Meu aniversário de 18 anos estava chegando e eu estava muito animado.
Meus pais organizaram um festão.
Minha casa é enorme e dava para fazer uma festança. Tem piscina e um jardim grande onde no fim de festa todos se deitam e ficam curtindo a bebedeira.
Estava mais animado ainda porque corria um boato na minha casa de que eu ia ganhar um carro, mas não tinha nada certo. E também estava feliz porque o Caio iria à festa, claro. Na verdade tinha convidado todos meus colegas de classe, mas o Caio era especial. Não me importaria se ninguém fosse, exceto ele.
A festa rolando, o DJ tocando e nada do Caio. A Laís chegou, me deu um livro de presente sobre Publicidade no Brasil.
- Lindo! Feliz Aniversário. Te amo muito, Marlon! - ela disse.
- Também te amo, sua boba!
Meus amigos da escola foram chegando, amigos do meu irmão também, meus primos, tios e outros agregados. Enfim, era um festão, acreditem em mim. Mas nada do Caio.
De repente chega um taxi com um monte de gente. Desce a Claudinha, a Luiza, o Tom (gay assumido), o Diego (também gay) e o Caio.
Fiquei tão feliz na hora...
Saí e fui recebê-los. Quando chego à rua, o Caio diz que tem uma surpresa para mim. Fui abraçá-lo e ele disse:
- Nem encosta em mim, deixa primeiro te dar o teu presente, a sua surpresa.
- Tá, manda! - disse todo bobo pensando “Caramba, o Caio fez uma surpresa para mim!”
De repente todos começam a cantar em coro “Parabéns para você, nessa data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida!”.
Enquanto todos cantavam, o Caio fazia uma coreografia que era mais ou menos assim: Parabéns para você = ele batia palmas e apontava para mim / Nessa data querida = ele apontava para o chão dizendo que era essa data e o “querida” ele se abraçava / Muitas felicidades = ele fazia o sinal de “muito” com a mão e a felicidade era abrindo um sorriso com os dedos / Muitos anos de vida = ele fazia de novo o muito com a mão e começava a pular como um doido para demonstrar a “vida”.
Fiquei sem saber o que dizer. Como o Caio pudera planejár um micão daqueles na frente de todo mundo só para me fazer rir?
- Você é louco? Hahahhahaha, adorei!
- Que bom, porque não tenho presente para te dar! - respondeu o Caio
- E quem disse que me importo?
Mas aí ele pegou uma sacola que estava na mão da Luiza e me deu.
- Você acha mesmo que não ia te comprar nada?
- Uma camisa... Ah! Não acredito, com a minha cara? Você que desenhou?
Era uma caricatura minha. O Caio sabia desenhar como ninguém. Fiquei tão feliz. Era mil vezes melhor que um carro, afinal, ele fez uma camiseta especialmente para mim. Ninguém no mundo tinha aquela camiseta.
Depois que o Caio chegou, permiti que cantassem os parabéns. Não ia cantar sem ele, claro.
Depois da cantoria, veio aquela pergunta clássica.
- E aí, para quem vai o primeiro pedaço de bolo?
Na minha mente só vinha o Caio. Era para ele que eu queria dar a fatia. Mas pensei bem, achei que não ia ser legal e que as pessoas estranhariam. Então, dei para a Laís. Todos fizeram tipo de surpresos.
- Oh! Que novidade... Nunca imaginaríamos que você iria dar a primeira fatia para a sua namorada.
Mas seria uma surpresa enorme se tivesse dado ao Caio. Depois da primeira fatia, ninguém se importa para quem vai a segunda. Depois da fatia da Laís, cortei um pedaço generoso para o Caio e fui levar.
- Para você. - ofereci ao Caio.
- Tá louco? Que pedação! Não como isso tudo, não.
- Ah, mas vai ter que comer. Cortei especialmente para você.
Ele foi comendo, ficava olhando ele partindo os pedaços com o garfo. Depois que foi comendo os primeiros pedaços eu me deliciava com a boquinha dele mastigando, começaram a me chamar de um lado para o outro, para receber mais convidados e receber mais presentes e falar com mais pessoas. Resultado: não consegui dar atenção a ele.
E depois a Laís começou a ficar no meu pé, me beijava toda hora, me abraçava...
Depois o Caio e os meus amigos começaram a rir com alguma coisa e eu os via de longe, morrendo de vontade de estar com eles e não podia. Aquela festa estava começando a ficar muito chata para mim.
Chata era pouco.
Depois de um tempo pude perceber que o meu irmão começou a zombar dos meus amigos da faculdade porque todos os caras que estavam lá, exceto o Caio, eram gays.
Então ele e os amigos começaram a rir e soltar piadinhas.
Todos na festa começaram a ver isso e fiquei muito envergonhado pelo Caio. Fui falar com meu pai sobre isso.
- Pai, o Ewerton fica tirando sarro dos meus amigos...
