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Daynna:
Depois daquele almoço que tivemos, as coisas não saíram do jeito que imaginei. A doença da mãe da Jú atrapalhou meus planos para o final de semana com ela. Nossa, eu estava morrendo de saudades dela, muito mesmo! Mas procurei entender e apoiá-la. Não vou negar que fiquei triste por não poder vê-la, mas, infelizmente, há coisas que fogem do nosso controle.
Na outra semana, as coisas pioraram. A gente mal se falou por telefone. Trocávamos mensagens às vezes, mas ela sempre demorava a responder porque estava ocupada fazendo algo. Eu não podia reclamar, pois sabia a situação que ela estava passando. Mais uma vez, chegou o final de semana e, mais uma vez, não pude vê-la. Até pensei em ir à casa dela, mas fiquei com medo de que ela achasse ruim por causa da família dela. Nem falei nada porque não queria forçar uma situação que a deixasse desconfortável.
Pelo menos, no final de semana, a gente conversou bastante pelo celular. Eu senti que ela estava com a voz bem fraquinha; com certeza, ela estava muito cansada. O que me animou foi ela sendo carinhosa comigo o tempo todo, falando da saudade que sentia de mim. Aquilo me deixou mais tranquila. Eu nunca fui insegura, mas, devido a tudo que aconteceu comigo no meu relacionamento antigo, confesso que, durante a semana, me bateu uma certa insegurança sobre os sentimentos da Jú por mim, ainda mais pela forma como começamos.
Bom, a semana começou e as coisas ficaram piores. Ela não me dava atenção quase nenhuma. O pior é que agora ela estava dormindo no horário de almoço, que era quando a gente tinha mais tempo para trocar mensagens. Eu juro que entendia, mas a saudade dela estava me consumindo; doía bastante.
Mas não há nada tão ruim que não possa piorar, e tudo aconteceu de uma forma tão rápida que, quando me dei conta, tudo tinha desmoronado, e a maior culpada de tudo fui eu mesma.
Tudo começou com uma conversa entre eu e uma cliente minha de algum tempo. Ela me perguntou sobre o Pedro e eu disse que a gente tinha terminado o noivado. Não contei o motivo e ela ficou se lamentando, dizendo que a gente parecia tão felizes juntos, que éramos um casal muito bonito e tal. Eu não rendi muito assunto, mas ela, toda preocupada, perguntou como eu estava. Eu disse que muito bem, que já fazia um bom tempo e que já tinha superado, e que conhecia outra pessoa. Ela perguntou se a conhecia e eu disse que não, que a gente tinha se encontrado só duas vezes, mas que estava bem feliz com essa pessoa, que estava morrendo de saudades dela porque, depois do nosso último encontro, ela teve uns problemas em casa e fazia um tempo que a gente não se via.
Aí ela falou para eu tomar cuidado, porque, se eu não conhecia a pessoa direito, talvez ela tivesse se arrependido e estivesse usando uma desculpa para não me ver. Que, infelizmente, hoje em dia, nem nas pessoas que a gente conhece direito dá para confiar, imagina em quem a gente não conhece.
Aquelas palavras me fizeram questionar algumas coisas e comecei a me sentir insegura de novo. Fiquei o resto do dia pensando naquilo, e quanto mais eu pensava, mais insegura eu ficava. Comecei a questionar se a Jú realmente gostava de mim, se ela não tinha se arrependido de tudo e estava com medo de me dizer. Até sobre a doença da mãe dela eu comecei a questionar; minha cabeça estava repleta de dúvidas.
Resolvi mandar uma mensagem para a Jú perguntando se ela queria mesmo continuar comigo. Deixei claro que, se ela não quisesse, era só me falar. Eu queria dar a oportunidade para ela dizer a verdade, caso tivesse se arrependido. Mas ela demorou muito para ver a mensagem; eu imaginei que ela devia estar na faculdade.
Eu saí do meu trabalho e fui para casa. No elevador, vi que a Jú tinha visualizado a minha mensagem, mas não respondeu. Aquilo me deixou bastante irritada. Eu não era assim, mas naquele dia parece que juntou tudo para me levar a fazer uma besteira enorme. Eu estava com raiva, insegura, muito confusa com tudo aquilo. Me bateu uma vontade de chorar, mas me segurei.
