Dezembro chegou muito rapidamente. O ritmo do meu curso se acelerou e fez com que o semestre passasse muito rapidamente. A minha vida caiu numa estranha rotina, e eu não sabia se aquilo era algo bom.
Rafael, completando o término do nosso namoro, se afastou de mim quase que por completo. Ele passou a sentar do outro lado da sala e fazer novas amizades. Duas em especial: Marcos e Carolina. Marcos era um rapaz negro, forte, cabeça raspada, olhos muito negros e sorriso muito branco. Ele parecia saído de um comercial. Ele era um tanto quanto fechado e quieto, mas não tímido, contrastando com a personalidade de Rafael. Ele fazia um sucesso enorme com as meninas, só podendo rivalizar com Pedro. Carolina era uma menina extremamente graciosa. Morena, cabelos castanhos e olhos bem marcantes. Ela tinha um corpo perfeito que deixava todos os homens babando por ela. Ela tinha uma personalidade mais expansiva, um tanto que meio falsa às vezes em minha opinião. Marcos e Carolina eram amigos desde o primeiro dia de aula, tendo chegado até mesmo a ficar um tempinho antes de estabelecerem amizade. E naquele mundinho deles, de fotos em festas muito caras e com muita gente bonita, eles aceitaram a entrada de Rafael. Obviamente, eu me roí de ciúme. Por mais que Marcos fosse claramente hétero e Carolina fosse, bem, uma garota, eu tinha muito ciúme da proximidade deles com Rafael. Rafael era meu. Eu tinha ciúme de qualquer um que pudesse me substituir como seu melhor amigo, como aquele sempre escutava sobre o seu dia e seus sonhos. Eles não viraram super amigos de um dia para o outro. Todos nós sempre nos falamos, desde o início do curso. Mas Rafael era uma pessoa especial, uma pessoa que todos queriam sempre ter por perto. Então, formou-se aquele trio especial. Falo dos dois porque vão ser importantes na história.
De resto, a minha rotina continuava a mesma: eu pegava meninas com Pedro, transava com Eric e escutava Alice reclamando para mim o quanto eu estava errado.
_Isso vai acabar mal!
_Muda o disco, Alice.
_Eu não consigo! E como ficar vendo uma criança tentando atravessar uma avenida sozinha. Você sabe que não vai dar certo e precisa agir.
_Okay, eu já sei a sua opinião sobre o assunto. Aprecio muito sua preocupação. Mas enquanto estiver dando certo, eu vou continuar assim.
_Dando certo? Onde, pelo amor de Deus, isto está dando certo? Você continua transando com o Eric!
_Fala baixo!
Estávamos no meu quarto estudando, mas minha família estava pela casa, poderia escutar.
_Eu devia era gritar pra você parar de jogar sua vida no lixo assim.
_Não estou jogando minha vida no lixo.
_Está! Poderia estar aí feliz da vida com Rafael numa boa, ou mesmo trepando com meninos por aí. Mas não, tá trepando com meninas sem vontade na companhia do Pedro. Se isso não é jogar sua vida fora...
_Quem disse que eu não tenho vontade?
_Você tem dezoito anos, seu pau sobre pra qualquer coisa, não vale!
Ri em resposta, mas ela continuou no tom de bronca.
_Mas não é a mesma coisa, é?_ perguntou me encarando com um sorriso sacana _Se não você não corria pro quarto do Eric toda vez.
Era verdade e ela sabia, mas não tinha porque dar razão a ela.
_São duas coisas diferentes.
_Não são, não. Você tá virando um daqueles hipócritas que tem família e dorme com garotos escondido na calada na noite.
_Enfim, você pode não concordar, mas eu estou confortável com isso.
_Confortável eu sei que você está, a questão é se você está feliz.
Ela me olhou com intensidade me desafiando pela resposta. Mas antes que eu fosse obrigado, minha mãe apareceu na porta nos chamando para jantar.
[...]
Eu estava deitado de barriga para baixo na cama nu. Eric, de cueca, estava sentado em cima da minha bunda e me massageava. Ele apertava os nós do meu pescoço e descia a mão pelos meus ombros. Um pouco mais, e suas mãos continuavam descendo pelas minhas costas até chegar à base e parar ali. Ao mesmo tempo que eu estava ficando relaxado, eu ia ficando também muito excitado com seu toque firme.
_Era pra ser uma massagem..._ falei quando ele pousou as mãos na minha bunda.
