Roger! Era muita petulância dele, muito descaramento, como ele tinha coragem de me ligar no dia em que estava firmando compromisso com minha irmã, como entender uma pessoa assim, o que ele poderia querer comigo naquele horário?
Não atendi ao telefone, deixei tocar até parar, mais ele insistiu até que eu me cansei e atendi.
- O que você quer?
- Calma, eu só quero te desejar feliz natal.
- Muito obrigado, tchau e desliguei o telefone, mas ele voltou a ligar insistentemente.
- Você quer tirar minha paz, é isso?
- Não desliga esse telefone senão depois vai ser pior pra você.
- Está me ameaçando?
- Não, mas estou sendo educado, será que você não percebe que eu preciso falar contigo.
- Quer que eu te parabenize pelo noivado, parabéns!
- Esquece o noivado, isso é tudo convenção social barata.
- Não acredito que você está me dizendo isso no dia do seu noivado, como será seu casamento com minha irmã?
- Ela vai ser minha companheira e nada mais que isso, o resto é crendice popular.
- Desculpe, mas eu não sou assim.
- Por isso que você sofre, fica acreditando em babaquice.
- É o que todo mundo acredita.
- Sandro, ponha uma coisa na sua cabeça cara, ninguém é de ninguém, isso não existe.
- Muito bonito o discurso, mas o que você quer?
- Dizer pra você que estou com muita saudade e não pense que está livre de mim.
- Cara, você me liga na noite de natal, me atrapalhando de sair pra me divertir só pra me falar asneira.
- Divirta-se bastante, mas não abuse você ainda é meu.
- Você está doente precisa se tratar.
- Você é que se apega a coisas sem sentido.
- Era esse o recado que você queria me dar, já deu, agora desculpe, eu preciso sair e está me atrapalhando.
- Quando você volta?
- Não sei nem se volto.
- Volta sim, às aulas iniciam somente em fevereiro e nós precisamos conversar.
- Eu não tenho nada pra falar com você.
- Tem sim, temos muitas coisas pra nos falar.
- A única coisa que eu sei é que você está noivo da minha irmã e vai casar com ela.
- E o que isso tem a ver com a gente?
- Tem tudo a ver, ela é minha irmã e você será meu cunhado.
- Nada impede da gente se encontrar e curtir a vida.
- Eu não sou assim Roger, você está tentando a pessoa errada.
- Não adianta fugir, preciso falar contigo e se não vier eu vou atrás onde você estiver.
- Você só pode estar louco, bebeu?
- É sério Sandro, não estou de brincadeira.
- E nem eu cara, larga do meu pé você já fez sua escolha.
- Quando você vai entender que isso não existe.
- Pra mim existe e valorizo muito o caráter das pessoas.
- Você está muito revoltado, eu não te abandonei como está imaginando.
- Cara, já deu essa ligação eu tenho que sair com meus amigos.
- Tudo bem, vá, mas não se esqueça de me procurar.
- Vai se fuder cara.
- Vou, com você sacaninha.
Fiquei com tanta raiva que desliguei o telefone e comecei a chorar, Juliano entrou no quarto sem entender nada, veio até onde eu estava e me deu um abraço.
- O que houve?
- Nada.
- Ninguém chora por nada, ele pegou meu celular que estava encima da cama e olhou os registros, e fez uma cara de raiva.
- Por favor, não me julga.
- Como esse cara teve coragem de ligar pra você?
- Ele não se prende a ninguém, pra ele o noivado com minha irmã não significa nada.
- A Aline vai sofrer nas mãos dele e você não caia na dele novamente, por favor, Sandro.
- Tem horas que o Roger me dá medo.
- Não tem que sentir medo e você não é obrigado a fazer o que ele quer.
- Obrigado por me dar essa força.
- Vamos sair? A noite está apenas começando, disse ele rindo.
- Você está animado hein?
- Muito e não quero ver você triste, vamos lá animação.
- Já está pronto?
- Claro, estamos atrasados.
- Eu nem estou pronto ainda.
- Anda logo, senão perdemos o luau.
- Como você sabe que é um luau?
- Eu liguei para Letícia e perguntei aonde íamos, precisava saber qual roupa era adequada.
- Nossa, tenho muito que aprender com você.
- Eu percebi que você não se ligou nesse detalhe e agora troca de roupa senão vou ser obrigado a fazer isso, disse ele rindo.
- Você não se atreveria.
- Não duvida.
- Acho que você tomou champagne demais.
- Estou levando uma, mas é só pra nós dois.
- Oh você está dirigindo.
- Você bebe por mim.
- Está a fim de me embebedar.
- Seria uma boa, só assim eu poderia me aproveitar um pouquinho, disse ele rindo e saindo do quarto.
Laura e Fabrício também foram conosco, porém cada um foi no seu carro. No caminho ao chegarmos na praia antes de descer do carro tomamos a garrafa de champagne, com direito a taça e tudo, ele me fez beber, eu não era acostumado, fiquei bem elevado, mas foi muito divertido.
Chegamos à praia e já tinha uma turma, não conhecíamos ninguém, mas logo avistei a Leticia, ela veio ao nosso encontro nos dando as boas vindas e apresentando seu grupo que era bem animado.
Uma coisa eu achei estranho, em meio a sua turma estava a Patrícia, a amiga de faculdade do Juliano, na mesma hora eu me perguntei por qual motivo ela estaria ali? Será que ele a convidou? Apesar de não gostar muito da novidade eu não disse nada apenas senti uma angustia a qual não sabia explicar o motivo.
No mesmo instante em que ela nos viu, veio até ele e o abraçou desejando um feliz natal já atrasado, ela já estava bem elevadinha na bebida, ali eu senti que perdi meu companheiro de noite, porque ela simplesmente se atirava pra cima dele.
Leticia me convidou para se juntar a ela, Patrícia raptou Juliano de perto de mim, também não vi mais Laura e Fabrício deveriam estar perdidos no meio da turma.
O luau mal tinha começado e eu já estava louco de vontade de voltar pra casa, sentamos na areia e um pessoal que eu não conhecia começou a cantar e tocar violão. Olhei para todos os lados e não avistei Juliano, por mais de hora fiquei ali, a única conhecida era Leticia, mas ela estava com a turma dela e eu estava isolado.
Já eram mais de duas da manhã quando Juliano apareceu de mãos dadas com Patrícia, ela finalmente conseguiu o que queria, ele estava sorridente ao lado dela e bem elevado na bebida. Ele veio e sentou a minha frente em meio à roda de pessoas, mas eu nem dei atenção, estava com muita raiva dele por ter me deixado sozinho.
Logo depois ela veio, sentou ao lado dele e colocou o braço em seu ombro, delicadamente e aos poucos ele foi retirando e eu me perguntava por que estava incomodado com aquela situação? Ele era apenas meu amigo, porque eu sentia aquele ciúme bobo e raiva dele? O que estava acontecendo comigo?
Teve uma hora que eu olhei na direção deles e ele piscou pra mim, desviei meu olhar para outro lado, que idiota ele era se achando ao lado daquela Patrícia, estava com ela atravessada na minha garganta, não gostava dela, era muito antipática.
- Não está gostando do luau? Perguntou Leticia sentando ao meu lado chamando minha atenção.
- Está legal, mas não estou bem.
- Eu percebi você está triste.
- Não é nada com a galera, sou eu mesmo, posso te fazer uma pergunta.
- Claro Sandro, o que você deseja saber?
- Você conhece aquela moça que está com Juliano?
- É minha irmã mais velha, disse ela rindo.
Eu fiquei espantado, era muita coincidência pra não dizer ironia.
- O que houve? Parece que viu um fantasma.
- Não é nada, vocês são bem diferentes.
- Ah sim, somos irmãs por parte de mãe, ela é meio patricinha né?
Não disse nada apenas sorri.
- Você é sempre tímido assim?
- Não, é que não conheço quase ninguém e estou chateado.
- Acho que você está com dor de cotovelo, disse ela rindo.
- Você já conhecia o Juliano?
- O conheci na rodoviária.
- Sua irmã já o namorava?
- Acho que não porque ela namorava outro cara até o mês passado.
- Pelo visto eles estão se entendendo.
- Você gosta dele né?
- Sim, ele é meu amigo.
- Não estou falando desse tipo de gostar.
- Está doida Letícia, ele é meu amigo e eu tenho namorado.
E onde ele está?
- Foi viajar com os pais.
- Nossa que chato, deve ser horrível passar o natal longe do namorado.
- E você não namora?
- Está vendo aquele rapaz do violão, o nome dele é Giovane sou parada na dele, mas ele não está nem ai pra mim, já ouvi dizer que é gay.
Caímos na risada, ela era divertida.
- Olha só que ironia ela dizia, eu apaixonada por um gay e você caidinho pelo primo e não admite.
- Eu já disse que ele é apenas meu amigo.
- Me engana que eu gosto, dizia ela rindo.
- Você é louca.
- Louca pelo Giovane e você é louco pelo Juliano, não ficou com ciuminho quando mandei aquela mensagem.
- Não brinca que você fez pra me provocar?
- E você caiu direitinho, já estou até vendo, dizia ela rindo elevada na bebida.
- Para com isso Leticia, ele é apenas meu amigo, meu primo.
- E o que tem demais?
- Não viu que ele está com a Patrícia.
- Aquilo ali é fogo de palha, aposto que ele está te provocando.
- Você cismou hein?
- Oh! Dizia ela rindo, este aqui é irmão deste e mostrava os olhos com os dedos.
Por volta das quatro da manhã Juliano veio até onde eu estava ao lado de Leticia, ele chegou e sentou ao meu lado.
- Vamos dar uma volta pela praia?
- Convida sua namorada.
- Ela não é minha namorada.
- Mas vocês estavam juntos
- Ela tem tentado, mas eu não quero.
- E porque ficou com ela se não queria?
- Ela insistiu e quando eu vi já estava me beijando, a Patrícia é legal, mas não faz o meu estilo.
- Você não precisa me explicar nada à vida é sua.
- Mas eu quero, gosto de você.
- Não parece, mas nem precisa se preocupar, pra mim não faz diferença.
- Me dá uma chance de provar o quanto eu posso te fazer feliz.
- Eu não quero você, falei irritado.
- Por quê?
- Porque eu não te amo, não te quero, odeio cara que anda metido com mulher e tenho namorado
- O Diego?
- Sim, ele por quê?
- Não sou eu que tenho que dizer, descobre por conta própria.
- Mania que você tem de se achar o tal.
- Não estou me achando e nem nunca me achei.
- A mim não me importa o seu joguinho, me deixou sozinho no meio desse bando de gente e foi se esfregar na vadia.
- Eu não fiquei com a patrícia, ela é minha colega não podia simplesmente virar as costas pra garota.
- Quer saber, me leva pra casa, já estou cheio disso aqui.
Fomos pra casa ele não disse mais nada e eu também estava com muita raiva do Juliano, era uma gana que nem eu sabia explicar porque estava daquele jeito.
Chegamos a casa, ele desceu do carro estava com os olhos vermelhos, ainda não tinha chorado, mas eu tenho certeza que chorou. Dali mesmo ele foi direto para o quarto e se trancou sem falar comigo.
Em meu quarto já de banho tomado comecei a pensar na minha estupidez, fui grosseiro com ele sem motivos, Juliano era solteiro, livre, ele não me devia satisfações.
Fiquei arrependido e tive vontade de procurar por ele, cheguei a ir até a porta do quarto dele, pensei em bater, mas não tive coragem, o que eu ia dizer sobre a minha crise sem fundamento? Voltei para o quarto e tentei dormir, mas ao mesmo tempo pensei no Diego, o que o Juliano sabia sobre ele que não quis me contar? Será que ele também aprontava comigo? E o Roger suas palavras autoritárias ainda estavam na minha cabeça.
Acordei no dia seguinte com uma ressaca enorme e dor de cabeça. Levantei da cama e fui direto a cozinha, encontrei tia Joana e tio Carlos, que tinham acabado de chegar de sua caminhada na praia.
- Bom dia.
- Bom dia meu filho, disse tia Joana.
- Bom dia filho, como foi à festa? Questionou tio Carlos.
- Estava boa.
- Nossa, que desanimo é esse? Perguntou minha tia.
- A festa estava legal, eu que não estava muito bem.
- Ah entendi, pelo visto ela não foi boa pra ninguém, porque Laura e Fabrício estavam discutindo e o Juliano levantou cedo foi à praia e continua por lá.
Fui até a praia, queria conversar com ele e me desculpar pela grosseria da noite passada, de longe eu o avistei jogando com um grupinho de rapazes, não me aproximei, fiquei apenas observando, na verdade eu nem sabia o que dizer a ele, mas não podia deixar as coisas como estavam.
- Está procurando alguém? Perguntou Laura sentando ao meu lado.
- Oi, nem tinha te visto.
- Eu notei que você estava distraído assistindo o jogo.
- E o Fabrício?
- Foi na casa do pai dele.
- O pai dele mora aqui?
- O Ju não te contou?
- Contou sobre o quê?
- Sobre o irmão de Fabrício.
- Não, o que tem o irmão de Fabrício?
- Desculpe, eu não posso te dizer, prometi ao Ju que não ia me meter mais na vida dele, se ele não te contou é porque achou que não fosse necessário.
- Eles são namorados?
- O Ju está vindo aí, pergunte a ele.
Eu estava louco de vergonha do Juliano pela crise da noite anterior, ele veio se aproximando de onde estávamos, parecia que não estava mais magoado, chegou e sentou-se ao lado de Laura.
- Eu nem sabia que tinha torcida organizada nos assistindo, disse ele rindo e beijando o rosto dela.
- Tudo bem maninho? Disse ela retribuindo o beijo.
- Tudo, e você Sandro, como passou a noite?
- Dormi demais, falei arrancando sorriso dos dois.
- Acho que vocês querem conversar, eu já vou, o Fabrício deve estar chegando, disse Laura.
Ela saiu e ficamos os dois, nem ele e nem eu sabíamos como começar.
- Acho que preciso te contar o que aconteceu ontem à noite.
- Não precisa, quero te pedir desculpas por minha atitude.
- Quem deve pedir desculpas sou eu, afinal prometi ao seu irmão que ia cuidar de você e acabei te deixando sozinho.
- Eu fui um estúpido, não tinha que fazer aquelas cobranças.
- A Laura falou com você sobre o Fabrício?
- Ela falou que foi visitar o pai, eu nem sabia que a família dele era daqui?
- Eles são daqui, você deve estar curioso para saber por que o Fabrício não gosta de mim?
- Acho que isso é pessoal de vocês.
- Mais eu quero que você saiba pra não duvidar de mim.
Você e o Fabrício já tiveram alguma coisa?
- Não, mas o irmão dele mais velho sim.
- Se você não se sentir a vontade para contar, não tem problema, eu entendo e vai continuar sendo meu amigo como sempre foi.
- Eu conheci o Augusto há dois anos, ele era dono de uma rede de laboratórios, foi algo inacreditável o que aconteceu naquela tarde, disse ele sorrindo.
- O que aconteceu?
Eu precisei fazer um exame de sangue, foi a primeira vez que fui ao laboratório dele e dei o azar porque ficamos trancados no elevador, ele, eu e uma senhora com uma criança.
Quando fomos liberados, trocamos telefone e acabou nascendo uma amizade entre nós.
- Você já tinha se descoberto nessa época?
- Eu me relacionava com garotas desde os quinze, mas nunca tinha ficado com nenhum cara, apesar de que já sentia atração quando via um carinha que me chamasse atenção e também já gostava de alguém muito especial, porém impossível e também morria de medo da tia me expulsar de casa.
- E aí?
- A partir daí nos encontramos algumas vezes, mas ele era noivo e estava de casamento marcado.
- Não me diga que ele casou?
- Terminou o noivado pra ficar comigo e aí vem à raiva do Fabrício por mim.
- Ele não aceitava?
- Nunca aceitou, ele só não me trata com mais indiferença por causa de Laura.
- Tudo isso é confuso, como Laura conheceu o Fabrício?
Algumas vezes eu a levei na casa deles e numa dessas visitas ela conheceu o Fabrício.
- Os pais dele não moram aqui?
- Moram, mas tem casa em Belo Horizonte. Faz pouco tempo que eles vieram morar aqui em definitivo.
- E depois?
- Fiquei muito feliz com a decisão dele, falei com a tia e fui morar com Augusto.
- A tia sabe da sua sexualidade?
- Eu contei a ela quando fui morar com o Augusto.
- E ela aceitou numa boa?
- No início ela ficou meio chocada, o tio Carlos também, a Laura já sabia e o Junior não sabe até hoje, mas acho que ele desconfia.
- Você viveu com ele como casal?
Ele sorriu e continuou.
- No inicio começamos como dois grandes amigos dividindo o apartamento, os primeiros seis meses foram maravilhosos, achei que tinha encontrado a pessoa ideal pra mim e até esqueci meu amor platônico do passado.
- E depois?
- A família começou a pressionar para ele seguir uma vida normal como os irmãos, eles são bem de vida, tem status social o qual não queriam perder ainda mais para ele um empresário e isso pesou na consciência dele e começou a mudar comigo.
