Pedro então foi tomar banho para se acalmar, por sorte ainda tinha algumas roupas em sua mochila então se vestiu e desceu para a sala, aonde estava sua mãe e seus irmãos, onde todos vieram dar um abraço nele cada um, todos estavam solidários pelo que aconteceu com Pedro neste fim de semana. Pedro sabia que teria que falar com Clara a qualquer momento, então precisava aproveitar estes dias para tomar um ar e assim decidir a melhor coisa a se fazer diante daquela situação.
Depois da ducha, ele ficou novamente na bad, voltou a se lembrar de Clara, e ainda estava bem confuso com seus sentimentos, e com uma coisa em especial que tinha ouvido da boca de Clara, meio baixo, no momento da tal maldita troca de casais. " Finalmente terminando o que começamos", o que seria aquilo? A mente do rapaz estava uma completa bagunça, e a única que podia dar um conforto para ele, era sua mãe, a qual ele foi pedir socorro. Pedro estava ali recebendo um carinho de sua mãe, que estava abraçada junto a seu filho. Pedro começou a chorar, a mãe que sempre estaria ali ao lado do seu filho o confortou, Ela já sabia o que tinha acontecido e não conseguia entender como que Clara deixou as coisas chegarem naquele ponto. Depois do abraço, Pedro, que ainda mostrava um lado bondoso, pediu para a família não discriminar Clara, e que se ela aparecesse para trabalhar na pizzaria amanhã, deveriam tratar ela com a maior normalidade do mundo, sem dar bandeira de que sabe de algo, afinal ele ainda iria decidir o seu futuro com ela, apesar de já estar quase certo de qual seria.
O senhor Pedro, que era pai de Pedro também, que estava um pouco fraco devido a idade, enfermo, também ficou sabendo do ocorrido, e estava ao lado de seu filho. Ele foi o mais sábio de todos ali. Pedro acabou buscando conselhos com seu pai, era o que sempre fazia quando estava perdido. Aprendeu que o pai seria sempre o seu guia, quando o seu coração e mente tentavam te enganar, sempre terá sua família como a contra balança.
— Pai, o senhor que é muito mais vívido do que eu, já teve algum tipo de crise com a minha mãe?
— Já Pedro, acredito que todos os casais tem crise, eu já errei com sua mãe, passamos por uma crise, e superamos. Mas nós, somos nós, ou seja... Não somos você e Clara. Existem pesos e medidas, ações e reações, a verdade é que nós sempre demos tudo o que podíamos para Clara, e ela nunca precisou perder nada. De acordo com tudo o que você me contou, talvez Clara só vai se dar conta quando ela vê que perdeu você, e toda a sua família, coisa que ela tinha antes como a própria família dela, já que a família dela hoje mora no interior do Paraná e não está todo dia aqui com ela igual a nós.
— O senhor então acha que devemos dar um tempo? Se eu fizer isso, é o certo?
— Meu filho, você deve fazer o que a sua mente e seu coração em conjunto mandar. Porém independente da sua decisão, sempre se mantenha firme, porque é assim que um homem de verdade faz, e eu sempre criei você e seus irmãos para se tornarem verdadeiros homens, que nunca dão para trás em nada.
Os conselhos do senhor Pedro ajudaram muito seu filho no final das contas, e mesmo que fosse doer , talvez ele já saberia o que fazer. Pedro ficou mais dois dias na casa da mãe, no dia seguinte ele não apareceu na pizzaria, mas Clara apareceu, perguntou de Pedro e ninguém sabia responder. Clara pegou o seu avental e trabalhou naquele dia na pizzaria. No dia seguinte, acordou despertada pelo relógio , que sempre despertava nas terças no horário das 5:00 da manhã, e gritou feliz aniversário meu amor, mas logo se deu conta que Pedro não estava lá. Clara lembrou que todo horário que eles acordavam às 5 da manhã era para correr e treinar os tempos de Pedro. Ela se deu conta de que talvez Pedro esteja lá na praça treinando, e acabou se levantando e colocando sua roupa de treino. Porém, quando chegou no local, Pedro não estava lá.
A realidade bateu forte, e Clara finalmente percebeu a enorme besteira que fez, e decidiu que assim que encontrasse Pedro, contraria tudo para ele, sem esconder absolutamente nada. isto seria o melhor a se fazer , Pedro não merecia mais nenhum tipo de mentira pois era um homem muito bom, e Clara sabia, que se quisesse nem que fosse ter uma amizade com Pedro depois de tudo aquilo, precisaria pelo menos ser sincera. Estava se preparando para o pior cenário possível. Clara, esperava que Pedro chegasse talvez depois do almoço, porém ele finalmente apareceu, abrindo a porta de casa, às 8 da manhã. Clara sorriu.
