Bernardo [20] ~ Rafael, um caminho sem volta!

Um conto erótico de Bernardo
Categoria: Gay
Contém 2080 palavras
Data: 02/12/2023 11:15:35
Assuntos: Gay, Início, Sexo, Traição

Eu nunca quis Eric mal. Nem quando descobri sua traição eu lhe quis mal. Sim, eu cheguei a odiá-lo por alguns momentos, mas esse ódio não significou querer vê-lo mal e sim querer vê-lo longe. Por causa disso eu senti como se uma mão invisível apertasse meu coração ao vê-lo naquele estado. Ele nos olhava atônito, não acreditava no que via. Eu estava realmente com pena dele, pena da dor que deve ter sido para ele ver o que viu.

Sem saber como agir, olhei para Rafael em busca de auxílio, mas o que encontrei foi um sorriso senil de satisfação em seu rosto. Ele conseguiu o que queria, ele se vingou de Eric. Como ele conseguia se sentir satisfeito fazendo outra pessoa sofrer? O que tinha de bonito naquilo? Aquela foi a primeira vez que Rafael me mostrou uma nuance da sua personalidade, e eu não gostei nada do que vi.

_Eric..._ tentei começar a falar alguma coisa, mas não consegui.

_Vocês estão juntos?_ ele perguntou depois de algum tempo.

_Sim._ respondeu Rafael.

_Não._respondi ao mesmo tempo.

Rafael me olhou surpreso, mas não o encarei. Não estava muito bem com ele no momento.

_É complicado, Eric... Nós..._ eu não conseguia explicar, não tinha explicação.

_Desde quando vocês dois..._ ele mal conseguia formar frases, o golpe tinha sido forte.

_Há algum tempo, e estamos muito bem obrigado!_ falou Rafael.

_Para com isso!_ ralhei com ele.

_Para com isso o que?

_Para de ficar me usando pra ferir ele!

_Eu não estou..._ ele começou mas eu o interrompi.

_Depois a gente conversa, Rafael.

Eric assistia a tudo com os olhos vazios, sem expressão, apesar das poças de lágrimas formadas embaixo do olhos. Eu não percebi como a minha briguinha com Rafael tinha se parecido com uma briguinha de casal e como aquilo devia ter machucado Eric mais do que o Rafael dissera. Eu não queria pensar em como Eric estava se sentindo naquele momento. Me virei para ele para, mais uma vez, tentar melhorar a situação:

_Desculpe pelo que você viu, Eric, simplesmente aconteceu. Eu não esperava me apaixonar por Rafael.

No momento que aquilo saiu da minha boca, vi a dimensão da bobagem. Os olhos de Eric, antes sem vida, se arregalaram e brilharam. Sua tristeza se transformou em ira.

_Se apaixonar por Rafael?! Uau! Você? Apaixonado por outro cara?

_Eric...

_Mas isso é histórico! O cara que abominava qualquer tipo de relacionamento com outro cara apaixonado por um?! Isso deve ser tão divertido para você! Como você está sentindo encarando essa nova realidade?_ se tom de voz era irônico e machucava. Ele sabia como eu era sensível aquilo tudo que estava acontecendo.

_Eu não vou deixa você falar assim com ele!_ falou Rafael.

Rafael se posicionou agressivamente entre mim e Eric, como se me protegesse. Eu admirei seu instinto em proteger, mas eu podia fazer aquilo sozinho. Coloquei minha mão sobre seu ombro e ele relaxou.

_Olha, Eric._ falei sério me aproximando dele _Tudo está acontecendo ainda. Sim, nós estamos apaixonados, mas eu não sei aonde isso vai dar. Isso que você viu foi nosso primeiro beijo. E sim, isso tudo me assusta muito, é como me atirar de um penhasco e torcer para que eu milagrosamente consiga voar.

Ele relaxou um pouco com minhas palavras, mas ainda tinha raiva em seus olhos.

_Estou te falando isso não para te dar explicações, porque eu e ele não te devemos nada. Estou te contando isso para deixar tudo em pratos limpos. Eu estou sendo completamente sincero com você, o que você não foi com a gente. Estamos todos zerados aqui, sem mágoas. Agora, eu realmente não sei aonde isso vai dar, mas eu gostaria de descobrir sem sua ajuda, então eu te peço humildemente que não se meta comigo ou Rafael mais.

Ele me olhou assustado como na noite do meu aniversário em que explodi com ele. As lágrimas começaram a cair sobre seu rosto e eu tentei me manter impassível a elas. Eu torcia para ele ir embora rápido, antes que eu fraquejasse, e ele realmente foi após alguns segundos.

