Durante as semanas que passaram entre eu ter contado a Caio sobre mim e aquele fim de semana, nós não trocamos nenhuma palavra, praticamente. Sinceramente, eu achei que isso significava que ele estava pensando no assunto e pronto para me aceitar. Mas não, lá estava ele com seu olhar raivoso para mim e Rafael.
_Caio..._ pedi prevendo sua reação explosiva.
_Não acredito que você me arrastou pra essa merda pra ver esse viado trepando!
_Cala boca, Caio!_ falou Tiago indo pra cima dele.
Caio foi mais rápido e desceu a escada ficando do lado oposto ao nosso na sala. Eu senti Rafael largar minha mão. Caio tinha atingido ele. Rafael já tinha encarado o afastamento e os olhares de preconceito, mas ninguém tinha verbalizado isso com ele ainda.
_Eu que não vou ficar aqui pra assistir essa merda!_ falou indo em direção à porta.
Tiago fez menção a segui-lo, mas eu o segurei.
_Deixa ele ir._ falei.
Caio e Tiago me olharam. Eu aguentava as grosserias de Caio, mas não deixaria ele atingir Rafael com elas.
_É até melhor._ falei.
Caio se virou para mim com raiva nos olhos ainda.
_Ele não queria vir, nem eu o queria aqui._ continuei _Não tô com saco pra aguentar as criancices dele nesse fim de semana. Então, deixa ele ir. A gente só tem a ganhar.
Caio saiu correndo porta à fora, mas não sem antes me lançar um olhar de ódio mortal. Lógico que magoava falar daquele jeito com meu irmão mais novo, mas eu realmente não estava com paciência para aquilo e eu o conhecia muito bem para saber que passar a mão na sua cabeça não era bom para nenhum de nós dois.
_Onde esse doido vai?_ perguntou Tiago preocupado.
_Deixa. Estamos longe de algum ponto de ônibus, ele não tem carro, e é muito orgulhoso para pedir carona. Daqui a pouco tá de volta.
_Mas ele está sob a minha responsabilidade.
_Você não devia ter trazido ele.
Ele me olhou culpado e eu dei de ombro, o que estava feito estava feito. Ele e Laura subiram as escadas para guardar suas coisas nos quartos.
_Ai que vontade de bater no seu irmão!_ falou Alice.
_Nem me fale!
Ela saiu pra área de churrasqueira pra ficar junto com os outros, que aparentemente não ouviram a briga. Rafael estava com um olhar abatido.
_Não se deixe levar, amor. Ele é assim, revoltado com tudo._ falei lhe abraçando.
_Eu sei, você já tinha falado._ ele suspirou _Eu só estou pensando no quanto eu fui burro e inocente achando que todo mundo ia nos aceitar tranquilamente.
_Deixa pra lá._ respondi lhe dando um beijo na bochecha _O problema são os outros, não a gente.
_Eu sei..._ respondeu ainda triste.
Segui o puxando para junto dos nossos amigos, onde Pedro já comandava a churrasqueira. Bruno e Alice se revezavam para cozinhar o arroz, um xingando o outro falando que estava fazendo errado. O resto nós apenas ria e bebia, caindo na piscina de vez em quando. Paulinho não conseguia disfarçar que estava de quatro pela minha irmã, mas ela não lhe deu bola, apesar de não ter sido grossa com ele. Primeiro, porque ele não fazia seu tipo, e segundo, porque ela ainda estava se curando do que tinha acontecido. Nunca perguntei sobre o pai do bebê, mas com certeza, para chegar ao ponto que chegou, a relação não deve ter terminado bem.
Ninguém perguntou “uai, e seu outro irmão? Não ia vir também?”, o que significava que provavelmente Alice já tinha os alertado sobre a delicadeza do assunto. Ninguém tocou no nome de Caio, embora eu visse Tiago preocupado. Eu também estava, claro, mas de alguma jeito, eu sabia que ele voltaria por pura falta de escolha.
Rafael se divertia, interagia, nadava, jogava vôlei, trocava de lugar com Pedro na churrasqueira, mas eu o conhecia muito bem para saber que ele não estava cem por cento. As palavras de Caio, por mais breves que tenham sido, feriram Rafael. E isso me machucou muito mais do que qualquer coisa que Caio pudesse ter me dito. Eu passei anos construindo um escudo para aquele tipo de coisa, Rafael não. Eu conhecia muito bem Caio para saber até onde seu discurso era só ódio aleatório, Rafael não. Eu queria alertar Rafael sobre tudo aquilo, mas não podia ali, na frente de todos, pois só daria mais importância a Caio.
O momento certo veio com o cair da tarde. Como todos nós tínhamos acordado bem cedo pra viajar, estávamos cansados e resolvemos cochilar um pouco no final de tarde, assim estaríamos bem pra varar a noite conversando e bebendo mais. Eu e Rafa fomos para o nosso quarto e fomos tomar um banho. Embaixo do chuveiro, enquanto trocávamos beijos, um ia ensaboando o corpo do outro com muito cuidado. Estávamos muito excitados, mas no momento nos contentamos em masturbar um ao outro. Nos secamos e deitamos só de cueca na cama. Eu acariciava seus cabelos com muito cuidado e ele estava quase adormecendo.
_Amor?_ chamei.
_Humm..._ respondeu sem abrir os olhos.
_Lembra daquele dia no hospital em que caí da escada e mostrei meus hematomas?
Ele abriu os olhos curioso com o assunto.
_Lembro...
_Os hematomas que o pai do Tom me deu ao me espancar?
_Por que você está se lembrando disso agora?
_Não sei. Nós nunca conversamos sobre isso, acho importante.
_Isso tem algo a ver com seu irmão?
_Sim...
_Bernardo, o que foi dito foi dito, não tem como voltar atrás.
_Deixar eu falar.
Ele esperou pacientemente que eu começasse. Eu reunia forças para relembrar daquele dia terrível.
_Foi um dos piores dias da minha vida. Não foram apenas agressões físicas, mas ele gritava coisas horríveis também. Não acho que vale à pena repetir aqui tudo o que ele me disse, mas você pode imaginar. Dito isso, eu gostaria de te dizer duas coisas. Primeiro, eu entendo como você se sentiu com tudo o que Caio disse. Eu sei o quanto isso bate lá no fundo e o quanto dói. E, infelizmente, não tem cura pra isso, tudo o que podemos fazer é seguir em frente.
_E a segunda coisa?
_A segunda coisa é que ao comparar os dois discursos, o do pai do Tom e o do Caio, fica bem claro para mim que o que meu irmão está querendo é só chamar atenção. Nem sei se ele se dá conta disso, que esse seu jeito de odiar tudo no automático é só uma maneira desesperada dele pedir socorro._ fiz uma pausa e então continuei _Não estou defendendo ele, muito menos pedindo pra você fingir que está tudo bem. Meu ponto é que ele não é uma má pessoa, apenas não se deu conta disso.
_Eu sei que é seu irmão, mas..._ Rafael ficou sem jeito de falar mal dele para mim e pareceu desistir _Eu só gostaria de ter a fé nas pessoas que você tem.
_Não acho que eu tenha tanta fé nas pessoas assim.
_Tem sim. Eric, Pedro, sua mãe... Todos eles te machucaram de alguma forma e você arranjou um jeito de ver o lado bom neles.
_Eu também te machuquei...
_Não é a mesma coisa, amor._ ele respondeu fazendo um carinho nos meus cabelos _Você fazia péssimas escolhas às vezes, mas nunca foi uma má pessoa. Você nunca quis me machucar, você apenas tentou se proteger. É diferente.
_Acho que você tem muita fé em mim._ comentei rindo.
_Lembra do que te disse quando fui embora da festa dos seus pais na noite que terminamos?
_Você disse tanta coisa...
_“Você é a pessoa mais fantástica que eu já conheci na vida. Eu espero que um dia você perceba isso.”
_Eu lembro disso..._ respondi rindo.
_Você ainda não percebeu o quão fantástico você é?
_Sou?
_É! Eu acho que esse cara que eu estou vendo agora, por quem eu verdadeiramente me apaixonei, estava escondido aí dentro em algum lugar.
_E como esse cara por quem você se apaixonou é?_ perguntei rindo.
_Ele é o cara mais forte que eu conheço. No dia do meu vexame na festa do Pedro, ele foi pro centro da confusão e ficou ao meu lado. Quando descobriu que seus sogros não eram seus maiores fãs, ele ficou pra jantar do mesmo jeito. Quando sua mãe tentou machuca-lo, ele se manteve firme na ideia que ele não era o problema._ ele sorriu pra mim _Esse cara parece ser capaz de enfrentar o mundo todo de peito aberto.
_Você fala como se você não fosse o cara mais incrível que eu já conheci._ respondi um pouco envergonhado _Parece mentira o jeito como todos caem apaixonados por você!
_É tudo fachada._ ele respondeu rindo _As pessoas desapaixonam rápido quando se acostumam ao meu jeito.
_Eu nunca deixei de te amar, nem por um segundo.
_Nem eu.
Ele se deitou em cima de mim e me deu um beijo suave, o qual eu correspondi. Em poucos segundos, já estávamos bastante excitados e nos esfregando um no outro. Rafael foi descendo beijando suavemente todo o meu corpo. Quando ele chegou à minha virilha e estava prestes a tirar minha cueca, ouvimos alguém subir apressadamente a escada e bater a porta de algum quarto com força. Paramos para prestar atenção e eu consegui ouvir a voz de Caio e Tiago brigando no quarto, embora não desse pra entender suas palavras. Já tinha dado para mim. Saí debaixo de Rafa e comecei a vestir minha roupa.
_Não vai, amor._ ele pediu _Você só vai estar dando audiência.
_Não disse que eu sou forte?_ respondi _Pois bem, você vai ver o quanto agora.
Ele não respondeu nada, apenas deu um longo suspiro e se jogou na cama novamente. Saí do quarto e me dirigi ao que Caio e Tiago estavam. Todo mundo parecia estar nos quartos de porta fechada, mas eu duvidava muito que ninguém estivesse ouvindo. Era a mesma briga de sempre: Tiago gritava sobre a importância de nós apoiarmos um ao outro e Caio gritava seu usual discurso de ódio.
Tiago!_ chamei quando entrei no quarto.
_O que?_ perguntou desviando sua atenção para mim.
_Deixa eu conversar com ele a sós.
_Eu que trouxe ele, Bernardo, ele é minha responsabilidade.
_Por favor.
Ele pareceu relutar um pouco. Caio continua a nos encarar com raiva.
_Mas eu vou estar aqui fora, qualquer coisa me chama.
_Certo.
Ele saiu do quarto e, quando ele passou pela porta, rapidamente a fechei e tranquei. Tiago voltou imediatamente e bateu na porta me pedindo para abrir, mas ignorei. Joguei a chave num canto e me dirigi a Caio. Ele me olhou curioso enquanto eu mantinha uma impressão impassível no rosto.
_O que você quer?!_ ele perguntou raivoso.
Não houve resposta, o que houve foi um soco certeiro em seu rosto. Ele caiu atordoado no chão do quarto.
_Esse foi pelas coisas horríveis que você disse para mim e para o meu namorado!
_Seu filho da...
Antes que ele pudesse terminar, eu já me agachei no chão e lhe dei mais um soco.
_Esse é por ter estragado meu fim de semana!
Mais um soco.
_Esse é por ser uma merda de irmão!
Mais um soco.
_Esse é por todos os seus olhares debochados e suas piadinhas de duplo sentido sobre mim!
Depois disso, os motivos se embaralharam na minha cabeça. Eu apenas batia. Ele apenas tentava se defender, mas não conseguia me atingir. Sim, eu estava com raiva, mas sabia muito bem o que estava fazendo. Eu lhe dei a chance de aprender a me respeitar pela via mais fácil, ele não quis.
_Bernardo! Abre! Bernardo!
As vozes de Alice e Rafael faziam coro com a de Tiago enquanto batiam na porta. Não respondi. Deviam estar todos de pé ali, pois agora era impossível negar que estivessem ouvindo qualquer coisa. Ignorei tudo isso. Continuei ali batendo nele, mas eu me concentrava em seus braços e ombros, não tinha a intenção de machuca-lo de alguma forma mais séria. Eu queria apenas acordá-lo. Em algum determinado momento, aquele exercício todo me cansou. Eu me levantei, e bati na porta.
_Nos deixem sozinhos!_ gritei para eles.
Houve respostas de protestos, mas não abri a porta. Logo eles desistiriam. Me sentei na cama e olhei para a figura patética do meu irmão caído no chão em posição fetal. Ele chorava muito e gemia baixinho de dor. Eu percebi que chorava também, mas não era pena. Era alívio. Eu devia ter feito aquilo a muito tempo.
_Não me importa quanto tempo ficaremos aqui._ falei para ele, que não me olhava _A gente só sai quando você me pedir desculpa por tudo.
Rafael tinha razão: agora eu era forte. Eu não deixaria mais ninguém passar por cima de mim e me humilhar, fosse meus sogros, minha mãe ou meu irmão mais novo. Eu nunca mais daria aos outros o poder de me fazer mal.
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Pessoal passando pra agradecer todos os comentários!
Ontem foi uma maratona postei muitos capítulos hehe!
E li todos mas não consegui responder todos! Pq meu foco eh terminar de posta logo tudo!
E tô mto feliz que vcs estão gostando, e estão viciado!
Esse conto não eh meu, estou postando que era da comunidade do Orkut! E ainda vou postar um que eh sensacional que eh meu TOP1 e esse sim vai mexer com as emoções babado!
Bernardo tem 100 capítulos! Minha meta eh postar hoje até o cap 90 e os 10 últimos amanhã! Então eh isso não esqueçam de comentar! É muita coisa vai acontecer ainda!