Quando abri a porta do meu apartamento, tive uma surpresa enorme: a sala estava coberta de pétalas de rosa, tinha alguns balões em forma de coração. Na parede ao fundo, tinha um coração de pelúcia escrito "ME PERDOA". Eu fiquei boba com aquilo; era muito lindo! Entrei e fui até perto do coração. Tinha um buquê de rosas lindo. Peguei o buquê e fiquei ali admirando-o. Quando me virei, vi o Pedro vindo da cozinha. Ele veio e se ajoelhou na minha frente.
Ele me pediu perdão, disse que me amava e que estava muito arrependido de tudo que fez. Que, se eu lhe desse uma chance, iria me fazer a mulher mais feliz do mundo. Eu estava com meu emocional em cacos; aquilo tudo foi muito lindo. Eu não sabia o que dizer. Ele se levantou, pegou o buquê e jogou em cima do sofá, segurou meu rosto com as mãos e me beijou. Eu levei minhas mãos até seus pulsos; não sabia se correspondia ou se tentava me soltar. Demorei um pouco para agir, mas algo naquele beijo estava errado e me afastei. Ele me olhou nos olhos e disse um "eu te amo", mas eu não podia responder o que ele queria ouvir.
Day— Desculpe, Pedro, mas eu não te amo mais. Não me leve a mal, mas, por favor, vai embora daqui e deixa minha chave. Nunca mais volte aqui sem minha permissão.
Pedro— Como assim você não me ama mais? Já arrumou outro?
Day— Não te devo satisfação. Por favor, saia agora.
Ele tentou falar mais alguma coisa, mas aí eu explodi e dei um grito na cara dele para ele sumir do meu apartamento. Ele se assustou com aquilo; eu sempre fui calma. Acho que nem ele nem ninguém nunca tinha visto eu gritar daquele jeito. Mas, depois do susto, acho que ele entendeu, fechou a cara e saiu. Antes de sair, perguntei pela minha chave e ele disse que estava na mesa da cozinha.
Assim que Pedro saiu, vi a Karen atravessar pela porta com uma rosa na mão. Com certeza, eles se encontraram no corredor. Ela se sentou no sofá e me olhou com uma cara de brava.
Day— Ei, melhora essa cara! Eu não voltei com aquele idiota, não.
Karen— Você teve algum tipo de contato físico com aquele imbecil? Ele te abraçou ou te beijou?
Day— Ele me beijou, mas logo me afastei e mandei ele embora. Por quê?
Karen— Por acaso a porta estava aberta?
Day— Sim, quando vi a sala toda decorada, eu acabei entrando e não a fechei. Dá para você me explicar por que está me fazendo essas perguntas?
Karen não estava mais com raiva; ela parecia estar com ódio de mim naquele momento. Ela se levantou, veio até mim e me entregou a rosa que estava na mão.
Karen— Vi a Jú jogando essa rosa no lixo. E te fiz essas perguntas para saber o que tinha acontecido para ela estar saindo daqui chorando do jeito que estava. Agora, acho que já sei.
Day— Como assim a Jú estava chorando? Será que...
Karen— Sim, ela com certeza viu você beijando o Pedro. A garota provavelmente saiu do meio da aula para vir te ver, resolveu colher uma rosa no caminho para te dar, e aí chega aqui e te vê beijando outro. Nem imagino o que ela está passando nesse momento, mas você deve saber, já que o Pedro te traiu. Você sabe bem a dor que ela está sentindo.
Day— Meu Deus, isso não pode estar acontecendo!
Karen— Mas está. E, dessa vez, você vai se virar sozinha, porque cansei de ver você fazer merda por causa desse imbecil. Primeiro você me fez chorar, agora você fez a Jú chorar. Eu te perdoei, mas com ela vai ser bem mais complicado. Boa sorte; você vai precisar!
Vi Karen virar as costas e sair. Eu nem tentei ir atrás dela; sabia que ela estava muito puta comigo e com razão. Eu tinha vacilado feio com ela no passado e agora com a Jú. Foi a primeira vez que Karen me disse que a fiz chorar. Eu não sabia que tinha magoado ela a esse ponto. Eu era mesmo uma pessoa idiota, como ela me chamava às vezes de brincadeira.
Desabei ali no sofá. A primeira coisa que fiz foi ligar para a Jú, mas caiu direto na caixa postal. Mandei uma mensagem, mas não foi entregue; provavelmente, ela estava sem sinal. Eu estava com uma dor enorme no peito, mas não iria chorar. Levantei, peguei uma vassoura e dois sacos de lixo, juntei toda a decoração que Pedro fez e coloquei no lixo. Aproveitei e peguei tudo que ainda tinha dele ali e ensaquei. No final, tive que buscar mais dois sacos de lixo para caber tudo.