Caí sentado no chão do banheiro com as mãos sobre o rosto. Tinha coisa demais acontecendo ao mesmo tempo. Eu precisava parar para respirar. Logo senti os braços de Rafael se fechando em volta de mim, mas não reclamei. Era tão bom sentir ser calor próximo ao meu corpo, tinha um efeito tão relaxante. Ele realmente me passava a sensação de proteção. Não sei quanto tempo passamos ali, talvez mais de uma hora. Eu demorei um tempo até conseguir me acalmar e absorver tudo o que estava acontecendo.

Então eu me lembrei que tinha que conversar com Rafael. Me soltei dos seus braços e sentei em frente a ele. Ele me olhava intensamente tentando prever o que viria a seguir. Como eu estava demorando, ele começou:

_Você não pode ficar se remoendo por Eric. Ele não merece.

_Fomos nós que causamos sofrimento a ele, como eu posso não me importar?!

_Ele mereceu!

_Eu não acredito nesse tipo de justiça, Rafael!

_Pois eu sim, e estou muito feliz.

_Estou vendo, e isso me assusta!_ desabafei.

Ele me olhou meio de lado, como se tentasse entender o que eu tinha dito.

_Me assusta o fato de você ficar feliz com o sofrimento dos outros. Você não está arrependido como eu estou?

_Não, não estou._ respondeu firme sem abaixar a cabeça _Ainda que por meios tortos, nosso plano deu certo.

_Nosso não, seu plano._frisei.

_Nosso plano, sim. Você concordou.

_Concordei por você, porque àquela altura eu já estava apaixonado e faria qualquer coisa para te livrar da raiva que você estava sentindo.

Ele sorriu por entender aquilo como uma declaração. Ele então se aproximou, pegou minhas mãos e falou com a voz bem mais mansa:

_Deixa o Eric pra lá, Bernardo, já passou. Vamos nos concentrar no que importa aqui: nós dois.

_Eu preciso de um tempo.

Seu riso apaixonado se desfez quando falei aquilo.

_O que?

_Eu preciso de um tempo. Eu preciso pensar no que está acontecendo aqui.

_Pensar o que? Nós estamos apaixonados!

_Estamos, e daí? O que vem agora? Você achou que sairíamos daqui de mãos dadas direto para o altar? Eu estou falando sério, Rafael, eu não estou pronto para ter um relacionamento com outro cara. É muito pra minha cabeça. Eu estava decidido a nunca mais me envolver com outro cara, mas aí você apareceu e bagunçou tudo. Eu preciso de um tempo para por minha cabeça no lugar. Eu não sei o que fazer, mas preciso descobrir sozinho.

_Você está se deixando afetar pelas palavras do Eric!_ argumentou.

_Não, não estou. Esse é o jeito como eu me sinto, e ele sabe disso. Sabe que é complicado para mim me envolver com outro cara.

_Mas...

_Por favor._ implorei olhando nos fundos dos seus olhos.

Ele queria continuar discutindo, mas soltou o ar em sinal de desistência e balançou a cabeça concordando.

_Obrigado._ respondi sorrindo.

_Só vou concordar porque estou realmente apaixonado por você e quero que isso dê certo. Por mim a gente se beijava no hall e que se fudesse quem não quisesse ver.

_Pena que não é assim que as coisas funcionam.

Me levantei e ele se levantou também, ficando de frente para mim.

_Então, vamos para aula?_ falou.

_Eu não vou, prefiro ir para casa e mentir que passei mal. Não tô afim de encarar a Alice, ou pior ainda, o Eric, nesse momento.

_Certo. Então, até amanhã?

_Até amanhã.

Ficamos os dois nos olhando sem jeito. Eu queria ir embora, mas não queria me despedir dele. Queria grudá-lo em mim, fazer dele uma extensão minha e assim levá-lo sempre comigo.

_Bom, tchau._ falei.

_Tchau...

Me virei e quando pus a mão na maçaneta da porta, senti ele pegar meu braço e me puxar, me fazendo ficar de frente para ele a milímetros de distância. O beijo foi inevitável. Calmo, romântico, intenso. Eu estava em transe. Quando ele me soltou, nós dois sorríamos.

_Esqueci de perguntar, posso te ligar mais tarde?_ falou.

_Pode.

_Eu vou

Ri bobo com seu jeito romântico e dessa vez fui embora de verdade, tomando cuidado para não encontrar com nenhum conhecido no caminho. Eu tinha um sorriso bobo e sem motivo no rosto. Eu estava tão apaixonado por Rafael...

