Bernardo [61] ~ Conselhos

Um conto erótico de Bernardo
Categoria: Gay
Contém 2094 palavras
Data: 05/12/2023 17:51:41
Assuntos: Gay, Início, Sexo, Traição

_Sério, gente._ falei deitado na cama _O que eu vou fazer?

_Vocês complicam demais as coisas._ respondeu Pedro.

_Vocês deveriam procurar uma benzedeira, sei lá._ falou Alice.

O meu casal de amigos veio na minha casa naquele fim de tarde para colocarmos as fofocas em dia. E claro, vieram ouvir no que tinha dado a minha conversa mais cedo com Rafael.

_Eu não posso pedir ele pra largar da Carolina mesmo com a mãe dela doente, posso?_ perguntei.

_Pra mim que conheço a história, está ok._ respondeu Alice _Mas pra quem está de fora vai parecer que vocês dois são as piores pessoas do mundo.

_É._ completou Pedro _Sei que você está numa vibe de “não me importo com o que pensam de mim”, mas lembre-se que tem mais dois anos e meio de faculdade pela frente. Você vai ter que encarar as pessoas por mais um bom tempo.

Suspirei fundo. Eles estavam certos. O que eu deveria fazer então? Esperar a mãe da Carolina morrer? Que tipo de pessoa faz isso? Ou me encontrar escondido com Rafael? Mas isso não faria de mim uma pessoa ainda pior? Esfreguei os olhos com força. Não era possível que depois de tudo que aconteceu eu e Rafa não podíamos ficar juntos.

_O que eu vou fazer?_ perguntei mais pra mim mesmo do que para eles.

_Olha, eu só vejo duas opções._ falou Alice _Ou você espera Rafael ou você segue em frente.

_Eu voto na segunda opção._ falou Pedro.

_Sua opinião não vale. Você nunca gostou dele, ainda tem ciúme guardado da época que achava que ele estava disputando o posto de melhor amigo do Bernardo com você.

_Não, amor, não é isso._ ele respondeu _Já superei a maior parte dos meus problemas com Rafael. O que eu acho é que não vale a pena esperar por ele. Sei lá, digamos que a mãe da Carol morra amanhã...

_Credo, Pedro!_ ela respondeu.

_Não, espera._ ele falou _Imagina que ela morra amanhã. Quanto tempo Carol ficará de luto? Um mês? Dois? Três? Se Rafael não quer deixá-la agora, ele também não vai querer deixá-la enquanto ela estiver de luto.

O que ele falou me deixou pensativo. Por quanto tempo eu teria que esperar por ele?

_E se ela conseguir resistir? Pode demorar meses até ela morrer, quem sabe um ano. Não acho que vale a pena esperar...

_Então, eu devo simplesmente desistir de Rafael e seguir em frente? Depois de tudo pelo que passamos?

Pedro coçou a cabeça.

_Posso ser sincero? Você deveria se afastar de Rafael um pouco.

_Mas eles já passaram um ano separados!_ argumentou Alice.

_E vai adiantar o que ficarem próximos agora? Eles já passaram por muita coisa pra conseguirem voltar à fase da amizade.

_Eles conseguiram quando Eric morreu.

_Por pouco tempo. E alguém teve que morrer para isso.

Eu os ouvia argumentar sobre a minha vida amorosa como se fosse a história de outra pessoa, mas refletindo sobre cada argumento.

_O Bernardo já passou por muito pra conseguir ficar bem consigo mesmo. Talvez seja a vez de Rafael fazer o mesmo.

_Como assim?

_Rafael pode não ter problemas em ser gay, mas tem muitos outros, né? Ele é muito impulsivo. Ele tem que começar refletir sobre as coisas que faz antes.

_O sujo falando do mal lavado, né?_ ironizou Alice.

_Certo, eu sou impulsivo, mas eu sei dosar isso. Eu consigo pensar sobre muita coisa antes de agir. Rafael não, é só impulso.

_O seu ponto é...?_ ela perguntou.

_O meu ponto é que essa batalha não é do Bernardo. Rafael entrou nessa sozinho. Ele namorou Carolina amando Bernardo. Ok, foi a escolha dele e eu não julgo, mas agora ele vai ter que arcar com as consequências. Ele teve meses pra terminar com ela, mas enrolou tanto que agora está preso nesta armadilha.

E qual a solução que você enxerga?

_A solução é o Bernardo ficar de fora. Rafael tem que terminar com a Carol com a mãe dela morta ou morrendo. É um problema só dele. Ele pode até pedir Bernardo em namoro em seguida, mas só depois de ter resolvido seu próprio problema. Ele não pode envolvê-lo diretamente nisso, querer dividir o peso em suas costas. Não é justo.

