Bernardo [31] ~ TEMPESTADE

Um conto erótico de Bernardo
Categoria: Gay
Contém 2108 palavras
Data: 05/12/2023 10:07:01
Assuntos: Gay, Início, Sexo, Traição

É muito comum o dito popular que há sempre a calmaria que antecede a tempestade, e eu acredito nisso. Essa é a melhor explicação para as primeiras semanas do segundo semestre de 2006.

Dentro do possível, estava tudo na mais perfeita ordem. Passado a euforia inicial, Laura parecia ter esquecido do fato de eu ser gay e voltou a sua rotina dentro da bolha. Pedro, mesmo muito magoado ainda, resolveu dar um tempo de Alice e se afastar dela. Ele passou a evitá-la de todos os modos possíveis, e ela parecia confortável com isso. Eu e ela não chegamos a realmente fazer as pazes, simplesmente retomamos nossa amizade de onde ela tinha parado. Sim, não conversar sobre tudo aquilo que tínhamos dito um ao outro era adiar uma próxima briga, mas acabamos optando pelo caminho mais fácil. E quanto a Rafael...

Rafael queria sempre mais de mim. Ele queria ser meu namorado de fato, não meu namorado secreto. Ele queria escancarar nossa relação. Mas eu era determinantemente contra isso e ele sabia, e por isso fazia de modo sutil, quebrando barreiras por barreiras. E contava com a ajuda da minha irmã para isso.

_Então, eu te vejo à noite?_ perguntou.

Eu suspirei em resposta. Estávamos brigando por causa daquilo a semana toda.

_Rafa...

_Eu já disse que vou, sim, apesar dos seus protestos. É aniversário de casamento dos seus pais, oras. Tenho que prestigiar meus sogrinhos.

_Se eles soubessem que são seus “sogrinhos”, nem eu estaria convidado.

_Sua irmã já falou que vai muita gente, inclusive amigos dela. Por que você não pode levar um amigo seu?

_Porque você não é meu amigo, é meu namorado. E se eles desconfiarem?

_Se não nos pegarem nus de pau duro como sua irmã, não têm porque desconfiarem da gente.

_Rafa...

_Bernardo!

Ele já estava perdendo a paciência comigo.

_Poxa, amor! Eu quero conhecer seus pais e seus irmãos. Eu quero fazer parte da sua vida.

_Mas, eu...

_Você tem medo de descobrirem, eu sei. Mas eles não vão descobrir. Aos olhos deles eu serei apenas seu amigo.

_Eu não conheço sua família também._ respondi tentando reverter o jogo.

_Porque você nunca mostrou o mínimo de interesse nisso! Te apresento a hora que você quiser. E te apresento como meu namorado!

Era só o que me faltava.

_Não! Você enlouqueceu? Você contou para eles que é gay?

_Não, porque não vi necessidade até hoje. Mas eu não tenho problema com isso. Se aceitarem bem, mas se não aceitarem, paciência.

_Não é assim que o mundo funciona, Rafa.

_Se ninguém se rebelar contra o modo como o mundo funciona, ele nunca vai mudar, e seremos eternos reféns.

Era esse tipo de discussão que minava meu namoro com Rafael. Tínhamos visões de mundo muito diferentes. Não estávamos seguindo para o mesmo caminho. Ou alguém fazia uma grande correção de rota, ou não existia futuro ali. Eu tinha consciência disso e tentava ceder o máximo que eu conseguia para prolongar nosso namoro.

_Ok, Rafa. Não vamos brigar por causa disso. Você pode ir à festa dos meus pais.

_Não estou te pedindo permissão, sua irmã já tinha me convidado._ falou meio brincando, meio sério, mas decidi ignorar.

Cruzei minhas mãos sobre a cabeça e fiquei admirando o meu reflexo nu naquele espelho no teto. Eu estava crescendo. Não no sentido restrito do termo, mas eu estava ganhando ares de um cara mais velho. Minha barba começa a crescer com uma frequência maior, deixando mais difícil a tarefa de mantê-la bem feita. Eu estava ganhando braços e pernas mais firmes, apesar de não haver ganhos visíveis de músculos. Linhas leves de cansaço iam aparecendo no meu rosto. Aquilo tudo era resultado da loucura que minha vida tinha se transformado. Eu vivia numa eterna maratona para equilibrar todos os meus personagens, e meu corpo começava a cobrar seu preço.

_Um beijo pelos seus pensamentos._ falou Rafael se inclinando sobre mim e me dando um beijo calmo.

