Bernardo [56] ~ Coração Partido

Um conto erótico de Bernardo
Categoria: Gay
Contém 1911 palavras
Data: 05/12/2023 16:30:52
Assuntos: Gay, Sexo, Início, Traição

Alguma coisa mudou no meu namoro com Ricardo depois que Rafael ligou no meu aniversário. Ele ainda era meu namorado. Ele ainda me amava. Nosso cadeado ainda estava preso naquela ponte. Mas alguma coisa tinha quebrado. Tinha algo diferente nos olhos de Ricardo: saudade. A ficha de Ricardo tinha caído, nós não ficaríamos juntos. Tínhamos apenas mais algumas semanas juntos em Paris, depois seguiríamos com nossas vidas. Eu entendi logo o que acontecia. Toda vez que me olhava, tudo o que meu namorado conseguia pensar era que estava acabando.

_Como você consegue continuar criando essas armadilhas pra você mesmo?_ perguntou Alice do outro lado da webcam.

_Não sei..._ respondi sem jeito.

_Burro!

_Para.

_Burro! Burro! Burro!

_O que eu faço agora?_ perguntei aflito _A última coisa que quero é machucar Ricardo.

_Sinto muito, isso está fora da sua jurisdição. Você já o magoou e vai magoá-lo mais um pouco neste pouco tempo que lhes resta.

_Mas...

_Sem choro. A vida é assim, pessoas se machucam._ ela falou _Em sua defesa, o menino sabia onde estava se metendo.

_É...

Saber disso não aplacava um pouco da minha dor. E como doía saber que eu estava machucando um cara tão incrível quanto Ricardo. Ele não merecia nem um pouco daquilo. Estar ciente dos meus sentimentos por Rafael desde o começo, não o tornava corresponsável pela sua própria dor.

Vocês têm que conversar._ falou Alice _Antes de voltarem. Leve ele pra longe do apartamento e tenha uma conversa definitiva. Deixe tudo em pratos limpos. Fazendo isso, talvez, muito talvez, vocês possam passar seus últimos dias juntos em paz.

_Eu sei, eu já pensei nisso. Só falta a coragem.

Ela suspirou do outro lado. Ela estava inquieta. Eu a conhecia bem o suficiente pra saber que ela queria me contar alguma coisa, mas estava sem jeito.

_O que foi Alice?

_Hã?

_Você está inquieta._ fiquei um pouco preocupado _Aconteceu alguma coisa séria com alguém?

_Não, não...

_Pedro?_ chutei.

Ela ficou sem jeito. Na mosca.

_O que está acontecendo entre vocês dois? Sério._ falei.

Ela deu um longo suspiro e jogou a cabeça pra trás. Ela demorou um tempo pra criar coragem de começar a falar.

_Eu não sei o que está acontecendo! Está tudo uma bagunça!

_Vamos por partes. Como começou?

_Ele vinha insistindo por meses.

_Eu sei, ele me contou.

_E eu estava resistindo._ ela mordeu os lábios _Mas alguma coisa mudou.

_Ele mudou. Ele não é mais o idiota que você abominava. Pode não ser o cara perfeito, mas já melhorou muito em comparação com o que era.

_Sim...

_O que vocês fizeram?

Ela fechou os olhos.

_Eu traí Marcos com Pedro.

Certo, aquela era uma revelação, mas não uma completa surpresa. Eu já imaginava que alguma coisa assim pudesse ter acontecido para os dois estarem tão invasivos nas nossas conversas nas últimas semanas.

_Não precisa ficar com vergonha disso._ falei _Eu não estou te julgando.

_Eu estou me julgando! Eu estou com vergonha de mim mesma!_ ela respondeu desabafando _Eu não sou esse tipo de mulher.

_Calma, não precisa desesperar. O que vocês fizeram não foi certo com Marcos, de jeito nenhum. Mas esse namoro nunca foi pra valer desde o início. Você gostava dele como amigo no máximo, se tanto.

_Eu sei, mas...

_Você não é uma pessoa pior por ter feito isso._ falei _Marcos descobriu?

_Eu contei. Não me aguentei de culpa.

_E como foi?

_Ele chorou.

_Chorou? Só isso? Sem brigas?

_Sem brigas!_ ela respondeu com a mesma indignação que eu.

_Ele nem lutou por você?

_Não! Só me senti pior.

_Você só ganhou em sair dessa. Se ele nem mesmo brigou por você foi porque a perda nem foi tão grande pra ele.

