Bernardo [71] ~ A arte do desencontro!

Um conto erótico de Bernardo
Categoria: Gay
Contém 2236 palavras
Data: 06/12/2023 06:41:24
Assuntos: Gay, Início, Sexo, Traição

Ele continuava lindo. De olhos fechados, ele recebia o vento gelado no rosto com um sorriso nos lábios, como se aquilo lhe causasse um grande prazer. Seus cabelos, muito finos, eram reféns do vento frio e se sacudiam vigorosamente para trás. Sua barba estava perfeitamente aparada, não restando mais do que uma leve sombra sobre seu queixo. Eu não cansava de admirá-lo. Era tão bom estar ali com ele. Era como ter meus problemas anestesiados. Tudo podia esperar. Mesmo amando Rafael, era Ricardo o meu refúgio.

_Guardada as devidas proporções, isso aqui me lembra os Jardins de Luxemburgo._ ele falou.

Estávamos sentados na grama da Praça do Papa, na zona sul de Belo Horizonte, um dos principais cartões postais da cidade. O fato de estar acima da cidade (1100 metros de altitude contra os 900 de média da cidade) nos proporcionava duas coisas: uma vista privilegiada e rajadas de vento. Era sábado de manhã e Sol brilhava preguiçoso, incapaz de nos esquentar para valer. Em volta de nós, vários pais soltavam pipas com seus filhos, adolescentes andavam de skate, pessoas caminhavam pensativas e grupinhos conversavam animadamente espalhados pela grama.

_É, talvez..._ respondi.

Havia uma diferença crucial que separava a Praça do Papa e os Jardins de Luxemburgo: ali, em Belo Horizonte, eu não poderia abraçar intimamente Ricardo, ou mesmo beijá-lo. Se o fizesse, sofreríamos sérias represálias de todos ali, dizendo que estávamos ferindo suas vistas e influenciando suas crianças. Seríamos vítimas de olhares maldosos, talvez até mesmo agressões verbais ou físicas.

Mesmo se vivêssemos num lugar que nos aceitasse tão bem quanto Paris o fez, eu não sei se estaria abraçado ou mesmo beijando Ricardo. Eram dois momentos diferentes. Agora, não éramos mais namorados, não estávamos juntos. Rafael estava a poucos quilômetros dali e prestes a terminar com a namorada para ficar comigo. Eu acho. Se não era antes, agora tentar qualquer coisa com Ricardo seria uma traição.

“Mas você nem estão juntos? Não seria errado se divertir com Ricardo!” vocês dizem.

Ao menos na minha cabeça, seria errado sim. Primeiramente, seria errado com Rafael, pois depois de tudo que foi dito e prometido de ser feito, eu estaria traindo suas intenções. E depois, seria errado com Ricardo, eu não tinha direito de brincar com seus sentimentos desta maneira.

“Então, o que diabos você está fazendo?!”

Não sei. Eu estava tirando férias dos meus problemas com Rafael e com minha mãe, de um modo parecido como tinha feito Paris. Era bem isso, eu buscava em Ricardo um pedacinho de Paris, um pedacinho daquela felicidade infantil que eu sentia todos os dias. Eu e Ricardo... Eu acho que estávamos mentindo um para o outro que conseguiríamos ser amigos, e que estávamos sendo ali, naquele momento. Admiro muito quem consegue segurar uma amizade com seu ex, eu não consegui. Não consegui com Rafael, e não conseguiria com Ricardo. Tinha acontecido muita coisa para simplesmente voltarmos duas casas no tabuleiro.

A gente fingia que não sabia disso e empurrava a situação com a barriga.

_Você já falou tudo o que queria sobre a sua mãe e eu já te dei todos os conselhos possíveis._ falou Ricardo _Quando você vai começar a falar sobre Rafael?

Ele sorriu travesso quando fez aquela pergunta, me fazendo sorrir acanhado. Eu evitei aquele tópico durante todo o tempo que conversamos. Ele sabia que havia alguma coisa errada entre mim e Rafael, que não estávamos juntos, mas ele não sabia o que. Eu não disse para protegê-lo, sei lá, ou evitar que ele criasse esperanças que eu sabia ser incapaz de corresponder naquele momento. Mas eu sabia que uma hora ou outra o assunto surgiria.

_Ai, Ricardo..._ suspirei enquanto deitava na grama de olhos fechados.

Eu não sabia como começar aquele assunto. Mesmo de olhos fechados, senti ele se deitando ao meu lado. Não nos encostávamos, mas mesmo assim era bom sentir seu perfume e seu calor tão perto.

_Pode falar. Eu tô grandinho já, eu aguento._ ele tinha um certo humor na voz, como se tentasse descontrair o ambiente.

_É que..._ falei tomando coragem para começar _A mãe da namorada do Rafael está doente em estado terminal. Ele se sente um lixo por ter que terminar com ela num momento assim. Ele não sabe o que fazer e eu também não. Pressiono ele? Espero ele? Desisto dele? Viro o “outro” da história? Qual a opção menos cretina?

Eu olhava céu, não olhava diretamente pra Ricardo, não sabia como ele recebeu tudo isso. Sua respiração ao meu lado se manteve inalterada.