_Pensando em como deixei você me transformar numa pessoa que frequenta motéis baratos de três a quatro vezes por semana.

_Era isso ou o matinho na faculdade._ respondeu rindo.

Ele foi descendo e beijando cada parte do meu corpo no caminho. Ele começou dando beijos no meu pescoço e ombros. Logo passou para os mamilos, onde ele intercalava mordidas e chupões, me fazendo soltar contidos suspiros de prazer. Ele foi descendo pela minha barriga me arranhando com sua barba por fazer, o que me causava arrepios. Ele começou o sexo oral pelo meu saco, engolindo cada bola de uma vez. Só então passou para o meu pau, mas fez de modo gentil. Ele lambia devagar o corpo do meu pau e dava suaves beijos na cabeça. Então ele começou a chupar de fato, várias vezes engolindo todo o meu membro. Eu delirava de prazer e gemia sem ligar para o fato de alguém pudesse ouvir.

_Me dá a camisinha._ ele pediu e entreguei.

Ele vestiu a camisinha e começou a me penetrar. Desde que passamos a frequentar motéis, transávamos várias vezes por semana, sempre nas mais diversas posições. Assim, não havia necessidade de ele me penetrar com tanta calma e cuidado, mas aquela vez era diferente. Sempre fazíamos sexo: aquele sexo com suor, com arranhões, com mordidas e com fetiches. Mas não naquela tarde de sexta-feira. Estávamos fazendo amor. Eu o prendia entre as minhas pernas enquanto ele me penetrava. Ele me abraçou com força e me beijou. Era beijo incendiário, ainda que muito romântico. Ele mexia só a sua pélvis, de modo que mal pude sentir nosso gozo chegar.

Eu amava Rafael, não duvidem disso. Eu o amava de uma maneira como não amei mais ninguém na vida. Agora se me perguntarem o que eu mais amava em Rafael, eu responderia: ele me amava. Eu amava ser amado por ele. Eu o permiti me ver por inteiro, sem disfarces e sem personagens, e ele me amou mesmo assim. Apesar de todos os meus defeitos, imperfeições e inseguranças, ele me amava. Isso é lindo, mas não é o bastante para sustentar um relacionamento. Eu não poderia amá-lo por me amar, precisava ter alguma coisa além. E foi por isso que nosso namoro não daria certo. Assumo toda a culpa. Naquele momento, eu não poderia dar o amor que ele queria e isso por simplesmente não me amar. Eu achava lindo o fato de alguém me amar como sou, mas eu não era capaz de me amar como eu era. E era isso que me impedia de melhorar, de superar os meus defeitos e meus medos. Era isso que me impedia de me tornar o namorado que Rafael merecia. Eu não me amava, e enquanto não aprendesse como, eu não seria capaz de amar alguém como se deveria.

Após o gozo, Rafael caiu sobre mim e eu abracei seu corpo contra o meu. Não dissemos nada, apenas aproveitamos o som dos nossos pulmões lutando para recuperar o fôlego. Só aquele som já era o bastante para nos contentar naquele momento. Nada de correr para o banheiro para tirarmos aquele suor do corpo ou jogar conversa fora. Nós apenas ficamos ali, aproveitando aquele momento. Parecia que prevíamos que era um dos últimos instantes antes do fim.

[...]

Naquela noite de 22 de setembro de 2006, meus pais completavam vinte e cinco anos de casados. Minha mãe planejava a festa há quase um ano, apesar de papai não parecer tão empolgado assim. Era um evento semi-formal: numa casa de festas, com todos vestidos em trajes esporte-fino, mas sem grandes mesas de convidados, todos em pé e circulando. A idade média da festa era acima de 35 anos, o que me aborrecia, pois não tinha ninguém para conversar, apenas meus irmãos e meus primos. Não demorou muito e Rafael chegou acompanhado de Alice. Ele sorria de longe ao me ver e o medo de ele fazer alguma coisa errada logo surgiu. Ele veio na intenção de me abraçar, mas eu fui mais rápido e lhe ofereci a mão para me cumprimentar. Seu sorriso se desmanchou um pouco, mas ele tentou disfarçar e me cumprimentou como um velho amigo.

_Você está lindo!_ falou baixo para que só a gente escutasse.

Eu, como minha mãe exigiu, estava usando um terno completo grafite com uma gravata preta. Meu cabelo tinha sido cuidadosamente cortado e moldado com muita mousse pelo seu cabeleireiro de confiança, que aproveitou para corta minha barba de modo tão rente que parecia o rosto de um bebê.

_Você também!

Rafael usava uma calça jeans bastante discreta, com camisa e blazer pretos. Ele parecia um ator adolescente saído de uma foto de tapete vermelho direto para as páginas da revista Capricho. Eu não entendia como um garoto como ele poderia se apaixonar por mim.

_Alô?_ falou Alice.

Ela também estava muito bem arrumada, com um vestido preto de paetês que descia até seus joelhos. Ele tinha mangas curtas e nenhum decote, de modo que podia parecer uma camisa grande demais, mas acabava funcionando e lhe dando um ar de sofisticação. Seus cabelos estavam presos num rabo de cavalo. Combinava muito bem com seu visual despojado, mas ao mesmo tempo era chique.

_Oi, Alice. Você também está muito bonita._ falei.

_Obrigado._ respondeu pegando uma taça de champagne do garçom que passava por nós _Você também não está de se jogar fora, até parece gente.

_Obrigado pela parte que me toca.

_Conheci seus pais lá na porta._ falou Rafael _Você é uma mistura metade-metade do seu pai e da sua mãe.

_Obrigado, eu acho.

[...]

Eu conversava distraído com Alice e Rafael quando meu pai me abordou.

_Preciso de um favor, Bernardo.

Percebi que os dois se encolheram um pouco na presença dele. Meu pai realmente podia amedrontar quem não o conhecia bem o suficiente.

_Mais fotos? Mas a mamãe falou que não precisava de mais!

_Não é isso. Chegaram dois novos clientes meus muito importantes, e trouxeram também seu filho, que tem a mesma idade que você.

_Ah, pai, eu não sei fazer essas coisas. Me entrosar com pessoas novas.

_Eu estou te pedindo.

Pelo tom que ele usou, estava mandando, então achei melhor não discutir.

_Ok, pai. Eu converso com o menino.

_Obrigado, vou trazê-los aqui._ e saiu andando.

Rafael e Alice, que ficaram mudos durante a presença do meu pai, voltaram a se aproximar.

_Parece que o Bernardo vai ganhar um novo amiguinho._ comentou Alice.

_Contanto que não seja mais do que um amiguinho._ completou Rafael.

_Claro, porque vou sair te pondo chifres com um carinha que acabei de conhecer na festa de bodas de prata dos meus pais.

_Pelo sim ou pelo não, meus olhos estão bem abertos.

Meu pai retornou seguido por um homem alto e calvo com um olhar de superioridade e uma mulher muita branca e muito loira com um beleza fria. Atrás deles, eu não conseguia ver seu filho.

_Bernardo, esses são Karin e Arnaldo._ falou meu pai nos apresentando _E esse é o filho deles, Eric.

Quando o garoto saiu de trás das três figuras, Alice soltou um gritinho de surpresa. Sim, era o mesmo Eric que tirou minha virgindade, que estudava comigo, que me traiu com Rafael (e traiu Rafael comigo) e com quem eu mantinha uma amizade secreta há alguns meses.

_Eric!_ falou Alice, ainda surpresa.

_Vocês se conhecem?_ perguntou meu pai.

Eu, ainda atordoado com a surpresa, respondi:

_Sim, ele estuda com a gente.

_Olá, Bernardo._ falou Eric, visivelmente tão surpreso quanto nós _Oi, Alice. Oi, Rafael...

_Ah! Claro!_ falou a mãe de Eric com um leve sotaque na voz _Não é o Bernardo que está com você naquela foto no fundo de tela do seu computador?

Eu arregalei os olhos e Eric desviou o olhar envergonhado.

_Sim, mãe, é ele..._ respondeu.

A mulher se virou para o meu pai:

_Eric conta que Bernardo e ele são ótimos amigos! Desde que nós nos mudamos para cá, Eric não fez muitos amigos, então se apegou muito ao seu filho.

_Que bom._ respondeu meu pai sem desconfiar do péssimo clima que estava instalado _Vamos deixar eles conversarem em paz, então. Venha, vou lhes servir um drinque.

E lá ficamos nós quatro, eu, Eric, Alice e Rafael. Ninguém falava nada, o que só servia para deixar o clima pior a cada instante.

_Mas vejam como a vida gosta de pregar peças!_ brincou Alice.

Só então me permiti encarar Rafael. Seus olhos vermelhos encaravam a mim e a Eric lado a lado.

Lá fora, uma chuva forte começou a cair sentenciando o começo da primavera. A tempestade havia chegado.

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Uau! Eta mundo pequeno! Provavelmente teremos fortes emoções.

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