- Besteira, estão se divertindo. - disse o meu pai saindo.
A minha vontade era de bater no meu irmão até ele sangrar por todos os lados, mas tinham os outros convidados que me chamavam a todo tempo e a Laís que não saía do meu pé.
Depois de um tempo, vejo a Laís se aproximando de mim e me chamando no canto.
- O Caio pediu para avisar que a festa estava ótima e tal, mas ele teve que ir embora.
- O quê? Mas já? Por que tão cedo?
- Não sei, eles pegaram um taxi e foram embora.
- Mas ele nem se despediu de mim... - disse muito irado com isso.
Não poderia crer que o Caio tinha feito essa comigo. Poxa! Meu aniversário... Então liguei para ele e ouvi muitas risadas quando ele atendeu.
- Oi, Marlon!
- Por que você foi embora?
- Por que... ah, Marlon, vou ser bem sincero. Seu irmão e os amiguinhos dele ficaram tirando sarro da gente, a gente não aguentou. Já estava ficando constrangedor ele rindo da nossa cara e todos vendo. Então, fomos embora.
- Mas... mas... - fiquei sem ter o que dizer. Ele, mais uma vez, estava certo e não tinha como dizer que ele me abandonou. - Mas você nem se despediu!
- Desculpa cara.
De repente ouço um barulho e começo ouvir outra voz no telefone.
- Alô, Marlon?
- Quem fala?
- É o Tom. Olha cara, sua festa estava muito boa, mas a gente... - eu interrompi.
- Tom, passa para o Caio, quero falar com ele. - disse , dispensando o Tom.
- Alô, Marlon? - disse o Caio.
- Vocês vão para onde?
- Ah, a gente vai naquele barzinho perto da minha casa, sabe?
- Ah, no dia do meu aniversário você vai se divertir sem mim em um barzinho?
- Ué, mas você tem sua festa aí e todos seus amigos estão aí com você, por que você não iria se divertir?
- Tem certeza que todos os meus amigos estão aqui? Acho que só esta faltando o melhor de todos eles aqui.
- Marlon, eu... - interrompi o Caio.
- Caio, vá pro seu barzinho. Tchau.
Desliguei.
Para mim, a festa tinha acabado ali.
Ficar naquela festa não fazia nenhum sentido mais. Fiquei muito irado com isso, principalmente porque sabia que o Caio não tinha culpa de nada. E ele ainda teve a pior impressão da minha família, da minha casa e de tudo mais.
Quando a festa acabou a Laís pediu para dormir comigo, mas estava sem ânimo. Ela insistiu e eu deixei. Disse a ela que não estava me sentindo bem para transar, mas ela disse que se por acaso ficasse só abraçadinha a mim, não iria se importar.
De manhã, a gente transou. Não teve jeito. Mesmo eu não querendo, mas se eu não transasse, ela poderia desconfiar. Depois ela foi embora e eu fui tomar café da manhã. Quando eu chego na cozinha, vejo o Ewerton e ele diz:
- Deu uma trepadinha com a patroa hein?
Eu nem liguei para o que ele disse da Laís. Só o fato dele ter falado comigo me subiu uma ira enorme. Eu avancei nele e lhe dei um soco no olho. Ele caiu no chão e foi se levantando para revidar. Meu pai chegou na hora e nos separou, perguntando o que estava acontecendo ali.
- ESSE DESGRAÇADO, QUE PERGUNTOU SE EU DEI UMA TREPADINHA COM A LAÍS, FALTA DE RESPEITO! - eu gritei
- Está todo fresco, esse viado! - retrucou meu irmão.
- Eu não admito que você fale da Laís desse jeito, seu porra! - eu respondi
Meu pai separou a gente, deu uma bronca no meu irmão e eu saí. Fui tomar banho e, quando chego no quarto, vejo que no meu celular tem uma ligação não atendida do Caio.
Liguei imediatamente, é claro.
- Caio? Você me ligou?
- E aí, cara, tudo bem? Já se sente mais velhaco? - ele brincou.
- Hahahahaha, só você para me fazer rir.
- O que vai fazer hoje?
- Nada, por quê?
- Ah, nada de mais. Eu pensei que a gente poderia jogar bola aqui na quadra do prédio.
- Você? Jogando bola? O que te deu? - eu perguntei, curioso.
- Ah, você não disse uma vez que eu poderia aprender? Então. A gente pode jogar hoje se você quiser. Você vem?
- Me espera que eu já já estarei aí. - desliguei apressado e doido para chegar logo na casa dele para vê-lo depois daquela festa traumática.
Quando eu cheguei ao prédio do Caio, fui direto para quadra. Encontro com ele sentado no banco, de short branco, curtíssimo e uma camiseta azul clara. Muito fofinho, de franjimnha na testa e com as bochechas rosadas.
- Ué, você tem bola de futebol? - eu perguntei, curioso. - Se eu soubesse, não teria trazido a minha.