- Mudar em que sentido?
- Ele saia, dizia que ia para um lugar e ia para outro, até que começaram ligações nas quais eu senti algo errado, fiquei de olho nele e descobri que estava envolvido com uma mulher.
A noiva?
- Não, uma das secretárias do laboratório.
- Funcionária dele?
- Não é irônico.
- O que você fez?
- Falei com a tia se ela me aceitava de volta e voltei.
- Mas se vocês se afastaram porque o Fabrício não gosta de você?
- Porque essa garota que está com Augusto é pobre, ela não tem posses como a ex-noiva dele.
- E o Fabrício te culpa por isso?
- É meio doido né?
- E o irmão, ele não culpa?
- Eles têm uma relação conturbada e depois disso eu me afastei do Augusto.
- Ele aceitou numa boa? Não te procurou mais?
- Vive atrás de mim, já fiquei com ele algumas vezes até pouco tempo atrás, mas sem compromisso.
- Por isso que você disse que já foi traído?
- Sim, ele foi importante pra mim, o primeiro cara por quem eu realmente me interessei.
- Quando você teve lá em casa no meu aniversário, era ele o misterioso que te ligava.
- Era, mas depois pedi pra não me ligar mais que eu não queria nada com ele.
- E ele parou de ligar?
- Não, disse ele rindo e olhando pra mim.
- Você tem saído com ele?
- Depois que eu me aproximei de você nunca mais eu saí com ele.
Nossa conversa foi para um lado que eu não queria.
- Acho que agora podemos ir, o sol está ficando quente, falei e já fui saindo, mas ele me puxou pelo braço me fazendo parar.
- Quero falar com você sobre ontem à noite.
- Não precisa.
- Faço questão.
Sentei ao lado dele, embora não admitisse estava curioso para saber o que ele aprontou com aquela periguete.
- Eu não tenho nada com a Patrícia e nunca tive, ontem rolou um beijo porque ela praticamente se jogou pra cima de mim, mas eu já disse a ela que gosto de outra pessoa.
Eu gosto muito de você e não sei o que aconteceu comigo ontem, nunca me senti daquele jeito diante de alguém, nem mesmo do Roger que já me aprontou muitas vezes, mas eu não quero te dar esperanças ou te magoar. Eu sei que você é um cara diferente e se um dia ficarmos quero que seja algo especial, sexo por sexo eu encontro em qualquer lugar, e tem meu lance com Diego, à gente está tentando algo que eu não sei ainda no que vai dar.
Ele baixou a cabeça e olhou para os pés, me partiu o coração, mas eu tinha que ser sincero, até que ele olhou pra mim e perguntou meio sem acreditar.
- Você ainda gosta do Roger?
- O meu lance com ele é meio confuso por causa da minha irmã.
- Nem precisa me responder mais nada, eu sei que você o ama.
Após essa conversa, voltamos pra casa ele permaneceu calado em seu silêncio e eu me sentindo estranho. Será que estava fazendo a coisa certa? Essa era a pergunta que vinha a minha mente a todo instante.
Depois disso Juliano se afastou de mim, era normal já que eu não tinha dado esperanças a ele, senti seu afastamento pelos três dias que se seguiram na praia, nesses dias eu me isolei, no sábado ele saiu com a galera da Leticia e provavelmente tenha ficado com Patrícia, toda vez que pensava nisso tinha vontade de chorar, mas porque eu não me aproximava dele então e dava uma chance, é muito complicado sentir-se confuso a esse ponto, já não sabia se minha decisão sobre ele tinha sido a mais correta, eu estava perdido e totalmente indeciso.
Permaneci em casa durante todo o tempo, estava me sentindo sozinho, as poucas vezes que saí foi para dar uma volta pela praia e pensar o que seria minha vida após a minha mudança, tinha horas que sentia medo e ao mesmo tempo vinha uma força interior muito grande, uma vontade de vencer e me livrar de tudo aquilo, porque eu tinha que gostar de alguém como Roger?
Juliano passou a falar comigo apenas o básico, aquilo estava acabando comigo, precisava de seu ombro amigo, sua palavra de carinho, mas também tinha que respeitar seus sentimentos.
No domingo antes de voltarmos para Belo Horizonte já não estava mais suportando tanta solidão, tomei banho, arrumei minhas roupas na mochila de viagem deixei em cima da cama e fui para a sala aguardar a hora de voltar.