— Meu amor! — Clara então, avança para Pedro que simplesmente manda ela ficar ali mesmo. Clara percebeu a negativa, ficou em choque inicialmente, mas entendeu a atitude de Pedro, e respeitou. Ele caminha lentamente para a sala, e assim ele foi apontando para onde Clara deveria se sentar, enquanto ele sentou no sofá do outro lado para manter uma distância de sua esposa. Assim que se acomodou, Pedro encarou Clara, num primeiro momento estava se pensando, como Clara poderia ter feito tudo aquilo. Porém, ele não sabia, que na verdade existia ainda muito mais que isso.
— Clara, você aprontou muito comigo , mas como eu sou um homem muito justo eu vou te dar a oportunidade de você se explicar e falar tudo o que você tiver pra falar comigo neste momento . Porém antes, desejo que você me responda algumas perguntas. Agora eu quero que você me diga o que foi tudo aquilo? Por que você não me falou nada desde o começo? Por que você todos esses anos foi sempre quieta e fiel comigo e apenas depois de ver o Rafael você se transformou desse jeito? E o mais importante, o que quis dizer quando disse em terminar o que nem tinha começado?
— Então eu vou falar... — Dizia ali Clara, e continuou. — Na verdade, eu gostaria de ter palavras para dizer para você o que me levou a fazer tudo isso, mas eu não tenho. Bom Pedro, você e eu nos conhecemos no início do colegial então você sempre soube que eu sempre fui uma pessoa impulsiva, mas eu não vou jogar a culpa nisso, na verdade eu não vou jogar a culpa em nada . Acredito que eu tenho que ser mulher o suficiente para assumir meus erros, então eu vou dizer sem rodeios, Pedro. Eu amo você, sempre amei. E sempre amarei. Você é o tipo de homem maravilhoso que eu nunca pensei em encontrar, mas naquele momento eu não sei o que aconteceu. Eu sempre gostei de Rafael, você sabe...
Pedro esboçou vontade de falar algo, mas Clara pediu para ele escutá-la mais. E assim foi continuando.
— A verdade Pedro é que eu fui muito boba, por que não soube valorizar os momentos pequenos que a gente teve, você sabe eu sempre fui uma garota bem doidona, mesmo na época em que eu era mais retraída. Existiu muitas vezes em que eu fiz as coisas praticamente sem pensar nas consequências, e eu pisei na bola feio, principalmente com você. Talvez se eu tivesse me aberto mais com você, dito que fiquei curiosa com isso de ver você e Júlia transando, enquanto eu ficava com Rafael, talvez você dissesse não e eu simplesmente desistiria da ideia, mas eu não sei... Até porque, eu errei com você, e foram duas vezes.
— Duas vezes? Como assim?
— A Primeira foi agora. Eu conheci esse casal super descolado, sem nenhum tipo de preconceito ou totalmente livre, eles vão em festas, curtem, bebem até não poder mais, fazem todos os tipos de fantasia sexual, a vida deles não era parada igual a nossa. Nós não estávamos tão ativos sexualmente mesmo nos últimos tempos, muito por conta do trabalho, eu sei, também pelo fato de você estar treinando muito para conseguir chegar onde deseja, e eu me propus a te ajudar, eu sei disso... Mas foi um mundo novo, eu fiquei ouvindo as histórias... Bom, agora nesse momento eu vejo que não era grande coisa mas quando eu reencontrei o Rafael e ele me contou todo o estilo de vida dele e tudo o que ele fez depois da formatura, fora o fato de que... — Ali, Clara deu uma boa travada. Pedro a questionou, e ela continuou. — Pedro, eu não vou mentir! O Rafael é um tesão. Você sabe que eu sempre gostei dele quando eu era mais nova, mas pelo fato de eu não ser bonita ele nunca ficou comigo, ter visto ele depois de todos esses anos mexeu comigo, toda aquela vontade que eu tinha de beijar ele de agarrar voltaram de uma forma que eu não consegui explicar, eu estava me sentindo novamente aquela jovem e boba do colegial, que olhava ele e tinha desejo por ele. E aí aconteceu, a gente transou naquela casa enquanto você e aquela garota foram para a praia, na verdade eu seduzi ele, eu pensei como a gente já vai fazer a troca de casal não tinha problema nenhum, eu só queria experimentar e viver os velhos tempos.