- Não, é do meu vizinho. Eu não poderia correr o risco de te convidar para jogar bola sem a bola.
- Sempre prevenido, hein Sr. Caio? - brinquei.
- Claro, se eu fosse mulher, não sairia de casa sem absorventes na bolsa jamais.
- Hahahahahahaha. Bobão. Deixa de conversa e vamos jogar.
Peguei a bola, joguei no chão e começamos a driblar. Ele, é claro, não conseguia roubar uma bola. Ficamos nessa por horas. Até que eu parei a bola disse:
- Está na cara que você não está curtindo isso. Você não gosta de futebol. Por que me chamou para jogar bola?
- Porque eu sei que você gosta e também porque eu quero que você me perdoe por eu ter saído da sua festa.
- Mas não tenho o que perdoar, não. Eu também fiquei muito puto com o meu irmão, até dei um soco no olho dele hoje.
- Nossa! - disse ele, surpreso.
- Eu fiquei com muita raiva. Aquele pessoal que estava na festa... nossa, faz tempo que a gente não se fala. Depois que eu recebesse todo mundo, eu iria ficar lá com vocês. A festa, no fim, foi um saco depois que vocês foram embora.
- Foi mal, cara. Mas eu tive uma idéia: no próximo fim de semana a gente comemora o seu aniversário naquele barzinho aqui perto. Aí, depois, se você quiser, você dorme aqui em casa mesmo.
- Sério? - perguntei surpreso. Fiquei pensando “Caramba, o Caio me convidou para dormir aqui na casa dele.” todo bobo.
- Ah, mas se bem que você namora. Não pega bem sair sem a namorada. Então você chama a Laís também. Depois vocês vão curtir sozinhos.
Ou seja, não era dessa vez que eu iria dormir na casa do Caio. Fiquei super feliz e murchei logo em seguida. Mas pelo menos ele estava preparando uma saida para comemorar o meu aniversário.
A semana foi passando e o Caio combinou tudo com o pessoal da faculdade. Dessa vez parece que iriam todos da sala, o que só aumentaria a folia. Ele conseguiu convencer a todos de ir. Quem resistiria a um convite do Caio? Eu convidei a Laís, afinal, ele também tinha convidado ela. Quando falei da festa para a Laís, ela disse:
- O Caio está organizando uma festa para você? Por quê? - perguntou ela, curiosa.
- Porque ele saiu mais cedo da festa e dessa vez vai mais gente.
- Esse Caio... sei não. - disse a Laís.
- O que tem o Caio? - já perguntei bravo.
- Eu sinto que ele gosta muito de você.
- E eu gosto muito dele. Qual o problema?
- Não, você não entendeu. Eu quis dizer que eu acho que o Caio é gay, acho também que ele dá em cima de você.
Deu-me um ódio na hora que ela disse isso. Mas relaxei e comecei a argumentar.
- Só porque o Caio é tímido não significa que ele seja gay. Você não percebe a diferença dele para os outros caras que estudam comigo que são gays? E outra, o Caio me respeita muito. Ele é muito gente boa comigo, não gosto que falem mal dele.
- Não sabia que você era defensor do Caio. - disse a Laís de brincadeira.
- Sou e muito. Ele foi o único cara lá na faculdade que foi com a minha cara e me enturmou com o pessoal. Eu tenho muita consideração por ele.
- Tá, tudo bem, desculpa.
O fim de semana chegou e lá fomos eu e Laís para o barzinho perto da casa do Caio. Quando chegamos lá, todos já estavam. Foi muito legal a chegada. Abracei todo mundo e aí o Caio chamou o garçom. Quando este veio, trouxe consigo um bolo e as velas acesas. O Caio também tinha reservado uma mesa nos fundos do bar. O melhor lugar.
Na parede tinha uma faixa com os dizeres “Está ficando velhaco!”. Soube na hora que isso era coisa dele.
Quando o bolo chegou, começaram a cantar os parabéns e todo mundo do bar ficou olhando pra gente.
Foi o máximo!
Eu fiquei olhando para faixa e o Caio perguntou:
- Gostou?
- Isso é bem coisa sua. - disse eu me fingindo de bravo.
- Eu? Eu não, eu seria incapaz. - ele disse, se fazendo de ingênuo.
- Te conheço, Caio.
Ele soltou um sorrisinho de malvado e foi beijár a Laís.
- Oi Laís, tudo bom?
- Tudo sim. Queria ter um amigo assim, para me fazer uma festa de aniversário dessas.
- Queira não. Você acha mesmo que eu estou organizando essa farra e não vou esperar nada em troca? - disse Caio em voz alta para que eu ouvisse.
- Como é? - perguntei.
- Nada não, cara, esquece. - disse o Caio na brincadeira.
Depois dos Parabéns, perguntaram de novo:
- Para quem vai o primeiro pedaço?