[...]

Eu passei toda aquela segunda-feira deitado na minha cama perdido em pensamentos. Eu nunca tinha sentido por alguém algo tão intenso como o que eu sentia por Rafael. Não só a situação era nova para mim, mas as sensações também eram. Eu ficava nervoso e extasiante na sua presença, e angustiado e irritável na sua ausência. E só aquela nova coisa que eu estava sentindo já me fazia ver o mundo diferente. Parecia que tudo ganhou mais cores. Não que eu enxergasse a vida em preto e branco, mas eu a enxergava em algumas poucas cores desbotadas, e então todas as cores ganharam vida de repente. Tudo era brilhante, berrante e alegre. Seria isso a tal felicidade? Era por isso que esperei minha vida toda? Hoje, acho que não era a felicidade, pelo menos não a felicidade quase infantil pela qual eu ansiava. Aquilo foi um encantamento por descobrir um novo mundo. Agora havia esperança, agora eu sabia que podia ser feliz. Eu tinha sentido o gostinho da felicidade.

Mas comigo, tudo é sempre um pouquinho mais complicado. Eu não conseguia simplesmente me jogar de cabeça naquilo. Havia correntes muito fortes me prendendo. Aquilo não era uma coisa qualquer. Engatar um relacionamento com outro cara é um passo gigantesco, muito maior do que eu estava disposto a dar. Só que era Rafael, aquele como poder de anestesiar minhas dúvidas, de aplacar meus medos e de suprimir minha insegurança.

Sim, eu estava cheio de dúvidas, mas não tinha muitas opções. A verdade é que eu nunca tive escolha depois daquele primeiro beijo com Rafael. Rafael era minha única opção, fosse do jeito que tivesse que ser.

[...]

_Oi.

_Oi._ respondi sem jeito, ainda ficava tímido perto de Rafael.

Ele estava lindo de bermuda, camiseta branca e chinelo. E tudo era completado por aquele seu sorriso largo e impecavelmente branco. Estávamos na praça de alimentação de um shopping, onde ele concordou em me encontrar depois de eu ligar para ele pedindo para conversarmos. Meu medo era ter muita gente por perto e não ter como falarmos de certos assuntos, mas devido ao fato de ser uma segunda-feira à noite, estava vazio.

_Obrigado por vir, sei que avisei de última hora._ falei.

_Por mim tá ótimo, te ver é melhor que falar com você só por telefone.

Sorri e abaixei a cabeça envergonhado pelo elogio. Ele riu da minha falta de jeito.

_Pode ir se acostumando com meus chavecos, agora você vai ouvi-los frequentemente.

_É sobre isso que eu queria conversar.

_Nós vamos continuar nos vendo, né?_ perguntou preocupado.

_Sim._ respondi sorrindo e ele respondeu sorrindo também _Mas com algumas condições.

_Bom, vamos lá, quais são?_ perguntou ainda sorrindo se reencostando na cadeira.

_Primeiro: não é oficial, não é um namoro. A gente vai levando e vê aonde isso vai chegar, certo?

Ele suspirou fundo.

_É justo. Vamos levando pra ver onde chegamos.

_Obrigado. Segunda condição: é segredo absoluto, ninguém pode ficar sabendo. Alice talvez. Pedro nem pensar.

_Não devemos explicações a ninguém!_ falou começando a se inflamar.

_Eu sei, eu sei._ falei tentando acalmá-lo _Mas eu não estou pronto para assumir isso. Você pode fazer isso por mim?

Ele pôs as mãos na cabeça e mais uma vez soltou a respiração pesadamente dando a entender que aquilo era um sim.

_Obrigado.

_O que posso fazer se me apaixonei por você, Bê? O que você pedir eu faço, não tenho muita escolha.

_Bê?_ falei debochado.

_É, Bê!_ respondeu rindo.

_Então, Rafa, estamos combinados.

_Mas isso mais parece um contrato de empresa sendo assinado. Cadê a emoção?

_O que você sugere?

_Bem, eu estou de carro e ele tem vidros escuros, ninguém consegue ver o que a gente pode fazer dentro dele. Que tal?

Ele falou isso com um ar sedutor, e só pude sorrir em resposta. Era muito arriscado, mas eu não estava raciocinando normalmente mais. Agora eu era outro, mais destemido, com mais sede de viver a vida. Rafael fez isso comigo. Me apaixonar por ele foi um caminho sem volta.

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