_Eu sei, eu entendi isso.

_E como está sendo a convivência de vocês na sala todo dia?

_Péssima. Ele e Carolina sentam o mais longe possível de mim, e Rafael só pode conversar comigo se for escondido._ ela falou suspirando _O pior é que um deles vazou a história, e agora eu sou a vadia da faculdade!

_Não! Sério? Por que eles vazariam isso?

_Por revanchismo!

_Eu sempre tive razão em não gostar daqueles dois!

_Sem esse papo de “eu te avisei”, Bernardo, por favor.

_Desculpa.

Passamos um tempo em silêncio antes de entrar no tópico mais importante daquela conversa.

_E Pedro?

_Imbecil._ ela bufou _O idiota anda por aí com o peito estufado, como se fosse o herói que me salvou do monstro.

_É a cara dele!_ respondi rindo.

_Não é pra rir!

_Desculpa._ falei me contendo _E como estão vocês dois?

Ela ficou vermelha e eu ri.

_Vocês continuam se encontrando, né?

_Só sexualmente._ ela falou envergonhada _Todo dia.

_Todo dia?!_ repeti surpreso _Vocês devem estar todo esfolados!

_Bernardo!

_Mas é!

Ela ainda parecia incomodada e eu desconfiei.

_Ainda tem mais alguma coisa pra contar, dona Alice?

_Ai..._ ela deu mais um longo suspiro _Ele me convidou pra jantar amanhã.

_Não!_ falei rindo _Você sabe que ele vai te pedir em namoro, não sabe?

_Sei...

_E você vai aceitar, não vai?

Ela sorriu envergonhada.

_Alice, vou te devolver o conselho que você me deu várias vezes: se deixe levar. Pedro pode te fazer feliz.

Ela respondeu com um meio sorriso que ela tentava em vão segurar.

[...]

_Posso saber para onde o senhor está me levando?_ perguntou Ricardo.

_Que menino ansioso e desconfiado.

Era um sábado de noite quente, típico da primavera parisiense. Eu levei meu namorado até um restaurante brasileiro do qual tinham me falado algumas vezes. Eu estava com muita saudade da comida brasileira, e Ricardo também, pois comemos até mal conseguirmos andar.

_Você vai continuar me querendo gordo assim?_ ele perguntou bem humorado quando saímos.

_Sempre!_ falei lhe dando um beijo na bochecha.

Ele deu um sorriso triste. Era complicado falar de “pra sempre” entre nós dois. Parecia uma mentira, uma ilusão. Decidi que já era hora de termos a tão temida conversa.

Peguei na sua mão e segui caminhando a seu lado em silêncio por algum tempo até ter coragem de começar o assunto.

_Temos que conversar._ falei.

_Eu sei..._ ele respondeu com a voz triste.

A gente não se olhava. Apenas continuávamos a caminhar de mãos dadas.

_A gente sabia que não seria pra sempre._ falei.

_Eu sei disso. Mas não torna a coisa toda menos dolorosa.

_Não está sendo fácil pra mim também.

_Mas você tem Rafael, não? E eu?

_Eu não tenho se certeza se ainda tenho Rafael._ respondi _Você vai achar alguém que te ame como se deve.

_De que adianta se não vou conseguir amar esse cara como se deve. Só tem lugar pra você nos meus pensamentos.

Me causava um tremendo aperto no peito vendo ele falar assim. Eu me sentia o último homem da Terra ao lhe causar aquela dor.

_Esse Rafael te merece mesmo?_ ele falou.

Enfim, paramos e ele me olhava. Existia um certo desespero em sua voz e lágrimas represadas em seus olhos. Eu nunca o tinha visto assim, ele sempre foi a alegria em pessoa.

_Não faz assim, Ricardo.

_Ele te abandonou, Bernardo!_ ele falou _Ele não ficou ao seu lado pra te ajudar. Ele deixou você enfrentar seus demônios sozinhos.

_Mas era uma batalha só minha.

_Mas você precisava de alguém ao seu lado pra te falar que ficaria tudo bem. Ele não foi essa pessoa! Se ele tivesse ficado ao seu lado, você não teria chegado ao ponto de...

_Não foi culpa dele._ falei o interrompendo _Não foi culpa de ninguém além de mim. Mesmo quando eles me ofereceram a mão, eu recusei. Não o culpe por isso.

Ficou aquele clima estranho no ar. Não era bem uma briga. Era um desabafo.

_Eu não teria te abandonado._ ele falou.

_Quem te garante isso? Você não me conheceu naquela época. Você também não teria paciência pros meus medos e paranoias.

_Eu te conheci quando você chegou aqui. E eu te amei mesmo assim e fiquei ao seu lado. Eu te amei ainda mais pela sua trajetória até aqui.

_Não é a mesma coisa, Ricardo. Eu não era a mesma pessoa.

Seus ombros caíram. As primeiras lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto. Eu logo comecei a chorar também.

_E se ele não conseguir te amar de novo?

_Eu pelo menos preciso tentar.

_E se não der certo?

_Eu não conseguiria viver com a dúvida.

_E se ele te magoar?

_Eu vou aprender a me levantar.

Ricardo me pegou pelos ombros e me apertou com força.

_Me ame!

_Eu amo!

_Então!

_Eu amo ele mais.

Ali estava a verdade. Ali estavam as palavras que eu tanto lutei pra não dizer. As mais duras palavras. E elas entraram como uma espada fria no coração de Ricardo, fazendo-o em mil pedaços. Ele colocou as mãos sobre o rosto para que eu não visse sua expressão de dor. Mas era tarde demais. A lâmina tinha dois gumes e cortava meu coração à medida que cortava o de Ricardo também. Eu tentava pegar em suas mãos e tirá-las do seu rosto, mas ele me afastava.

_Não é justo, sabe?_ ele falou enfim mostrando seu rosto vermelho e molhado _Eu demorei tanto tempo pra te achar. Não é justo ter que abrir mão de você.

_Se eu tivesse uma escolha...

_Você tem! Me escolha!

_Não é uma escolha. Eu não posso controlar isso. Me desculpe.

_Bernardo...

_Me desculpe, me desculpe, me desculpe...

Ele se debatia, mas eu consegui prendê-lo no meu abraço. Ele enfim cedeu e deitou sua cabeça no meu ombro. Nós dois chorávamos e a madrugada quente era a nossa única testemunha.

_Eu vou te amar até meu último suspiro, Ricardo, eu te juro. Você é uma das pessoas mais importantes da minha vida e foi o protagonista dos meus dias mais felizes. Eu não sei o que teria sido de mim se não fosse por você. Você me pegou pela mão e me apresentou Paris, me apresentou aos seus pais, me apresentou a uma forma de amor que eu não conhecia, um amor tranquilo e pacífico. Eu tenho muita sorte de ter conhecido você. E espero que você tenha a sorte de conhecer alguém que seja tão especial pra você como você é pra mim, e que esse cara possa te dar o amor que eu não pude.

Nós dois continuávamos a chorar ali, parados no meio da noite.

_Mas nós temos uma última escolha pra fazer.

Eu levantei seu rosto e fiz ele me encarar. Seu rosto estava vermelho, molhado e amassado.

_Como nós queremos passar nossas últimas semanas em Paris?_ perguntei.

Ele me olhou por um longo tempo, mas não respondeu. Eu mesmo respondi.

_Eu proponho uma coisa: que esses dois meses sejam apenas sobre nós. Eu prometo não pensar em Rafael e você promete não pensar no futuro. Vamos fazer dessas últimas semanas as mais especiais das nossas vidas. O que você acha?

Ele soltou um sorriso fraco, mas verdadeiro e eu encarei aquilo como um sim. Eu lhe dei um selinho longo e carinhoso. Eu teria tempo pra Rafael mais tarde. Agora era a vez de Ricardo. Eu não cometeria o mesmo erro que cometi com Eric. Eu daria ao meu namorado todo o amor que eu podia lhe dar sem reservas. Eu o faria feliz, nem que fosse por apenas dois meses.

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Comentários

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Eu entendo o sentimento de Bernardo em não querer magoar Ricardo, mas Ricardo estava sabendo de tudo e foi ele que pediu Bernardo em namoro. Nessa história, pela primeira vez, eu não julgo Bernardo. Era Ricardo quem deveria ter se blindado, sabendo da existência de Rafael. Se bem que, acho Ricardo muito melhor como namorado do que Rafael.

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Muito difícil essa decisão. Rafael é o amor de Bernardo. E Ricardo merece o amor de Bernardo. Fiquei triste com o coração partido de Ricardo.

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Suas historias sempre mexe com a gente, nunca me imaginei chorando lendo um conto num site erotico mas aqui estou eu, antes queria que o Bernado ficasse com o Rafael, mas agora quero que ele fique com o Ricardo, ele não merece passar por isso.

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