Dessa vez nada me impediria de dar a primeira fatia para ele. Mas antes, o próprio Caio me interrompeu e disse:
- Mas antes que ele corte o bolo, ele tem que fazer um pedido.
- É, faça um pedido! - alguém disse.
- Mas tem que enfiar o dedo no bolo enquanto pede. - disse o Caio, que pegou minha mão, puxou o meu dedo indicador e enfiou no meio do bolo. - Agora faça o seu pedido.
Eu nem me lembro o que eu pedi.
Depois do pedido, parti o bolo e ofereci o primeiro pedaço para o Caio.
- Não, esse primeiro pedaço vai para o meu amigão, Caio, que organizou esse festão para mim.
Todos começaram a aplaudir enquanto ele pegava a fatia de bolo.
Depois todos foram se servindo e a gente começou a curtir a festa. Recebi mais alguns presentes das pessoas que não tinham ido à minha outra festa e tudo estava rolando normal.
Depois de um tempo, todos começaram a beber, inclusive o Caio. Depois, todos começaram a rir muito e fazer muito barulho. Eu pude sentir que aquele clima da faculdade, onde eu ficava um pouco excluído, começava a reinar no bar.
Isso porque a Laís estava lá. Como ela não conhecia ninguém, então ela ficava no meu pé e eu tinha que ficar dando atenção para ela. Eu nem consegui participar da conversa direito.
Todos os outros caras héteros e até as meninas que namoravam e que levaram os seus namorados estavam tranquilos, porque todos nós já conhecíamos as namoradas e namorados de todo mundo, então eles também estavam entrosados.
A Laís, por outro lado, não fazia questão de se enturmar e ficava me beijando, me abraçando. Isso acabava me impedindo de participar dos papos.
O Caio, óbvio, já tinha conquistado todo mundo. A festa era minha, mas o centro das atenções era ele. Eu não me importava com isso, pelo contrário, eu adorava. Mas eu não gostava de não participar da farra.
Até os namorados e namoradas dos meus colegas conheciam a fama de brincalhão do Caio e se divertiam com ele.
Eu não sabia como dizer para a Laís parar de ficar de agarramento comigo. Eu só conseguia ficar impaciente. E só sei que na hora que eu estava beijando a Laís, ouvi muitas risadas e a voz do Caio dizendo “Vocês acham mesmo que eu seria capaz de fazer uma coisa dessa?” e todos respondiam que sim, que isso era bem a cara dele e que ele se faz de inocente para fazer não sei o quê.
Fiquei louco de curiosidade para saber do que eles falavam. Me lembro que na hora em que eu ia perguntar o que era, o Caio saiu da mesa e puxou a Claudinha e o Tom para dançar.
Ótimo!
Mais uma festa naufragando. Pelo menos para mim, porque o Caio e os outros se divertiam muito. Quem não consegue se divertir ao lado dele?
A noite acabou e todos começaram a ir embora. Fui me despedindo de quem ia e o Caio foi ficando. A Laís começou a encher o meu saco para ir embora, mas eu queria saber por que o Caio não ia também.
- Vai ficar é? - perguntei a ele.
- Esqueceu que eu moro na esquina? E ainda está cedo, ainda são três horas da madrugada, vou beber mais uns copos e dançar mais algumas músicas.
- A gente já vai, né amor? - disse a Laís.
Fiquei morrendo de raiva quando ela disse aquilo, porque agora eu não poderia desmenti-la dizendo que iríamos ficar mais um pouco. Então fiquei calado.
O Caio veio me abraçar e se despedir.
- Feliz aniversário, mais uma vez, Sr. Marlon.
- Poxa, cara! Valeu mesmo por tudo. Você não existe. - disse eu, emocionado.
- Realmente, depois de alguns copos, eu mesmo vou me perguntar se eu existo, quem sou eu, onde estou, quantos dedos tem na minha mão. Aliás, o que são dedos? – ele disse fazendo piada.
- Hahahahahaha, bobão. E o Tom, não vai não? - perguntei.
- O Tom vai dormir lá em casa hoje.
Fiquei mais irado ainda. Quem ia dormir na casa do Caio seria eu, se a Laís não tivesse vindo.
Eu ia deixar a Laís em casa e depois, sem ela saber, eu voltaria para o bar. Mas ela insistiu para gente ir ao motel. Eu não queria de jeito algum transar com ela naquele dia. Eu estava muito raivoso com ela. Aí ela começou a fazer intriga, dizendo que na minha sala tem muita menina bonita e que ela sacou que eu não parava de olhar para uma delas.
Eu realmente não sei de onde ela tirou isso. Mas aí ela insistiu tanto e eu acabei desistindo de brigar com ela e fomos ao motel. Transamos e depois fomos para casa. Já era tarde para voltar ao bar e depois, a essa altura, o Caio já deveria estar em casa. Fiquei morrendo de raiva na cama e nem consegui dormirA semana passou normal. Aula normal. Diversão ao lado do Caio super normal. No fim de semana a Laís me chamou para gente sair com os primos dela e uns amigos de infância que a gente tem em comum.
