Bernardo [95] ~ O som do coração

Um conto erótico de Bernardo
Categoria: Gay
Contém 2361 palavras
Data: 10/12/2023 15:35:00
Assuntos: Gay, Sexo, Início, Traição

Eu e Rafael estávamos dando um tempo. Ou melhor eu estava dando um tempo de Rafael. Não deixei de amá-lo, nem pretendia terminar o namoro, apenas precisava não ver ele por um tempo. O que ele tinha aprontado naquela boate ainda estava muito vivo na minha cabeça. Eu ainda o amava, mas eu estava com raiva dele.

Ricardo também não atendia meus telefonemas, ainda magoado comigo por esconder dele que eu estava me mudando para o Canadá com Rafael. Não que eu tirasse a razão dele, de jeito nenhum, mas eu simplesmente não podia conviver com a ideia de Ricardo não gostando de mim. Não que eu tivesse a intenção de retomar nosso namoro, mas eu precisava que nós ficássemos bem. Eu estava decidido a procura-lo pessoalmente, já que ele não me atendia.

Mas surgiu outro compromisso antes. Chegava a ser cômico: tanto Alice quanto Pedro, sem que o outro soubesse, me ligou convidando para participar do primeiro ultrassom do bebê. Eu me senti honrado de poder participar daquele momento tão único da vida deles, mas eu não me enganava. Eles me convidaram para não terem que ficar a sós um com o outro no consultório. E eu fiz questão de me atrasar um pouco para forçar que eles tivessem ao menos o mínimo de conversa civilizada um com o outro. Não deu muito certo, porque quando cheguei os dois estavam lado a lado encarando uma parede em silêncio.

_Você atrasou._ falou Alice que percebeu minhas intenções.

_Trânsito, você sabe.

_Sei.

Mal cumprimentei Pedro e a enfermeira nos chamou. Ela nos olhou curiosa ao ver nós dois entrando com Alice, mas não comentou nada. O médico logo apareceu e também olhou intrigado. Pedro já foi logo explicando.

_Eu sou o pai. Ele é o padrinho.

_Padrinho?_ perguntei surpreso.

_É, uai._ ele respondeu _A gente não conversou sobre esse tipo de detalhe, mas não acho que Alice teria nada contra, certo?

_Não vai ter padrinho porque não vai ter batizado._ ela respondeu.

_Como assim?_ perguntou Pedro.

_Eu não vou escolher a religião do meu filho. Quando ele ou ela tiver idade o suficiente para pensar sobre isso, pode escolher sua religião.

_Muito obrigado por me deixar participar da decisão._ meu amigo falou irônico.

Alice era ateísta, não acreditava em nada mesmo. Pedro não era a pessoa mais religiosa do mundo, mas acreditava em algumas coisas. Inclusive que uma criança precisava da benção de Deus de alguma forma concreta, como o batizado católico. Senti outra briga começando ali.

_Vamos ao exame, gente?_ falei rapidamente olhando para o médico.

Ele entendeu o recado e se apressou a preparar Alice. Os pais se calaram e deixaram o assunto para depois. O médico levantou a blusa de Alice, espalhou o gel e começou a caminhar com o aparelho de ultrassom pelo seu ventre. Inevitavelmente, me lembrei de ter assistido aquela mesma cena com Laura, com aquele desfecho terrível. Eu, que também nunca fui dos mais religiosos, me vi rezando para estar tudo bem com a criança.

_Esse é o bebê de vocês._ o médico falou e virou a tela para a gente.

Era não mais que uma mancha branca no fundo escuro, mas ainda sim já era possível distinguir suas formas humanas. Todo encolhido, protegendo-se do mundo aqui de fora.

_E esse..._ falou o médico apertando um botão _é o som do coração dele.

Incrível como um som tão simples como aquele era capaz de nos provocar aquela tempestade de emoções. O coração do meu afilhado! O mais novo membro da nossa turma, das nossas histórias. Me apressei a enxugar minhas lágrimas, mas vi que não havia necessidade, pois Pedro e Alice também derramavam suas próprias lágrimas de felicidade.

_Querem que eu imprima a imagem?_ o médico perguntou.

_Tem como imprimir três cópias?_ perguntei, fazendo todos ali rirem.

Eu que juntei aqueles dois, aquele bebê era meu também, ainda que só uma pequena parte dele. O nosso bebê.

_Ele tem dez semanas e está tudo correndo muito bem até aqui. Na próxima vez acho que já será possível ver o sexo.

O médico deu mais algumas instruções para Alice e saiu para buscar nossas cópias do exame. Alice se levantou e começou a limpar o gel sobre sua barriga. Ela ainda chorava, apesar de estampar um sorriso no rosto.

_Bernardo..._ ela falou me encarando.

_O que foi?

_Não vai ter padrinho, mas você pode ser o padrinho simbólico._ ela falou rindo _Se alguma coisa acontecer comigo, com Pedro, e com nossos pais, você é o próximo da lista.

_Obrigado pela confiança._ respondi a abraçando.

Pedro chegou perto de nós dois e apertou meu ombro.

_A gente ainda tem que acertar muitas coisas sobre o futuro dessa criança, mas uma coisa é mais do que certa: você vai ser parte da vida dela._ ele falou sorrindo para mim _Se bobear, você vai estar na sala do parto junto com a gente.

Meu sorriso se perdeu. O bebê nasceria em abril ou maio, mas eu já estaria no Canadá com Rafael. Minha ficha caiu ali: talvez eu não participasse da vida do baby.

O que foi?_ Pedro perguntou me estranhando _Não vai dizer que você tem medo de sangue?

_Não, é que...

Eu não pretendia contar para eles ali. Era para esperar até as coisas estarem mais encaminhadas, mas eu não podia mais esconder aquilo. Não daqueles dois.

_Aconteceu uma coisa, gente.

_O que foi?_ perguntou Alice preocupada.

_Ofereceram um emprego muito bom para Rafael no Canadá.

Eles me olharam impassíveis, ainda tentando entender onde eu ia chegar.

_E eu aceitei ir com ele.

_O que?!_ eles gritaram em conjunto.

_Eu vou me mudar com Rafael pro Canadá._ repeti.

_Você não pode fazer isso!_ falou Pedro _Sua vida é aqui.

_Eu sei, gente, mas eu não posso deixar ele perder essa oportunidade. E eu não que me separar dele.

_E você ia contar pra gente quando? No aeroporto?_ perguntou Alice brava.

_Não, eu só estava esperando as coisas estarem mais certas. Nosso visto nem saiu ainda.

_E quando vocês estão pensando em ir?_ ela perguntou.

_Fevereiro.

_Você não vai estar aqui nem pro nascimento?!_ Pedro perguntou com indignação.

_Não, não vou. Me desculpa, eu...

O meu telefone tocou e foi a minha salvação.

_É Rafael me ligando, gente. Eu tenho que ir. Depois a gente se fala. Beijo_ falei já saindo da sala.

Eles fizeram menção a vir até mim, mas o médico já estava voltando com as imagens e aproveitei para correr deles. Eu não podia fugir para sempre, uma hora teria que encarar os dois. Mas eu podia adiar um pouco as coisas.

_Alô?_ falei atendendo o celular e indo pro estacionamento.

_Sou eu, Bê._ falou Rafa com um voz triste.

_Eu sei.

_Nós podemos conversar? Eu sei que eu errei muito, eu quero te pedir desculpa. Não quero ficar assim de mal de você.

_Nem eu, Rafa, mas amanhã a gente conversa.

_Por que não pode ser hoje?

_Porque eu estou indo na casa de Ricardo.

_O que?_ ele falou já mudando o tom de voz _O que você vai fazer lá?

