A gente começou a marcar uma saída. Depois ficamos ali conversando bobagens.
Meu irmão aparece no meu quarto.
- E aí, meninas! Qual a ultima fofoca?
Ficamos calados. Eu sabia que o Caio não ia com a cara do Ewerton, então fiquei na minha.
- Ficaram mudas, as duas?
- Está bom de renovar o estoque de piadas, heim Ewerton? - disse o Caio, irônico.
- Por quê? Meu humor incomoda você?
- Quando a gente ouve a mesma falta de criatividade todos os dias, incomoda!
- Você sabe o que os incomodados têm que fazer, não sabe?
- Matar quem incomoda?
- Vocês não vão ficar discutindo no meu quarto, não é? - eu perguntei.
- Toma! - disse o Ewerton me dando dinheiro - papai mandou entregar a sua mesada. Sabe, Caio, está faltando mulher na sua vida. Você precisa relaxar mais, dar umazinha por aí. Marlon, leva o Caio para pegar umas mulheres.
- Pegar mulheres? Não, obrigado. O tipo de mulher que eu gosto não se “pega”, se conquista.
- Isso é coisa de gay!
- Eu tenho pena da sua mãe, Ewerton. Ela tem um filho que, ao invés de cérebro, tem massa de modelar na cabeça!
- Não mete minha mãe no meio - disse o Ewerton grosseiramente.
- Ela é mulher também. Quando você fala que vai pegar umas mulheres por aí, você mesmo a desrespeita e se você acha que a sua atitude é atitude de homem de verdade, fique sabendo que mulher de verdade não fica com caras como você. Ou seja, você não pega mulheres, você pega coisas com peitos e vaginas. Você não tem cacife para conquistar uma mulher, seria muito gasto de neurônio. Coisa que você não tem. E outra: tomara, tomara, tomara que você tenha muita filha mulher e que todas elas sejam pegadas por aí, por caras como você!
- PAROU, CHEGA! - eu gritei.
- VAI TOMAR NO CU! - berrou o Ewerton.
- Essa é a sua resposta? É, coisa de macho dizer isso não é? - disse o Caio ironicamente.
O Ewerton saiu. Eu fui fechar a porta do quarto.
- Caio, pára de provocar o meu irmão. Ele é mais forte que você. Se um dia ele ficar puto, e eu não estiver por perto, ele pode te quebrar em dois.
- Relaxa. Eu não tenho medo dele.
- Deveria ter!
- Esqueçamos isso... Marlon... ?
- Fala.
- Me ensina a pegar mulher?
- Hahahahahahaha, você não presta!
No fim de semana seguinte fomos para a balada; só Caio e eu. Ele estava realmente disposto a ficar com uma mulher
Ficamos no bar da boate observando as meninas na pista. Decidi me aproximar de duas, porque, se você consegue ficar com uma, a outra sempre fica com o seu amigo para não ficar sozinha.
Essa tarefa não ia ser difícil. Modéstia à parte: Caio e eu somos bonitos. Mas achar uma dupla foi difícil. Algum tempo depois, uma menina se aproximou de mim e me chamou para dançar. Eu fiquei com receio de deixar o Caio sozinho, mas ele deu força para que eu fosse dançar. Ele ficou no bar. No fim da música, a menina e eu nos beijamos. Acabamos ficando e eu nem vi mais o Caio.
Horas depois eu recebo um SMS do Caio dizendo que ele tinha ido embora e que já tinha chegado em casa em segurança. Por fim, ele me desejava bom divertimento.
No dia seguinte, o Ewerton revela:
- Mas o Caio não é de nada mesmo, hein? Não pegou ninguém na festa ontem e ainda saiu de rabo entre as pernas.
- Como você sabe disso? - eu perguntei.
- Eu estava lá, oras!
- Ué, você foi também? Nem te vi.
- O pessoal decidiu ir de última, aí eu fui. - respondeu meu irmão.
No dia seguinte, eu liguei para o Caio.
- Posso passar na sua casa hoje? Estou sem nada para fazer...
- Vem, Marlon!
Passei a tarde toda com ele. Foi mais um fim de semana perfeito! Parecia que eu só me sentia atacado pelos meus sentimentos escondidos (ou reprimidos) quando algo ruim acontecia entre a gente. Pois quando tudo estava às mil maravilhas entre nós, eu não percebia o quanto eu o adoravaNas férias de meio de ano o Caio viajou sozinho. Foi passar com os avós no nordeste. Fazia muito tempo que ele não os via e morria de saudades. No fundo eu não gostei dessa decisão dele porque esse ano a turma repetiria a viagem das férias passada. Férias essas que eu não fui.
O lugar não era o mesmo, mas eram as mesmas pessoas. Afinal, o que torna um lugar atraente são as companhias. Eu estava combinando tudo na minha cabeça. Seria perfeito.
Mas o Caio choramingou, falou das saudades dos avós e dos primos e foi embora. Só me restou dizer “Se cuida, moleque!”.
Eu convidei alguns amigos antigos e o meu irmão, pois dessa vez iria menos gente. Precisávamos de um número grande de pessoas para dividir melhor os custos da viagem.
Convidei alguns amigos da minha antiga escola. Um deles era o Vinícius, meu melhor amigo na época. As férias foram quase perfeitas. Fomos para o litoral, alugamos uma casa e armamos a bagunça.
Com o Caio longe, percebi que eu tinha me afastado de muita gente. Muita gente amiga. O pessoal da faculdade mesmo. Da Cláudia, do Tom, da Luiza, do Dalton... eu tinha me afastado deles. Dos amigos antigos então nem se fala. Quantas vezes eu dispensei as peladas que o Vinícius me convidava?
