Bernardo [87] ~ Aniversário

Um conto erótico de Bernardo
Categoria: Gay
Contém 2298 palavras
Data: 08/12/2023 04:56:09
Assuntos: Gay, Sexo, Início, Traição

17 de abril de 2009, sexta-feira.

_Ao contrário de tudo o que você possa me dizer, matar aula é sempre uma boa ideia._ falou Rafael me fazendo rir.

Estamos deitados nus no chão da sua casa de campo. Suados e exaustos, falávamos com largos espaços tentando recobrar o fôlego.

_Matar aula com você é sempre uma boa ideia, amor._ respondi _O que eu discordo é da frequência com que você propõe isso.

_Mas hoje é especial._ ele falou se virando de lado e me olhando _Feliz aniversário, amor.

_Essa é décima vez que você me deseja feliz aniversário hoje._ falei rindo.

_Só se faz 21 anos uma vez na vida!

Me virei de frente para ele e ficamos nos encarando nos olhos um do outro, perdidos naquela nossa simbólica eternidade.

_Ansioso pra hoje à noite?_ perguntei.

_Muito! Mas é uma ansiedade boa. Eu vou conhecer meus sogrinhos!

_Eu estou nervoso._ falei já sentindo um frio na barriga.

_Vai dar tudo certo. Pelo que você contou, sua mãe já está ok com a questão do nosso namoro, ela só precisa nos ver juntos.

_É... Vai dar tudo certo..._ respondi sem muita certeza.

_Bom, já posso te dar meu presente?

_Tem presente?

_Claro!

Rafael rastejou até a sua mochila, pegou um pequeno embrulho e me deu. Eu abri curioso e me deparei com um par de alianças prateadas.

_O que é isso, Rafa?_ perguntei sorrindo.

_O que você acha que é?_ ele respondeu rindo.

Rafael pegou uma das alianças e colocou no meu dedo.

_Bernardo, aceita namorar comigo?

_Seu lesado, estamos namorando a quase um ano já!_ falei rindo.

_Mas agora é oficial, já que vou conhecer seus pais. Aceita?

_Claro que aceito!_ e coloquei a aliança no seu dedo também.

Selamos a troca de alianças com um longo beijo, que logo foi evoluindo...

[...]

Meu aniversário de 21 anos foi comemorado de uma forma muito íntima. Eu não tinha nenhuma vontade de fazer uma grande festa, aliás, nunca tive. Sem contar que eu não queria pagar por uma festa para pessoas que mal me olhavam na faculdade, e eu tinha me afastado dos meus amigos mais antigos nos últimos anos. Logo, decidi fazer um churrasco só com as pessoas que realmente estavam participando na minha vida.

Três semanas haviam passado desde aquela conversa que tive com minha mãe, e não houve mais nenhuma menção ao assuntos, nem por parte dela, nem por minha parte. Eu entendi que ela precisava daquele tempo para digerir tudo. Quando os meus amigos começaram a chegar, ela ainda estava trancada no quarto.

Alice e Pedro foram os primeiros e, estando cientes da situação, a ausência dela foi a primeira coisa que perguntaram:

_Cadê sua mãe?_ perguntou Pedro.

_No quarto. Ela acabou de chegar do trabalho.

_Mas ela vai aparecer, certo?

_É o que eu espero. Deixou a comida pré-pronta em cima do fogão e se trancou no quarto.

_Bom, paciência.

É, não havia outro jeito mesmo, era preciso ter paciência.

Às oito da noite, todos os convidados já haviam chegado, faltando apenas os dois principais: Rafael e minha mãe. Meu pai e Pedro cuidavam do churrasco, enquanto Tiago e Laura entretinham meus amigos. Até Caio estava bem mais sociável do que o usual. E eu suspeitava que isso tinha muito a ver com a presença de Mariana.

Minha mãe ainda não havia aparecido quando meu namorado chegou.

_Tudo certo?_ ele perguntou na porta e me deu um rápido selinho.

Eu me assustei, mas consegui disfarçar para ele. Acho que o fato de a casa estar cheia ainda me colocava algum freio em relação a troca de carinhos com meu namorado.

_Mais ou menos. Minha mãe ainda não saiu do quarto.

_Bom, a noite é uma criança!_ ele falou animado _O seu pai eu já posso conhecer?

_Vamos lá.

Meu coração batia forte enquanto caminhava em direção à varanda de mãos dadas com Rafael. Meus amigos estavam na sala e riram, até mesmo Caio. Pedro estava saindo da varanda na hora, e fez um sinal de duplo “joinha” por puro deboche. Meu pai estava de costas para mim cuidado do churrasco quando chegamos na varanda.

_Pai?

_Já tá quase saindo._ ele respondeu sem me olhar.

_Não é isso._ falei quase sem forças _Eu queria te apresentar o Rafael.

Meu pai demorou mais do que o suficiente para parecer natural para se virar para nós. Ele não desaprovava, apenas estava sem jeito com a situação. Além do fato de eu e Rafael sermos homens, havia o fato de aquela ser a primeira vez que um dos seus filhos lhe apresentava alguém.