_Arrumar a sua bagunça, é claro!

_Mas... Mas...

_Pensasse nisso antes de arrumar briga._ falei seco _Amanhã eu te ligo. Beijo.

Desliguei antes dele responder. Eu sei que estava sendo muito infantil, mas eu ainda estava com raiva dele pelo que ele tinha feito. Rafa teria que ficar sofrendo por mais um dia, porque naquele momento eu só conseguia pensar em me acertar com Ricardo.

[...]

_Posso entrar?_ falei batendo na porta do quarto dele.

Ricardo me olhou confuso.

_Seus colegas me deixaram entrar._ expliquei.

Ele me olhou com uma expressão de cansaço e tristeza. Me machucou, pois ele sempre me recepcionava com um olhar carinhoso.

_Podemos conversar?_ perguntei.

Ele fez que sim com a cabeça e me mandou fechar a porta do quarto. Ele estava sentado na cama e eu me sentei na cadeira da sua escrivaninha.

_Eu queria te pedir desculpas._ falei _Eu devia ter te contado. Eu acho que estava tão feliz de nós estarmos tão perto de novo, que tive medo de destruir isso.

_Isso não justifica nada.

_Eu sei, eu sei. Se isso ajuda um pouco, não contamos a ninguém.

_Eu não sou todo mundo, Bernardo._ ele falou claramente magoado _Eu estou aqui na sua cidade e agora você está indo embora. Você não acha que deveria ter me dito alguma coisa? Eu nunca teria feito isso com você.

_Ricardo...

Eu precisava perguntar. Desde que Rafael jogou a questão em cima da mesa, essa dúvida ficava rondando minha cabeça.

_Por que você veio pra BH?_ perguntei.

Ele sabia muito bem o que eu estava perguntando. Eu queria saber se ele tinha vindo atrás de mim.

_Eu vim pra cá por causa de uma ótima proposta de emprego. Não foi atrás de você.

Ele falou firme e sincero. Novamente, aquilo doeu mais do que o esperado. No fundo, por mais egoísta que fosse e eu sei disso, eu ainda esperava grandes gestos românticos dele. Ricardo se levantou e ficou admirando a vista pela janela.

_Dois anos, Bernardo._ ele falou _Dois anos sem você. Eu chorei tudo que tinha pra chorar, fiquei com raiva, trepei com quem estava disposto, amei novamente e até namorei. Tudo para esquecer você. E eu juro que achei que tinha conseguido. Mas na hora que você apareceu na minha porta, tudo voltou como uma avalanche.

Nos seus olhos na boate eu já tinha descoberto aquilo. Ele ainda me amava. Novamente, eu sei o quanto é egoísta, mas foi extremamente reconfortante ouvir aquilo.

_Eu não sou uma daquelas pessoas depressivas que sente prazer em sofrer. Se eu tivesse plena consciência dos meus sentimentos por você, eu nunca teria vindo para cá. Eu não queria ver você feliz com Rafael. Acho que eu estou arrependido de ter vindo.

Eu comecei a chorar baixinho. Aquela era a minha sina? Machucar Ricardo vez após vez? Me levantei, caminhei até ele o abracei por trás, pousando a minha cabeça no seu ombro pra chorar. Há quanto tempo eu não fazia aquilo... Como eu sentia falta do seu cheiro, do seu toque... Ali, tão perto, eu conseguia ouvir muito claramente as batidas do seu coração. Aquele coração que batia por mim.

Eu precisava perguntar. Desde que Rafael jogou a questão em cima da mesa, essa dúvida ficava rondando minha cabeça.

_Por que você veio pra BH?_ perguntei.

Ele sabia muito bem o que eu estava perguntando. Eu queria saber se ele tinha vindo atrás de mim.

_Eu vim pra cá por causa de uma ótima proposta de emprego. Não foi atrás de você.

Ele falou firme e sincero. Novamente, aquilo doeu mais do que o esperado. No fundo, por mais egoísta que fosse e eu sei disso, eu ainda esperava grandes gestos românticos dele. Ricardo se levantou e ficou admirando a vista pela janela.

_Dois anos, Bernardo._ ele falou _Dois anos sem você. Eu chorei tudo que tinha pra chorar, fiquei com raiva, trepei com quem estava disposto, amei novamente e até namorei. Tudo para esquecer você. E eu juro que achei que tinha conseguido. Mas na hora que você apareceu na minha porta, tudo voltou como uma avalanche.

Nos seus olhos na boate eu já tinha descoberto aquilo. Ele ainda me amava. Novamente, eu sei o quanto é egoísta, mas foi extremamente reconfortante ouvir aquilo.

_Eu não sou uma daquelas pessoas depressivas que sente prazer em sofrer. Se eu tivesse plena consciência dos meus sentimentos por você, eu nunca teria vindo para cá. Eu não queria ver você feliz com Rafael. Acho que eu estou arrependido de ter vindo.

Eu comecei a chorar baixinho. Aquela era a minha sina? Machucar Ricardo vez após vez? Me levantei, caminhei até ele o abracei por trás, pousando a minha cabeça no seu ombro pra chorar. Há quanto tempo eu não fazia aquilo... Como eu sentia falta do seu cheiro, do seu toque... Ali, tão perto, eu conseguia ouvir muito claramente as batidas do seu coração. Aquele coração que batia por mim.

Ele não cedeu. Continuou encarando a paisagem sem retribuir o abraço, embora não estivesse me rejeitando também.

_O que doeu mais?_ perguntei _Eu ter escondido de você ou o fato de eu estar indo embora?

_Nenhum dos dois._ ele respondeu depois de um tempo _O que mais doeu é perceber que ele te faz feliz.

Ele se virou e olhou para mim com os olhos vermelhos.

_É doloroso saber que não é você que faz bem para pessoa que ama.

_Se serve de consolo, acho que eu fui mais feliz com você do que com ele.

Eu nunca tinha dito àquilo a Ricardo. Foi um ato falho. Me arrependi no momento que disse. Os olhos de Ricardo se acenderam quase que instantaneamente.

_Você sabe, tínhamos Paris e tudo, sem família para atrapalhar._ emendei tentando consertar a frase.

Tarde demais. Ricardo segurou minha cintura com firmeza e me encarou. Eu sabia o que ia acontecer e eu sabia que era errado. Por pior que Rafael tivesse feito, ele nunca mereceu uma traição daquelas. E eu não era esse tipo de pessoa. Mas ao mesmo tempo, como eu tinha saudade dos seus lábios... Ricardo se aproximou de mim me beijou, sem que fosse necessário pedir permissão. Seu beijo tinha a fúria da saudade. E como era bom. Ali, eu esqueci o mundo todo, só havia eu e ele.

Ele se afastou de mim e me encarou com um sorriso num canto da boca. Ele conseguia ler o que se passava comigo pela forma como eu correspondi àquele beijo.

_Eu preciso ir._ falei recobrando a consciência.

Ele não me impediu. Saí correndo do seu apartamento, morrendo de vergonha do que tinha feito. E confuso. Mais uma vez, Ricardo aparecia na minha vida para bagunçar meu coração e meus pensamentos. Ao chegar no carro, minha ficha caiu de verdade e eu comecei a chorar copiosamente. Tudo o que eu conseguia pensar era:

“Rafael nunca vai me perdoar!”

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Comentários

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Estou muito confuso. Parece até que sou o Bernardo. Na realidade, estou triste porque não consigo ver a felicidade de Bernardo, Rafael, Ricardo, Alice e Pedro. Como eu gosto desses cinco garotos. Que autor fantástico! Espero, de verdade, que esse conto não seja uma história real (embora tenha informações precisas de datas etc.), porque a dor que estou sentindo só vai aumentar.

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