O Caio me cegava. Com ele a hora passava rápida e tudo era perfeito. Mas eu tinha esquecido os outros.
Por um lado vejo que isso é um defeito meu: esse encantamento pelo Caio. Não foi justo o que eu fiz com os meus antigos amigos. Mas nessas férias me aproximei de todos, inclusive do Vinícius.
Óbvio que eu me comunicava com o Caio (risos), eu não conseguia largá-lo. Mas eu não ligava todo dia, era caro. Cada desligada de telefone era um sacrifício. Só faltava a gente ficar “Desliga você... não você!”Quando voltamos para nossa cidade, ainda faltavam uns dias para as aulas voltarem. Eu e o Vinícius nos aproximamos mais e saímos durante esses dias. A Luiza, a única menina solteira da turma, ficou com ele algumas vezes. Ou seja, toda vez que saíamos, eu ficava de vela, porque até o Tom estava com namorado.
Eu só fui ver o Caio no domingo, pois foi quando ele chegou de viagem.
Mas nem nos falamos muito. Eu fui buscá-lo no aeroporto.
- Parece que faz anos que não te vejo. - ele disse sorrindo e me abraçou.
- Parece mesmo. Nossa! O que você aprontou lá?
- Eu não apronto, tá?
- Aham... sei. Tudo bem por lá?
- Tudo. E por aqui?
- Ah, Caio, foi muito bom. Você deveria ter ido para lá.
- A gente já conversou sobre isso, lembra?
Parecia discussão de casal. O Caio estava uma gracinha, todo rosadinho.
Como eu estava morrendo de saudades dele! O cheiro que eu senti quando ele me abraçou era o mesmo cheiro que eu lembrava dele. Depois eu o deixei em casa e segui para a minha.
Os dias seguintes rolaram normalmente.
Em um dos milhões de trabalhos em grupo da faculdade, fomos para a casa da Claudinha. A casa dela é enorme, as festas lá são as melhores. O Caio chegou atrasado. Eu me dispus a ir buscá-lo para irmos juntos, mas ele disse que tinha coisas para fazer.
A minha disposição só aumenta com ele por perto. Na verdade, o trabalho só fluiu por causa dele (como sempre!). Pela primeira vez eu vi o Caio de camiseta regata. Ele não usava regata porque se achava feio com ela e também por ser magro. Mas eu sinceramente gostei. Não tirei os olhos dele.
Foi a partir desse dia que os meus sentimentos em relação ao Caio começaram de fato a me estranhar.
Nesse dia eu fiquei olhando muito para ele. Acho que ninguém percebeu.
Ninguém, exceto o próprio Caio. Mas acho que ele não duvidou do motivo das minhas olhadas. Eu olhava muito o rosto dele e o tórax, que estava mais à mostra por causa da camiseta.
Eu ficava olhando, olhando, olhando e depois eu me perguntava “Que raios eu estou olhando tanto para o Caio?”.
Ele me pareceu bonito.
Pela primeira vez eu pensei como ele era bonito. Claro que um homem, por mais hétero que seja, reconhece a beleza de outro homem, mas não sente aquilo como uma sensação agradável.
Achei aquilo estranho em mim.
- Tudo bem, Marlon?
- Por que está perguntando isso, Caio?
- Sei lá, parece que você quer me dizer alguma coisa.
- Não, não quero te dizer nada não. Por que você acha isso?
- Está me olhando tanto...
- Impressão sua!
Nessa mesma tarde.
- Caio, você conhece o Vinícius? - perguntou o Tom.
- Pára, Tom! - disse a Luiza, gargalhando.
- Vinícius? Que Vinícius?
- O meu amigo, Caio. Lembra dele na minha festa lá em casa?
- Isso já faz um ano... - disse o Tom - enfim, ele está ficando com a Lu.
- O Vinícius, o seu melhor amigo? - perguntou o Caio.
Eu não gostei quando ele disse que o Vinícius era o meu melhor amigo.
- O meu amigo, Vinícius, da escola.
- Nossa! Desencalhou finalmente, hein Lu? – disse a Cláudia, rindo.
- Vai se foder, Cláudia!
- Hahahahahahahaha, puta!
- Quando é que ele vai te pedir em namoro? Ele vai te cozinhar em banho-maria, já estou vendo - disse o Tom.
Eu e o Caio ficamos nos estranhando durante todo o resto do trabalho. Ele ficou mudo e eu também. Mas não se estranhando no sentido de brigados, mas sentimos que algo estava diferente com a gente.
Pelo menos eu senti isso.
- A gente precisa sair e fazer o Vinícius pedir a Lu em namoro! - continuou o Tom.
- Eu ia gostar muito de ver dois grandes amigos namorando. Mas eu te aviso logo que o Vinícius não é de namorar sério não, mas por outro lado ele nunca ficou tanto tempo com uma menina só. Quem sabe você não está mudando a cabeça dele, hein? - eu disse.
- Pois é, vamos marcar! - definiu o Tom.
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Pessoal sei que o conto tá bem chatinho esse início
Mas agora vai começar a ficar bom as coisas vao acontecendo!
Eh uma história real tá bem? Vai acontecer muita coisa que vocês nem imaginam kkkk!
Tô amando muito reler todas essas histórias!
E tô me preparando psicologicamente para postar uma que mexe muito cmg! Que passei uma semana chorando! Já prevejo o PauloPE chorando muito qdo eu postar essa história rssss!