Tudo ia normal, até que começam a falar de homossexualidade daquele jeito pejorativo que todo mundo conhece. Aí a Laís solta:
- Os pior vocês não sabem. O Marlon tem um amigo gay que vive dando em cima dele e ele nem nota, nem percebe. Eu já disse “Marlon, abre o olho” e ele diz que é besteira minha.
Todos caíram na gargalhada. Algumas pessoas ainda disseram “Vai ver que o Marlon gosta, heim Marlon?”. A Laís ficou rindo com todos e eu, apesar de já saber de quem ela falava, perguntei:
- De quem você está falando?
- Do Caio, é claro!
Resolvi não brigar com ela ali naquele momento, mas também não ri mais e fiquei emburrado na mesa. Quando eu fui levá-la em casa, ela pergunta:
- Está tão calado, amor. O que houve?
- Quem disse a você que o Caio é gay?
- Só você que não percebe.
- E se ele fosse, você tem algo contra? Por que se tiver, é bom dizer logo, porque eu não sabia que tinha uma namorada preconceituosa.
- Eu não tenho preconceito. Só disse aquilo porque era engraçado.
- Engraçado para quem? Para os homofóbicos? Fique sabendo que eu não achei engraçado.
- Não precisa ficar desse jeito, Marlon.
- E você ainda diz aquilo como se fosse a coisa mais normal do mundo e todos ficam rindo de mim.
- Riram na brincadeira. Você não entende piada?
- Piada de mal gosto, não. E outra, você nem conhece o Caio direito para tirar essas conclusões dele. O Caio é a pessoa mais legal que eu conheço. Ele não merecia de forma alguma o que você disse sobre ele hoje. Toda vez que ele te vê, ele te abraça, te beija, te elogia. No dia da festa que ele organizou para mim, ele fazia de tudo para enturmar você com os outros e você nem dava bola. Sempre que ele me encontra, pergunta por você, como você está. Mal sabe ele o que você diz dele pelas costas.
- Ai, desculpa, não sabia que você ia ficar desse jeito por causa disso. - disse a Laís, arrependida.
- Da próxima vez que você me aprontar, eu levanto da mesa e deixo você sozinha. Não estou brincando.
Aí ela começou a falar de um monte de meninas que as pessoas diziam para ela que era com quem eu a traía. Começou a dizer que eu estava sendo o grosso e que ela não merecia isso. Que as pessoas haviam alertado a ela de que eu era grosseiro e mulherengo.
Depois dessa briga, comecei a notar mais o Caio. Não era só a Laís que dizia que o Caio era gay e que ele era interessado em mim. Meu pai também dizia isso. Meu irmão não dizia, ele zombava mesmo. E o Caio sempre me ligava, sempre deixava scrap no Orkut, sempre mandava SMS e sempre sentava perto de mim na sala. Comecei a desconfiar se não era verdade o que diziam dele.
Acho que passei a acreditar nisso.
No começo me senti estranho, porque eu sabia que era hétero. Por isso, comecei a me afastar um pouco dele, com medo do que ele poderia fazer.
Mas depois de um tempo, eu fui sentindo a falta enorme que ele me fazia.
Meu coração apertava quando eu pensava nele e eu acabava lembrando de que eu mesmo me afastei dele. Então deixei o meu medo de lado e voltei às boas com o Caio. Eu achei que ele não tinha percebido o meu afastamento, mas foi engano meu.
- Você estava tão afastado. O que houve? – ele perguntou, preocupado.
- Brigas. Eu estava brigando muito com a Laís e decidi me afastar um pouco porque não queria transmitir esse clima baixo-astral para você. - disse eu, mentindo.
- Mas não somos amigos e não contamos tudo um para o outro?
- Claro que somos. Mas amigos também se reservam e tem segredos.
- É, você tem razão.
Voltamos às boas.
Era o máximo estar ao lado dele. Me sentia em um videoclipe divertido e colorido, com uma música super legal de fundo quando eu estava com ele.
O fato de ele ser gay, quer dizer, o fato de ele ser possivelmente gay não me assustava mais.
A cada dia eu ia ganhando certeza de que ele era apaixonado por mim. Era estranho demais. Eu, mesmo hétero, até que gostava daquela sensação. Ao menos eu teria a amizade do Caio para sempre. Eu nunca poderia achar que ele um dia fosse fazer nada de mal para comigo.
O Caio era tudo. Não importava nada ao meu redor e se eu estivesse com ele, tudo estaria bem.
Eu até preferia que nada estivesse ao meu redor. Só ele.
Uma das vezes em que eu constatei esse meu sentimento pelo Caio, foi quando eu dormi na casa dele.