Ele riu, mas não respondeu nem interrompeu o movimento. Ele agarrou com firmeza a minha bunda enquanto a massageava. Ele alongou seus dedos pela lateral das minhas nádegas. Ele então as contornou com um toque leve e parava no alto da parte interna da minha coxa, massageando a região com força. Não demorou muito, senti o seu primeiro dedo entrar dentro de mim. Dei um suspiro abafado, mas não reclamei. O segundo e o terceiro dedo não demoraram.
_Gosto de ser massageado por dentro?_ ele perguntou safado.
_Uhum.
Era muito prazeroso. Eu sentia seus dedos me penetrando com muito cuidado, me estimulando. Não demorou muito mais e ele trocou seus dedos pela sua língua. Ele me devorava e me deixava em êxtase. Eu até mesmo empinei a bunda inconscientemente. Ele fazia aquilo com uma vontade louca. Era naqueles momentos que eu tinha certeza que mulher nenhuma poderia me dar aquele prazer.
Eric pegou meu pau por debaixo do meu corpo e começou a me chupar. Ele alternava entre meu pau e minha bunda, o que me deixava louco. Vi ele se levantar, ir ao criado-mudo, pegar uma camisinha e vestir nele mesmo. Ele lambuzou seu pau com lubrificante e começou a me penetrar. Não foi muito difícil, apesar da posição não ajudar. Ele se deitou todo o seu corpo sobre mim e começou a mexer apenas a cintura me penetrando. Ele foi aumentando a velocidade enquanto dava beijos na minha nuca. Eu gemia alto, sem medo de que alguém nos ouvisse naquele apartamento sempre tão vazio. Gozamos praticamente juntos.
Após recuperarmos o fôlego, fomos tomar banho. Peguei o sabonete, mas ele tomou da minha mão. Olhei para ele sem entender.
_Hoje, eu vou te dar banho.
Eu deixei que ele o fizesse. Ele ensaboou as mãos e começou a deslizá-las por toda a extensão do meu corpo. Ele me olhava muito intensamente enquanto fazia aquilo, o que me incomodava. Ele me amava e eu não o amava. Aquilo era um peso enorme na minha consciência. Era como se eu estivesse enganando aquele garoto. E eu tinha ciência disso.
_É melhor eu já ir, Eric._ falei enquanto saía do box e me secava.
Era o que eu sempre fazia. Quando ele chegava perto demais, eu dava um jeito de fugir. E eu era sempre premiado com seu olhar triste. Toda vez eu me prometia que eu me afastaria dele e o deixaria viver sua vida em paz, mas eu não conseguia. O desejo sempre me batia e eu voltava para ele.
_Espera, Bernardo._ ele falou ao sair do box também _Eu tenho uma coisa para te dar.
_O que é?
Ele puxou pela mão ainda nus em direção a sala da sua casa. Na sua árvore de natal, ele pegou um presente e me entregou.
_Para mim?_ perguntei surpreso.
_Já que você vai viajar para o sítio da sua avó amanhã, queria te entregar antes.
Eu fiquei sem jeito. Eu não esperava um presente.
_Achei que trocaríamos quando voltássemos. O seu ficou lá em casa.
Era mentira, eu não tinha comprado nada para ele. Eu tinha comprado apenas para meus pais, meus irmãos, minha avó paterna e para Alice. Ao sair dali, passaria no shopping e compraria alguma coisa.
_Certo, mas vai, abre!_ ele parecia excitado.
Abri o embrulho com cuidado e me surpreendi com o DVD de uma das minhas bandas favoritas.
_Uau!_ falei surpreso e feliz pelo presente _Como você conseguiu isso? Não vendem no Brasil!
Ele riu da minha excitação. Vi seus olhos brilharem como se fosse ele mesmo que tivesse ganhado o presente. Então, eu me senti ainda mais culpado, por não ter lhe comprado um presente, por não poder lhe dar amor...
_Pedi para um conhecido que estava em Nova York me enviar. Gostou?
_Eu adorei!
_Que bom que eu acertei. Assiste aqui comigo?
Eu queria muito dizer que não, mas eu não consegui. Eu tinha que lhe dar pelo menos aquilo, pelo menos uma migalha de amor. Eu não podia abandoná-lo assim.
_Claro.
Ele quase pulou de alegria quando eu disse que sim.
_Vai ligando o DVD, eu só tenho que ir ao banheiro rapidinho.
_Certo.
