As outras tardes eu passei na casa dele, estudando, tocando, cantando, desenhando, namorando.
Essas tardes foram mágicas...
Foram como as primeiras tardes do nosso namoro e embora nós tenhamos chegado a nos masturbar juntos umas duas ou três vezes nesse período, nós não transamos mais.
Além disso eu tive algumas aulas particulares de física com o Carlos.
O Alex não assistiu a essas aulas porque, como ele ia mudar de país, não estava mais nem aí para as provas.
Nessas duas semanas eu também reparei que a Marília tinha ficado um pouco mais fria com o Alex... Mas eu não comentei nada com ela.
Agora faltavam apenas cinco dias para o Alex viajar.
Nós tínhamos um show em dois dias e o chão estava começando a fugir de debaixo dos meus pés.
Agora faltavam cinco dias para o resto da minha vida... Onde muito provavelmente, eu teria que aprender a viver sem o Alex.
Eu acordei com o telefone tocando naquela segunda-feira. Era a Marília.
- Eu tenho duas boas notícias pra você.
Eu demorei a entender um pouco o que ela estava falando. Isso acontece quando estou com sono... Meu raciocínio fica mais lento.
- A primeira é que a nossa banda já tem um baterista; o nome dele é Cláudio e ele estuda na mesma escola que a gente só que ainda está na oitava série.
- Legal... E a segunda?
- Bom, arranjei um lugar pra gente ensaiar. Eu falei com a minha vizinha, ela tem só vinte e três anos e já mora sozinha, e o melhor de tudo foi que ofereceu a garagem dela pra gente ensaiar. Eu fui lá conhecer o espaço e é perfeito pra gente.
Definitivamente ela sabia como me acordar.
Essas duas notícias eram ótimas pra mim.
Uma banda!
Quem diria que um ex antissocial como eu iria um dia ser vocalista de uma banda!
Na verdade eu não era o único. A Marília e o Alex iriam cantar algumas músicas, mas eu seria o vocalista principal.
Organizar essa banda foi o primeiro passo pra me manter vivo depois que o Alex embarcasse naquele avião.
Foi a primeira ponte que eu fiz para o futuro.
Quando eu lembrava que faltava tão pouco tempo pra ele ir embora, me sentia na beira de um grande e negro abismo sem fundo... E cada hora que se passava me empurrava para mais perto do buraco. Do outro lado desse abismo, onde provavelmente estava o meu futuro, eu enxergava muito pouca coisa.
Eu sabia que ia sofrer... E sofrer muito.
Eu já estava sofrendo, na verdade, mas tudo iria piorar quando ele estivesse a milhares de quilômetros de mim.
Mas eu teria que superar.
Ao longo dessas duas semanas eu tomei algumas decisões: eu decidi que não importa o quanto doesse; eu continuaria a viver!
E a viver de verdade.
Eu nunca mais me isolaria dos outros. Os meus amigos agora faziam parte do meu mundo, por isso essa banda se tornou tão importante pra mim.
Aquele foi um dia cheio; era véspera do nosso “show” e a gente precisava ensaiar, escolher o repertório...
Como eu disse, o Alex e a Marília cantariam uma ou duas músicas, mas eu ia cantar a maioria, por isso ele iam passar a maior parte do tempo tocando violão e guitarra.
A Larissa arranjou uma vaga “por pura amizade, e total falta de talento”.
Como back vocal na banda, a Alê surpreendeu a todos nós quando apareceu na casa da Marília, no dia do nosso primeiro ensaio, com um teclado. O pior é que ela tocava relativamente bem e como a gente não estava em condição de escolher muito, ela entrou também.
O Carlos e o Matheus, como eles mesmos disseram, só sabiam tocar punheta... Mas isso não nos seria útil.
Agora com o tal de Cláudio, o baterista, a primeira formação da nossa banda estava completa.
Só faltava um nome.
E eu já tinha uma ideia: “TSUBASA” - que além se ser o título do meu atual mangá favorito, também significa “Asas” e é exatamente isso que esse pequeno grupos de amigos,”caridosamente” chamado de banda, significava para mim...
As asas que eu precisava para atravessar o abismo que estava aberto à minha frente.
Nós passamos o dia na garagem da vizinha da Marília, que era um espaço realmente apropriado para se ensaiar usando uma bateria, pois abafava o som e não perturbava os vizinhos.
O Cláudio era realmente muito bom baterista, e a Alê estava tocando cada vez melhor.
Eu também estava tocando melhor, até porque, depois desse show, o Alex deixaria a gente e o instrumental na banda, e eu precisaria tocar cada vez melhor.
Meu próximo passo seria aprender a tocar guitarra.
Nós escolhemos as músicas... O Alex iria cantar “More Than Words”, “Here Without You” do 3 door down, e a Marília cantaria “Linger” do Cramberries e “Eu Preciso Dizer que te Amo” do Cazuza e Bebel Gilberto.
Eu cantaria quatro músicas do Legião Urbana e outras três músicas internacionais.
Depois do ensaio eu acompanhei o Alex até a casa dele.
- Você não quer entrar um pouquinho?
- É claro!
Nós entramos e ele trancou a porta.
Fomos até a cozinha beber água e ele disse:
- Sabe cara, quando eu comecei a te ensinar a tocar violão eu não esperava que você fosse aprender tão rápido! E a sua voz... Ela é mesmo muito bonita!
- Você é um bom professor.
Eu disse lhe dando um beijo gelado, por causa da água.
Eu senti ele se arrepiar e enquanto retribuía o beijo fervorosamente, ele me segurou pela cintura e começou a falar no meu ouvido:
- É da sua voz que eu vou sentir mais falta. Eu adoro te ouvir falar sobre livros, sobre personagens que viveram grandes histórias... Adoro te ouvir falar de música. Adoro ouvir a sua voz cantar, adoro quando essa voz dizendo que me ama!
Ele começou chorar e me abraçou mais forte.