- Oi filho já está pronto para viagem? Perguntou tia Joana.
- Só esperando pelo Juliano.
- Ele está dormindo, disse que ia descansar para pegar a estrada.
- É cansativo mesmo.
- Está cedo ainda, se quiser pode até dar uma volta pela praia.
- Obrigado tia, mas eu vou ficar por aqui mesmo.
- Fique a vontade meu filho.
- Obrigado.
Ela saiu e fiquei deitado no sofá esperando as horas passarem, levantei e tentei ligar a TV que estava um tédio acabei desligando, foi então que algo me chamou atenção, um celular que estava em cima da mesa chamava, mas estava no silencioso, fui ver de quem era o aparelho. Peguei e logo identifiquei que era do Juliano, tinha várias ligações da Patrícia, o que será que ela queria com ele? Tive vontade de atender, mas não fiz, seria invasão de privacidade. Deixei parar de tocar e a curiosidade bateu mais alto, senti uma sensação estranha, misturada com curiosidade, ansiedade, algo que nem eu mesmo sabia definir o que era. A primeira coisa que me chamou atenção ao reparar a área de trabalho do aparelho foi uma foto minha do dia do meu aniversário, fiquei curioso e fui ao álbum dele, tinha várias fotos dos amigos e uma pasta com meu nome, ali, tinha uma foto que tirei com ele quando tinha 12, lembro que foi Laura que tinha fotografado naquelas máquinas antigas, além dessas fotos tinha umas mais recentes do dia do meu aniversário e até mesmo do fim de semana.
Levei um susto quando escutei um barulho de porta se fechando e larguei o celular o mais rápido que pude em cima da mesa para que ninguém percebesse.
Logo em seguida Juliano apareceu, ele viu o momento que deixei o celular em cima da mesa, porém fingiu não ver.
- Já quer voltar?
- Ainda tenho que voltar pra casa, você me deixa na rodoviária quando chegar a Belo Horizonte?
- Claro, prometi ao Tiago que ia cuidar bem de você.
Juliano foi até um sofá e deitou escorando a cabeça numa almofada.
- Posso te fazer uma pergunta?
- Se estiver ao meu alcance.
- O que a minha foto faz na área de trabalho do seu celular?
- Porque não pode?
- Não é normal.
- Você tem razão, eu preciso tirar, disse ele deitado e pensando distante.
- A Patrícia te ligou.
- Deve ser carona, depois eu ligo pra ela.
Ele pegou o controle da TV, ligou e novamente ficamos em silêncio.
Deixei-o sozinho e fui para frente da casa onde meus tios estavam sentados.
- Juliano já levantou? Perguntou minha tia.
- Sim, está assistindo TV.
- Vocês estão brigados?
- Porque tia?
- Juliano anda triste e quando vocês chegaram ele estava bem.
- A gente se desentendeu na noite do natal.
- Eu quero fazer uma pergunta, mas estou meio sem jeito.
- Pode perguntar tia.
- Você é homossexual?
- Sim, Juliano e Laura sabem.
- João e a Sílvia já sabem?
- Lá em casa todos sabem.
- Isso é muito importante, se precisar de mim para alguma coisa me procure.
- Obrigado tia.
Minha tia e eu conversamos por um bom tempo sentado em cadeiras de praia na frente da casa, até que finalmente Juliano interrompeu nossa conversa e sentou em outra cadeira.
- Tome cuidado meu filho, disse tia Joana.
- Fica tranquila tia e aproveita bem a praia.
- Não se esquece de pagar as contas pra tia e cuide bem do Sandro lá na rodoviária, ele não está acostumado.
- Obrigado tia, mas não precisa ter todo esse cuidado, eu sei me cuidar.
- Vamos Sandro, senão vai ficar muito tarde.
- Vou pegar minhas coisas.
Fui para o quarto pegar minha mochila, Juliano foi atrás achei que fosse para o quarto dele, mas ele entrou no meu, fechou a porta e sem dizer nada se aproximou e me abraçou muito forte, não conseguia me mexer. Ele não me deu tempo de pensar, segurou minha nuca com sua mão e foi aproximando sua boca da minha, não sabia o que fazer foi muito rápido, nossos lábios se encontraram de forma possessiva e mesmo muito confuso fui me entregando aquele beijo, o abracei e retribui.