Pedro ouviu sobre a primeira traição, fechou os punhos, mas se acalmou. Na verdade, a vontade dele nesse momento era não ouvir absolutamente mais nada e sair dali, procurar Rafael, e dar uma bela surra nele. Mas se controlou.
— Velhos tempos? Que diabos está falando Clara? E como assim? Você me traiu com ele? Justo quando eu fui nadar, mas como isso? Você me disse que estava com dor de cabeça e ele foi no mercado, eu vi ele sair!
— Sim, ele foi no mercado, mas quando ele chegou, eu estava arrumando as coisas no quarto , ele acabou chegando pra mim praticamente nu, e eu mandei ele ir embora. Mas aí ele veio me questionando sobre uma coisa, algo que rolou entre a gente na faculdade, algo de finalizar o que tinha começado, e aí rolou aquela rapidinha, na cama dele. Ele me jogou na cama e comeu de lado, não durou muito tempo. Depois ele tirou o pau pra fora e acabou gozando no edredom, mas eu quero deixar claro pra você que tanto na troca quanto nessa hora, ele usou camisinha, então, sem chances de ter algum problema com isso! Bom, como se isso fosse amenizar algo...
— Clara, puta que pariu! — Dizia ali Pedro. — Você jogou nosso casamento fora por causa de uma foda, sabe de uma coisa? Se você estava achando que a nossa vida sexual estava monótona, era só ter se aberto pra mim. Juntos, eu e você podíamos ter dado um jeito, como a gente sempre fez, quando tentamos fazer algo diferente com relação a gravar nossa transa, a tirar fotos, todas as vezes que você me pediu uma coisa diferente eu sempre fiz por você!
— Eu sei, desculpa! Eu falhei, eu tive medo! É que você sempre é muito certo Pedro, e você também nunca gostou do Rafael, você não iria nunca aceitar que eu...
— Que você trepasse com aquele desgraçado? Não ia mesmo, Clara. Agora eu entendo tudo, esses pedidos direto pra gente ir naquela casa entregar a pizza, tentar me seduzir, tudo isso daí era pra tentar te comer! — Deduziu ali Pedro, embora sua dedução estivesse completamente errada, já que Rafael não teve nenhuma participação naquilo, mas, queria culpá-lo junto com tudo que aconteceu. Porém, tinha uma coisa ainda em mente. — eu acabei de me lembrar de uma coisa. Que merda é essa de algo que rolou na formatura, no dia que te pedi em namoro? Que merda é essa de acabar o que tinha começado? Não me diga... ?
Clara então baixou a cabeça. Naquele momento ela começou a soluçar e chorar, Pedro cruzou os braços e aguardou a resposta dela, Clara resolveu falar de uma vez, em quando olhou diretamente para os olhos de Pedro.
— Dois dias antes da formatura, eu acabei me encontrando com ele na rua por acaso. Ele não me reconheceu , ou talvez ele nem tinha ninguém pra reconhecer, tanto que na época ele me chamou de Aline. Tive que corrigir meu nome por duas vezes. Mas enfim, ele tentou me seduzir aquele dia e me levar pro motel , mas eu rejeitei ele e disse que eu só me entregaria se ele me pedisse em namoro. Ele disse que iria pedir, na formatura, que eu deveria encontrar com ele nos fundos e assim ele pediria a mim em namoro. Antes de você me pedir em namoro, eu fui até lá, ele começou a me falar coisas carinhosas e nisso acabamos nos beijando, ele começou a tirar minha roupa, ele me levou pro banheiro da escola e ali começamos a fazer sexo. Ele começou a me penetrar e eu senti que estava perdendo a virgindade, nisso eu percebi que ele nunca me pediria em namoro, por que ele errou meu nome de novo. Ali eu empurrei ele e fui embora, foi então que eu encontrei você um tempo depois e você me pediu em namoro. Eu aceitei, mas naquele dia a gente nem chegou a ficar juntos porque eu falei pra você que estava com dor de cabeça e iria pra casa. Mas eu menti Pedro, na verdade eu fui pra casa chorar e jurar pra mim mesmo que eu iria esquecer esse homem. E eu esqueci, até o dia que ele reapareceu na minha vida, e todas aquelas histórias me fizeram ver um Rafael talvez mais maduro, que não ilude ninguém. Então eu fui cometendo um erro atrás do outro por que todo aquele sentimento voltou, mas agora que aconteceu eu só percebi que era tesão e mais nada, eu sequer tenho vontade de ir atrás dele! Me desculpe Pedro pelo amor de Deus!