Eu achei lindo tudo o que ele me disse, mas eu não queria chorar de novo... Eu ainda iria chorar muito, mas não queria chorar enquanto ainda tivesse ele do meu lado; enquanto eu ainda pudesse sentir o cheiro delicioso do pescoço dele.
Ele soluçou baixinho no meu ouvido e eu fui beijando o pescoço dele até à base da orelha. Passei minha língua carinhosamente na borda da orelha dele e senti, mais uma vez, ele se arrepiar.
Eu olhei dentro dos olhos dele.
Eu entendia perfeitamente o Elton John quando ele canta, em “Your Song”, um pedido de desculpas ao seu amado por nunca lembrar se olhos os dele eram verdes ou azuis.
Tudo que ele sabia é que aqueles eram os olhos mais lindos que ele já tinha visto.
Assim eram os olhos do Alex... Eles não eram nem verdes nem azuis. Na verdade eu tinha impressão que eles mudavam um pouco de cor.
Mas de uma coisa eu tinha certeza: aqueles eram os mais belos olhos que eu já vi.
Eu limpei uma lágrima, que escorria pela bochecha dele, com a minha mão direita; segurei o rosto dele entre as minhas mãos e o beijei como se aquele beijo pudesse devolver a alegria a aqueles belos olhos.
Como se aquele beijo pudesse mudar tudo que estava acontecendo.
E por um instante os problemas não existiam...
Por um instante eu usei minhas “Tsubasas” e viajei por mundos distantes... Mundos onde eu e ele poderíamos viver juntos para sempre.
Me despedi do Alex.
E enquanto caminhava de volta para casa, me ocorreu o nome de uma música que eu precisava cantar nesse show.
Ela falava um pouco do que eu estava sentindo.
Quando cheguei em casa, mandei por e-mail a cifras e a partitura da música para a Marília, a Alê e o tal do baterista.
Essa música seria uma surpresa para o Alex.
Depois naveguei pela internet à procura de algumas informações sobre a escola na qual o Alex iria estudar.
Era uma escola bem tradicional. O prédio antigo e em estilo colonial americano, destacava-se do gramado verde com sua cor cerâmica.
As fotos mostravam o interior com paredes brancas, porém com detalhes em madeira de lei marrom escura e envernizada, com lareiras de tijolinhos nas salas de estudos.
O chão de madeira parecia um vidro, de tão polido.
Tudo combinava perfeitamente com o uniforme composto de casaca preta (ou colete preto), camisa social branca por baixo, com gravatas vermelhas.
As meninas usavam saias negras e um casaco por cima da blusa branca.
Sem dúvida era um lugar saído de um sonho e até eu queria ir estudar lá, só pelas fotos.
Some a isso, os parentes que o amam e que ele nunca viu.
Coloque isso tudo em um dos pratos da balança do juízo.
No outro prato “eu”, o namorado gay dele...
É claro que a balança pesou para o lado do sonho americano...
E eu ia ficar aqui sozinho...
Antes de dormir eu fiquei pensando no choro do Alex.
Eram lágrimas tão sinceras... Ele realmente me amava, mas mesmo assim ele não podia desistir do sonho da vida dele.
Aquela viagem representava muito; significava o reencontro com o passado dele, com uma parte da sua história e da história da sua mãe que ele nunca teve oportunidade de conhecer.
Eu não poderia interferir de forma negativa no sonho dele.
Embora eu soubesse que meu coração ficaria partido do lado de cá, eu queria fazer alguma coisa para que ele não sofresse por mim lá.
Eu tive um sono difícil naquela noite. A ansiedade pelo dia seguinte me consumia.
Não ia ser a primeira vez que nós iríamos tocar e cantar na árvore das Luzes, mas essa seria a primeira vez que o Grupo Tsubasa iria tocar como uma banda.
Quando acordei, encontrei uma surpresa sentada do lado da minha cama...
Era o Alex.
Por alguns segundos eu acreditei que ainda estivesse dormindo, mas era ele mesmo.
- Não consegui dormir direito essa noite, então acordei cedo e vim pra frente da sua casa te esperar.
- Você não está exatamente na mureta de sempre, né?
- Sua mãe saiu mais cedo para o trabalho, me viu aí fora e me convidou pra entrar. Mal sabe ela que eu vim aqui pra te sequestrar.
- Me sequestrar?
Só nesse momento reparei que ele estava sem o uniforme da escola.
- A gente não vai pra escola hoje?
- Não; eu tenho que fazer algumas compras, escolher algumas roupas e uns presentes pra levar de viagem. Pensei em te arrastar comigo.
- Mas o shopping só abre às 10:00 h e ainda são 7:10 h.
Ele abriu um sorriso maroto e disse:
- Antes de ti levar ao shopping eu quero te levar pras nuvens....
Eu puxei ele pra cama e nós dois nos beijamos deliciosamente.
Ele sabia como me deixar com tesão de manhã cedo. Arranquei a roupa dele e ficamos nos beijando do jeito que a gente mais gostava: completamente nus com os nossos pintos duraços, roçando na barriga um do outro.
Eu adorei esse surto de safadeza do Alex. Era bem diferente do restante dos nossos amassos.
Ele me lembrou, pela primeira vez desde que a gente começou a namorar, o garoto safado que saiu rindo do banheiro público, depois de ter se masturbado com um desconhecido.
Eu embarquei na onda dele e nós esquecemos completamente os nossos problemas, enquanto nos entrelaçávamos na minha cama.
Ele estava beijando meu pescoço e me fazendo ficar todo arrepiado.
De repente me ocorreu que a gente nunca tinha feito nada no meu quarto. Sempre que fazíamos alguma coisa era na casa dele. Não que a gente tivesse feito muita coisa; na verdade nós só tínhamos feito amor uma vez, além disso, só ficamos no sexo oral e na punheta... Mas agora eu queria ter ele ali no meu quarto, na minha cama.
Eu queria ver as estrelas do teto do meu quarto enquanto ele me levava à loucura...
