Era o nosso primeiro dia de volta às aulas. Aliás, eu saí de casa falando pra minha família que ia pra aula de carona com um colega. Quando saí de casa, Rafael me esperava encostado no carro, como ele fizera muitas vezes quando namorávamos. Ele estava de bermuda jeans, camiseta, chinelos e óculos escuros. Sem contar um lindo sorriso que apareceu quando meu viu. Meu coração se aquecia quando o via assim, evocando lembranças do nosso namoro.
_Bom dia._ falei me aproximando dele.
_Bom dia.
_Posso saber aonde vamos?_ perguntei, pois ele vinha fazendo mistério até então.
_Surpresa._ respondeu rindo.
_Você poderia me falar com que roupa eu devo ir.
_Você está perfeito do jeito que está.
Eu estava comum, como sempre estive, com calça jeans e camiseta, e o cabelo um pouco bagunçado. Eu estava tão feliz ali, que resolvi ousar um pouco. Olhei rapidamente em volta, vi que a rua estava praticamente deserta àquela hora da manhã, me inclinei e dei um longo selinho em Rafael. Quando em afastei, ele estava sorrindo feito bobo.
_Tudo vai ser diferente desta vez._ falei.
Antes que ele pudesse responder, eu dei a volta no carro e entrei no banco do passageiro. Quando ele entrou, ele acariciou meus cabelos com carinho. Eu pousei a mão sobre a sua perna e ela permaneceu ali enquanto ele arrancava o carro e dirigia pela cidade.
_Olha lá o que você está me aprontando, senhor Rafael._ falei.
_Te prometo que você vai gostar.
_Olha lá, hein.
Vi que pegamos a estrada rumo às cidades ao sul de Belo Horizonte, mas não falei mais nada. Deixei que ele me guiasse.
_Eu liguei para Carolina._ ele falou.
Suspirei fundo. Pelo seu tom, é claro que não tinha sido uma boa conversa. Nem tinha como ser diferente.
_E como foi?
_Ela não me deixou falar. Gritou muito, chorou muito, e mandou eu nunca mais ligar pra ela.
_Essa fuga é pra não encontrar com ela na faculdade?
_Não._ ele pensou por um segundo _Talvez. Não dela, de todo mundo. Nem pudemos nos curtir um pouco. Essa é pra gente. Renovar as energias.
Eu ri do seu raciocínio. Realmente, íamos precisar de todas as nossas forças para enfrentar o que estava por vir. Não estávamos prestes a enfrentar nossa turma simplesmente. Estávamos nos assumindo gays e namorados num contexto muito preconceituoso. Estávamos prestes a conhecer o outro lado de ser gay, o lado que nenhum de nós dois ainda tinha presenciado: risos, agressões verbais, olhares maldosos... Além do mais, tinha nossas famílias. O problema não era só a minha mãe. Meu pai e meus irmãos podia até me aceitar, mas eles não estavam preparados para me ver de mãos dadas com um outro cara e chamando ele de “meu amor”. E a família de Rafael, pois mais que já estivessem tranquilos no que diz respeito à sexualidade dele, tinha um problema muito grande comigo, embora eu ainda não soubesse naquele momento. Eles não gostaram nada de como se deu meu relacionamento com Rafael num primeiro momento, no nosso “primeiro namoro”.
_O que estamos fazendo aqui?_ perguntei.
Rafael tinha parado o carro em frente a uma enorme portaria. Estávamos fora da estrada principal há algum tempo já. Ele se limitou a sorrir pra mim de um jeito maldoso. Um homem de uniforme se aproximou do carro e Rafael abaixou a janela.
_Bom dia. Vamos passar o dia na minha casa, a número 56.
_Claro, senhor. Pode passar.
Ele se afastou e levantou a cancela, liberando a nossa passagem.
_Sua casa?_ perguntei olhando pra ele.
_Sim._ Rafael respondeu sorrindo _Quando a gente estava junto, ela ainda estava em construção. Meu pai comprou o terreno nesse condomínio fechado a alguns anos, e recentemente resolveu construir uma casa de campo. Não é nenhum lugar luxuoso, é mais um chalé pra gente passar o fim de semana.
_E quem vai estar aqui hoje?
_Só nós dois._ falou virando pra me encarar.
Foi impossível não sentir um friozinho na barriga quando percebi suas segundas intenções. Lógico que eu já imaginava que os planos de Rafael para aquela fuga incluíam sexo em algum ponto, mas a ausência de surpresa não foi o bastante para conter a ansiedade. O sexo sempre foi uma coisa tão forte com Rafael, que nossas transas sempre estiveram muito vivas em minha memória. Nem Ricardo, nem Eric, nem Tom: o melhor na cama sempre foi Rafael. Tinha uma coisa de encaixe entre nós dois, de um entender os desejos do outro com um simples olhar, do arrepio que o simples toque podia provocar... Do mesmo jeito que minha relação com Rafael sempre foi meio explosiva, nosso sexo sempre foi fogo.
_É aqui._ falou Rafael estacionando o carro.
Era uma casa pequena, mas muito bonita. Tinha traços quadrados mais modernos, cores frias e muito vidro, embora as cortinas cuidassem de preservar o interior da casa para quem via de fora. Quando Rafael abriu a casa, me deparei com um ambiente muito bem decorado, mas de aparência igualmente fria. Achei tudo muito bonito, mas o primeiro pensamento que me veio é que aquele lugar não combinava em nada com Rafael.
_Foi minha mãe que decorou._ ele falou como se lesse meus pensamentos.
_É linda.
_E só nossa.
Assim que ele falou aquilo, já foi me abraçando por trás e não ofereci a mínima resistência. Mesmo de calça, eu sentia sua ereção em mim, o que me incendiava. Eu chegava a tremer à medida que eu sentia sua barba rala arranhar a minha nuca. Ele dava pequenas mordidas na orelha e seu hálito quente arrepiava meu corpo inteiro. Suas mãos passeavam sem pressa pela minha barriga e foram suavemente me virando de frente para ele. De olhos fechados, eu esperei ansiosamente por aquele beijo. Começou com um selinho, depois outro, depois um mais demorado, depois uma leve mordida no meu lábio inferior... Sua língua entrou devagar, como se pedisse permissão, mas não havia o que permitir: eu sempre fui dele. Meu corpo sempre esteve à mercê de seus desejos. Enquanto estivemos ali nos devorando na sua sala de estar, o tempo pareceu ter parado. Nada mais importava, pois éramos a fuga um do outro.
_Vem comigo lá fora._ ele falou me puxando pela casa depois que desprendemos nossos lábios _Eu vou limpar a piscina pra gente.
_Mas eu não trouxe roupa de banho.
_Nem eu._ respondeu olhando pra trás com uma expressão de pura malícia.
Me sentei numa espreguiçadeira à beira da piscina enquanto assistia ele cuidar de tudo. Ele tirou a camisa e o chinelo, e ficou só de bermuda. Enquanto usava uma rede para limpar a piscina, eu o observava com cuidado. Eu já o tinha visto sem camisa na noite do aniversário de Pedro, mas agora era diferente. Agora eu podia olhar sem me sentir culpado por ele estar muito bêbado. Eu podia admirá-lo o quanto quisesse, afinal, ele era meu.
_Como vão as coisas em casa?_ ele me perguntou.
_Mais ou menos. Minha mãe ainda está na mesma.
_Ela continua não falando com você?
_Só o estritamente necessário. Aliás, nem parei em casa desde que cheguei de Porto Alegre.
_Mas ela está brava com você por você ter ficado com seu tio lá?
_Acho que sim, mas brigar comigo implicaria em falar comigo, então ela prefere continuar ignorando.
_Complicado... E seus irmãos?
_Laura está na dela, tem seus próprios problemas para cuidar. Quase não falei com Tiago desde que cheguei do sul, mas ele tem tentado participar mais da minha vida, ainda que eu note que ele fica um pouco desconfortável quando o assunto é minha vida sexual. Pelo menos ele está tentando, ao contrário do Caio, que continua me evitando._ dei um longo suspiro _Acho até que ele me aceitou, sabe, mas é orgulhoso demais para dar o braço a torcer.
_Então, não é melhor você tomar a iniciativa de ir falar com ele?
_Pra mim, talvez. Mas vai ser pior pra ele. Ele tem que aprender a passar em cima do próprio orgulho, pois ele vai ter que fazer isso muitas vezes na vida.
_Quer fazer ele crescer na marra?_ Rafael perguntou rindo.
_Se eu não fizer, a vida vai, e de um jeito muito pior.
Ele riu.
_O que foi?_ perguntei.
_Você._ ele veio caminhando até mim, acariciou meus cabelos e meu deu um beijo breve _Está diferente. Você cresceu tanto. Agora, você é o pilar que sustenta tudo enquanto o mundo cai a sua volta.
_E você gosta do novo Bernardo?
_Eu amo você com todos os defeitos e qualidades. Isso nunca mudou.
Ele me deu mais um beijo e se afastou sorrindo até a borda da piscina. Ele se virou de costas para mim e lentamente abaixou a bermuda e a cueca. Ele sabia que eu era maluco pela bunda dele. Ela era bem redonda, com as laterais torneadas, uma pelugem rala e uma larga marca de sunga que só valorizava o conjunto. Meu pau ganhou vida instantaneamente. Rafael pulou de ponta mergulhando na piscina. Depois de alguns segundos, ele emergiu e se apoiou na borda da piscina sorrindo pra mim.
_Não vai entrar?
_Não sei, não trouxe sunga..._ falei fazendo charme.
_Melhor ainda..._ respondeu apoiando o queixo na borda da piscina e olhando pra mim.
Eu resolvi entrar no seu jogo. Fiquei de pé e comecei a tirar minha roupa lentamente, peça por peça. Rafael não falava nada, só observava da borda da piscina. Quando fui tirar a cueca, a última peça de roupa que faltava, fiquei de costa para ele, tal como ele tinha feito comigo. Quando me virei de frente para ele, ele sorriu com o olhar preso à minha ereção. Caminhei lentamente até a borda da piscina e parei de frente para ele.
_A água está boa?_ perguntei.
_Tá ótima.
Tomei impulso e pulei por cima dele, mergulhando na água atrás dele. Assim que voltei a emergir, já senti seus braços passando pela minha cintura e me prendendo junto a ele. O seu pau já estava bem duro e roçava minha bunda, enquanto sua língua se ocupava do meu pescoço e suas mãos passeavam pelo meu pau.
_Que saudade eu estava de você..._ ele sussurrava no meu ouvido enquanto me beijava e me masturbava _Dá vontade de te prender aqui comigo para sempre.
_Não precisa ter pressa. Eu não estou indo a lugar nenhum._ me virei de frente para ele _Agora é para sempre, Rafa.
Ele sorriu e me beijou. Começou com um beijo calmo e romântico embalado pela minha resposta. Mas nossos corpos nus se esfregando naquela piscina nos aqueceu, fazendo o beijo evoluir rapidamente para uma ardente luta de línguas. Era como se um quisesse dominar o outro, fazê-lo um escravo do seu prazer. Suavemente, fui empurrando Rafael até a borda da piscina, sem parar de beijá-lo por um segundo sequer. Sem avisar, o peguei pela cintura e o levantei jogando-o para fora da piscina. Ele se assustou e me olhou sem entender o que eu tinha feito. Ri maliciosamente, me posicionei entre suas pernas e comecei a morder suas pernas. Mesmo sem olhá-lo, eu pude ver que ele riu. Rafael sentia muito prazer na parte interna das coxas, então me demorei bastante na região, intercalando beijos e mordidas. Quando comecei a brincar com seu saco, ele começou a acariciar meus cabelos. Olhei para cima e o vi de olhos fechados. Não me fiz de rogado e abocanhei seu pau. Eu estava com tanta saudade daquele corpo! Acho até que em certo ponto eu esqueci de Rafael e me concentrei apenas no prazer que eu mesmo estava sentindo ao fazer aquilo. Meu namorado gemia baixo.
Até então, ele estava sentado na borda da piscina com as pernas dentro da água. Carinhosamente, fiz ele deitar e levantei suas pernas. Ele não ofereceu nenhuma resistência. Ele tinha uma pelugem rala na bunda, mas seus pelos se acumulavam mais na sua entrada. Eu queria provocá-lo um pouco antes, mas seria uma provocação para mim também, então caí de boca ali, me deliciando com a entradinha de Rafael. Ele começou a gemer com mais força e mais alto.
_O que foi, Rafa?_ perguntei maldoso _Ela não fazia isso com você?
Ele riu, mas sem perder a ereção.
_Não...
_Quer dizer que você está a quase dois anos na vontade?
Eu falava, mas ainda brincava com seu cu com meus dedos, rodeando a região.
_Bom, digamos que eu arranjei um jeito de brincar sozinho...
Foi a minha vez de rir dele.
_Mas é mais divertido brincar acompanhado, né?
Ele riu e se levantou, ele pegou no meu rosto e me puxou para um beijo quente.
_É mais divertido brincar com você. Vem!
Ele me puxou e eu tomei impulso para sair da piscina. Ainda nu e molhado, ele foi me puxando para dentro da casa.
_Nós vamos molhar o chão, Rafa.
Ele não me respondeu, continuou me puxando para a sala e me jogou sentado numa poltrona. Ele sentou no meu colo, sem penetração, e voltou a me beijar. Ele ficava rebolando, de modo que era a vez da bunda dele ficar roçando no meu pau. Não demorou muito para ele sacar da mochila um pacote de camisinhas e um vidro de lubrificante. Rafa devia mesmo desejar aquilo há muito tempo, pois foi ele que me guiou para dentro de si mesmo. Eu ainda tinha transado com Ricardo, mas ele só tinha ficado com Carolina, e duvido muito que ele fosse capaz de pedir para ela brincar com ele naquela região. Além do mais, a saudade que sentíamos do corpo um do outro não parecia acabar. Após se acostumar com a dor, ele começou a pular no meu colo de um modo bem devagar, fazendo a coisa toda parecer ainda mais intensa. Em nenhum momento nós paramos de nos olhar. Eu acho que é o extremo da intimidade: fazer sexo de olhos abertos.
Não devemos ter demorado mais do que cinco minutos naquela brincadeira antes de gozarmos. Ele gozou primeiro em meu peito e ele mal se masturbava quando aconteceu. Vendo todo o prazer que ele estava sentindo, não me aguentei também e explodi dentro dele. Sem sair de cima de mim, ele se deitou sobre mim e encostamos nossas testas. Tentávamos recuperar nosso fôlego.
_Me desculpa..._ ele falou ainda com dificuldade para respirar normalmente.
_Pelo que?
_Por gozar rápido demais.
_Você viu que eu gozei também, né?_ respondi sorrindo _Além do mais, ainda temos o dia inteiro.
Ele riu e saiu me puxando de volta para dento da piscina. Não sei se era a coisa mais higiênica do mundo nos limparmos dentro da piscina, mas como só nós estávamos ali mesmo, nem nos importamos.
Aquele dia foi realmente uma fuga de realidade para nós dois. Esquecemos dos nossos problemas, dos nossos amigos, das nossas famílias, até dos nossos celulares. Tudo podia esperar algumas horas enquanto matávamos a saudade que tínhamos um do outro. Houve mais sexo, mais beijos, mais conversas ao pé do ouvido... Queríamos recuperar o tempo perdido.
Nós só saíamos do condomínio quando já começava a anoitecer. Rafa dirigia tranquilamente, sem pressa de chegar, enquanto minha mão repousava na sua coxa. Não havia malícia naquele gesto, eu queria apenas ficar sentindo o calor dele por mais algum tempo.
_Como vai ser amanhã?_ ele perguntou ao parar o carro na porta do meu prédio.
_Não sei. _ respondi pegando na sua mão _Vamos precisar enfrentar isso de frente.
_Tem certeza que quer participar disso? Fui eu que fiz merda, você não tem obrigação nenhuma.
_Tenho sim._ falei lhe calando com um beijo rápido _Estamos juntos agora, e seus problemas são meus problemas. Vamos fazer isso juntos.
_Obrigado._ ele falou sorrindo.
Eu o conhecia o bastante para saber que ele estava com medo. Ele sabia que tinha errado com Carolina e pagaria um preço caro por aquilo. Ele tinha sido criado numa casa na qual a homossexualidade não era tida como nenhuma anormalidade, tão pouco teve que assumir um namorado para a sociedade antes. Rafael nunca sofrera preconceito nenhum antes. Pela primeira vez na vida, ele saberia o que é ser mal quisto e mal falado por aí, julgado por coisas sobre as quais ele nunca tinha tido nenhum controle. Aquele seria um golpe duro demais para ele, talvez o maior que ele já tivesse sofrido. Era por causa disso que eu tinha que ficar ao seu lado, pois mais do que nunca ele precisaria de mim.
Não poderíamos fugir para sempre. Era hora de volta para a realidade e encará-la de frente.