Pedro descruzou os braços imediatamente após ouvir aquilo. Mesmo sendo novo e atlético, sentiu seu coração acelerar de tal forma que ele precisou se sentar novamente, respirou fundo e sentiu a sua mão ficar trêmula enquanto Clara parou de falar, e totalmente preocupada, foi atrás dele ver o que estava acontecendo. Em um gesto quase que instantâneo, Pedro afasta Clara dele de uma vez usando a mão, onde ela entendeu o recado e deu dois passos para trás, esperando alguma reação de Pedro. Ele explodiu de vez naquele momento.
— PUTA QUE PARIU, CLARA! COMO VOCÊ PÔDE FAZER ISSO COMIGO? FOI NAQUELA MALDITA FORMATURA ONDE EU TE DEI NOSSA ALIANÇA DE NAMORO, CLARA! FOI ALI QUE EU ME DECLAREI PRA VOCÊ, NO MESMO DIA VOCÊ TAVA TREPANDO COM AQUELE GALINHA, CLARA! PORRA, COMO VOCÊ PÔDE FAZER ISSO COMIGO?
Pedro, tentou se levantar mas se ajoelhou no chão logo em seguida, apoiou as mãos no chão e começou a chorar desesperado, estava se sentindo o pior dos homens daquele momento. Clara, depois de revelar aquilo, acabou se ajoelhando junto a ele, ela colocou as mãos no ombro dele, e ele a retirou, olhando-a com raiva ali. Ela acabou se sentindo completamente destruída, percebeu todo mal que fez, então, ela mesma toma uma decisão, e comunica essa para Pedro.
— Acredito que eu não seja mais digna de você. Por isso, eu mesma vou terminar nosso casamento, Pedro. Eu duvido que você vá me perdoar depois disso, eu admito que eu fui uma pessoa que só fiz mancada, quando me aproximei daquele cara, mas hoje eu vi que ele não liga pra nada, só pra sexo.
Foi então que Clara se levantou, indo em direção ao quarto do casal, e assim foi pegando as suas coisas, mas Pedro acabou se levantando e indo atrás dela, ela o encarou quando ele entrou pela porta, foi quando olhou para ela e disse.
— Você não precisa ir embora, Clara. Nós somos casados e legalmente, essa casa é sua, pois está em seu nome. Você pode ficar aqui, eu vou embora. Vou arrumar as minhas coisas e ver aonde eu vou ficar, vou ficar uns tempos sumido e depois eu volto pra gente começar o processo de divórcio.
—Não, Pedro! Faz assim, já que a casa é minha, você fica aqui hoje e amanhã, enquanto arruma outro lugar pra ficar. Você pode dormir na cama, ou no sofá, você escolhe. Mas fique, eu não queria ficar sozinha. Eu ainda tenho muitas coisas para falar com você, eu ainda devo uma última explicação pra você...
— Não, Clara. A partir de agora estamos separados, se você tivesse feito só essa troca de casal é mais nada , eu teria perdoado você , mas você me traiu na época da formatura e passou praticamente 7 anos sem me contar absolutamente nada. Eu fico pensando como você conseguiu dormir sossegada durante todos esses anos sem conseguir contar isso pra mim , mas quer saber? Isso não importa. Como eu disse, eu vou embora e você pode ficar com a casa. Só vou sair um pouco agora. — Pedro então negou a proposta de Clara, e assim saiu de casa mas sem pegar suas coisas, avisando que voltaria logo, pois queria respirar um ar. Foi muita emoção para um dia só, e Pedro precisava de um pouco de paz depois de muitas revelações que praticamente serviram apenas para destruir aquele combalido casamento.
A Clara que ele conheceu hoje não era a mesma Clara que ele se apaixonou, uma Clara tímida, porém sempre amorosa e sonhadora. Sua Clara não existia mais, ela tinha morrido, talvez até mesmo para ele, e aquela Clara não é a mesma pela qual se apaixonou. Curitiba naquele dia fazia um alto sol, e Pedro não estava em boas condições, mas mesmo assim foi para a pista onde ele costuma correr e ficar observando o lago. Pedro então fez a única coisa que conseguia pensar naquele momento: Correr. Foi até o parque e correu, foi relaxando e seguindo os caminhos daquela pista de treinos que existia no parque, e deu uma, duas, quantas voltas conseguir , até a expulsão de ar de seus pulmões ficar mais acelerada, mostrando uma exaustão. Pedro então sentou-se ali no banquinho da praça, e logo viu alguém sentar ao seu lado, e pegar sua mão. Ele olhou para o lado, e era Júlia.