Assim eu sempre me lembraria dele antes de dormir.
De repente uma série de imagens dele naquela escola que eu vi na internet me vieram à mente.
Ele naquele uniforme lindo, longe demais das minhas mãos; ele sentado no gramado verde da escola com os amigos sem mim; ele andando pelos corredores com o chão refletindo sua imagem linda, com outro garoto do lado.
Eu pensei no monte de coisa que eu e ele não fizemos juntos... E algumas lágrimas rolaram dos meus olhos.
E o meu ânimo acabou...
Eu tentei esconder as lágrimas, mas ele percebeu que algo estava errado comigo e parou de me beijar; me olhou e viu meu rosto vermelho de vergonha.
- Me desculpa... Eu ...
- Tudo bem... Acontece...
- Não, não acontece. É essa viagem. Desculpa, mas eu não consigo.
- Renato, desde de que você soube dessa viagem que você está evitando fazer amor comigo... E a cupa é minha. Eu sei que eu te enganei, mas...
- Olha, não é isso. É que... Eu só não queria me magoar mais... Mas agora, agora eu realmente queria literalmente ver estrelas...
- Literalmente?
Eu apontei para o teto e disse:
- Literalmente!
Ele abriu um sorriso torto e os olhos dele também marejaram com lágrimas.
A gente se abraçou e ficamos abraçados na minha cama por alguns minutos.
Eu me amaldiçoava por ter perdido a chance de fazer amor com ele, ali, no meu quarto.
Nós tomamos café juntos e saímos para o shopping.
A mamãe iria querer me matar quando soubesse que eu matei aula pra sair com o Alex.
Meu celular tocou quando estávamos no ônibus. Era a Marília perguntando se eu estava bem, se eu ia conseguir cantar à noite...
Demorou, mas eu consegui explicar que não faltei aula porque estava doente.
Quando contudo, eu disse que estava com o Alex ela encurtou a conversa e desligou.
Isso me fez lembrar que eu era um maldito egoísta. A Marília era apaixonada por mim e eu insistia em torturá-la com o meu sofrimento pela partida do Alex.
Mas logo logo isso tudo acabaria. O Alex iria embora em três dias e o meu coração ficaria partido.
Mas eu continuaria a viver com a ajuda de meus amigos e da banda.
Eu só precisava tomar providências para que o Alex também sofresse o mínimo possível. Nem que para isso eu tivesse que magoá-lo... Mas antes disso, como eu era um maldito egoísta, eu queria que ele soubesse o quanto eu o amei ao longo do tempo que passamos juntos e para isso eu ia usar muito mais do que palavras; eu iria me entregar a ele mais uma vez.
Eu só precisava tirar minha mãe de casa depois do show... Porque sim, eu queria fazer isso direito, queria ver estrelas dessa vez...
Assim toda vez que eu visse as minhas estrelas do teto eu lembraria deleO passeio no shopping para comprar roupas foi bem legal.
Ele ficava lindo com qualquer roupa, mas mesmo assim experimentou um monte e enquanto ele estava no provador eu liguei para a única pessoa que podia me ajudar a tirar a mamãe de casa: o tio João.
- Alô, tio João?
- Oi Renato, tudo bom?
- Tudo sim tio! Na verdade falta uma coisa pra ficar perfeito e só você pode fazer.
- Nossa, então me diz o que este homossexual de meia idade pode fazer por você.
- Por homossexual de meia idade você quer dizer bicha velha?
- Me respeita moleque. - ele disse rindo. Eu sabia que ele ia fazer o que eu pedisse. O tio João me adorava como a um filho.
- Tio, eu vou ser bem direto e sincero.
- Então fale.
- Eu preciso que você tire a mamãe de casa por pelo menos quatro horas hoje à noite, depois do meu show.
- E eu posso saber porque eu faria isso? - ele perguntou, rindo.
- Bom, eu disse que ia ser sincero, então... Bom... porque eu quero fazer amor com meu namorado, no meu quarto, hoje à noite antes dele viajar.
- Hum... Bem direto e sincero mesmo.
- Por favor, tio!
- Você se lembra da nossa conversa?
- Lembro sim, mas por favor!
- Se sua mãe descobrir isso, ela me mata!
- Ai tio... Obrigado!
- Ôh moleque, eu sei como é ter a sua idade, e se vocês se amam... Eu queria ter tido alguém como o Alex aos quinze ... Uma pena que ele vai embora...
- É uma grande pena mesmo! - eu disse triste.
- Use camisinha, hein!
- Está bom tio... Tchau!
Perfeito!
Hoje à noite eu iria devorar o Alex e ele me faria delirar vendo estrelas... E dessa vez meu “ânimo” não acabaria em lágrimas.
E nada de camisinha com o meu namorado. Só fui dele e ele só foi meu e queria sentir seu pau escorregando dentro de mim sem nada de borracha atrapalhando...
Passamos uma manhã divertida no shopping.
Ele experimentava roupas para eu ver e eu, às vezes, entrava no provador com ele e trocávamos alguns beijos.
Tomamos sorvete e saímos com um monte de sacolas de compras.
Ele comprou lembrancinhas, para a avó dele, em um loja de artigos regionais, no caminho de volta para casa.
Quando descemos do ônibus meu celular tocou. Era o Carlos.
- Ei Renato, você vai querer estudar física hoje?
- Não cara! Acho que hoje não vou conseguir. Tenho muitas coisas pra pensar antes do show.
- Está bom então.
- Amanhã a gente estuda. Beijos!
Desliguei o telefone e ouvi a voz do Alex imitando a minha.
- “Amanhã a gente estuda. Beijos!”
- Você já vai começar?
- Você sabe que eu ainda não engoli essas suas aulas particulares de física com o Carlos, mas pelo visto hoje você está sem “ânimo” mesmo...
A ironia na voz dele me irritou como nunca. Me subiu uma raiva pela coluna e eu fiquei vermelho de ódio e disse:
- Primeiro, foi você que não quis estudar com a gente.
