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Daynna:
Tudo ficou cinza depois do que aconteceu. Eu só sabia chorar. Não consegui trabalhar na sexta; liguei para minha mãe e pedi para ela pedir a alguém para me cobrir. Ela disse que não era problema, mas que, no sábado de manhã, eu precisava ir porque tinha duas clientes fixas que exigiam que eu as atendesse.
Karen ficou comigo a noite toda e passou o dia seguinte na minha casa. Eu queria fazer algo para recuperar meu amor, mas não sabia o que fazer, já que Jú tinha me bloqueado em todos os lugares. Eu não sabia onde ela morava, só me restou a universidade e o trabalho dela, que eu sabia onde era. Falei para Karen que eu iria ao trabalho dela. Karen disse que era melhor eu esperar, pelo menos até sábado, para deixar ela se acalmar um pouco.
Segui os conselhos dela, dormi melhor de sexta para sábado e trabalhei o dia todo. Até consegui me distrair um pouco. Minha mãe notou que eu não estava bem e eu falei para ela da surpresa de Pedro, mas omiti a parte da Jú. Ela me deu maior apoio, disse que fiz bem em mandar o Pedro sumir da minha vida e que logo eu iria esquecê-lo e a dor iria passar. Mal sabia ela que minha dor era por outra pessoa, mas deixei ela acreditar que o motivo da minha tristeza era Pedro.
Quando cheguei no meu apartamento, Karen estava na porta me esperando. Me deu um abraço e disse que era para eu ir tomar um banho, comer algo e que depois a gente iria atrás da minha mulher. Ela estava toda animada, me explicou que tinha trocado umas mensagens com Jú e que, apesar de ela não querer nem ouvir falar do meu nome, parecia estar calma e que iria me ajudar a recuperá-la.
Perguntei como a gente iria fazer isso. Ela me disse que a gente sabia o nome do bairro e iria lá procurar a casa dela. Disse que não ia ser difícil porque tínhamos fotos dela, sabíamos que o pai dela era pastor e como era a moto dela. Com as informações que tínhamos, com certeza conseguiríamos descobrir a casa dela.
Eu não tinha mais nada a perder, então concordei com ela. Fui tomar meu banho, fiz um lanche rápido, entramos no meu carro e atravessamos a cidade até chegar no bairro onde Jú morava. Começamos a perguntar às pessoas que víamos na rua, mas não conseguimos descobrir nada. Entramos mais para dentro do bairro e começamos a ter mais sorte. Uma moça disse que conhecia Jú de vista, mas não sabia onde ela morava. Ela falou que era mais abaixo porque sempre a via sair daquela direção.
Seguimos para onde a moça falou e, depois de perguntar a algumas pessoas, uma mulher disse que sabia quem era e onde morava, e não estávamos longe. Ela explicou onde era a rua e como era a casa. Fomos até lá e, quando o carro parou, Karen desceu e olhou por cima do muro, vendo a moto da Jú. Com certeza era ali a casa dela.
Day— É agora, o que eu falo para ela? E se ela nem quiser falar comigo?
Karen— Dá seu jeito, insista, fala que vai fazer um escândalo, mas faz ela te ouvir. Pode ser sua única chance. E faça o mesmo que fez quando foi se desculpar comigo: seja sincera, assuma seus erros e não arrume um monte de desculpas. Não espere que ela te perdoe hoje mesmo; fale o que tiver de falar e deixe ela digerir tudo. Se ela te amar como acho que ama, com a cabeça fria, ela provavelmente vai te perdoar.
Karen tinha razão, era exatamente o que eu iria fazer. Agradeci a ela pelo conselho e saí do carro. O portão estava fechado, mas achei que ali seria arriscado ela simplesmente não deixar eu entrar. Tentei abrir e estava destrancado. Esperei um pouco para ver se não aparecia nenhum cachorro querendo me morder e, como não apareceu, eu entrei. Fui caminhando até uma porta que imaginei que fosse da cozinha e vi que tinha movimento lá dentro.
Bati na porta e logo um homem veio atender. Imaginei que era o pai dela. Pedi desculpas por estar na porta da casa dele, mas disse que chamei no portão e ninguém me ouviu. Me apresentei e disse que eu era amiga da Jú e precisava falar com ela com urgência. Ele sorriu e disse que não ouviu porque estava mexendo nas panelas. Disse que Jú estava no quarto dela dormindo. Aí eu perguntei se ele não podia chamar ela, que era realmente urgente minha conversa com ela. Ele disse que não iria chamar ela não, porque tinha amor à vida (risos), mas se eu quisesse arriscar a minha, tudo bem, eu poderia ir até lá.