_Prazer, seu Olavo._ falou Rafael animado lhe estendendo a mão.

_Prazer, Rafael. Pode me chamar só de Olavo.

_Bernardo!_ gritou Alice me chamando

Fui correndo de volta pra sala e ela me chamou num canto.

_O que foi?_ perguntei preocupado.

_Nada, só te chamei pra você deixar seu pai conversar em paz com Rafael.

_Alice!_ bufei e me virei pra voltar pra varanda.

_O senhor fica aqui com a gente._ falou Pedro me segurando.

_Relaxa, Bernardo._ completou Tiago _O papai é tranquilo.

Não que eu tivesse outra alternativa, mas deixei que meu pai conversasse com Rafael em paz. Mais tarde, meu namorado me confessaria que foi um papo normal, onde meu pai só queria conhece-lo um pouco melhor e deixar claro que estava de acordo com o namoro. Os dois ainda conversavam a sós quando minha mãe saiu do quarto.

Troquei um rápido olhar com Alice, denunciando a minha tensão com os possíveis rumos daquela noite. Ela foi a única pra quem contei sobre a conversa que tinha tido com minha mãe, pois tive medo que me recriminassem por usar a doença da minha avó daquela maneira. Não que Alice não tivesse feito isso, mas com as broncas dela eu já estava acostumado.

_Boa noite, meus queridos, sejam bem-vindos._ minha mãe falou para meus amigos na sala.

Ela estava sendo educada, mas bastante econômica com eles. Ela era bem mais animada e entusiasmada do que aquilo. Em seu estado normal, teria sentado ali e conversado por pelo menos uns dez ou quinze minutos com a gente.

_Eu vou checar como anda o restante da comida na cozinha._ ela completou e se virou para ir pra cozinha.

_Tereza._ chamou meu pai aparecendo na sala com Rafael _Esse é o Rafael.

Ali, apenas Paulinho, Bruno e Mariana não sabiam a real dimensão do que estava acontecendo. Para eles, a tensão toda ali era por eu estar apresentando alguém aos meus pais, embora com certeza estranhassem porque eu demorara tanto para fazer isso.

_Ah._ minha mãe vacilou por um instante _Claro!

Ela caminhou até meu namorado, pegou nas suas duas mãos com força e beijou o ar próximo a sua bochecha.

_É um prazer, Rafael! Fique à vontade!

Era um exagero. Saiu muito falso, pelo menos para mim que tinha as informações completas sobre a situação. Rafael não, então ele sorriu animado com seu cumprimento.

_Eu vou à cozinha e já me junto a vocês.

Ela foi pra cozinha e meu pai a seguiu. Rafael se sentou ao meu lado na sala e entrou no papo com o restante da turma. Meus irmãos não fizeram nenhum comentário, embora com certeza também tivessem captado a falsidade na voz da minha mãe. Eles não falariam nada ali na frente dos meus amigos, afinal, naquela família sempre tivesse aulas intensivas de discrição.

Eu dei um voto de confiança à minha mãe. Por mais que eu não concordasse nem um pouco com a maneira como ela pensava, eu lhe dei crédito por pelo menos tentar. Talvez minhas palavras tinham tido efeito, afinal. Mas com ela, é sempre bom forçar a barra mais um pouquinho a fim de conseguir alguns avanços: quando eu cortei o bolo, fiz questão de dar o primeiro pedaço para o meu namorado, e este veio acompanhado de um estalado beijo na bochecha.

Nos olhos do meu pai eu vi constrangimento, nos da minha mãe vi desaprovação. Mas nenhum deles disse nada, ou mesmo deixou que os sorrisos caíssem. Eu disse para mim que aquele já era um passo enorme.

17 de abril de 2010, sábado.

_Não vai mesmo me dizer para onde está me levando?_ perguntei no carro.

_Qual o seu problema com surpresas?_ ele falou sorrindo sem desviar sua atenção da direção.

_Eu gosto de saber onde estou pisando.

_Triste notícia pra você: pretendo continuar te aprontando surpresas pelo resto da vida.

Eu ri e relaxei. Deixei meu namorado me levar.

_Estamos indo comemorar o meu aniversário de 22 anos ou o aniversário de um ano dessas alianças?_ perguntei.

_O seu._ ele respondeu rindo maliciosamente _O das alianças a gente comemora mais tarde...

Tive que driblar um manhoso Tiago para que Rafael pudesse me levar para comemorar meu aniversário. Tiago sempre foi da opinião que aniversário é uma coisa para se comemorar cercado do máximo possível de pessoas.

_Estamos chegando, põe a venda que está no porta-luvas._ Rafa falou.

_O que?

_Você entendeu.

_Venda para que?

_Você pode por favor não estragar meus planos?_ ele falou rindo.

Bufei e decidi embarcar na sua pequena aventura. Vendei meus próprios olhos. Não demorou muito até ele parar o carro, vir ao meu encontro e me guiar por um caminho desconhecido.