- É perda de tempo. Eu vou mudar de escola mesmo...
- Segundo,você está com um pé fora do país e eu não posso ficar aqui na mão. Quem sabe eu já não esteja garantindo o Carlos para que na hora em que você virar de costas e entrar no avião, eu tenha quem me consolar.
Eu fui longe demais.
Eu podia ver o ódio nos olhos dele. Achei que ele fosse me bater.
Ele abriu a boca... Mas fechou de novo; respirou fundo e disse:
-Desculpe, eu sou um idiota!
Pegou as sacolas dele que estavam na minha mão e começou a caminhar na minha frente. Minhas pernas tremeram.
- Espera Alex; desculpa ter falado aquilo... Eu que sou um idiota!
- Sim; você é um idiota. Eu também sou um idiota. Nós somos dois idiotas. - ele disse, triste.
- Nós somos dois idiotas que nos amamos. - eu disse.
- Sim. - ele falou, abrindo um pequeno sorriso. Eu sabia que ele estava puto e eu também estava puto, mas nenhum de nós queria brigar.
Não conversamos muito até chegarmos à casa dele, onde nos despedimos.
A gente se encontraria de novo às 18:00 h; uma hora antes do nosso show na sorveteria, para arrumar os instrumentos e testar o som.
Cheguei em casa segundos antes da minha mãe, o que foi um golpe de sorte.
Se ela me visse chegando sem uniforme ia fazer um escândalo.
Como já disse antes, quando estamos ansiosos por alguma coisa, o tempo se arrasta.
Nessa tarde aconteceu isso.
Eu já não aguentava mais ficar em casa. Parecia que o tempo corria em câmera lenta...
Mas finalmente chegou a hora de ir para a praça.
Eu fui na frente para encontrar com a Marília e os outros.
Minha mãe iria mais tarde com o tio João. Ela estava toda feliz porque ele a convidou para jantar fora depois e dançar em uma boate bem legal que ele conhece.
Eu fingi a mais sincera surpresa com o convite.
Passei na casa da Marília e a ajudei a carregar os violões e a guitarra.
Estava muito nervoso.
Nós encontramos com os outros na praça. O Carlos e o Matheus, mesmo sem participarem da banda, estavam lá dando apoio moral.
O lugar estava diferente do habitual.
A grande árvore, além das luzes pendendo da copa, contava com várias luzes enroladas no tronco (iguais a luzes de Natal).
Não muito distante da sorveteria havia uma pista de dança com refletores de várias cores e muito mais mesas que o normal também estavam espalhadas pelo gramado, todas decoradas com toalhas brancas, cinzas e flores brancas.
Por alguns segundos me distraí observando a beleza da decoração e imaginando o trabalho que deve ter dado.
Sem dúvida, aquele era um show importante.
O dono da sorveteria se aproximou de mim enquanto eu admirava o pequeno palco armado ao pé da árvore.
- Vai ser muito bom ter vocês tocando aqui hoje à noite.
- Que isso, Senhor Erasmo! Eu é que agradeço pela oportunidade. A gente ensaiou bastante pra não decepcionar o Senhor.
-Sabe, eu tenho certeza que vocês vão fazer tudo direitinho. É só fazer o que vocês fazem aqui todas as tardes. A única diferença é que dessa vez mais gente vai ouvir. - ele olhou para a árvore e continuou. - Tem um motivo pra essa festa hoje, além dos lucros, claro. - ele disse rindo.
Me chamem de idiota, mas eu nunca parei pra pensar no motivo do convite nem porque a decoração diferente... Quer dizer, é claro que não era só para promover uma banda de garagem, que ainda nem existia de verdade, quando o convite foi feito.
Fiquei olhando para o Senhor Erasmo enquanto ele me explicava o motivo da comemoração.
- Hoje faz vinte e cinco anos que eu me casei com a minha mulher e nós dois, na época, não tínhamos dinheiro pra fazer uma festa porque todas as nossa economias foram investidas para conseguir abrir uma pequena sorveteria em um bairro meio distante do centro, onde estavam construindo um conjunto habitacional para funcionários do Estado. Nós casamos no cartório, sem igreja, sem parentes e construímos tudo sozinhos. Você ficaria surpreso em saber o quanto essa árvore cresceu nesses vinte e cinco anos. Ainda me lembro quando a Rosana pendurou as primeiras luzes nelaMas não foi só a árvore que cresceu. O meu negócio também e hoje a gente só mantém o título de sorveteria pela tradição, mas a verdade é que esse lugar se tornou uma espécie de ponto turístico do bairro ou algo assim. Tudo que eu sei é que foram jovens como vocês que nesses anos todos lotaram esses gramados de amigos e fizeram minha vida mudar. Quem sabe se eu der para alguns jovens uma chance, a vida deles não muda também... kkk.
Ele ficou em silêncio e depois sorriu de novo e disse:
- Bom show, meu filho!
- Espera, Senhor Erasmo!
- O que foi?
- Onde está a sua esposa? Eu queria dar parabéns para ela!
- Você vai precisar fazer uma prece para isso, meu rapaz!
- Desculpa, eu não imaginei... O senhor disse que estava comemorando então eu...
- Tudo bem, filho, não se preocupe... Ela partiu no final do ano passado e vai fazer um ano daqui há três meses.
Eu fiquei olhando meio confuso para ele.
- Você deve estar imaginando por que eu estou comemorando meu aniversário de casamento, né?
Eu concordei coma cabeça.
- Bom, eu estou fazendo isso, primeiro porque eu prometi a ela essa festa: segundo porque eu a perdi há alguns meses, mas mesmo assim passei quase vinte e cinco anos com o grande amor da minha vida e isso é que precisa ser comemorado e valorizado. As coisas boas, os bons momentos, durem eles vinte e quatro, setenta anos ou alguns meses. Agora se apresse rapaz e cante com seu coração para fazer muito sucesso e ainda homenagear a minha Rosana!