Olhei pra Pedro estranhando ele.

_O que foi?_ ele perguntou.

_Quando foi que você ficou tão sábio?

Ele riu.

_Sempre fui. E é a Alice, cara. Você sabe o tanto que eu tenho que pensar pra entender essa menina?

Alice sorriu e deu lhe um soco no ombro.

_Eu te salvei! Ninguém gostava das suas piadas sem graça de antigamente. Hoje você já consegue ter uma conversa civilizada com alguém, como agora.

_Obrigado pela parte que me toca._ ele respondeu se fazendo de ofendido.

_Ah, o amor... _ falei ironizando a situação deles.

_O senhor que o diga._ falou Alice.

_Como assim?

_“Ai, Alice linda, estou apaixonado por Ricardo!”_ ela falou tentando imitar minha voz e meu jeito _“Ele é tudo que eu sempre quis! Ele me entende! Ele me mostrou quem eu era de verdade! Blá, blá, blá!”

_Cala boca!_ respondi rindo e lhe atirando um travessEiro.

Nós três rimos um pouco. Eu estava com saudade dos dois. Não éramos do tipo que passávamos a tarde toda abraçados, mas gostávamos muito daquilo, de jogar conversa fora sem preocupações com o tempo passando.

_Você pensa como ele, Alice?_ perguntei.

_Sobre Rafael? Mais ou menos._ ela parou de rir e adquiriu um tom mais sério _Eu também acho que esperar por Rafael é uma perda de tempo. Sim, o peso é dele, mas você tem que ajudá-lo a carregar, afinal, isso é estar num relacionamento. Pedro não deixou que eu fosse apedrejada sozinha quando traí Marcos com ele.

_Então, o seu conselho é...?

_Assuma a batalha. Vão ficar todos contra vocês? Vão, mas é a vida. Ele vai estar dando um pé na bunda de uma menina “perfeitinha” por quem todos são apaixonados e vai ficar com um cara. Tipo, vocês não vão ter uma torcida favorável com ou sem mãe morrendo.

Eu não podia negar que ela tinha alguma razão. Seria uma bomba seguida por uma guerra qualquer que fosse o cenário. O problema era a minha consciência. Eu não sei se conseguiria ficar bem comigo mesmo sabendo que fiz Rafael largar Carol num momento que ela precisava tanto dele.

_Você me fariam mais bem se concordassem com um só conselho._ falei.

_Você não quer um conselho._ falou Alice _Você quer que a gente confirme que você tomou uma boa decisão.

_Mas eu não tomei decisão nenhuma.

_Lógico que tomou! Do contrário, não estaria conversando comigo e Pedro, e sim transando loucamente com Rafael.

Olhei para ela constrangido. Claro que eu já tinha tomado uma decisão. Eu tomei no instante que recusei o beijo de Rafael mais cedo. Eu simplesmente não ia aceitar ficar com ele enquanto ele namorasse Carolina. A questão agora era: ajudar ou não ele a passar por esse momento? Era o que se espera que você faça quando está em um relacionamento, mas ele não fez isso por mim quando eu precisei que fizesse...

como se adivinha o assunto, o meu celular tocou. Peguei pra ver quem me ligava e adivinhem quem era? Não, não era Rafael. Era Ricardo.

_Oi, Ricardo._ falei com a voz mansa.

_Oi, Bernardo._ a voz dele tinha um tom doce, como se estivesse sorrindo.

Ao ouvir o nome de Ricardo, Pedro e Alice começaram a sacudir os braços fazendo um carnaval silencioso. Eles se divertiam com a situação.

_Tudo bem?_ perguntou.

_Tudo e você?

_Bem também. Estou ligando para saber como estão as coisas. Promessa feita, promessa cumprida.

_As coisas vão caminhando._ respondi sorrindo _Uma coisa de cada vez.

_E como foi com Rafael?

Eu fiquei em silêncio por um tempo pensando em como responder aquilo.

_O que?_ ele perguntou _Eu posso perguntar isso, certo? Ainda somos amigos.

_Sim, claro._ respondi sem jeito _É só que as coisas não saíram bem como planejado.

_Ah, entendo.

_Ricardo, você está sorrindo?

Ele riu e Alice e Pedro, que escutavam tudo muito atentamente, riram também.

_Desculpe, eu não deveria.

_Sem problemas._ respondi sem graça _Eu não devia te contar isso, eu acho, mas pensei em você de manhã. É estranho acordar sem encontrar você no mesmo quarto.

Pedro e Alice puseram a mão no coração fazendo palhaçadas, o que me fez rir.