Ele voltou poucos minutos depois e se sentou ao meu no sofá. Ele encostou sua cabeça no meu ombro, mas logo tirou. Depois ele deitou a cabeça no meu colo, mas logo se levantou também. Por fim, ele se contentou em ficar segurando minha mão. Era tudo parte da migalha de amor que eu me permitia dar a ele. Mas ele estava diferente, muito inquieto, como se algo o incomodasse. Assumi que era alguma coisa que ele queria me dizer. Quando o DVD terminou e eu me vesti para ir embora. Ele parou na minha frente e ficou me encarando. Havia alguma coisa de diferente no seu olhar, mas eu não soube identificar o que era. A tristeza ainda estava lá, mas havia algo mais.
_Podia ser sempre assim..._ ele falou enquanto me apertava num abraço.
_Eric...
Aquilo era demais para mim. Eu não era seu namorado. Eu não o amava. Eu mal o tinha como amigo. Ele não podia se agarrar a mim daquele jeito tão desesperador. Era como ver aquela criança atravessar a avenida sozinha. Era sufocante!
_Eu sei, Bernardo._ ele falou ainda me abraçando _Você não me ama. Tudo bem, eu sei. Eu amo por nós dois. Não me importa se você ainda ama o Rafael, ou se você vai se casar com alguma menina por aí, eu ainda vou estar aqui. Eu sempre vou estar aqui te esperando. O amor é isso, afinal.
Eu não tinha como responder aquilo. Eu, sem nem mesmo entender bem o porquê, comecei a chorar e o abracei de volta. Beijei o alto da sua cabeça sem me importar como aquilo soaria para ele.
_Eu queria tanto curar o seu sofrimento..._ falei com a voz embargada.
_Você o alivia. Para mim, basta._ respondeu com a voz abafada contra meu corpo.
Eu não sei quanto tempo ficamos abraçados ali naquela sala. Era como se soubéssemos que era a última vez que nos veríamos. E, talvez, penso até hoje, ele realmente soubesse. Nós nos despedimos com aquele abraço.
[...]
Cumpri minha promessa a mim mesmo e fui ao shopping comprar o presente de Natal de Eric. Lembrei da foto que tínhamos juntos e que ele usava como fundo de tela do computador, a mesma que provocou a briga com Rafael. Eu tinha uma cópia dela no meu pendrive. Mandei imprimir uma cópia dela em tamanho grande e a coloquei num lindo porta-retratos de vidro e alumínio. Fui para casa satisfeito por ter comprado o presente dele, um presente que ele ia adorar receber. Mas, claro, ele nunca recebeu o presente.
[...]
Eu, meus pais e meus irmãos fomos passar o Natal no sítio da minha avó paterna numa cidade próxima a Belo Horizonte. Na noite de Natal, enquanto todos se comemoravam, eu me afastei um pouco. Liguei desejando um bom Natal para Alice e Pedro. Liguei para Eric, mas ele não atendeu de primeira. Então, tomei coragem e disquei o número da casa de Rafael. Uma mulher, que julguei ser a sua mãe, atendeu:
_Alô?
_Boa noite, eu gostaria de falar com Rafael.
_Quem gostaria?
_Fala que é o Bernardo, seu colega de faculdade.
_Ah.
Ela fez como se hesitasse um pouco ao telefone. Depois de um breve silêncio ela respondeu que ele não estava de um modo um tanto quanto frio. Eu me perguntei se ela seria sempre assim.
Tentei ligar novamente para o celular de Eric, mas ele não atendeu. Tentei mais algumas vezes antes de desistir. Fiquei com uma sensação ruim. Eric nunca deixava de atender minhas ligações, independente de quando eu ligasse. Por fim, resolvi apenas lhe deixar uma mensagem de feliz Natal. No dia seguinte, ele não respondeu a mensagem, o que me deixou ainda mais encucado. Nos três dias seguintes, eu lhe mandei mais algumas mensagens, já preocupado com ele. Era como se eu te algum modo previsse que alguma coisa de muito ruim tivesse acontecido.
Indo embora no carro com meus pais no dia 30, meu celular acusou um número estranho no visor. Atendi curioso.
_Alô?
_Falo com Bernardo?_ perguntou uma mulher com a voz quebrada, como se a tivesse gastado muito nos últimos dias.
_Sim. Quem é?
_É Karin. A mãe de Eric.
Uma sensação completamente inédita tomou conta do meu peito. Era como se tivessem me tirado o chão de repente. Era como cair de um abismo e sentir a gravidade pesar embaixo de mim. Se antes eu já suspeitava que alguma coisa terrível tinha acontecido, naquele momento eu tive certeza.