Eu fiquei impressionado com essa história de amor. Ela me tocou de um jeito especial.
Ele estava comemorando os momentos felizes mesmo tendo perdido a mulher... E eu chorando pelo Alex que ia embora para outro país por dois anos e meio, depois de ter namorado comigo por alguns meses apenas.
Eu queria ter a maturidade do Senhor Erasmo e encarar as coisas de modo diferente, mas infelizmente eu era só um garoto novinho imaturo.
Meus Deus como eu odiava ter quatorze!
A Marília me chamou para testar os microfones e enquanto o Alex testava as guitarras e o restante da banda arrumava seus instrumentos, eu contei para a Marília sobre o motivo da festa.
- Lindo né? Um amor além da vida - ela disse. - O que nos dá maior responsabilidade. Esse show precisa ser mais do que nunca, perfeito.
- Eu sei, eu sei... Mas, sei lá... Achei meio triste. Me lembra da minha situação.
- Você já vai começar... Porque se for, eu vou te dizer para guardar as suas lágrimas pra mais tarde. Que tal na hora daquela última música que você botou de última hora...
- Tá bom, tá bom... Não está mais aqui quem falou.
- Ei, olha só como já está cheio de gente...
- É verdade. Nossa! Tem mais gente do que a multidão normal.
- É mesmo! E uma parte dessa galera pertence às nossas famílias.
- Ei, nem me olha assim, só chamei minha mãe e o tio João. Já você... Juro que já contei uns sete primos seus.
- kkk. Eu chamei a família toda mesmo... Olha, a galera da nossa turma da escola veio em peso.
- E o pessoal da turma do Cláudio também.
- Eu acho que aquele pessoal mais velho, sentado mais perto da sorveteria, são os convidados do Senhor Erasmo. Ele deve ter chamado os amigos também.
- É; você tem razão.
Quando estava tudo pronto, ficamos no palco aguardando o sinal do Senhor Erasmo.
Eu vi minha mãe chegar com o tio João e se posicionar bem na frente do palco, ao lado do Carlos e do Matheus, que nos desejavam boa sorte.
Agora estava na hora.
O palco não era muito alto e o teto era a copa iluminada da árvore das Luzes, mas dali eu podia ver a multidão na praça e vislumbrar um pouco do meu futuro.
Se tudo desse certo, naquele palco simples, tudo teria início alí... Eu abriria minhas Tsubasas e voaria até o topo!
Ele deu o sinal e o Alex começou o solo de guitarra da música “Shining Light” do Ash.
Essa nós dois cantamos juntos.
Quando a Marília me apresentou essa banda, eu sabia que precisava cantar essa música com o Alex.
E ali, debaixo das luzes brilhantes daquela árvore, eu cantei com peito aberto, olhando para a plateia e me lembrando da escuridão na qual eu vivia.
Mas ele, que estava tocando e cantando comigo agora, foi minha luz brilhante; a minha intervenção Divina.
Ele me resgatou da escuridão e agora nós estávamos brilhando debaixo daquela constelação de luzes na copa da árvore acima de nós.
Sem dúvida nenhuma nós dois tínhamos um conexão especial.
Simplesmente nos completávamos como a mais perfeita reação química.
Enquanto ele fazia o solo de guitarra eu sorri pensando em como as coisas tinham mudado por causa dele...
Sim; ele estava indo embora... Mas valeu à pena tudo que nós dois vivemos.
Por alguns segundos eu entendi o Senhor Erasmo.
Quando terminamos e a galera aplaudiu, meu coração disparou e eu senti meu rosto corar... Eles estavam gostando!
Depois foi a vez da Marília cantar "Linger" e o show seguiu.
Eu cantei algumas músicas do Legião Urbana que eu sempre cantava na praça, como Tempo Perdido, Monte Castelo, Faroeste Caboclo (fiquei feliz quando consegui respirar depois dessa), enfim, cantar Legião Urbana é pedir pra ser acompanhado por todo mundo na plateia.
Acho que vocês não conseguem imaginar o quanto é bom ver as pessoas pulando e cantando uma música que você está tocando.
O Alex tocou “More Than Words” e arrancou muitos suspiros e beijos apaixonados dos casais na plateia.
A Marília tocou e cantou mais duas músicas com o acompanhamento da Lari.
E Assim o show foi seguindo até que restasse apenas uma música... A minha música desabafo que eu precisava cantar.
Olhei para a plateia e disse:
- Hoje à noite, além de parabenizar ao Senhor Erasmo pelos seus vinte e cinco anos de casado, eu queria agradecer a oportunidade de estar aqui com vocês!
Aplausos da galera.
E eu continuei:
- E gostaria também de dedicar essa última música a alguém que está aqui hoje à noite. Alguém muito especial para mim.
Eu olhei com o canto do olho para o Alex... A postura dele me dizia que ele estava surpreso.
- O Nome da música é “What Hurts the Most” do Rascal Flatt, e eu espero que vocês gostem... E que essa pessoa entenda como eu me sinto!
https://www.youtube.com/watch?v=gsQHy3UR7Yk
Tradução – O que mais Machuca
"Eu posso suportar a chuva no teto dessa casa vazia,
Isso não me incomoda.
Eu posso suportar algumas lágrimas de vez em quando
e apenas deixá-las rolar.
Eu não tenho medo de chorar de vez em quando
Apesar de que continuar sem você me chateia.
Há alguns dias que eu finjo
estar bem, mas não é isso que me intriga
(Refrão)
O que mais machuca foi/é estar tão perto
E ter tanto pra dizer
E ver você partir
E nunca saber o que poderíamos ter sido
E não ver que amar você
Era o que eu estava tentando fazer.
É difícil de lidar com a dor de ter perdido você
em todos os lugares que vou
Mas estou persistindo
É difícil forçar aquele sorriso quando vejo nossos velhos amigos
E eu estou sozinho
Ainda mais difícil levantar-se, vestir-se,
viver com esse arrependimento
Mas eu sei que se pudesse refazer,
Eu trocaria, daria todas as palavras que guardei
em meu coração, não ditas."