Fomos naquele barzinho na esquina do prédio dele. Eu, ele e a nossa turminha da faculdade. Depois de umas cinco horas da manhã, fomos para casa. Combinamos que eu ia dormir na casa dele.
O quarto dele é grande, tem TV, computador, som e uma mesa que ele usa para estudar e desenhar. As paredes são cobertas de cartazes de filmes e shows que ele adora. O quarto dele é muito moderninho e adolescente. Bem a cara dele.
Caio arrumou um colchão e colocou ao lado da cama dele, que era de casal.
Depois de uns tempos, eu vi um rato passando no chão e o chamei.
- Caio, você está acordado?
- O que foi?
- Tem um rato enorme passando aqui no chão.
- Me deixa ver... Não, é uma barata.
- Sério? Nossa, que barata enorme!
- Hahahahaha, as baratas daqui são mutantes. Quer dormir comigo na cama?
Eu estranhei muito aquela pergunta. Eu fiquei com medo do que poderia acontecer, então recusei.
- Não, valeu, o colchão está bom.
- Tá, você quem sabe. Fica aí com a barata mutante.
Acordamos e já era meio tarde.
- Hahahahaha. Vai, manda o ovo. Ah, onde estão seus pais? - perguntei, enquanto ele me servia.
- Meu pai trabalha logo cedo e minha mãe deve estar na manicure há essa hora.
Tomamos nosso café da manhã na mais perfeita paz. Depois ele tomou banho enquanto eu assistia TV no quarto dele. Ele reapareceu molhado e de cueca. Nem sei o porquê, mas reparei que ele é todo rosado e tem as pernas lisinhas. Totalmente lisinhas. Ele abriu todas as portas do guarda-roupas e começou a procurar roupas. Vestiu camiseta e bermuda. Logo em seguida pôs o desodorante e o perfume. Começou a pentear o cabelo, se olhou no espelho e pôs os óculos.
Ele só usava os óculos fora de casa, ou quando ia para o computador, ou quando lia. Mas achei que ele nem fosse ler ou fosse para o computador. Então supus que ele iria sair.
- Vai sair?
.
- Vou. Minha mãe está me esperando no supermercado. Ela gosta de fazer as comparas comigo e depois sempre dá para botar umas coisinhas que eu gosto no carrinho.
- Então essa é a minha hora de vazar? - perguntei, brincando.
- Se você quiser ir comigo... - disse ele.
- Com essa roupa?
- A camiseta está legal. Se você quiser, eu empresto uma bermuda e uma sandália.
- Tá.
Saímos e fomos ao supermercado. Encontramos com a mãe dele no estacionamento.
- Ah, trouxe uma mão escrava para ajudar a carregar as sacolas? - disse a mãe do Caio olhando para mim.
- Eita, já vi que vou ser explorado! - eu disse.
- Vai nada, algumas sacolas com quilos de açúcar e outras com feijão... Ah, bobagem. Você é forte, Marlon. Vai dar para trás? - perguntou a mãe do Caio me desafiando.
- Hahahaha, chamou para a briga. Dá-lhe, mãe. - disse o Caio na brincadeira.
- O Caio não consegue me ajudar, ele é muito fraquinho. Você não. Você é forte, robusto, cheio de músculos e tals. - disse a mãe do Caio, querendo me agradar para depois me empurrar as sacolas.
- Poxa, mãe, precisa humilhar? - ele perguntou se fazendo de ofendido.
- Já vi que o humor do Caio é de família. - eu disse.
Entramos no supermercado e começamos a fazer compras. Eu nunca tinha me divertido tanto comprando em um supermercado. A mãe do Caio era muito divertida. O Caio teve a quem puxar.
Depois das compras, ela foi pagar no caixa enquanto eu ele esperávamos no estacionamento.
- Sua mãe é uma figura, Caio!
O Caio agradeceu o elogio com um sorriso. Depois, chegou a minha vez de pegar no pesado. Eu pegava as sacolas pesadas do carrinho e ia colocando no porta-malas do carro.
Eu vi que ele só pegava sacolas com papel higiênico, ou com produtos de limpeza em geral.
- Não vale, Caio, você está deixando o pesado só para mim. - disse eu fingindo estar bravo.
- Ué, você não é o forte, o musculoso, o robusto? Agora aguente!
- Muito engraçadinho você.
- Ah, isso eu sei que sou. - disse ele soltando um sorriso lindo.
Depois voltamos para o apartamento dele e mais trabalho escravo para mim.
Fui para o seu quarto me trocar para depois ir para casa.
Quando eu já ia me despedir, a mãe dele nos chama para sair.
- Agora vamos ali tomar um sorvete. - convidou ela.
- Mas eu estou há muito tempo fora de casa, nem liguei para lá. Eles devem estar preocupados. - disse eu.
- Um homenzarrão desses tendo que dar satisfações para a mamãezinha? Não acredito! - disse a mãe do Caio fingindo estar decepcionada.
