Bernardo [82] ~ Juramento

Um conto erótico de Bernardo
Categoria: Gay
Contém 1869 palavras
Data: 06/12/2023 17:40:06
Assuntos: Gay, Sexo, Início, Traição

Nada de muito relevante aconteceu durante o segundo semestre de 2008. Tudo continuou seguindo pelo mesmo caminho.

A mãe de Carolina, contra todos os prognósticos, estava se sustentando. O que não quer dizer que ela estava melhorando, apenas esticando por poucos meses sua expectativa de vida. Como resultado, Carolina realmente se afastou da faculdade, não indo nem mesmo nas festas, o que era compreensível. Só o seu usual grupinho tinha contato com ela. A consequência direta disso era a resistência de uma parte da nossa turma ao meu namoro com Rafael. Apesar de não andarmos de mãos dadas ou trocarmos beijos apaixonados na faculdade, não estávamos escondendo mais nada de ninguém. Mas as pessoas não estavam querendo ver dois homens namorando, feria seus olhos. Aliás, depois daquele dia que Rafael se declarou bêbado na festa de Pedro, nós dois nunca mais fomos tratados da mesma maneira pelos nossos colegas, para o bem e para o mal.

Em casa, as coisas estavam em suspenso. Thiago continuava próximo de mim, a caminho de virarmos grandes amigos. Laura ainda não tinha voltado ao seu estado normal, ainda que houvesse melhorado bastante desde então. A minha relação com Caio nunca mais voltou a ser o que era, mas talvez não fosse pra ser. Estávamos construindo uma nova relação. Ele já conversava civilizadamente comigo, mas nada muito íntimo. Ainda pisávamos em ovos um com o outro, mas já era alguma coisa. Meu pai continuava fazendo o meio de campo dentro de casa.

Minha mãe... Nada mudou na forma como ela me tratava. Ela tinha o mínimo de civilidade comigo, se dirigindo a mim somente quando se tratava de questões básicas. Eu mudei minha postura com ela, guardando as armas e abrindo a guarda, mas isso não fez o efeito desejado. Hoje eu sei que minha mudança de atitude levou ela a uma mudança mais sutil de pensamento, mas aquilo não se mostrou em mudanças de comportamentos naqueles primeiros meses após eu me assumir para ela.

Minha família aproveitou o feriado municipal do início de dezembro para visitar minha avó em Porto Alegre. Era justo, já que dado todo o ocorrido com tio Aurélio, é como se eles nem a tivessem visitado. Eu não pude ir porque tinha começado a estagiar numa cidade vizinha.

_Boa viagem._ falei para eles na porta de casa na sexta-feira à noite antes deles irem para o aeroporto.

_Nada de bagunça, seja responsável, ouviu?_ falou meu pai.

Era a primeira vez que eu ficava completamente sozinho em casa por três dias seguidos. Eu realmente não planejava “fazer bagunça”, mas lógico que a ocasião não ia passar em branco. Rafael ia dormir comigo durante o fim de semana. Não podíamos perder aquela oportunidade, uma vez que eram raras as ocasiões onde nós íamos dormir e acordar juntos. Mas minha família não sabia dessa parte, óbvio.

_Eu vou me comportar, pai._ falei num tom quase imperceptível de deboche.

_Bom mesmo.

Tiago falou no meu ouvido, me fazendo rir:

_Nada de aprontar com o Rafa, viu?

Ele se aproximou mais de mim e passou a mão no meu pescoço.

_O que foi?_ estranhei.

_Você tá quente. Tá com febre.

_Não deve ser nada. Peguei uma chuva ontem, já passa.

Minha mãe se materializou de algum lugar atrás de nós e colocou a mão na minha testa. Eu me assustei, mas ela pareceu ignorar. Era a primeira vez que ela tocava em mim desde que ela me deu aquele tapa na cara.

_Você tá com febre mesmo. E agora?_ perguntou mais pra ela mesma do que pra um de nós.

_Eu tô bem, só com um pouco de mal estar. Um antitérmico vai resolver.

Ela coçou a cabeça preocupada.

_Tá, toma. Mas quero você ligando pro seu pai se você sentir qualquer coisa diferente.

_Tá, mãe._ respondi sem jeito.

Ela saiu pra algum lugar qualquer do apartamento, deixando eu e Tiago sem palavras. Certo, pensando bem, foi um enorme passo, mas naquele momento gerou apenas estranheza.

_Devagar é que se vai longe!_ comentou meu irmão.

[...]

Quando abri a porta do apartamento duas horas depois da minha família ter partido, Rafael pulou em cima de mim antes mesmo de dizer alguma coisa. Ele envolveu minha cintura com suas pernas e me prendeu num beijo intenso. Mal conseguia raciocinar o bastante para fechar a porta atrás dele. Sem falarmos nada ou pararmos de nos beijar, eu fui levando ele até o meu quarto. O joguei na minha cama e o fiquei encarando.

_Que saudade do seu quarto, das suas coisas, do seu cheiro..._ ele falou se espreguiçando na cama.

Não respondi. Me aproximei dele e comecei a despi-lo. Primeiro, tirei seus tênis e suas meias, apertando com carinho os seus pés. Ele me ajudou a tirar a própria camisa e eu fiquei passando a mão sobre seu peito e seus braços. Ele apreciava os carinhos de olhos fechados e com um sorriso safado no rosto. Tirei sua bermuda e sua cueca de uma só vez, exibindo seu pau já duro me encarando.

_Rafa..._ falei lhe dando beijinhos no pescoço.

_O que?

_Podemos fazer sem hoje?

Ele entender bem a minha pergunta. Nunca tínhamos transado sem camisinha. Ele me respondeu com lindo sorriso. Eu tirei minha própria roupa, peguei o lubrificante e espalhei no seu pau. Era tão forte a sensação de estarmos compartilhamos nossos corpos ali, que não demorou mais do que alguns poucos minutos cavalgando em Rafa para que eu sentisse sua porra me preencher por dentro. Só aquela sensação foi o bastante para me fazer gozar muito e cair semi-desmaiado no peito do meu namorado.

_Eu te amo tanto, Rafa..._ murmurei antes de cair no sono.

[...]

_Amor? Amor, acorda._ ouvi a voz de Rafa me chamando.

Meu corpo estava péssimo, parecia que eu tinha sido atropelado por um caminhão.

_Você tá ardendo em febre, Bernardo._ ele falou preocupado.

_Eu tô bem._ menti _Só preciso de um banho.

Me levantei com alguma dificuldade e fui tomar banho, o que não ajudou tanto quanto eu achei que ajudaria. Quando voltei ao quarto, ele já tinha separado uma roupa pra mim.

_Vamos, vou te levar no médico.

_Não precisa, Rafa. Eu tô bem._ respondi manhoso.

_Não está, não. Eu vou te levar ao médico, não tem discussão.

E lá fomos nós ao médico. Não deu outra: garganta inflamada. Me mandaram de volta pra casa depois de um bem dolorosa injeção de Bezetacil. Rafael me acompanhou o tempo todo.

_Obrigado, Rafa. Eu vou ficar bem._ falei depois dele me colocar na cama.

_O que? Você está achando que eu vou te deixar sozinho aqui? De jeito nenhum! Vou preparar nosso almoço._ falou saindo do quarto.

Eu ia falar que não precisava, mas no fundo eu estava gostando de todo aquele cuidado.

Ele voltou com um prato de sopa.

_Eu não gosto de sopa, Rafa.

Ele riu.

_Deixa de ser chato, abre a boca.

Ele ficou me dando comida na boca, embora não houvesse muita necessidade daquilo. Nós dois estávamos nos divertindo com aquela situação, ele gostando de cuidar e eu gostando de ser cuidado. Foi um fim de semana muito romântico até certo ponto, apesar de não ser nada do que imaginávamos que seria.

[...]

_Acorda, Bernardo._ me chamou Rafa na segunda-feira de manhã.

_O que foi?

_Já são quase meio-dia. Você não vai para o estágio?

_Mas hoje é feriado!_ reclamei me escondendo embaixo da coberta.

_Em BH, mas você trabalha em Nova Lima.

_Mas eu tô doente.

_Tá nada, já melhorou.

_Mas o médico me deu um atestado pra três dias._ falei rindo.

_Ah, seu Bernardo!_ ele riu também.

Ele me abraçou e afundou o rosto entre meu pescoço e meu ombro.

_Você tá se sentindo mal ainda?_ perguntou.

_Não tô 100%, mas tô quase lá.

_Fui um bom enfermeiro então?

_Não poderia ter escolhido um melhor. Muito obrigado.

_Não fiz mais do que a minha obrigação.

_Sua obrigação?

_Na saúde e na doença...

_Mas nós nem nos casamos!

_Ainda!_ ele respondeu rindo.

_Um dia...

_Um dia...

Eu sorri nos imaginando casados um dia.

_E como você imagina o nosso futuro?_ perguntei.

_Ah, sei lá. Eu gostaria de formar família com você, ter uns quatro catarrentos correndo pela casa.

_Quatro?!

_Na sua família deu certo, não?

_É..._ respondi rindo.

_Mas primeiro eu quero rodar o mundo com você. Conhecer das maiores cidades às mais remotas ilhas. Aí, poderíamos escolher um lugar pra viver e fincar raízes.

_Você não quer ficar no Brasil?

Ele ficou um tempo em silêncio antes de responder.

_Não é ser anti-Brasil, mas pra gente é complicado. Nós nunca vamos ser respeitados, vistos como família.

_As coisas podem mudar...

_Não acho que veremos mudanças tão profundas ainda vivos...

_Você é um tanto quanto cético.

_Realista, meu amor.

Me virei e fiquei de frente para ele, admirando meu reflexo no fundo dos seus olhos.

_Você iria comigo?_ ele perguntou.

_Seria muito difícil deixar tudo pra trás, principalmente minha família. Mas, sim, eu te seguiria aonde quer que você fosse.

Ele sorriu e me deu um selinho.

_Agora que você está melhorzinho, a gente podia continuar nossos planos pro fim de semana._ falou com um voz mansa e passando a mão por dento da minha cueca.

_Eu adoraria, amor, mas minha família já deve estar chegando. Não podemos arriscar.

Ele deu um suspiro de conformação, riu, e se vestiu. O levei até a porta.

_Muito obrigado por ter cuidado pra mim._ falei lhe dando um beijo de despedida.

_Eu vou cuidar de você pelo resto da nossa vida.

[...]

Minha família chegou no meio da tarde e me encontrou embolado no meio das cobertas assistindo televisão na sala.

_Melhorou?_ perguntou meu pai colocando a mão na minha testa.

_Sim, fui no médico e tomei uma Bezetacil.

_O que?!_ gritou minha mãe mais uma vez se materializando ao meu lado.

_Calma, era só garganta inflamada.

_Eu não te mandei nos deixar informados!

_Mas não achei que tinha necessidade...

_Como não? Você passando mal aqui sozinho, indo pro hospital sozinho!

_Mas eu não estava sozinho!

No instante que falei, me arrependi. Não era para ele saberem, me entreguei num ato falho. Meu pai cruzou os braços e minha mãe recuou adotando a mesma posição distante dos últimos tempos. Não adiantava mais mentir.

_Rafael cuidou de mim._ era a primeira vez que eu falava dele para eles deixando claro o que éramos _Eu sei que não devia, mas é nada tão grave assim. Ele cuidou de mim, do mesmo jeito que eu cuidaria dele. Que tipo de pessoa ele seria se não o tivesse feito?

Ninguém me respondeu. Meu pai coçou a cabeça e minha mãe saiu sem fazer mais nenhum comentário. Suspirei e me deixei afundar no sofá. Naquele momento, eu interpretei aquilo como um grande recuo nos avanços que tive com minha mãe, mas não foi. Que mãe pode odiar alguém que se dispôs a cuidar do seu filho com tanto carinho sem pedir nada em troca? Dali a alguns anos, minha mãe me confessaria que foi naquele momento que ela passou a olhar Rafael com outros olhos.

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Comentários

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Lindo demais esses dois juntos. Fofo!

Cuidado, uma das mais belas expressões do amor. A toda hora esses dois provam que se amam.

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É isso, completamente viciado, quero mais

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