Era o que eu estava tentando fazer.
Eu conseguia sentir as lágrimas escorrendo do meu rosto enquanto eu cantava.
A plateia se comoveu e todos colocaram as mãos para o ar e acenavam no ritmo da música...
Eu não olhei para o Alex...
Não queria olhar .
Vi minha mãe na primeira fila e ela estava lacrimejando... Ela entendeu a dor pela qual eu estava prestes a passar e a dor pela qual estava passando... O Carlos do lado dela também estava sério.
Aquele era dos piores momentos de todos os outros que eu já tinha vivido.
Desabafar de forma tão sincera, diante de uma plateia, que mesmo sem saber por qual situação eu estava passando, ou porque eu estava cantado aquela música, conseguia compreender a carga de emoção nas minhas palavras...
Até mesmo quem não entendia muito de inglês conseguia sentir aquela música.
Aquele era o final do nosso show.
Eu dei alguns passos até a frente do palco, seguido pelos outros e cumprimentamos a plateia enquanto ouvíamos uma salva de palmas...
Meu coração disparou e eu comecei a sentir aquele calor conhecido na face...
Eu me virei para a Marília e ela voou para o meu pescoço... Nós nos abraçamos muito forte.
A gente tinha conseguido. A nossa “Tsubasa” estava voando finalmente.
A gente se separou e eu pude ver a alegria nos olhos dela.
Cumprimentei os outros membros da banda e fui procurar o Alex.
Nessa hora as luzes do palco se apagaram e acenderam-se as luzes da pista de dança.
Definitivamente o Senhor Erasmo pensou em todos os detalhes dessa festa.
Desci do palco e fui cumprimentado por uma fila de amigos. Foi uma situação bem engraçada para quem era totalmente invisível até alguns meses atrás.
Localizei o Alex cercado por um grupo de meninas que estavam urubuzando o coitado... E ele me olhou e me deu o mais lindo sorriso do mundo. Um sorriso triste que ainda transmitia a emoção do que tinha acabado de ouvir, mas ainda assim era um sorriso lindo.
Embora tudo que eu quisesse era voar para os braços dele e conversar um pouco, eu sabia que não conseguiria fazer isso ali.
A coisa certa a fazer era aproveitar a festa o melhor possível com meus amigos e com ele e assim que o tio João levasse a mamãe para jantar eu arrastaria o Alex até em casa onde, enfim eu poderia ver estrelas...
Eu me afastei um pouco dele e fui para a pista de dança. Encontrei lá o tio João e minha mãe, dançando.
Quando eles perceberam que eu estava lá, vieram falar comigo. Eu ia aproveitar para pegar as chaves de casa.
- Definitivamente matricular você no conservatório de música vai ser um grande investimento, Renato. Você tem muito talento moleque!
- Obrigado, tio João!
- Você estava tão lindo cantando naquele palco, bebê!
- Mãe, para! (ela estava arrumando minha roupa; ela adora fazer isso enquanto me chama de bebê)
- Só uma ajeitadinha nessa camisa amassada, menino!
- Você não existe mesmo, Caren... Tratando o Renato como um bebê na noite na qual ele estreou.
- Ele não estreou, João.
- Uma bicha sempre estreia, Caren... Independente do tipo de show.
- Ai, eu detesto quando você banca o viado velho, João. Fica ridículo na sua idade!
- Vocês dois podem fazer o favor de parar com esse papo estranho pelo amor de Deus? E me deem as chaves de casa, por que eu esqueci as minhas.
Eu consegui pegar as chaves e me livrar dos dois.
Procurei pelo pessoal e vi o Carlos sentado em um banco da praça. Fui encontrar com ele, afinal era muito estranho ver o Carlos sentado sozinho e sério.
Me sentei do lado dele sem dizer uma palavra e ficamos os dois calados por alguns minutos, olhando a pista de dança cheia de gente, até que o Carlos quebrou o silêncio.
- Sabe o que dói mais?
- “What Hurts the Most”? - eu respondi com outra pergunta.
- Sabe cara, não é justo que vocês não fiquem juntos... Quero dizer; você fez tudo certo; você “se entendeu”, se apaixonou por ele... Eu vi o beijo que vocês trocaram naquela sala, no dia dos testes... Você não está só se divertindo com ele... Vocês se amam... Pelo menos você ama ele!
- Eu... Não estou entendendo.
- Eu estou dizendo que se fosse eu que tivesse o que você tem... Não importa quantas bolsas eu perdesse... Eu ficaria com você!
- Carlos... Então você...
- Eu pensei no que você me propôs logo depois que ele te contou... Ele merece aquilo.
- Carlos... Eu sei que planejei isso, mas agora eu não sei mais... Quer dizer, eu estava com raiva e se eu fizer isso agora não vai ser por vingança, vai ser por outros motivos.
- Que motivos?
- Eu te disse que quero continuar a viver depois que ele for embora. E por mais que você não acredite, eu sei que ele me ama e que está sendo tão difícil para ele quanto para mim. Mas eu tenho você e a Marília. Eu posso suportar; eu tenho novos motivos, mas você deveria ter visto ele chorar ontem. Eu não sei mais, mas se eu ainda fizer isso, vai ser para que ele me esqueça, e assim a vida dele fique mais fácil também.
Ele me olhou e deu um sorriso, dizendo em seguida:
- Você sempre encontra motivos nobres pra tudo Renato... Sabe quando você me perguntou no meio do estudo de grupo de física se eu toparia “me divertir” com você, eu fiquei todo empolgado achando que você estava finalmente cedendo ao meu charme irresistível de macho Alpha... Mas aí você veio com esse papo torto de beijo na frente do Alex pra se vingar dele por ele ter te “enganado e seduzido um pobre virgenzinho”, sabendo que ia viajar... Aí, claro, eu neguei e pedi pra pensar. Assim como eu não queria que você usasse a Marília, eu também não queria ser usado... Ou pelo menos, não queria ser usado pra isso (ele disse, piscado um olho). Aí eu procurei a Marília e perguntei o que estava...