Eu disse que iria, se ele não se importasse. Ele me chamou para dentro e me explicou onde era o quarto. Antes de ir, falei para ele que Jú tinha comentado sobre a mãe dela e perguntei como ela estava. Ele disse que ela estava melhor, mas que ainda iria ficar de repouso mais uma semana, mas as dores na coluna já tinham praticamente acabado. Disse que ficava feliz em ouvir aquilo e fui em direção à porta que ele tinha indicado.
Quando abri a porta, vi ela ali deitada. Sentei na beirada da cama e fiquei admirando ela dormir por um tempinho. Minha vontade era de acordá-la com um beijo, mas a chance de eu levar um tapa na cara era enorme, então resolvi apenas chamá-la. Quando ela abriu os olhos e me viu, por uns segundos vi um sorriso se formar em seus lábios, mas logo sumiu. Ela parecia assustada com minha presença ali, mas logo a expressão de susto se transformou em raiva. Daí para frente, ela foi bem rude e às vezes até grossa comigo, mas eu merecia. Ela não queria me ouvir, mas eu segui os conselhos de Karen e ameacei gritar se fosse preciso para ela me ouvir. Ela acabou cedendo, mas dava para ver que ela ficou com muita raiva de não ter opção a não ser me ouvir.
Fui sincera com ela, falei coisas que sei que podiam até atrapalhar eu conseguir seu perdão, mas falei. Não escondi nada, disse tudo que tinha acontecido, fui sincera com o que eu sentia, pedi perdão e saí dali deixando ela chorando e sem dar oportunidade dela dizer nada. Eu não sei se aguentaria ouvir um não naquele momento e resolvi seguir à risca os conselhos de Karen.
Saí dali com meu rosto todo banhado em lágrimas. Assim que cheguei no corredor, respirei fundo, limpei minhas lágrimas e fui em direção à cozinha já pensando em uma desculpa para dar ao pai dela, mas ele não estava lá. Aproveitei e saí dali o mais rápido possível. Logo já estava dentro do meu carro, onde desabei a chorar nos braços de Karen.
Ela me perguntou o que tinha acontecido. Eu disse que fiz tudo que ela me aconselhou, que consegui que Jú me ouvisse, mas saí sem deixar ela dizer nada, que agora não tinha o que eu fazer a não ser rezar para que ela me perdoasse.
Pedi para Karen trocar de lugar comigo e levar o carro; eu estava sem condições de dirigir. Durante o caminho, fui pensando em todas as possibilidades que poderiam acontecer dali para frente e era um cenário horrível para mim se Jú não me perdoasse.
Quando chegamos, achei que Karen fosse me fazer companhia porque ela foi em direção do elevador comigo, mas logo parou e pediu para eu esperar. Olhei e ela estava mexendo no celular, provavelmente trocando mensagens com alguém. Depois de algum tempo, ela disse que não podia subir comigo, que a mãe dela estava se sentindo mal e iria para casa para ver como ela estava. Perguntei se ela precisava de ajuda ou que eu fosse com ela, mas ela disse que não precisava porque o pai dela e o irmão estavam lá, mas que iria porque ficou preocupada. Nós nos despedimos e ela se foi.
Bom, eu sinceramente não queria ficar sem a companhia da Karen, especialmente naquela noite, mas não tinha como eu pedir para ela ficar. Subi e, assim que entrei no meu apartamento, me joguei no sofá. Estava sem ânimo para nada, nem forças para chorar mais eu tinha. Fiquei ali deitada, olhando para o teto e pensando na minha vida, mas fui tirada dos meus pensamentos com algumas batidas na porta. Imaginei que Karen tinha voltado para ficar comigo.
Quando abri a porta, meu coração quase saiu pela boca. Ali parada na minha frente estava Jú, com uma rosa na mão. Ela, vendo que eu estava paralisada, estendeu o braço me entregando a rosa.
Day— Obrigado, é linda!
Jú— Por nada. Não vai me convidar para entrar?
Day— Me desculpe, entra, por favor.