_Eu entendo._ ele respondeu com um sorriso na voz _Passei pela mesma coisa. Estou com saudade.

_Eu vou para São Paulo ou você vem para Belo Horizonte?_ perguntei brincando.

Alice e Pedro, ouvindo aquilo, não pensaram duas vezes antes de agir.

_Segura ele, Pedro!_ ordenou Alice.

Pedro pulou sobre mim e prendeu os meus braços e meu tronco, me deixando sem movimentos.

_O que você está fazendo? Larga meu celular, Alice!

Mas era tarde demais. Alice já estava conversando com Ricardo no celular.

_Oi, Ricardo, é a Alice... Não, não se preocupa, ele gosta de gritar assim mesmo... Não, não tem ninguém machucando ele... Então, eu queria te fazer um convite... Pedro vai comemorar o aniversário dele no último fim de semana de julho, a gente gostaria muito que você viesse... Pedro adoraria fazer o convite pessoalmente, mas ele está ocupado no momento... Você vem? Sério? Que bom! Estamos te esperando... Beijo... Ah, o Bernardo? Espera um pouco.

Ela me entregou o celular de novo e Pedro me largou. Os dois foram para o outro lado do quarto rindo.

_Oi, voltei._ falei esbaforido pela minha “luta” com Pedro.

_Ele te machucou muito?_ Ricardo perguntou rindo.

_Não, fica tranquilo.

_Então, parece que estou indo pra BH mês que vem.

_É o que parece...

_Mas se você não quiser...

_Claro que quero._ respondi apressado _Eu não vou te fazer promessa nenhuma, Ricardo, já passamos por isso mais de uma vez. Mas eu vou ficar muito feliz em te ver.

_Certo, então eu vou. Posso te ligar de novo depois?

_Claro, sempre que quiser.

_Eu tenho que desligar. Meus pais estão mandando um “oi”.

_Manda outro para eles. Tchau, Ricardo.

_Tchau._ ele pareceu lembrar de alguma coisa _Ah, Bernardo?

_Sim?

_Não que eu esteja muito interessado em ver você reatando com Rafael, mas sou obrigado a te dar um conselho como amigo.

_Qual?

_Aumentaria muito as suas chances com ele se você tirasse a minha foto do seu perfil no Orkut.

Meu Deus! Eu tinha até me esquecido disso! Que vergonha.

_Eu vou tirar, nem liguei meu computador ainda._ respondi sem graça.

_Era só isso mesmo. Beijo.

_Beijo, tchau.

Desliguei o celular e fechei os olhos por um segundo. Mas logo os abri e me virei contra meus amigos.

_Vocês estão loucos?! Convidar o Ricardo?!

_O que que tem?_ perguntou Alice se fazendo de inocente.

_Tem que a sala toda vai. Em qual universo paralelo você acha que vai dar certo eu, Ricardo, Rafael, Carolina e bebidas liberadas todos no mesmo lugar?

_Eu sou o dono da festa, eu que mando. E eu quero Ricardo lá.

_Idiota!_ respondi lhe atirando um travesseiro.

Só Deus sabe o que seria daquela festa. Aliás, seria naquela festa que tudo mudaria, mas já chego lá. O que posso adiantar é que eu e Rafael ficamos na mesma por mais um mês. Eu nunca cheguei realmente a tomar uma decisão. Nós não ficamos juntos durante aquele mês, apesar de nos falarmos de vez em quando. Ficava tudo me vindo a cabeça a toda hora. Mais um mês, e tudo estaria resolvido.

[...]

Enquanto o final de julho e a bendita festa não chegavam, outra tempestade se anunciava no horizonte. Naquele mesmo dia que conversei com Rafael, Alice e Pedro, fiquei atualizando minhas redes sociais, inclusive tirando a tal foto de perfil que eu aparecia com Ricardo. Alguém bateu na porta e eu mandei que entrasse. Era Tiago, meu irmão mais velho.

_E aí, já se readaptou ao Brasil?_ perguntou se sentando na minha cama.

Por um segundo, pensei em Ricardo.

_Estou trabalhando nisso.

_Que bom. Deixei você descansar um pouco antes de vir conversar com você.

Estranhei aquilo. Não éramos de conversar, pelo menos não daquele modo todo formal. Tiago estava estranho, alguma coisa estava o incomodando.

_Falar sobre o que?

_Sobre o fato de ter um cara com você na foto do seu perfil no Orkut.

Como eu disse, a tempestade se anunciava no horizonte.

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Comentários

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E as coisas, aos poucos, vão se encaixar. Nada, claro, sem umas pitadas de furacão, de tormenta, de tsunami.

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