- Você falou disso pra Marília? - eu perguntei assustado.
- Não, claro que não... Eu só queria saber exatamente o que estava acontecendo; aliás, você deveria ficar contente por ter uma amiga como ela. A garota é uma verdadeira “cão de caça”. Não deixava escapar nada, aí eu tive que dizer que era “meio gay” também e que você tinha me contado sobre você e o Alex. Disse que eu tinha acompanhado a história desde o princípio e que você tinha me contado da viagem e eu queria saber se você estava bem e etc etc... E aí...
- E aí ela entregou o jogo.
- Mais ou menos! Eu já sabia a maior parte das coisas da sua boca. Eu só não sabia que você amava tanto aquele menino... E não sabia o quanto você estava sofrendo também. E hoje, mais do que nunca, eu percebi o quanto deve estar doendo aí dentro. Agora eu sei o que mais dói!
Ele ficou em silêncio olhando para o horizonte e disse:
- Ele merece te ver beijando outro menino, Renato... Assim vai perceber que marcou toca e te perdeu.
- Ou vai achar que eu nunca prestei e vai embora querendo me esquecer. Pronto pra partir para outra e seguir adiante.
- Ou isso!
- É; ou isso. Eu não sei, Carlos.
- Falando no diabo, ele mostra o rabo.
- O quê?
- Eu estou falando que ele está vindo para cá com cara de poucos amigos.
Era verdade. O Alex tinha acabado de nos localizar sentados naquele banco, meio distantes da multidão que enchia a praça, e claro, tinha pensado merda.
Chegou onde a gente estava e foi logo soltando:
-Você não brinca em serviço né, Renato!
O Carlos se levantou encarando o Alex e disse:
- É? Eu acho que ele brinca sim, porque a gente estava se divertindo agora mesmo, até você chegar!
O Alex deu um bufada de ódio.
Eu fiquei branco de medo; achei que os dois fossem se pegar ali mesmo. Um encarando o outro de um jeito terrível.
- O Carlos é um palhaço mesmo! Vamos Alex, eu quero reunir o pessoal da banda.
Eu falei com a cara mais lavada do mundo, mas os dois não moveram um músculo sequer.
- Por favor, vamos Alex!
Ele se virou e voltou andando em direção ao palco. Eu o acompanhei e ele começou as acusações de sempre.
- Você e esse cara! Eu estou começando a perder a paciência com isso!
- Eu vi. Você quase avançou no garoto, aqui e sem motivo nenhum.
- Sem motivo? Aquele viado acabou de dizer na minha cara que se diverte com você quando eu não estou.
- Não foi isso que ele disse, Alex!
- Ah, você vai começar a defender ele agora? Aquele filho da puta! Ele está doido pra te passar a vara! Você sabe né? Sabe sim. E o pior é que você está dando corda.
- Você é irracional! - eu disse já quase berrando de raiva. - O que você queria? Uma briga aqui no meio da festa? Uma briga de dois garotos de quatorze, por minha causa? Tenho certeza que a escola inteira ia rir disso por anos...
- Olha... Desculpa tá! Mas é que eu perco a cabeça quando te vejo perto dele.
Minha consciência deu um boa pesada nessa hora.
Eu olhei para a pista de dança e não vi mais o tio João e minha mãe.
A chave de casa já estava no meu bolso e essa era minha deixa.
- Olha Alex, esquece essa bobagem, tá bom! A gente tem coisa melhor pra fazer do que brigar por causa do Carlos, hoje à noite, tá bom...
Eu puxei as chaves de casa do bolso e mostrei pra ele.
- Mamãe não volta antes das 4:00 h da manhã e ainda são 21:30 h. O que você acha da gente pegar meu violão e sua guitarra e sair à francesa daqui? Pra mim essa festinha já deu.
Ele abriu um sorriso sacana que eu adorava ver. Era o sinal de que a animação dentro da calça dele tinha começado.
Pegamos nossos instrumentos musicais e começamos a andar em direção à minha casa.
No caminho o Alex disse:
- Eu achei linda a última música. Me emocionou demais e olha que eu nunca tinha ouvido essa música antes. Ela fala exatamente sobre a nossa dor. Foi...
- Foi um desabafo, Alex! Foi uma coisa que eu tinha. Eu precisava fazer naquele palco, mas, por favor, não vamos falar nisso agora. Hoje à noite, se eu sentir alguma dor, vai ser por prazer!
Chegamos em casa mais rápido que o normal. Acho que sem perceber, nós estávamos quase correndo. – kkk.
Mal eu fechei a porta e ele já me abraçou por trás enquanto eu trancava a fechadura.
Eu senti o tronco quente dele encostar nas minhas costas e as mãos deslizando pelas minhas coxas.
A boca dele beijava meu pescoço de um jeito que me arrepiava todo.
Eu me virei pra ele e nós dois nos beijamos; um beijo quente e forte. Eu o abracei e deslizei minha mão até sua bunda, enquanto nos beijávamos. Apertei com gosto; eu adorava a bunda branquinha dele. Era tão firme e volumosa...
Começamos assim. Tiramos a roupa na sala, nos beijamos pelo corredor, até chegarmos no meu quarto, completamente pelados e com os paus duros como pedra.
Foi então que o Alex, que estava beijando meu pescoço, começou a descer, beijando meus mamilos, minha barriga, até chegar à base do meu pau e começar um sexo oral maravilhoso.
Eu acariciava a cabeça dele e a segurava pelos seus cabelos negros, enquanto mordia de leve meu próprio lábio, de tanto tesão... Nossa, como ele sabia usar a boca! Às vezes era até difícil acreditar que ele nunca tinha feito isso antes...
Que delícia de oral. Comecei a bombar de leve na boca dele e ele olhou nos meus olhos e eu pude ver a satisfação dele em me dar tanto prazer.