- Pois é, mãe, nem eu acredito. - disse o Caio continuando a brincadeira.
- Tá, eu ligo para os seus pais e digo que você está comigo. Agora vamos descer. - disse a mãe dele.
Fomos para uma sorveteria. Parecia que eles iam muito ali, porque o Caio e a mãe dele já entravam falando com todos os funcionários e iam se servindo. Era uma sorveteria self-service. A mãe dele olhou para mim e disse:
- Pode se servir.
Eu fui me servindo, mas era muito difícil escolher os sabores. Eram muitos e um mais atraente que o outro. Para se ter uma ideia, havia uma variedade enorme de sabores de chocolate.
O Caio, já familiarizado com o local, serviu-se logo. Ele sabia onde se encontrava cada sabor preferido dele. Eles se sentaram em uma mesa e foram tomando o sorvete. Eu cheguei depois.
- Que demora! - reclamou o Caio.
- É que são tantos sabores que eu nem sabia qual escolher. Aí coloquei só os que eu mais gostava.
- Mas se você quiser, pode botar mais de outros sabores. - disse a mãe do Caio.
- Não, não. Está bom!
- Pode botar, menino! - insistiu a mãe do Caio.
- Não, não. Obrigado. Essa sorveteria deve ser muito cara.
- Imbecil. Imbecil. Burro. Essa sorveteria é nossa! - disse o Caio rindo de mim.
- Ah é? Eu não sabia. - disse eu, surpreso.
- Vá se servir logo, antes que eu chame você de imbecil outra vez. - disse o Caio, brincando.
Depois, eles me levaram em casa.
- Tchau. Entra no MSN hoje?
- Entro, entro sim. Vou estar online te esperando. - respondeu o Caio.
- Que horas você entra hoje?
- Ah, lá para umas duas horas da manhã.
- Por que tão tarde?
- Meu filho, eu sou vagabundo. Eu não tenho obrigações mil como você e suponho que você vai ver a Laís hoje né?
Eu tinha esquecido totalmente que aquele dia eu iria para a casa da Laís.
- Hahahaha, tá bom. - disse eu, sem graça.
.
Quando cheguei em casa, encontro com o meu irmão.
- Estava na casa da namorada? - perguntou ele.
- Não. Estava na casa do Caio.
- E então, ele não é a sua namorada agora? - disse o meu irmão, zombando.
- Vai te foder, Ewerton.
- Hum, ficou irritadinho foi? Cuidado com esse Caio. Essa bichinha está afim de te dar um créu.
Nem dei ouvidos. Subi para o meu quarto, tomei banho e fui descansar. Depois que deitei na cama, fiquei pensando nisso. Será mesmo que o Caio é afim de mim?
A cada dia eu tinha mais certeza. A cada dia isso ficava mais concreto na minha cabeça.
Meu único medo era perder a amizade dele. E se um dia ele revelasse que não dá mais para sermos só amigos por causa disso?
(...)
À tarde, a Laís me liga.
- Você vem hoje né?
- Vou, vou sim, amor. - respondi.
- Estva com o celular desligado? Porque eu te liguei tanto hoje de manhã e você não atendeu.
- Meu celular? Ai, caramba! Esqueci na casa do Caio.
- O que você foi fazer na casa do Caio logo de manhã?
- Eu dormi lá, depois do bar. Lembra que fica perto da casa dele?
- Sempre o Caio. - disse a Laís se lamentando.
- O que tem ele?
- Nada, Marlon. Não vou falar nada. Eu sei que você defende o Caio em tudo.
- Eu defendo mesmo.
- Só não se arrependa depois quando ele der em cima de você de verdade.
- Esse papo de novo? O Caio não é gay. Quantas vezes eu vou ter que dizer isso?
- Está bom. Não vou brigar por causa disso. Venha cedinho ta? Beijos.
Mais outra pessoa que me fala que o Caio está apaixonado por mim. Se todos enxergavam isso, exceto eu, então deveria ser verdade. Minha cabeça ficava confusa mais ainda. Mas resolvi não pensar mais nisso.
À noite, eu fui para a casa da Laís. Enquanto namorávamos, ela me disse algo que me intrigou.
- Às vezes eu tenho ciúmes do Caio.
- Por quê? - eu perguntei.
- Porque você confia cem por cento nele.
- E eu não confio em você?
- Às vezes eu tenho a impressão de que você só me conta as suas coisas porque sou sua namorada. Mas você conta para o Caio porque ele é especial para você.
- Como assim?
- Se eu não fosse sua namorada, você não me contaria nada. Para todos os efeitos, um namoro é mais íntimo que uma amizade. Mas mesmo assim, se eu fosse apenas sua amiga, você não me contaria nada. Já para o Caio... ele é apenas seu amigo, mas você confia totalmente nele.
- Isso não é verdade, Laís. - eu disse, tentando amenizar.