Depois, tomei um banho demorado, mas dessa vez não aguentei segurar o choro. Eu chorei muito ali debaixo do chuveiro, mas ficar chorando não iria adiantar. Eu precisava resolver as coisas. Não iria deixar a Jú simplesmente sair da minha vida assim. Eu iria lutar por ela. Sabia que tinha feito besteira e precisava consertar o mais rápido possível.
Mas antes, eu tinha algo mais urgente para fazer. Vesti uma roupa e saí. Fui até a casa da Karen, chamei e a mãe dela veio me atender. Eu já era praticamente de casa. Perguntei pela Karen e a mãe disse que ela estava no quarto. Falou para eu ir até lá. Fui até a porta do quarto e a porta estava fechada. A chamei e ela veio e abriu a porta.
Karen— O que você quer, Day?
Day— Posso entrar e te falar algo rapidinho? Não vim pedir ajuda nem chorar pela Jú, só quero te falar algo.
Ela me deu passagem. Entrei, sentei na sua cama e pedi para ela se sentar. Karen é do tipo de pessoa que sempre tem um sorriso no rosto, mas naquele dia não a vi sorrir. Ela ainda estava com a mesma cara de raiva que vi no meu apartamento.
Day— Eu nunca tinha parado para pensar o tanto que eu te magoei. Quando me desculpei com você e você me disse que estava tudo bem, eu achei mesmo que estava e deixei isso para trás. Eu não sabia que tinha te feito chorar, Karen, e sinto muito mesmo por ter feito isso.
Karen— Tudo bem, já te perdoei. Então, o certo é deixar no passado. Eu não devia ter falado aquilo, mas fiquei com raiva de mais uma vez você fazer alguém que realmente gosta de você chorar por causa daquele imbecil.
Day— Por favor, só me escuta. Eu sei que você me perdoou, mas eu nunca me desculpei do jeito que você merece. Você está na minha vida há muitos anos. Sempre que precisei de ajuda, você estava lá, pronta para me ajudar. Nunca me pediu nada em troca, sempre foi uma amiga incrível comigo. Mas no dia em que Pedro jogou a culpa em cima de você por causa de algo que você não tinha nada a ver, eu fui covarde e não te defendi. Eu devia ter falado que foi minha mãe que me deu conselhos e não você. Eu não fui a amiga que eu deveria ser. Quando ele disse para eu me afastar de você, eu não deveria ter aceitado. Mais uma vez, eu fui covarde. Eu não mereço a amiga que tenho, mas prometo a você, de todo meu coração, que nunca mais vou fazer isso. Eu já tinha prometido isso a mim mesma, mas agora estou prometendo a você. Eu vou dar valor de verdade à sorte que tenho de ser sua amiga. Eu te prometo, e amo você de coração. Por favor, perdão por ter sido uma completa idiota com você, por te fazer sofrer. Eu realmente sinto muito.
Conforme eu ia falando, as lágrimas iam descendo no meu rosto. Eu realmente sentia muito por tudo. Sei que ela tinha me perdoado, mas eu precisava pedir desculpas para ela adequadamente e fui o mais sincera possível naquelas palavras.
Karen não falou nada. Ela me abraçou e, pela primeira vez na vida, vi minha amiga chorar. Ficamos ali abraçadas por algum tempo. Quando conseguimos nos recompor, eu disse que precisava ir embora porque já estava tarde. Aí ela disse que iria dormir comigo porque não iria me deixar sozinha. Ela disse que sabia que eu precisava do ombro dela. Eu a agradeci; eu realmente iria precisar.
A gente foi para o meu apartamento. Olhei no meu WhatsApp e a mensagem que mandei para a Jú não tinha sido entregue. Aí percebi que a foto dela não aparecia mais no perfil. Ali eu tive certeza de que ela tinha me bloqueado. Ela estava com muita raiva de mim, e com razão. Comentei com a Karen e ela perguntou o que eu iria fazer. Eu disse que não sabia ainda, mas que iria lutar por ela até o fim.
Eu sabia que não iria ser fácil. Eu sei o quanto dói ser traída, o quanto machuca. Mas eu a amava e iria tentar até o fim provar isso para ela e, quem sabe, conseguir seu perdão.
Continua…
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper