das palavras de Carina e Silvana na noite anterior. Só poderia ser a mesma Samanta. Todos os sinais vermelhos estavam ali, mas a raiva não me deixava enxergar o óbvio. Acredito que o remorso e a culpa tenham feito a mesma coisa com Beto, o impedindo também de desconfiar.
Sinceramente, Samanta era uma mulher bonita, mas não mais do que eu. Eu ainda era mais nova e mais gostosa e imediatamente entendi que ela não era uma ameaça, apenas um empecilho na minha vida. Eu não iria entregar o meu marido de bandeja, mas também, não iria aliviar nem um pouco para ele. Ele merecia o que estava por vir.
Desci sem fazer barulho e o encontrei encarando um sanduíche tostado de queijo e presunto. Sem cerimônias, me sentei de frente para ele e roubei o sanduíche:
– Por sua causa, passei o dia inteiro sem conseguir comer. Estou faminta.
Pude sentir um brilho de esperança brotar em seu rosto, mas logo o fiz voltar a realidade:
– Eu quero que você me conte tudo, desde o começo, tin, tin por tin, tin, sem pular nada.
Beto começou a preparar um segundo sanduíche, relatando detalhadamente tudo o que ele lembrava, mas insistindo que não tinha uma única memória sobre a traição. Ele me serviu refrigerante e também o segundo lanche, voltando a se sentar, sempre me olhando nos olhos e passando total credibilidade. Eu conheço o meu marido, e mesmo que estivesse brava, não tinha motivos para duvidar de sua honestidade.
Eu ouvia sem interromper e ele não se desviou do assunto ou tentou diminuir a gravidade de suas ações em momento nenhum. Beto foi de uma honestidade dolorosa, me fazendo duvidar da sua própria confissão. A todo instante ele voltava a declarar seu arrependimento e o amor que sentia por mim, me dando total liberdade para decidir o futuro da nossa relação.
Assim que ele terminou, enquanto eu pensava no que fazer, comecei a provocá-lo, andando de um lado para o outro, exibindo meu corpo, me sentando com as pernas abertas e dando visão total a ele. Seus olhos me seguiam, confusos, intimidados, sem coragem de avançar ou tomar qualquer atitude. Era chegado o momento e eu não fiz rodeios:
– Sua sorte é que eu te amo mais do que tudo nesse mundo. Vou acreditar que você estava fora de si, que o álcool o induziu, mas …
Beto, com um pequeno sorriso de esperança nascendo em seu rosto, me encarava ansioso. Eu continuei:
– Mas eu quero o mesmo direito. Você me deve isso. Eu quero a oportunidade de também estar com outra pessoa e quero fazer isso junto com você. É o mínimo que você pode fazer para me compensar. Você já fez isso sem mim, mas eu quero fazer com você.
Senti o sorriso sumindo lentamente a cada palavra que entrava em seus ouvidos.
{…}
Beto:
De todos os cenários que eu imaginei, aquele, de acordo com Carina, seria o mais provável. Ela tinha me alertado. Eu já esperava, mas mesmo assim, ainda não me sentia preparado. Eu poderia dar um fim no meu casamento, evitando aquela situação, sabendo que, no final das contas, o traidor era eu e por orgulho, não quis assumir as consequências dos meus atos.
Eu ainda não entendia como Carina poderia estar tão certa, mas ela apenas me pediu para confiar, dizendo que em breve eu entenderia. Ela me prometeu que cuidaria da Laine e tentaria “educá-la” naquele mundo da melhor maneira possível. Mas, por que tanto mistério?
Laine ainda tinha mais a falar:
– Eu não quero pagar na mesma moeda, descer a esse nível e iniciar a destruição do nosso casamento. Se você me ama, vai aceitar minhas condições e nós iremos juntos.
Eu tinha apenas uma pergunta:
– Essa é a condição para você me perdoar e a gente seguir em frente?