Mas era verdade. No fundo eu sabia que ela estava certíssima.
- O bom é que vocês nunca poderão ser namorados. - brincou ela.
- Hahahahaha, boba!
O fato de o Caio ser gay ou não e, principalmente, a questão de ele ser apaixonado por mim, pairavam na minha cabeça. Era estranho para mim, um hétero bem resolvido com a sua sexualidade, se deparar com essa situação.
Imaginem vocês (suponho que todos sejam gays), que sua melhor amiga está apaixonada por vocês. O pior de tudo é que eu simplesmente venerava o Caio. Nunca, depois de conhecê-lo, me imaginei sem sua amizade preciosa. Decidi, então, deixar que o tempo curasse essa paixão, caso ela existisseO primeiro semestre chegava ao fim. Férias de meio de ano. A turma estava se programando para passar as férias numa casa de praia de um dos alunos.
Mas muitos não iriam porque viajariam com a família, outros porque não tinham permissão dos pais (mesmo já na universidade), outros porque não eram tão entrosados com a gente, e eu não iria porque já tinha planejado passar as férias com a família da Laís.
O Caio foi passar as férias com a turma, que no fim, só foi a nossa turminha de fundo de sala mesmo.
Alto astral e bom humor não iam faltar nessa viagem.
Não havia ninguém que não estivesse morrendo de vontade de ir com eles. Inclusive eu.
Mas eu sempre ficava em contato com o pessoal para saber como a farra estava rolando. A cada ligação que eu fazia eu ficava com mais vontade de estar com eles. A família da Laís é legal, gosta de mim, mas nada se comparava a um mês inteiro sem hora para dormir ou para acordar, sem hora para comer, sem hora para sair, sem hora para voltar. Enfim, sem regras. Ainda mais com a turma da minha sala, que aprontava muito.
Eu ligava todo dia para o Caio. Em um das ligações que fiz, na última semana de férias, ele me assustou um pouco e só se confirmava cada dia mais que ele estava apaixonado por mim.
- E aí, Caio? Se divertindo muito?
- Nossa, cara, você nem imagina o que fizemos ontem... Eu, Tom e Claudinha. Cada um pegou um balde, enchemos com água até a metade. Depois enchemos de sabão em pó e fizemos muita espuma, mas muita espuma mesmo e fizemos guerrinha de espuma.
- Hahahaha, coisa de louco essa de vocês hein? - disse eu, morrendo de inveja.
- Mas no fim era tudo água, aí perdeu a graça. Só que aí a gente encheu o balde de novo com água e espuma e começamos a acordar quem estava dormindo. Hahahahaha. Imagine um monte de gente acordando no susto, cheios de espuma e os colchonetes ensopados?
- Caramba! Vocês ficaram loucos? - disse eu espantado.
- Quase isso. Mas você acha que a gente não apronta todo dia?
- Nossa que inveja de vocês aí. - me lamentei.
- Pois é, você faz falta. Quer dizer, eu sinto muito a sua falta aqui.
Quando o Caio disse isso, meu coração começou a bater forte, comecei a suar e, na minha cabeça, eu pensava “Ele está mesmo apaixonado! E agora?”.
Fiquei me sentindo mal por aquela situação constrangedora. O que eu mais queria naquele momento era desligar o telefone.
- Ah, Caio, estão me chamando aqui. Depois eu te ligo para saber mais daí. Abração, amigo. - me despedi.
- Ok, depois nos falamos. Abraço.
As férias acabaram e eu estava com medo de reencontrar o Caio, ao mesmo tempo em que estava morrendo de saudades dele.
Mas eram saudades fraternas. Eu não sentia por ele o que eu achava que ele sentia por mimPrimeiro dia de aula depois do recesso. Chego em sala, falo com todos e com o Caio. Mas com ele falou como se estivesse falando com qualquer um dali.
A aula começa e tudo transcorre normalmente. No fim, vamos para a lanchonete e começam a falar das férias, fazendo todo mundo que não foi, morrer de inveja. O Caio de novo solta:
- Pois é, Marlon, você fez falta lá, cara. - disse meio triste.
- Da próxima eu vou. - eu disse encurtando o papo.
Acho que ele não percebeu a minha indiferença, porque ele se comportava do mesmo jeito que no semestre passado. Nada com ele mudou, só a cor da pele que estava mais rosada pelo sol, já que ele é bem branquinho. Já comigo... meu coração estava receoso de interagir com ele e acabar confirmando todos os meus medos.
Recusei muitos convites dele por conta disso. Ele estava sempre me chamando para a sorveteria, para o barzinho, para ir ao shopping, para jogar vôlei... e eu dizia não.
Parecia mesmo que ele não desconfiava da minha indiferença. Tanto é que ele parou um pouco de me convidar tanto, mas continuava o mesmo brincalhão comigo na faculdade e interagia normalmente comigo, assim como antes.