_Você devia pressioná-lo._ ele respondeu enfim.

Olhei para ele que me deu um sorriso fraco. Meu coração se partia um pouco quando ele fazia isso, tentava passar por cima dos seus sentimentos para ser um bom amigo para mim.

_Você acha?

_Sim._ ele respondeu calmamente _Se ele te ama, ele devia ficar com você e chutar essa menina com seus problemas para longe. Sua única função é ficar ao lado dele quando o barco virar.

Eu sorri sem jeito para e ele me devolveu um sorriso sincero desta vez. Era mais ou menos o conselho que Pedro tinha me dado.

_Vou conhecê-lo hoje à noite?_ ele perguntou.

_Sim. Seja o que Deus quiser!

Era o dia da festa de Pedro. Aliás, era esse o motivo de Ricardo estar passando o fim de semana em Belo Horizonte. Fora convidado por Pedro e Alice simplesmente para verem o circo pegar fogo. Isso porque eram meus amigos, imagina se não fossem!

_Vai dar tudo certo._ Ricardo respondeu rindo.

_Duvido muito. Ele quase teve um ataque de ciúme quando desembarquei do avião usando a nossa aliança ainda.

_Ele é muito ciumento?

_Tudo dele é extremo. Ciúme também.

_Prometo me comportar.

Me virei para ele e pedi encarecidamente:

_Você tem a cabeça bem mais no lugar do que ele, então, se ele fizer qualquer provocação, você me promete não revidar?

_Prometo._ ele falou antes de completar _Por você.

_Obrigado. Ele vai estar com Carolina o tempo todo, duvido muito que ela vá deixá-lo por muito mais tempo que o educadamente necessário perto de mim, mas em todo caso, esteja prevenido.

_Ele está prevenido?

_Ele... Ele não sabe que você está indo.

Ricardo sorriu claramente se divertindo com a situação.

_Isso vai ser divertido!

_Ricardo...

_Mas prometo me comportar.

_Obrigado.

Ele olhou em volta e ao perceber o Sol já alto, perguntou:

_E a dupla dinâmica, quando vou conhecê-los?_ se referindo a Pedro e Alice.

_Eles já devem estar nos esperando para almoçar. Vamos?

_Você que manda. É a sua cidade, você é o guia.

[...]

A festa de Pedro seria na verdade um mega churrasco na sua casa. Assim, ele e a família passaram o dia arrumando a casa. Por isso, ele e Alice fizeram questão que almoçássemos com eles lá, pois não tinham tempo de encontrar com a gente em outro lugar.

_Obrigado Rita, estava ótimo!_ falou Alice para a cozinheira da casa de Pedro que tinha nos servido o almoço.

_Obrigado Rita!_ falamos eu, Pedro e Ricardo também.

_De nada. Agora vão brincar lá fora porque preciso arrumar a cozinha._ ela respondeu.

Nós quatro nos sentamos na sala de estar da casa de Pedro esperando a digestão da enorme quantidade de comida que tínhamos consumido.

_Sabe, até gostei de você._ falou Pedro para Ricardo _Você não é tão chato quanto Bernardo falava.

_Nem tão feio._ completou Alice.

_Já sobre vocês, ele sempre me alertou que eram meio folgados.

_Nós?!

_Você não viu nada._ me intrometi _Você acha que nos trouxeram para cá à toa? Pra quem você acha que vai sobrar tirar os móveis da sala?

_Não..._ falou Ricardo fingindo indignação.

_Sim!_ respondemos eu, Pedro e Alice juntos.

Nós quatro rimos.

_Mas sério, cara._ falou Pedro _Eu gostei de você. Mais do que gosto do Rafael, devo acrescentar.

Alice respondeu com um soco no braço dele. Eu balancei a cabeça constrangido enquanto Ricardo ria.

_O que?!_ perguntou Pedro indignado para Alice _Mas é verdade! Percebeu que a gente está com eles a uma hora e ainda não presenciamos nenhuma briga?

_Pedro!_ ralhei.

_Calma, Bernardo._ respondeu Alice _Estou educando aos poucos. Ainda não cheguei na lição de aprender a controlar a própria língua.

Ricardo apenas ria. Certamente ele estava muito satisfeito com o que ouvia ali.

_Não é assim..._ respondi constrangido por Ricardo.

Alice inclinou a cabeça como se dissesse “é assim sim”.

_Alice!_ falei.

_O que?

_Tô entendendo de onde o Pedro está tirando essas coisas.

_Ah, normal._ respondeu Pedro _A gente conversa muito sobre você.

_Ah, é?_ perguntei cruzando os braços e fazendo cara de zangado.

_Sim!_ ele respondeu _Se um dia você topasse escrever e publicar sua história, a gente até já pensou no título perfeito.

_Qual?_ perguntei temendo a resposta.

Pedro e Alice se olharam rindo e responderam numa só voz:

_A arte do desencontro.

Ricardo caiu na gargalhada, e meus amigos o acompanharam. Eu me fiz de sério e fiquei esperando eles recobrarem o fôlego.

_Não entendi a piada.

_Eles tem razão, Bernardo._ falou Ricardo _É o título perfeito.

_Não concordo.

_É sim, veja só._ começou Alice _Se você tivesse se entendido bem consigo mesmo desde o começo, teria se dado muito bem com Eric. Se tivesse a coragem necessária, estaria completando anos de namoro com Rafael. Se não estivesse tão apaixonado por outro, teria se casado com Ricardo. Quando enfim você se entendeu consigo mesmo, Rafael estava preso num namoro. Tipo, sua vida é toda desencontrada! O seu timing é terrível!

E não sabia muito bem como responder aquilo, principalmente porque era verdade. Minha vida poderia ser resumida como uma série de desencontros. Eu nunca estava no momento certo com a pessoa certa. Realmente, meu timing era terrível.

Vendo que se aquele assunto se prolongasse, o clima ficaria ruim, Pedro tratou de emendar:

_Então, rapazes. Esses sofás não sairão sozinhos daqui.

Rimos e lá fomos nós trabalharmos. Tinha muita coisa para ser feita. Em algum ponto da tarde, Ricardo ajudava Pedro a pendurar lâmpadas enquanto eu e Alice terminávamos de secar as mesas. Pedro e Ricardo conversam animadamente, o que me deixava curioso por não poder ouvir o assunto.

_Quer que eu peça eles para falarem mais alto?_ perguntou Alice.

_Sou curioso mesmo, e daí? Até porque, tenho a ligeira impressão que o assunto sou eu.

_Ah, com certeza.

Ela viu que eu estava realmente curioso para saber o teor daquela conversa.

_Possivelmente Pedro está falando que prefere ele a Rafael.

Arregalei os olhos para Alice.

_Ricardo tá bem grandinho, deve saber não alimentar esperanças a partir disso.

_Mas..._ notei que ela desviou os olhos quando falou isso _Alice...

_O que?

_Você também tem essa opinião?

Ela de um longo suspiro e falou sem me olhar.

_Sei lá. Você e Ricardo parecem um conjunto mais harmonioso. Não é que eu goste menos de Rafael, você sabe que eu gosto dele. Só acho que Ricardo combina mais com você.

_Mas...

_Mas isso não significa nada._ ela completou antes que eu pudesse falar alguma coisa _Quem tem que escolher é você, não eu ou Pedro. Faremos maravilhosos programas de casal independente de quem seja seu namorado.

Aquela última parte ela falou com a voz afetada, em tom de gozação, mas mesmo assim aquilo ficou na minha mente.

[...]

Quando começava a anoitecer, fomos embora e eu deixei Ricardo em seu hotel. Mais tarde passei para buscá-lo.

_Você está lindo!_ ele falou quando entrou no carro _E cheiroso!

Ele completou isso enfiando o nariz no meu pescoço e respirando fundo. Eu fiquei desconcertado, não esperava por isso.

_Obrigado..._ falei sem jeito, mas completei rápido _Você também está lindo.

_Obrigado!_ falou sorrindo _Vamos! Estou ansioso para conhecer meu rival!

O seu tom era de brincadeira, mas desconfiei das suas intenções. O que será que Pedro tinha falado com ele?

Quando chegamos, a festa já estava animada, custei a achar uma vaga para estacionar.

_Esqueci meu celular no carro._ falou Ricardo quando íamos bater campainha _Me empresta a chave do carro?

_Claro._ falei lhe entregando a chave.

Me virei para ver Ricardo correr até onde tínhamos estacionado, e não vi quando eles chegaram atrás de mim.

_Boa noite.

Me virei rapidamente assustado com o som daquela voz.

_Oi._ falei rapidamente _Boa noite.

Rafael estava lindo e exibindo um largo sorriso. Ao seu lado, Carolina exibia um sorriso mais fraco ao me ver, mas me pareceu apertar a mão de Rafael quando me viu.

Eu já devia ter me preparado para o momento que Rafael e Ricardo se encontrariam, mas foi impossível não ficar nervoso com a eminência daquele encontro.

_O que foi, Bernardo?_ perguntou Rafael curioso _Você ficou branco de repente...

_Não, é que...

Ricardo se aproximou de cabeça baixa, ele não viu com quem eu estava conversando.

_Toma.

Ele me entregou a chave do carro e só então olhou com quem eu conversava. Os olhos de Rafael vacilaram por um segundo, tentando reconhecer o rosto que ele só vira por fotos no meu Orkut. Meu coração parecia ter parado e meu estômago congelado. Ricardo abriu o mais sincero dos sorrisos e estendeu a mão:

_Você deve ser o Rafael. Prazer, eu sou o Ricardo.

Rafael mudou o olhar de Ricardo para mim. Seus olhos pegavam fogo.

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Comentários

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Esse Ricardo é simplesmente a cereja do bolo. Adoro a sua diplomacia.

10 pontos para Grifinória kkkkk

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Putz! Muito bom o encontro de Ricardo e Bernardo no parque. Muito bom Ricardo com Pedro e Alice... Agora o bicho vai pegar. Estou nervoso sobre esse encontro de Ricardo com Rafael.

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