_Cuidado com o degrau._ ele falou.

_Pra onde você está me levando, Rafa?

_Você já vai ver.

Ele tirou a venda e eu me vi parado em frente a porta de uma casa toda pintada de branco num bairro da zona sul de Belo Horizonte. O consultório da minha mãe.

_Mas o que...?_ perguntei confuso.

Antes que eu pudesse raciocinar, Rafa abriu a porta e acendeu a luz. O que pareceu um milhão de pessoas pularam na minha frente gritando “surpresa!”.

_Vocês!_ eu falei ainda sem ação e todos riram de mim.

Estavam ali meus pais, meus irmãos, meus amigos de faculdade, alguns amigos mais antigos, alguns tios e primos, e até meus sogros. Totalizavam umas cinquenta pessoas. Tinham retirado todos os móveis do primeiro andar da casa que minha mãe usava de consultório, que era usado como recepção e sala de espera, revelando um espaçoso salão. Tudo estava decorado sobriamente, e tinha até mesmo dois garçons para servir bebidas e salgados.

_Você!_ falei me virando para Rafael que sorria como uma criança travessa.

_Você merece!_ rebateu debochado.

Lhe dei um raro beijo em público, ainda que muito breve e fui cumprimentar meus convidados.

_Seu mentiroso de uma figa!_ falei dando um soco no braço de Tiago.

_Você não podia desconfiar, uai!_ ele respondeu rindo.

_Feliz aniversário, Bêzinho!_ falou Laura apertando minha bochecha, o que ela sabia que eu odiava.

_Vocês que armaram tudo isso com Rafael?

_Na verdade, foi a mamãe que armou com ele._ respondeu meu irmão mais velho.

_Sério?_ estranhei.

_Pois é, vamos caminhando a pequenos passos._ ele falou _Quem sabe ano que vem ela já esteja chamando ele de genro?

_Sonhar é de graça, né?

Meus amigos estavam todos juntos numa rodinha de conversa.

Parabéns!_ eles gritaram juntos e me deram uma abraço coletivo, o que eles sabiam que eu também não gostava.

_Muitos felicidades, cunhadão!_ falou Mariana me dando um beijo na bochecha.

_Obrigado, cunhadona.

_Não vai cumprimentar seu irmão?_ falou Mariana batendo no ombro de Caio _Cadê seus modos?

Caio me deu um abraço contrariado e resmungando qualquer coisa, o que me fez rir.

_Está botando ele no eixo, hein?_ eu falei pra Mariana.

_Me dá mais um ano e eu vou deixa-lo no nível de um lord inglês.

Alice e Pedro me puxaram para um canto.

_O que você diria se a gente te dissesse que convidamos Ricardo sem Rafael saber?_ perguntou Pedro baixinho.

_Por que vocês fazem essas coisas?_ perguntei bravo _Querem ver Rafa brigando comigo no dia do meu aniversário?

_Não te avisei, seu jumento._ falou Alice para o namorado _Ainda bem que eu não te deixei fazer essa idiotice.

_Hã?_ perguntei sem entender o que estava acontecendo.

_Pedro achou que era uma ideia maravilhosa, mas eu, a parte sã do casal, impedi. Ele te perguntou pra provar pra mim que eu estava errada e se ferrou.

_Ah!_ falou Pedro fazendo pouco da situação.

_Então, nada de Ricardo?_ perguntei para ter certeza.

_Nada de Ricardo._ Alice confirmou.

Por um lado, fiquei triste. Por mais que com certeza levasse a uma briga com Rafael, eu estava com saudade de Ricardo. Embora nos falássemos pela internet de vez me quando, fazia quase dois anos que a gente não se via.

Fui despertado do meu breve devaneio pela visão da minha mãe e Rafael juntos conversando com um garçom. Quando eu imaginaria aquela cena?

_Muito obrigado pela festa, gente._ falei chegando perto deles _Não tenho como agradecer.

_Você merece, meu filho._ minha mãe respondeu me dando um beijo no alto da cabeça.

_Merece uma festa até muito maior, mas você é chato e não gosta._ falou Rafael.

_Ainda bem que você sabe._ respondi o abraçando pela cintura.

_Bom, vou resolver algumas coisas ali na cozinha._ falou minha mãe.

Ela ainda se incomodava com minhas demonstrações de carinho com meu namorado. Uma parte ainda era um resquício de preconceito, outra era o velho ciúme de mãe que sofre ao com a proximidade do momento em que seu ninho ficará vazio. Com relação ao meu namoro, ela ainda tinha um longo caminho a percorrer, mas eu não tinha pressa. Afinal, como aquela festa me ensinou, nada como o tempo para colocar as coisas nos seus devidos lugares.

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Comentários

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Chorei de emoção agora. Afinal, depois de tantos descaminhos, sofrimentos, perdas, dores (e também momentos muito bons, mas não completos), Bernardo estava desfrutando do convívio pacífico com sua família, a de Rafael e seus amigos queridos.

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