Laine foi mais honesta do que eu esperava:
– Sim e não. Não é uma condição e eu sei que posso estar apenas sendo uma aproveitadora, uma chantagista, mas não é essa a minha intenção.
Pela primeira vez, Laine se aproximou de mim:
– Eu só estou sendo honesta com você, dizendo o que sinto. Se estamos colocando todas as cartas na mesa, então essa é a minha jogada. Eu te amo, sempre vou amar, mas estou profundamente enojada pelo que você fez. É a situação que provoca a dor, fazer pelas costas, você não precisava disso.
Eu também não podia me anular completamente e aceitar qualquer coisa calado e Laine entendeu, sendo mais rápida do que eu, dizendo:
– Me deixe entender melhor tudo isso e escolher o momento. Quando chegar a hora, você decide e então tomamos a decisão final.
Apesar de tudo, a forma honesta e decidida com que Laine expôs tudo o que pensava, me deu um pouco de segurança. Era hora de avaliar toda a situação e tomar minhas próprias decisões também. Por mais que a amasse, eu jamais me deixaria ser manipulado e se o preço fosse o fim do meu casamento, eu tentaria encerrar aquela parte da minha vida de cabeça erguida. Minha cota de erros já estava saturada.
Por alguns dias, ainda ficamos estranhos um com o outro, mas a convivência acabou sendo pacífica. Laine e eu, aos poucos, começamos a voltar a nossa rotina. Não fizemos amor, mas começamos a trocar beijos e carinhos.
Atolado com a montagem da estrutura da nova empresa, a saudade acabou vencendo e no final do sétimo dia, nós nos amamos com uma saudade imensa, um desejo acumulado.
No final de semana, uma nova viagem surgiu, mas escaldado, a primeira coisa que fiz foi convidar minha esposa para me acompanhar. Não era longe e eu teria bastante tempo para a minha família. Aquela feira específica do ramo, era a oportunidade para uma fuga da rotina.
Laine parecia animada e no sábado, enquanto eu fazia meus contatos na feira, ela aproveitou a piscina do hotel. À noite jantamos em um ótimo restaurante e fizemos amor apaixonados.
No domingo, a rotina da viagem seguiu, mas um encontro inusitado acabou mudando os meus planos. Eu já me preparava para voltar ao hotel, precisávamos voltar para casa, quando encontrei uma antiga amiga e parceira profissional. Feliz por me ver, Fernanda era só sorrisos:
– Beto? É você mesmo? Não acredito.
Fernanda é uma linda loira, mas que aparenta ter metade da idade que possui. Retribui seu abraço e perguntei por Armando, seu marido:
– Há quanto tempo, hein? E como está o Armando, ele está por aqui? Nunca mais nos encontramos.
O sorriso de Fernanda sumiu imediatamente:
– Você não sabia? Nos separamos, já tem quase quatro anos.
E concluiu:
– Aquele desgraçado me traiu, mas eu o depenei no divórcio. Ainda bem que o meu pai me convenceu a assinar o acordo pré-nupcial.
Senti o celular vibrar e era Laine me apressando. Após a gafe, tentei ser educado, passando meu número e me desculpando:
– Precisamos marcar um almoço, está morando por aqui, ou só visitando a feira?
Fernanda estudou comigo e éramos grandes amigos durante a faculdade. Inclusive, tivemos um longo rolo, mas que sempre foi baseado em diversão, uma amizade colorida. Me surpreendi ao saber que ela estava de volta a minha cidade, pois ao se casar, ele se mudou para o outro lado do país.
Eu precisava muito ir embora, Laine trabalhava no dia seguinte e precisávamos chegar cedo em casa, ainda tínhamos que buscar o pequeno na casa da mãe dela. Me despedi explicando a situação e combinando um almoço para o dia seguinte com Fernanda.
O que nem eu e nem a Laine esperávamos, eram os planos que o destino tinha para as nossas vidas. As coisas iriam mudar rapidamente e logo as nossas escolhas cobrariam o seu preço.
Continua ...