Ele então tirou meu pinto da boca e começou a subida de beijos, lenta, até meu pescoço e finalmente na minha boca, onde eu pude provar de forma indireta do sabor do meu próprio pinto. E era docinho...
Eu o empurrei na minha cama.
- Eu adoro quando você toma o controle, Renatinho...
Com ele deitado, eu afastei um pouco as suas pernas e comecei a retribuir o oral.
Iniciei pelas bolas. Passei a língua ao redor da base do pau dele, onde era possível sentir algumas veias pulando. Passei a ponta da minha língua por toda a base até chegar à cabeça, onde eu fiz duas voltas inteiras com minha língua antes de cair de boca e engolir aquele pinto quase até o talo.
Uma ou duas vezes eu quase engasguei, mas os delírios de prazer do Alex me enlouqueciam.
Com ele na mesma posição, lambuzei a entrada do seu cu com um lubrificante que o tio João tinha me dado mais cedo, sem a mamãe saber.
Puxei ele pra mim e o coloquei em posição de “frango assado” e comecei a meter.
No começo foi difícil, ele era muito apertadinho e quente.
Eu sentia ele comprimir o cu em torno do meu pau e algumas vezes pensei que ele fosse arrancar meu pinto.
Eu enfiei até onde consegui e comecei a bombar como um louco alucinado por aquela bundinha lisinha, lisinha...
Ele gemia de dor e prazer e pedia mais...
Eu olhava pra cima delirando de prazer e via as estrelas do teto.
Tirei meu paus de dentro dele e deitei na cama ao seu lado e ele se levatou e sentou na minha barriga.
Eu olhei pra ele e perguntei se ele me queria dentro dele até eu gozar e ele disse que sim.
Levantou um pouquinho e com a mão esquerda ajeitou meu pau no cu dele te tal forma que ele pudesse cavalgar em cima de mim.
Eu estava com tanto desejo que agarrava a bunda dele e fazia força para ele sentar cada vez mais fundo... E o pau dele, duro como rocha e reto, batia na minha barriga enquanto ele pulava no meu cacete.
Eu estava no paraíso... Eu estava vendo estrelas...
Não demorou muito e eu estourei.
Senti que três jatos fortes de porra tinham saído de mim, mas só tive ideia real da quantidade que eu gozei quando tirei do Alex e vi muita porra escorrer de dentro do cu dele.
Aquela, sem dúvida, foi a gozada do século para mim...
Mas meu amor ainda estava de pau duro; duríssimo por sinal e alguém precisava resolver isso.
Eu deitei o Alex do meu lado e disse:
- Agora, você vai ver como se cavalga.
Eu melei todo o pau dele no mesmo lubrificante e encaixei bem na portinha.
Respirei fundo e fui sentando.
Senti uma dorzinha aguda e uma ardência do local da penetração, mas aguentei firme e fechei os olhos até a dor passar; e o Alex disse:
- Cadê o macho que ia me ensinar a cavalgar?
Eu comecei a cavalar e foi incrível!
Parecia que a penetração era mais funda que o normal. Eu sentia a cabeça do pau dele lá no fundo do meu cu. Sua vara entrava fundo em mim e ele tirava tudo e enterrava fundo de novo...
Logo o prazer veio e tomou o lugar da dorzinha.
Agora eu poderia passar a noite toda fazendo sexo com Alex, sentindo sua vara me abrindo todinho...
Eu espalmei minha mão no peito dele e olhei para as minha estrelas.
Ele gemia tanto e sua respiração estava tão acelerada, que eu sabia o que estava por vir.
Senti meu corpo ser inundado pela porra dele. Foram dois ou três jatos.
Depois eu deitei em cima dele com nossos corpos melados, nossos pintos encostando um no outro e ficamos ali nos beijando até que o pau dele ficou duro novamente e ele me deitou com as costas pra cima e começou a me comer mais uma vez.
Agora ele dava estocadas usando o peso do corpo todo para enterrar a vara cada vez mais fundo em mim.
Eu adorava!
Só me importava com o prazer intenso de ser feito de viadinho por aquele garoto que eu amava tanto!
Gozei no colchão enquanto ele me comia...
Depois foi a minha vez. Meti a vara no cu dele. Enterrei com força, sem dó nem piedade.
Alex gritava de tesão e eu era o macho dele, ali, naquele momento.
Soquei muito mesmo. Meu pau pulava pra fora do cu dele e eu enfiava e socava de novo. Meu pinto estava tão duro que parecia que ia explodir.
Gozei muito mesmo.
Agora era a vez dele me fazer de viadinho de novo. Eu adorava me sentir assim...
Ele me colocou de quatro e enterrou a vara.
Dessa vez ele não teve dó de mim. Enfiava o pau com força e eu não aguentei e gozei.
Nesse momento, ele sentiu meu cu apertando seu pau e percebeu que eu ia gozar, então socou a vara e meteu o dedo junto.
Eu gritei de tanto tesão e gozei feito louco.
Alex me fez ir escorregando e, sem tirar o cacete de mim, me deitou.
Ele continuou metendo e eu era uma putinha. Só dele. Essa sensação era um sonho...
Dessa vez ele gozou fora. Fez questão de lambuzar minha bunda toda.
E enfim caiu desmontado do meu lado.
Eu me virei de peito pra cima e ele se aconchegou em mim.
E ali eu fiquei olhando para cima pensando que dessa vez nós dois tínhamos feito sexo.
Saciamos a sede um do outro e agora estávamos ali abraçados.
O nosso amor não teve muito a ver com isso.
Talvez tivesse a ver apenas com o meu desejo de possuir e ser possuído pelo Alex, debaixo das estrelas do meu quarto, que seriam as testemunhas do ocorrido naquela noite, mesmo anos depois do Alex ter partido.
Nós ficamos ali, abraçados como sempre ficávamos, e de repente eu percebi que o meu peito estava ficando molhado.
Eram as lágrimas silenciosas do Alex...