Ela entrou e se sentou no sofá. Eu fechei a porta e fui sentar ao lado dela. Eu ainda estava meio sem acreditar que ela estava ali, sentada no meu sofá.
Jú— Precisamos terminar aquela conversa que você começou na minha casa, mas saiu sem deixar eu falar nada.
Day— Desculpe sair daquele jeito, mas eu achei melhor deixar você assimilar tudo que eu disse.
Jú— Acho que você fez bem, mas eu já assimilei sim e, para mim, ficou claro que você foi totalmente sincera comigo. Então, vim aqui te dizer que eu te desculpo sim, que acreditei em cada palavra que você disse e que eu também te amo muito, mas não sei se podemos continuar juntas.
Nossa, ouvir aquilo foi incrível até chegar na última parte. Aí fiquei totalmente confusa, mas ela continuou a falar.
Jú— Quero que me escute como eu te escutei. Pense bem no que eu vou falar, porque não quero mais uma decepção na minha vida como a que eu tive. Isso machuca demais.
Day— Mais uma vez, perdão pelo que fiz e pode falar que vou te ouvir sim.
Jú— Já passou, não precisa se desculpar mais. Vamos deixar isso no passado, porque, se não, isso vai continuar atrapalhando a gente, tudo bem?
Day— Está bem, a última coisa que quero é algo atrapalhando a gente novamente.
Jú— É exatamente sobre isso que quero falar. Tudo isso aconteceu porque você não confiou em mim. Sei que você tem seus motivos para ter ficado insegura, mas o que aconteceu no seu relacionamento passado não pode influenciar o nosso, ou nunca vai dar certo. Sei que você não me conhece direito, mas eu não sou do tipo de pessoa que trai, mente ou engana. Não é só com quem eu gosto, não; esse é meu jeito. Então preciso que você confie em mim como eu confio em você, ou a gente para por aqui. Eu não sou o Pedro, eu nunca te dei motivos para duvidar de mim. Eu fui transparente com você, te contei coisas que nem meus pais sabem, e você não deu a mínima importância para isso e começou a duvidar de tudo por causa de algo dito por alguém que não me conhece, que não sabe do nosso relacionamento. Assim fica difícil, eu merecia pelo menos o benefício da dúvida. Você consegue confiar em mim, Day?
Day— Sim, Jú, eu consigo. Eu entendi muito bem o que você disse! Eu te prometo que vou confiar em você e, de agora em diante, eu vou sempre te perguntar sobre qualquer dúvida que eu tenha, mas, por favor, tenha um pouco de paciência comigo; eu não sou perfeita.
Jú— Mas eu não estou procurando alguém perfeita, até porque isso não existe. Só quero alguém que me ame e que confie em mim.
Day— Essa pessoa eu posso ser, porque te amo demais e com certeza posso confiar em você sim.
Jú— É só o que preciso!
Day— Então estamos bem? Você vai me dar uma chance?
Jú— Sim, eu te amo muito, Day. Não quero te perder e, como eu disse, eu acreditei em tudo que você falou e já te perdoei pelo que aconteceu.
Day— Oh, meu amor, obrigado! Vou fazer de tudo para merecer essa chance.
Jú— Então me beija logo, que estou morrendo de saudades de você.
Não perdi tempo e fui nos braços dela, a beijei com todo amor que eu tinha no coração. Sentir seus lábios nos meus me deixou tão feliz que eu não me segurei e comecei a chorar. Tive que parar o beijo e a abracei.
Jú— O que houve, amor? Já se arrependeu? Kkkk
Day— Não, sua boba! Estou chorando de felicidade. Obrigado, Jú, eu te amo demais, apesar de ser idiota.
Jú— Você não é idiota e, se fosse, seria minha idiota. Te amo muito também, amor!
Day— Amor, você vai dormir aqui?
Jú— Sim, se eu puder, eu adoraria, mas preciso ir para casa na parte da manhã e queria te levar comigo, se você puder ir.
Day— Claro que você pode dormir aqui! Vou amar. Amor, mas e seus pais?
Jú— Você foi lá hoje sem se importar com isso, por que a preocupação agora?
Day— Foi uma medida desesperada, amor. Kkk. Mas se você não se importa, tudo bem, eu vou sim.
Jú— Combinado, então. Agora vamos para a cama, porque estou com saudades de você, minha gostosa!
Day— Vamos sim, delícia! Também estou com muita saudade.
Continua…
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper