Vocês são namorados, vai me dizer que não sabe o que ele anda aprontando?
- Aline, você interrompeu meu sono só pra dizer que os dois brigaram?
- Dessa vez nós vamos deixar barato, só não registramos um boletim de ocorrência contra o Juliano por causa da tia Joana.
- Com certeza o Roger deve ter provocado o Juliano.
- Não foi isso que aconteceu, ele estava em casa e o louco do Juliano ligou pra ele dizendo que precisavam conversar. Uma hora depois o Roger me chama no pronto socorro todo machucado, isso não é coisa que se faça.
- O Roger não é santo deve ter tirado o Juliano do sério.
- Só espero que você dê o recado a ele.
- Vou falar com ele, mas com certeza o Juliano não ia brigar por nada.
- Da próxima vez nós vamos denunciá-lo a polícia.
- Aline, você me acordou pra ficar fazendo ameaças?
- Estou com ódio do Juliano, o Roger quase quebrou um braço por causa dele.
- Quem sabe assim ele aprende a deixar as pessoas em paz.
- Eu sei que ele não é santo, mas dessa vez o Roger não teve culpa.
- Aline, eu preciso trabalhar bom dia!
Desliguei o telefone e na hora me lembrei da conversa com Juliano na noite anterior, então a conta que foi acertar era com Roger, fiquei em dúvida se ligava pra ele ou não, se eu ligasse, acharia que estava tomando as dores do Roger e se não ligasse, acharia que estava do lado do Roger.
Fui tomar banho e trocar de roupa para ir ao trabalho, não liguei pra ninguém, não ia me meter na confusão deles.
Trabalhei normalmente, neste dia Juliano não me ligou, fiquei chateado e ao mesmo tempo sentia sua falta, mas também não liguei pra ele.
No dia seguinte não resisti e mandei uma mensagem pra ele. “Estou com saudades”!
Ele não respondeu e somente no dia seguinte me ligou.
- Oi Juliano, pensei que ainda estivesse chateado comigo.
- Está com saudades?
- Se eu disser que estou você vai ficar muito convencido.
- Estou longe disso, mas luto pelo que quero.
- Fiquei sabendo que você foi tirar satisfações com o Roger.
- Ele voltou a te perturbar?
- Aline me ligou para dizer que da próxima vez vai à polícia.
- Não tenho medo dele.
- Porque você fez isso?
- Ele precisa aprender a respeitar as pessoas, principalmente você que não é um brinquedinho descartável.
- Eu sei me defender dele, não precisa você brigar.
- Esse assunto é meu e dele, não quero você metido nisso.
- Não sou criança pra ser tratado desse jeito.
- Quer que ele siga te perturbando?
- Não, só quero viver em paz.
- Parece que você gosta que do que ele faz.
- Por favor, não quero discutir com você novamente.
- Nem eu, o Roger é problema meu agora.
- Não gosto quando você me trata assim.
- Assim como?
- Sua propriedade.
- Eu só quis ajudar, mas não se preocupe não vou me meter mais na sua vida, tchau!
Ele desligou o telefone e nem me deu chance de falar nada, esse comportamento intempestivo dele às vezes me chateava, mas ao mesmo tempo me sentia protegido de tudo.
No restante da semana não nos falamos mais, não quis ligar para que ele raciocinasse sobre nossa conversa, não queria ser um objeto nas mãos dele como fui com Roger.
Talvez essa atitude dele tenha sido por culpa minha e com Juliano não queria cometer os mesmos erros anteriores.
Depois da briga, Roger não me ligou e nem me mandou mais mensagens, não sei o que Juliano disse a ele, mas acabou se afastando.
No final de semana era o aniversário do Diego, decidi ir para Belo Horizonte na sexta-feira, estava com saudade dos meus amigos e queria aproveitar o fim de semana para esquecer um pouco dos problemas.
Cheguei à rodoviária, peguei um taxi e fui atrás de Rafael e Lucas, cheguei por volta das 20:00 e peguei todos de surpresa.
- Sandro, que surpresa legal, disse Rafael me recebendo com um abraço caloroso.
- Arranjei alguém pra dividir minha cama essa noite, disse Lucas me abraçando.
- Deixa de ser otário, Lucas, não sou tão fácil assim.
- Estou brincando com você seu bestalhão, disse ele rindo me soltando do abraço.
- Seja bem-vindo novamente, disse Giovane vindo me abraçar.
Tinha outro rapaz junto deles que eu ainda não conhecia, 1,80, cabelos castanhos cacheados, bem volumosos, pele morena clara, era um charme, aparentava uns 20 anos, assim como Giovane.
- E você é o?
- Pedro Henrique, o pessoal aqui me chama de Pedrão por causa da Juba, disse ele rindo fazendo referência aos cabelos volumosos e depois me dando as boas vindas.
- Toda vez que eu venho aqui tem alguém novo nessa casa.
- Tem mais um primo meu que está para chegar, disse o Pedro.
- Isso aqui está ficando cada vez mais divertido, acho que estou fazendo falta aqui.
- Meu amor, você sempre faz falta, disse Lucas me provocando novamente.
- Palhaço, falei pra ele e os meninos caíram na risada.
- Sandro, eu quero falar com você, disse Rafael.
Fui com Rafael até um dos quartos, deixei minha mochila em cima da cama dele e sentamos para conversar.
- O que houve?
- Eu não sei o que aconteceu entra você e Juliano, nem me interessa em saber, mas poxa Sandro, o cara está mal.
- Ele te pediu pra falar comigo?
- Não, estou fazendo isso porque sou seu amigo.
- Ele não comentou nada com você?
- O Juliano não é disso, mas toda vez que nos encontramos noto que ele anda triste.
- Ah Rafael, ele foi muito explosivo comigo, só porque descobriu as mensagens do Roger no meu celular.
- Foi isso então?
- Foi.
- Se eu descobrisse algo assim no celular da Fernanda eu nem sei o que faria. Você tem noção o quanto isso deve ter magoado o cara?
- Ele foi atrás do Roger, Aline me ligou ameaçando denunciá-lo a polícia, a minha situação é muito chata, cara.
- Você acha que o Roger faria isso?
- Dele pode se esperar tudo. – Rafael sorriu.
- E você acha que ele ia dizer na polícia que o Juliano o atacou porque estava mandando mensagens comprometedoras para o cunhado? Acorda Sandro.
Enquanto Rafael e eu conversávamos chegou um carro e estacionou na garagem da casa, não dei muita importância e segui conversando com ele até que Lucas entrou no quarto como um furacão soltando suas piadinhas.
- O lindão do Juliano está ai.
- Não quero falar com ele.
- Se você não quer eu quero, não vou deixar um gato daqueles solto por ai.
- Deixa de ser oferecido Lucas.
- Eu adoro te provocar, disse ele caindo na risada com Rafael.
- Idiota!
- Ciumento!
- Para, peguei um travesseiro e joguei nele que se matava rindo.
- Vai lá falar com ele, disse o Rafael que agora estava sério.
Fui até a sala, ele estava em pé na porta conversando com Giovane e Pedro, cheguei à sala e dei um oi pra ele de longe, não me pareceu que estava triste como quando nos vimos da última vez.
- Vamos dar uma volta e tomar um sorvete, ele me convidou.
- Não sei se devo.
- Tem uma sorveteria aqui perto que é ótima, disse Giovane inocente sem entender os motivos pelos quais não queria ir.
- Vai lá garoto, nós só não os acompanhamos porque já combinamos de sair com a galera.
- Você vai Rafael?
- Vou sim, fica com a chave do Lucas, já que ele sempre volta no dia seguinte.
- Ah que calunia, mas pode levar minha chave.
Fomos em silêncio em direção ao carro, isso ocorreu durante boa parte do caminho, parece que escolhíamos as palavras para engatar uma conversa até que ele falou.
- Não sabia que estava aqui, dei sorte em te encontrar.
- Estava com saudade dos meus amigos.
Ele ficou calado novamente, deveria estar com receio de iniciar uma conversa, mas eu não me aguentei continuar calado tinha que entender o que se passava na cabeça dele.
- Porque você foi brigar com o Roger?
- Esse cara sempre vem em primeiro lugar na sua vida.
- Não estou falando por isso, detesto resolver as coisas na base da violência.
- Você sabe o que aconteceu pra me acusar?
- Não, mas posso deduzir.
Claro e com certeza vai defendê-lo, disse ele estacionando o carro no estacionamento perto da sorveteria que estava com movimento intenso naquele horário.
Entramos, servimos nosso sorvete e sentamos numa mesa ao fundo onde tinha menos movimento.
- Então me conta o que aconteceu.
- E vai fazer diferença se eu falar?
- Você me disse que não me esconde nada.
- E não escondo, ao contrário de você.
- Não vamos começar com essas acusações novamente.
- No domingo cheguei aqui e liguei para o Roger a fim de conversar civilizadamente, queria saber qual era a dele já que agora é um cara casado e tem uma filha.
- E ele aceitou conversar numa boa?
- Ele achou estranho, mas desceu para conversarmos no condomínio do prédio onde mora. Quando eu perguntei por que não te deixava em paz, ele ficou possesso comigo, disse que eu não tinha nada a ver com a vida dele e o caso de vocês era antigo. Falei que estávamos iniciando um relacionamento e você não queria mais esse assédio porque estava te prejudicando.
- Você não conhece o Roger, aposto que ele te provocou.
- Ele foi o primeiro a me agredir, me segurou pela camisa e me jogou por cima de umas cadeiras na área da piscina, disse que eu era um otário e que vocês transam toda vez que se encontram, os olhos dele se encheram de lágrimas, mas logo se recompôs e seguiu falando.
- Não consegui me segurar depois disso, não podia acreditar que você estava fazendo isso comigo e parti pra cima dele, daí nós brigamos que rolamos pelo chão, era noite e demorou até aparecer alguém para nos separar.
- E você acreditou no que ele disse?
- Não sei, prefiro que você me conte.
- Depois que ele casou, nós nunca mais nos relacionamos.
- Ele me disse que vocês só não estão juntos por causa da Aline, mas que logo você vai perceber que está cometendo uma loucura e vai voltar.
- Ele me fez essa proposta várias vezes, você acha que se eu quisesse isso já não teria aceitado?
- Seja sincero comigo, o que você sente por ele?
- Ainda estou muito ligado ao que aconteceu entre nós, mas não quero nada com ele.
- Eu acredito na sua sinceridade em dizer que está tentando mudar, mas acho que foi tudo muito precipitado entre nós dois.
- O que você quer dizer com isso?
- Eu te amo muito, mas não posso lutar sozinho, pensei muito durante essa semana em tudo que aconteceu, já fiz coisas por você que nunca fiz por ninguém, até me meter em confusão eu me meti, porém não quero viver rastejando atrás de migalhas.
- Você está terminando comigo?
- Terminando o que nunca começou, seus olhos encheram-se de lágrimas.
- Juliano, por favor, eu estou tentando mudar.
- Eu prefiro que seja assim agora a te odiar para o resto da vida, disse limpando secando as lágrimas de seus olhos para que ninguém percebesse.
- Eu gosto muito de você, desculpa se te magoei, mas acho que está sendo radical demais.
Seus olhos se encheram de lágrimas novamente até que ele se controlou e limpou-as.
- Vou te deixar em casa.
- Você vai ao aniversário do Diego?
- Acho que não, o Roger vai estar lá e não quero ver os dois juntos.
- Eu já te disse depois que ele casou com minha irmã nós não ficamos juntos.
- Não vamos voltar a esse assunto, você só não está com ele por causa da Aline.
Ele levantou e foi direto para o caixa pagar a conta, tentei pagar a minha, mas Juliano não aceitou disse que já tinha pagado.
Da sorveteria até em casa ele não disse nada, estava triste e eu péssimo por estar magoando a quem sempre me ajudou.
Antes de descer ainda tentei abraçá-lo, mas ele me impediu.
Entrei em casa estava arrasado, pois notei que ele chorava antes mesmo de dar partida no carro.
Durante a noite fiquei pensando que talvez aquele afastamento fosse melhor para evitar futuros aborrecimentos e que um de nós dois saísse mais ferido ainda.
No dia seguinte acordei ao lado do Rafael, na verdade vi quando ele chegou à noite e deitou ao meu lado, mas fingi que estava dormindo.
- Bom dia, não ficou muito apertado nessa cama?
- Estava ótima, desculpa atrapalhar o seu sono.
- Pensei que fosse terminar a noite na casa do Juliano?
- A gente terminou.
- Não é possível, mas por quê?
- Ele é meio complicado, não gostou de ter ocultado sobre as mensagens do Roger.
- Neste ponto dou razão a ele.
- Estou tão perdido e sem saber o que fazer.
- É simples, você ainda gosta do Roger e ele percebeu.
- Não sei se gosto dele tanto assim, o Roger já me magoou muito.
- E mesmo assim você não aprende.
- Eu não queria magoar o Juliano, estou péssimo.
- Pensando bem, do jeito que você está confuso é até melhor esse tempo.
- Parece que depois que perdi minha mãe, fiquei seco de sentimentos.
- Então levanta dessa cama e reagi, hoje é o aniversário do Diego.
- E você está ansioso pela chegada da Fernanda?
- Estou mesmo, disse ele rindo.
- Atrapalho? Disse Giovane entrando no quarto.
- Claro que não cara, entra ai, disse Rafael.
- Eu acho que te conheço de algum lugar, só não estou lembrado e fiquei com vergonha de falar quando Lucas nos apresentou.
- Tive a mesma impressão, você estava em Guarapari no final do ano passado?
- Estava sim.
- Ficou na turma da Letícia e da Patrícia.
- Fomos com elas na praia e você é o cara do violão?
- Sou eu mesmo e de onde você conhece a Letícia?
- A conheci na rodoviária enquanto esperava a Juliano pra me levar a casa da tia.
Lembrei que a Letícia havia me falado que gostava dele e achava que era gay por não dar importância às investidas dela, mas ele não tinha jeito, acho que minha amiga havia se enganado.
- De onde você conhece a Letícia e a Patrícia?
- A mãe delas é minha prima, eram de Brotas sempre viveram lá até a Patrícia passar no vestibular de medicina aí eles venderam a casa e compraram aqui.
- Que história doida, quer dizer que você é de Brotas?
- Sim.
- Quero conhecer sua cidade, já ouvi falar que é linda.
- É uma cidade pequena, pacata e ao mesmo tempo turística, mas se quiser conhecer o convite está feito.
Estou brincando com você.
- Minha família é bem simples, gosta de receber visitas e com certeza vão gostar de receber meus amigos.
- O que vocês estão falando? - disse o Pedro entrando no quarto.
- O Giovane nos convidou para passar um final de semana na cidade dele, disse Rafael rindo.
- Oba! Estou dentro.
- Não foi nada disso, eu perguntei a ele sobre a cidade e disse que gostaria de conhecer.
- Nós também queremos conhecer, disse o Rafael.
- Depois que o Sandro morar conosco voltamos a conversar sobre o assunto, disse Giovane.
Fui com Rafael preparar o almoço, era um lado dele que eu não conhecia principalmente por tê-lo conhecido antes da mudança.
- Aprendeu a fazer comida?
- A necessidade nos ensina, disse ele rindo.
- Você mudou muito depois que veio pra cá.
- Só sinto falta da Fernanda.
- Mesmo vendo ela todo final de semana?
- Quando a gente gosta de verdade não consegue ficar longe.
- Eu queria ser assim.
- Não reclama, o Juliano é louco por você e não sei se o Roger também não é.
- O Roger só gostou de mim pra sexo.
- Não sei tenho minhas dúvidas, ele é diferente do Juliano que é mais autentico, mas teve seus encantos por você.
Foi ele falar no Juliano que fiquei pensando, o que estaria fazendo, será que continuava firme na sua decisão de se afastar de mim, fiquei tão longe e nem percebi que o Rafael continuava falando comigo.
- Ei, o que foi? – disse ele me chamando a realidade.
- Não foi nada, o que você disse?
- Eita, onde anda essa cabeça?
- Pensando sobre ontem à noite, o Juliano estava mal.
- Não consigo te entender, disse ele balançando a cabeça negativamente.
- Nem eu.
- Querem ajuda? – perguntou Pedro.
- Só se for para lavar a louça, disse a ele.
- Estamos aqui pra isso.
- Não é necessário, mas eu tenho uma curiosidade?
- Não me diga que é sobre o meu cabelo, disse ele rindo.
- É sobre isso mesmo, como você cuida desse cabelo black power?
- Esse é meu charme, dá trabalho, mas eu gosto.
- Haja paciência.
- São só alguns cuidados a mais.
- Meus parabéns pela sua paciência em cuidá-los, são bonitos e chamam atenção de longe.
- Ele é muito gato disse o Lucas abraçando o Pedro por trás.
- Qual é meu está me estranhando? – disse ele rindo.
- Para com isso Pedrão, eu sei que o teu babado é mina, disse o Lucas voltando a abraçá-lo novamente.
- Por falar nisso, essa semana conheci uma garota bem legal.
- É um sortudo disse o Lucas rindo dele.
- Pena que é casada, disse ele rindo do Lucas.
- Então não vale a pena, falei para ele.
Pedro ficou pensativo, achei estava chateado por estarmos invadindo sua privacidade.
- Desculpe ficar fazendo perguntas sobre seu cabelo.
- Não esquenta Sandro, o Pedrão é assim mesmo, disse Rafael.
- Sabe que ela é parecida com você.
- Como?
- A menina que eu conheci.
- E como ela é?
- Sei pouco dela, é professora e é casada, mas a fisionomia de vocês é muito parecida.
- Minha irmã é professora e é casada.
- Ela mora aqui?
- Sim, o nome dela é Aline.
- Nossa cara, então é a sua irmã, que coisa hein!
- Tenho uma foto dela no meu celular, quer ver?
- Ah agora eu quero matar essa curiosidade de qualquer jeito.
Peguei meu celular e mostrei a foto da Aline.
- É essa?
- É ela mesma, desculpa dizer, mas sua irmã é linda.
- É bonita mesmo, pena que escolheu um marido que não vale nada, disse Rafael.
- Para com isso Rafael, não precisa ofender a irmã do Sandro desse jeito.
- Não se preocupa Pedro, o Rafael não deixa de ter razão.
Pedro ficou calado e tratamos em encerrar o assunto, pois não estava a fim de falar do Roger para ele.
No final da tarde o Tiago chegou com Paula e Fernanda. Assim que chegaram, Rafael correu em direção ao carro para recepcionar a namorada, Tiago deu um abraço nos meninos, fizeram as devidas apresentações e depois iria com Paula dar um abraço no papai.
- Vamos mano?
Fiquei indeciso, seria uma possibilidade de encontrar o Juliano, mas também não sabia se queria esse encontro.
- Vamos Sandro? - disse Paula
- Vamos.
Chegamos ao apartamento da tia Joana, estava ansioso achando que fosse encontrar com ele, mas estavam apenas meus tios acompanhados do meu pai. O Junior havia conseguido o intercâmbio para o Canadá, estava se preparando para mudar-se e tinha saído com os amigos para despedir-se.
Fiquei sabendo por minha tia que Laura tinha ido ao apartamento do Juliano, meu coração apertou, no mínimo ela foi dar apoio a ele.
Nesse dia papai estava tranquilo e minha tia até comentou que os médicos estavam pensando em liberá-lo do tratamento, ficamos felizes que ele poderia voltar pra casa e retomar sua rotina.
Depois que saímos da casa de tia Joana fomos nos arrumar para festa que seria na casa do Diego, era uma reunião só para jovens como tinha sido a outra logo que nos conhecemos.
Quando chegamos à festa já estava animada, Diego veio nos receber com a mesma simpatia de sempre, dessa vez Maurício o acompanhava e os dois pareciam muito felizes.
Para todos os efeitos os dois eram amigos inseparáveis, poucas pessoas sabiam que ali se tratava de um casal de namorados, só os mais conhecidos que sabiam e eram poucos.
Enquanto a festa seguia, fiquei perto da piscina observando o movimento, não estava com clima para animações, embora estivesse bem a fim de dançar, mas não ali, queria uma boate.
- Está pensando na vida? – Ouvi aquela voz conhecida falar comigo.
Olhei para trás era o Roger com um sorriso estampado em seus lábios.
- Oi! Às vezes é bom pensar um pouco.
- Você sumiu, não apareceu mais.
- Muito trabalho no mercado.
- Dá pra perceber, está mudado.
- E a Sabrina?
- Está bem, ficou com a babá.
- E Aline?
- Por aí com as amigas.
- Pensei que vocês não vinham você não gosta do Diego.
- A gente muda com o tempo, você mesmo mudou muito.
- Nem tanto assim continuo o mesmo.
- Continua a mesma pessoa, mas mudou de corpo, não é mais aquele garoto que eu conheci há dois anos.
- Não sou mais aquele garoto bobo, essa foi à única mudança que vejo na minha vida.
- E o Juliano, porque não está aqui?
- Ele tinha outro compromisso não pode vir.
- Pensei que vocês tinham terminado.
- Porque pensou nisso?
- Porque eu disse algumas verdades a ele.
- Aline me falou.
- A Aline se meteu em coisas que não devia o assunto com Juliano é meu e dele.
- Agora você disse uma coisa certa, não me metam na confusão de vocês.
- Não quero falar sobre o Juliano o que tinha pra falar, eu já falei e acho que ele entendeu bem o meu recado.
- Não gosto quando vocês ficam usando minha vida como se fosse um objeto de jogo.
- Você sabe que não é.
- E mesmo assim parece que ficam apostando quem leva vantagem.
- Eu já te falei várias vezes o que penso, mas você não acredita. Já disse, tenha várias pessoas, mas nenhuma será igual a mim.
- Você é muito convencido, Roger.
- Não sou convencido, sou realista e você só não está comigo por causa da Aline.
- Ela é minha irmã e eu respeito.
- Pois não deveria pensar assim, Aline não está nem ai se você está com Juliano ou comigo.
- Que espécie de casamento é esse de vocês?
- Não quero falar sobre ela.
- Mais eu quero, é minha irmã tenho direito de saber.
Acho que você vai se chocar, é melhor não saber.
- O que você anda aprontando com Aline?
- Nada que ela não esteja de acordo, ele sorriu.
- Explica melhor que não estou entendendo.
- Nós temos um relacionamento aberto, não me importa se ela tenha seus casos, assim como ela não se importa que eu tenha os meus.
- E Aline aceitou isso?
- Combinamos que sempre haverá respeito entre nós e também ninguém precisa se meter na nossa vida.
- Não acredito que Aline tenha aceitado isso?
- Desde o começo.
- Você só pode estar mentindo pra mim.
- Nunca falei tão sério.
- A Aline não se sujeitaria a isso.
- Acho que você não conhece sua irmã, acorda Sandro, a realidade da vida é outra.
- Quer dizer que ela sabe dos seus casos que deve ter muitos.
- Ela sabe desde o começo, aceitou essa condição e sempre foi assim.
- Não posso acreditar no que estou ouvindo, isso é muito sórdido.
- Você que é muito conservador e não entende que isso acontece com muitos casais, entre Aline e eu não existe apego.
- Tenho pena da Sabrina com dois pais desnaturados, que família é essa?
- Talvez ela seja mais amada que muita criança que os pais vivem de forma tradicional, nós jogamos aberto um com outro e não fazemos as coisas escondidas como muitos fazem por aí.
- Como pode haver respeito entre vocês? Um traindo o outro.
- Em casa existe respeito e não é traição, ela sabe o que eu faço e aceita e eu sei o que ela faz e aceito também.
- Vocês são repugnantes.
- Aline sempre soube de você e quando nos aproximamos fui claro com ela que a gente se relacionava.
- Mais não foi isso que ela me falou.
- Porque tinha medo que você e a família não a aceitassem como é.
- Não posso acreditar nisso, quantas vezes eu me julguei por me envolver com você pensando nela.
- Por bobinho que era.
- Quer dizer que ela sabia quando você ia se encontrar comigo?
- Ela não sabia a hora e o lugar, mas sabia de tudo que acontecia entre nós.
- E quando isso começou a acontecer?
- Logo que a conheci em sua casa.
- Que nojo! Vocês me enganaram, cada vez mais eu me sinto um lixo.
- Eu sempre joguei claro com você e só não falei antes porque Aline me pediu.
- E porque está me falando agora?
- Porque eu sinto que estou te perdendo para o Juliano.
- Não sou propriedade de ninguém, minha vida me pertence e eu decido o que fazer com ela.
- Por isso mesmo estou te contando como as coisas acontecem.
- Você não ama minha irmã, isso é fato.
- Amor é um negócio tão relativo, isso é coisa de sonhador e eu sou um cara realista, você me conhece e sabe que não sou ligado a essas coisas.
Acho que sua mãe criou uma máquina ao invés de uma pessoa.
- Não sou o único que pensa assim, Sandro, a vida no dia a dia é muito diferente e você ainda tem muito que aprender.
- O Tiago é fiel a Paula e os dois se amam.
- Porque a mente dele está voltada pra isso, mas a hora que ele ver alguém interessante eu duvido que não bata a curiosidade pelo desconhecido.
- Você está dizendo que meu irmão é um sem vergonha?
- Eu não disse nada.
- Foi o que deu a entender.
- Porque você não sabe analisar o que eu digo.
- Eu até tento te entender, mas é difícil.
- Eu disse que o Tiago pode ficar tentado, mas na hora vai prevalecer o mais forte; a mente ou a atração por algo novo, eu, por exemplo, vou pela novidade, não sou apegado. Isso depende muito de cada pessoa, você já é apegado a regras assim como o Tiago.
- Eu acho que você fez uma lavagem cerebral na minha irmã e está tentando me levar pelo mesmo caminho.
- Foi ela que me propôs viver assim.
- Não acredito numa coisa dessas a Aline só pode estar louca.
- A ideia do casamento aberto partiu dela e eu gostei, queria e quero ter meus filhos, minha casa, minha família e o que acontece fora isso é lucro.
- Então quer dizer que eu fui o lucro.
- Você foi diferente, porque quando Aline chegou à minha vida já estávamos juntos, portanto, não te comparo aos outros.
- E o que eu fui então?
- Se você entende isso como amor, foi o cara que eu sempre amei.
- Amou só pra satisfação do seu ego, nunca existiu sentimento.
- Quem disse que não?
- Você nunca pensou em ter nada comigo, Roger.
- Porque você não quer! Agora, por exemplo, podemos sair daqui e passarmos uma noite maravilhosa, eu tenho certeza que nada te faltaria.
- Falta companheirismo, não quero viver sozinho para sempre.
- Veja o caso do Maurício e o Diego, os dois estão juntos agora, porém o Maurício é casado.
- E o que é a vida do Diego?
- Ele me parece feliz.
- Só parece, mas na verdade ele gostaria que o Maurício assumisse a relação deles.
- Pra que? Pra ficar uma semana juntos e depois separar, deixa o Maurício viver esses problemas com a mulher.
- Como você é egoísta, Roger.
- Com você é a mesma coisa meu sacaninha, vai ser sempre desejado por mim e os problemas do dia a dia eu vivo com Aline.
- Não quero isso pra mim, ainda vou ser feliz como imagino as coisas não pode ser assim de forma tão seca, as pessoas têm sentimentos.
- Nem todas. A maioria vive assim e são felizes.
- Não existe esse tipo de felicidade, isso é uma máscara.
- Então a maioria da população é mascarada, você acha que todo homem é fiel ao casamento?
- Não, é claro que não, mas acredito que o dialogo e o respeito entre o casal deve prevalecer.
- Uma grande minoria, o restante vive a vida como melhor convém e esses poucos que se sujeitam a isso, muitos vivem frustrados, por isso que a depressão cresce tanto e as pessoas não sabem o motivo.
- Você quer dizer que as pessoas ficam depressivas porque se sujeitam aos problemas do dia a dia do casamento?
- A grande maioria sofre por apego, quer prender a pessoa a si, acha que é sua propriedade e cada um tem sua vida, é livre para se relacionar com quem quiser.
- Seus pensamentos me assustam.
- Pois não deveria, não pense porque sou casado vou seguir a tradicional rotina de retornar para casa depois de um dia exaustivo de trabalho, sentar num sofá olhando novela enquanto a mulher faz comida e limpa a casa. Isso não é pra mim, não sou cara de ir para cama fazer cinco minutos de sexo e depois virar para o lado e dormir. E não para por aí, no outro dia é a mesma coisa e assim é sempre. Não sou assim, quando quero fazer sexo é porque estou com vontade e com certeza ela não reclama porque sabe que busco fora o que não encontro em casa.
- Cada vez mais eu me decepciono e nem o tempo consegue mudar essa forma louca de você pensar.
- É a realidade da vida, das pessoas no seu dia a dia, casamento é rotina e quem ama não quer esse tipo de coisa para o parceiro.
- E você acha que viver sozinho e marcar um encontro para meia hora de sexo valem a pena?
- Se for bem aproveitado, porque não valeria?
- E depois volta à mesma vida pacata de sempre, esperando que o outro tenha alguns minutinhos pra marcar outro encontro?
- A vida é assim.
- E quando você estiver num desses encontros e o companheiro estiver atrás? Ligando a cada cinco minutos.
- Isso ocorre só quando é escondido do parceiro, se jogarem aberto, não existem ligações.
- Realmente eu não me vejo vivendo uma vida dessas.
- E por isso, deixa de aproveitar a vida e amar de verdade.
- Eu sempre achava que estarmos juntos era tudo, era o máximo, mas não consigo pensar igual a você.
Esquece o parentesco com Aline.
- Você acha que vou deixar de lutar por um cara como Juliano para viver assim?
- O Juliano vai ser o típico exemplo que eu te falei, um cara rotineiro.
- É isso que eu quero.
- Você vai se cansar, eu sei que não é disso.
- Posso mudar minha forma de pensar.
- Eu sei exatamente o que você gosta e esse seu ladinho malandro não dá certo com o Juliano.
- Não sou um pervertido como você pensa.
- Não, mas gosta de se entregar por completo, gosta de novidades e detesta rotina.
- E você acha que o Juliano não me oferece isso?
- Ele vai te encher de cobranças e eu posso te oferecer tudo isso e muito mais, nós podemos ser felizes, pense bem nessa possibilidade.
- Com coisa que você não me enchia de cobranças quando estávamos juntos.
- Cobro quanto a envolvimento com homens, já com mulher eu não me importo.
- Nunca me envolvi com mulher você sabe disso.
- Pois deveria, é bom.
Não tive argumentos pra ele e comecei a rir, era algo que nunca tinha me passado pela cabeça, até que mudei de assunto.
Me diga uma coisa, a Aline é feliz nesse casamento?
- Parece que sim, olha como ela está feliz na companhia das amigas.
Olhei para uma mesa perto da piscina, Aline estava sentada rodeada por quatro ou cinco garotas, ela estava feliz, sorridente, não parecia ser o tipo de pessoa que sofria no casamento, mas eu não conseguia aceitar o estilo de vida deles.
- Porque vocês me convidaram para ser padrinho da Sabrina?
- Primeiro porque você fora a Sabrina é a pessoa mais importante da minha vida e se caso aconteça alguma coisa comigo ou Aline, tenho certeza que sempre ajudará sua afilhada e segundo porque sua irmã sabe que você é diferente e pode acreditar ela não tem raiva e nem mágoa por saber que eu gosto de você.
- Vocês dois são meio sádicos.
- Vemos a vida de forma diferente, pensa bem e deixa eu te fazer feliz.
- Não consigo aceitar a vida desse jeito.
- Aquele dia na oficina, você viu o quanto foi legal, houve entrega. Entre nós rola algo muito gostoso, a química é perfeita, nossos corpos se atraem e não adianta negar que eu sei disso.
- Faz tanto tempo e você ainda lembra isso?
- Eu me lembro de tudo que vivemos, era muito bom, você se entregava por completo.
- Naquela época eu era um bobo iludido.
- Você me ama, eu sei disso e sinto isso quando estamos juntos.
- Não posso fazer isso com Aline e Sabrina.
- Aline de novo? Pra ela tanto faz se você fica comigo ou não e a Sabrina vou educá-la pra pensar a vida do meu jeito e da Aline, isso tudo está na sua cabeça.
- Eu não consigo.
- Vamos sair daqui e conversar num lugar mais reservado.
- Não, você vai fazer que nem no dia da oficina.
- E você gostou.
- O que adianta gostar na hora e depois vir o peso do arrependimento, eu não sei viver assim, Roger.
- No início eu não me aceitava, vivia perdido e dei mancada.
- Porque você me usava, era isso.
- Nunca deveria ter terminado com você, foi a maior burrada que eu cometi, mas estou disposto a reconstruir tudo novamente se for preciso.
- Enquanto você for casado com minha irmã eu não fico com você.
- Não diga isso meu sacaninha, a minha vida é tão vazia sem você.
- Pra você é fácil, vive esse casamento louco com Aline e eu sirvo pra sexo.
- Não, você é o cara que me faz feliz.
- Para com isso Roger, chega a ser cansativo.
- Vamos terminar nossa noite fora daqui, prometo te fazer o cara mais feliz desse mundo.
- Não! Me deixa quieto no meu canto.
- Você está perdendo horas de ser feliz pra ficar se auto analisando, vejo tristeza em seus olhos e não é isso que eu quero.
- Sabe pra onde eu queria ir?
- Onde?
- Numa boate dançar muito e esquecer os meus problemas.
- Se quiser eu te levo numa agora, disse ele rindo.
A proposta dele era tentadora. Será que deveria aceitar? Se dependesse da saudade que sentia dele deveria aceitar. Fiquei pensando por longos minutos até que me decidi.
Não, muito obrigado! Você seria a última pessoa que eu sairia daqui para uma boate.
- Minha companhia é tão ruim assim?
- É tentadora, mas nossas cabeças pensam diferentes.
- Sabe qual é seu problema?
- Nem quero saber, você sempre tem explicação pra tudo e quase me convence.
- Você pensa demais
- Melhor assim e agora me dá licença vou procurar meus amigos.
- Espera! – disse me puxando por um braço.
- O que você quer?
- Você está muito gostoso.
- É mesmo?
Ele aproximou mais do meu ouvido e falou baixinho.
- Uma delícia! Já estou excitado.
- Pena que não vai dar e não é para o seu bico, disse rindo e saindo a procura de Lucas, Giovane e Pedro.
Encontrei-os sentados numa mesa bebendo chopp, era uma galera grande e a primeira que veio me abraçar foi Letícia.
- Quando o Giovane me falou que vocês iam morar juntos eu nem acreditei, disse ela me abraçando.
- Achei que nunca mais fôssemos nos encontrar.
- Saudades de você, mas me conta está com o gostosão lá?
- Não conseguimos nos acertar.
- Ah que pena ele me parece tão legal e quando você vem aqui pra BH?
- Eu vinha no inicio do ano, mas ai deu todo errado e acabei adiando.
- O Giovane me contou, vem cá que eu quero te apresentar um amigo que gostou de você desde que te viu entrar na festa, disse ela rindo e eu fui atrás dela na maior inocência.
Oi Christian, a pedido te apresento o Sandro.
Ele era loiro usava o cabelo arrepiado, deveria ter 16/17 anos, 1,60 baixinho para sua idade, usava óculos de grau, me pareceu divertido, gostei dele.
- Muito prazer Sandro, a Letícia me fala muito de você.
- Prazer, você é daqui mesmo?
- Sim, sou amigo da Letícia há muito tempo, somos vizinhos.
- Sandro, ele quer fazer arquitetura assim como você, disse Letícia interferindo na conversa.
- Nossa cara, que bacana e em que período você está?
- Ano que vem termino o ensino médio e já vou me preparar para o vestibular.
- Nossa, eu também estou pensando em voltar e preciso terminar meu último ano do ensino médio.
- A Letícia comentou comigo, por isso fiquei curioso em te conhecer.
Meu celular começou a vibrar no bolso da minha calça, só poderia ser algum louco me mandando mensagem àquela hora. Ignorei e segui conversando com Christian.
- Nós podemos estudar juntos.
- É uma boa, podemos conversar sobre isso depois.
- Vou morar aqui perto com cinco amigos.
- Deve ser bem legal, bem que eu gostaria de me livrar do controle de minha mãe.
- É tão ruim assim?
- Nossa cara, ela pega no meu pé e fica querendo se meter na minha vida.
- Mãe é assim mesmo, sinto falta da minha.
Meu celular vibrou mais uma vez no meu bolso, era outra mensagem, só então pensei no Juliano, será que ele tinha se arrependido e estava me ligando para sairmos? A curiosidade falou mais alto.
- Christian, me dá licença um instante para olhar meu celular?
- Claro, fique a vontade.
Peguei o celular e abri a primeira mensagem, me enganei, não era do Juliano e sim do Roger. “Não adianta fugir, você é meu”
- Que petulante, falei em voz alta e nem percebi que Christian estava me observando como se me examinasse por completo.
- Desculpa, não é nada com você.
- Achei que estava sendo indiscreto demais.
O que ele quis dizer com aquilo, eu hein? Garoto maluco. Abri a outra mensagem que também era dele, “Esse garotinho não é de nada você precisa de um homem de verdade” guardei meu celular e até achei graça do atrevimento do Roger.
- Desculpa interromper nossa conversa, mas eu precisava ver o que era.
- Não tem problema, mas o que era que você ficou rindo?
Que atrevido, falei em pensamento e resolvi me divertir mais um pouco.
- É que tem um amigo meu que não está bem e fica me mandando mensagens.
- O que ele tem?
- Passou mal à tarde.
- Ah, coitado tomara que melhore rápido.
- Tomara.
- Sandrinho, nossa que felicidade saber que você veio me dar um abraço no meu aniversário, disse Diego me abraçando e interrompendo minha conversa com Christian.
- Meus parabéns!
- Obrigado, você é muito especial pra mim.
- Pelo visto você fisgou o Maurício de vez?
- Ele mudou muito e eu estou muito feliz.
- Que bom isso é o mais importante.
- Olá, disse o Christian batendo com a mão nas costas do Diego.
- Diego, esse é meu mais novo amigo, Christian.
- Parabéns Diego, Christian o abraçou e eu morri de rir.
- Muito obrigado, disse o Diego assustado, pois nem o conhecia.
- Christian dá licença só um instantinho eu quero falar com Diego.
- Ah, vou pegar uma bebida.
- Cuidado que você é menor de idade.
- É verdade, mas um tantinho não quer dizer, disse e saiu de onde estávamos.
- Onde você arranjou essa figura? – disse o Diego rindo.
- A Letícia me apresentou, ele é bobinho assim, mas é legal, é um garoto bacana.
- É uma criança pensando que é adulto.
- Ele é meio adulto, mas gostei dele tem um jeitinho diferente.
- Te conheço, vai querer desvirtuar o menino.
- Não sou tão mal assim, disse rindo.
- É sério, ele está de olho em você.
- Eu hein, já não basta o teu meio irmão.
- Vocês estavam conversando, o que rolou?
- A mesma coisa de sempre ele querendo me iludir e eu me defendendo como posso.
- E o Juliano, porque não veio?
- Nós terminamos na sexta.
- Ele é um cara legal, gosta das coisas certinhas demais e você não é assim.
- Eu tento ao máximo, mas ele não me entende, acha que estou a fim do Roger.
- E não está?
- Se ele não tivesse com a minha irmã e pensasse diferente, seria o cara ideal.
- Eu sei do que você está falando, você quis dizer se ele fosse assim como o Maurício.
- Pelo menos um pouco, mas isso está longe do Roger.
- O que falta no Maurício é coragem para se decidir.
- Estão falando de mim?
- Só coisa boa e parabéns pelo aniversário do Diego.
- Obrigado! Vocês são bem amigos?
- Somos amigos há muito tempo.
Maurício não disse nada apenas sorriu e depois falou com Diego.
- Moreno, já estava sentindo sua falta.
- Mas eu estava aqui o tempo todo.
- Vem comigo? Preciso falar com você em outro lugar, saiu e Diego foi atrás, só ouvi quando ele disse que depois voltava.
Fiquei sozinho e só então me dei conta que Maurício não estava gostando da minha proximidade com Diego, foi uma forma de nos afastar sem baixar o nível.
- O Diego é muito simpático, ouvi alguém me tirar dos pensamentos, era o Christian.
- Ele é muito legal sim, já foi meu namorado.
- Nossa! Você é gay?
- Você não sabia?
- A Letícia me contou.
- Então porque o espanto?
- É que ouvir de você é diferente, comecei a rir e ele me olhava assustado.
O que foi?
- Você é muito engraçado.
- Só porque eu tinha vontade em conhecer um gay?
- Numa cidade grande dessas, nunca encontrou com um?
- Nenhum que valesse a pena.
- Ah é, então quer dizer que eu valho a pena?
- Não sei, nunca experimentei como vou dizer.
- Você é sempre direto assim? – disse rindo.
- Tenho curiosidade, mas tem que ser com um cara legal assim como você e o Diego.
- Fico lisonjeado, mas não sei se posso resolver seu problema?
- Eu não tenho pressa posso esperar.
- Acho que eu tenho um amigo que pode te ajudar.
- Quem?
- O Lucas, você vai gostar dele, acho os dois até parecidos.
- Eu já o conheço e não quero.
- Ele é bonito, gentil, porque você não quer?
- Posso te falar a verdade.
- Claro que pode.
- A Letícia até já tinha me apresentado pra ele, mas eu o achei muito grande.
- Mas ele não é tão alto e isso não tem problema.
- Você não entendeu.
- Não? Então o que você quis dizer?
- É que o dele é grande demais.
- Ah é isso, disse rindo.
- Fiquei com medo e fugi, sou virgem ainda e aquele troço ia acabar comigo.
- Você é muito hilário, disse rindo.
- E ai meninos, se divertindo? – disse a Letícia com uma carinha de safada.
- O Sandro é bem legal, gostei dele.
- Eu também gostei de você, é autentico.
- Ah que bom, eu sabia que vocês iam se entender, disse ela caindo na risada.
A festa foi bem divertida, Christian colou em mim e não me largou um minuto, até foi bom porque Roger acabou me deixando em paz.
Fiquei um pouco chateado pela maneira como Maurício me tratou, eu gostava muito do Diego e os ciúmes dele foi o cúmulo do absurdo.
No final da festa fui pra casa com os meninos, Rafael e Fernanda foram com Tiago e Paula dormir num hotel.
Acabei dormindo tranquilo, pois, fiquei de dono da cama do Rafael, estava tão cansado que deitei e apaguei por completo.
No dia seguinte acordei pensando em Aline e no pedido de mamãe para nunca abandoná-la, decidi ir atrás dela e ter uma conversa séria.
Saí por volta do meio dia, deixei os meninos dormindo e saí, peguei um taxi e fui até o apartamento de Aline.
Nossa conversa seria difícil, mas eu precisava esclarecer as coisas, bati na porta e logo ela abriu e ficou assustada quando me viu.
- Sandro, veio ver sua afilhada?
- Também, mas primeiro quero falar com você.
- Sobre o que?
- Sobre Roger, você e eu.
- Achei que esse assunto já estava encerrado entre nós.
- Não, tem muitas coisas que eu preciso saber e quero ouvir de você.
- Minha vida particular diz respeito somente a mim.
- Mas eu sinto que não e vou te explicar por que.
- Ontem à noite o Roger me falou muitas coisas que eu desconhecia sobre vocês.
- E o que ele te falou?
- Que vocês mantêm uma relação aberta.
- Sandro, você está se metendo onde não deve.
- Por quê?
- Não te dou o direito de se meter na minha vida.
- Você foi a primeira a se meter na minha vida, portanto não reclame.
- Eu já falei tudo o que aconteceu há muito tempo, pra mim esse assunto é morto e enterrado.
- Pra mim não é, quero saber, porque logo com o cara que eu gostava você foi se envolver?
- Me recuso a responder uma pergunta imbecil dessas, se você quiser ver a Sabrina ela está no quartinho dela, entra lá e fique a vontade.
- Não sou mais aquele garoto idiota que você sempre manipulou.
- O que você quer afinal Sandro?
- Quero saber por que você me apunhalou pelas costas?
- O Roger nunca quis saber de você, vivia te traindo.
- Isso era problema meu.
- E meu também.
- Quero saber por que você não foi sincera comigo?
- Não vou responder.
- Vai responder, nem que pra isso leve uma surra.
- Você vai me bater? Vê se cresce moleque.
- Está duvidando?
- Hahaha, disse ela debochando.
- Papai e mamãe nunca tiveram coragem de impor limites a você, sempre foi mimada, mas comigo é diferente e não caio mais nas suas artimanhas.
- Agora virou valente, é por causa do Roger? – disse ela rindo, perdi o controle e lhe dei uma bofetada no rosto.
O que deu em você seu louco?
- Eu quero saber o que você tem contra mim?
- Não tenho nada contra você e não te dou o direito de vir à minha casa me ofender.
- Eu quero saber, Aline.
- O Roger está em casa e não vou falar nada com você perto dele.
- Não seja por isso, vamos dar uma volta.
- Estou cansada, não vou sair.
- Decida-se, ou quer que eu o chame agora para participar da conversa?
- Vamos conversar lá na piscina.
- Ótimo.
Fomos até a piscina e sentamos numa mesa um de frente para o outro, era manhã de domingo e ainda estava vazio.
- Pode continuar de onde paramos.
- Não tenho muita coisa a dizer, já disse tudo assim que descobri que você estava envolvido com Roger.
- Você não me disse tudo e eu quero saber o resto.
- Já que você insiste.
- Prefiro assim.
- Achei que o Roger não era o cara ideal pra você.
- Por quê?
- Não me obrigue a falar coisas que não quero.
- Eu quero saber, pode falar.
- Você era muito infantil para um homem como ele.
- Só isso? Não me convenceu.
- Vivia cantarolando pela casa, se achando a pessoa mais importante do mundo até que eu descobri no dia em que conheci o Roger qual era o motivo pra tanta felicidade.
- E a minha felicidade te atrapalhava?
- Não, até conhecer o Roger.
- E o que mais?
- Eu também gostei dele assim que o conheci, até perguntei sobre ele pra você e mentiu pra mim dizendo que era namorado da Larissa.
- Não era assumido, você queria que eu dissesse que era meu namorado?
- Se tivesse dito a verdade talvez eu não tivesse me envolvido porque a partir daquele dia, decidi que ele seria meu.
- Não é você que prega o amor livre?
- Foi uma forma que encontrei de ficar com ele.
- Aposto que ele não sabe disso, não é mesmo? Por isso não quis conversar comigo na sua casa, ele poderia ouvir e sua máscara poderia cair por terra.
- Eu não tenho raiva de você, Sandro.
- Quem deveria ter raiva era eu que fui apunhalado pelas costas por minha própria irmã.
- Não te apunhalei apenas lutei pra ficar com a pessoa que gostava.
- O que você fez pra mudar a cabeça do Roger além dessa proposta absurda de relacionamento aberto?
- Isso não vem mais ao caso, é passado e você já está com Juliano que é um cara legal.
- Quero saber a verdade, preciso saber se você é minha amiga ou inimiga, porque nem o fato de sermos irmãos você levou em conta?
- Eu gosto de você e até te convidei para ser padrinho da minha filha.
- Convidou ou aceitou uma imposição do Roger?
- As duas coisas, eu gosto muito de você e até vou perdoar o tapa que me deu.
- Não se faça de vítima, eu não preciso de perdão apenas quero saber o que mais tramou pra me afastar do Roger?
- Eu não tramei nada, para com isso Sandro.
- Você costumava enganar a mamãe e o papai, mas comigo essa história não cola mais.
- E você sempre se achando o especial só o papai e a mamãe e o trouxa do Tiago que não percebiam.
- Vamos Aline, eu quero saber e não me enrola.
O Roger detestava gostar de homens, tanto é que se relacionava com mulheres, mas você era diferente, ele sempre deixou isso bem claro.
- E daí?
- Não queria ficar com ele sabendo que a primeira pessoa que fosse procurar era você.
- E?
- Exigi que ele se afastasse de você.
- Ele aceitou numa boa?
- Aceitou.
- Não sei dos dois qual o mais cretino.
- Depois que ele terminou ficou mal, eu sabia que logo vocês voltariam foi então que resolvi ficar grávida.
- Então você foi mais baixa do que imaginava.
- Eu sabia que você não aceitaria ficar com ele sabendo que estava grávida.
- E aí deu o golpe, o Roger sabia disso?
- Isso não importa agora.
- Tem medo que eu conte a verdade a ele?
- Você pode até contar, mas não vai mudar nada, ele vai continuar casado comigo por causa da Sabrina.
- Como tem tanta certeza?
- Tenho apoio do pai dele e principalmente da mãe, além do mais ele não tem motivo pra separar já que está livre pra viver seus casos por aí e nunca vai ter coragem de se assumir.
- Eu acho muito estranho que ele concordou com tudo sem se impor, o Roger não é assim?
- No início não, mas depois ele começou a gostar da ideia de ser pai e também se decepcionou ao ver você com Diego e isso nos aproximou ainda mais.
- Você tem noção do que fez com minha vida?
- Só me dei conta quando era tarde demais, já estava de casamento marcado e tive a certeza que vocês continuavam ficando.
- E mesmo assim se fingia de sonsa?
- Foi à proposta que eu fiz a ele, mas também não queria que você ficasse magoado comigo.
- Meus parabéns, você conseguiu.
Não consegui conter minhas lágrimas, não sabia se era de decepção por desconhecê-la ou por ser tão idiota e acreditar nas pessoas, justo ela, minha irmã a quem eu tinha muito carinho, uma das pessoas que mais amava. Pra mim não existia diferença entre ela e o Tiago, amava os dois incondicionalmente e tudo que recebi em troca foi traição.
- Não consegui, disse ela também começou a chorar.
- Conseguiu sim, agora ele é seu marido, vocês tem uma filha e os dois tem que prezar por ela.
- Ele gosta de você e sempre me joga isso na cara.
- Os dois são traidores.
- Me perdoa!
- Não! Vou amar e cuidar da Sabrina como tio e padrinho, mas com vocês não quero aproximação.
- Eu acho que você está certo, o Roger só ia te trazer sofrimento, ele não é de ninguém.
- Isso eu deveria decidir, mas você se antecipou, não tenho mais nada o que fazer aqui.
- Não vai ver a Sabrina?
- Não usa a Sabrina pra me atingir, eu venho ver ela sim, mas agora não tenho condições.
- Você vai contar a ele sobre a nossa conversa?
- Me deixa em paz, Aline.
Saí desorientado pela cidade, não conhecia bem as ruas, a primeira pessoa que pensei foi na minha mãe, porque ela havia me pedido para não abandonar Aline? Será que ela sabia de tudo? Não poderia ser, mamãe não faria isso comigo, já não sabia mais o que pensar. Andei sem saber por onde estava até que caminhando pela rua dei de cara com uma igreja, estava aberta, entrei e comecei a rezar.
Passei mais de hora rezando entre lágrimas naquela igreja até que apareceu uma senhora que se assustou a me ver chorando.
- Está tudo bem com você meu filho?
- Estou sim, desculpe se já está na hora de vocês fecharem?
- Não se preocupe depois você sai pela lateral.
- Já estou bem e já posso ir embora.
- Você já almoçou?
- Não se preocupe comigo.
- Nada disso, vem comigo, vamos fazer um lanche com padre Paulo.
- Não quero atrapalhar já estou bem.
- Você está chorando, precisa de ajuda meu filho.
- Já estou melhor.
- Gostei de você, me lembra de meu filho que perdi na sua idade num assalto e desde então tenho me dedicado amparar o próximo, deixa eu te ajudar.
- Bacana seu gesto.
- Venha comigo, o padre está nos aguardando.
Entrei com ela e fui até onde ficava a cozinha da igreja. Ao chegar fui muito bem recebido pelo padre Paulo, ele tentou de tudo para que eu contasse porque estava mal, mas não tive coragem, apenas disse que havia discutido com minha irmã. Na saída à senhora me acompanhou e caminhando pela rua ela me fazia lembrar minha mãe, como ela me fazia falta, só de lembrar voltei a chorar novamente.
- Eu frequento um centro espírita, acho que te faria bem, você quer conhecer?
- A senhora não é da igreja?
- E o que tem demais?
- Achei quem frequenta a igreja não vai a centro espírita.
- Engano seu, vamos conhecer?
- Tenho medo dessas coisas.
- Não tem nada demais meu filho, vai te fazer bem, pode confiar em mim.
- Eu moro no interior, daqui a pouco meu irmão estará me procurando para voltarmos.
- É bem rápido, fica aqui perto, você só vai conhecer e se não quiser ficar pode ir embora.
Aquela senhora estava sendo tão boa comigo e eu pensei, mal ela não vai me fazer, foi então que decidi acompanhá-la.
- A senhora me inspira confiança, vamos conhecer.
- Tenho certeza que vai voltar outra pessoa pra casa.
Chegamos ao lugar, era bem diferente do que imaginava. Logo que chegamos, ela me levou até uma sala cheia de cadeiras onde tinham outras pessoas sentadas e alguns minutos depois uma senhora começou a dar uma palestra sobre a família.
Por alguns momentos parecia que ela estava falando comigo e muita coisa que falou me tocou profundamente. Ao final essa senhora veio até onde estava e me levou até outra pessoa, a qual na época eu não entendi muito bem, na verdade estava com medo, mas essa pessoa foi clara em dizer que minha mãe estava muito preocupada comigo e era para eu seguir o que meu coração mandava, depois ela fez uma oração me deu um passe e fui liberado.
No táxi a caminho pra casa, eu pensava que só podia estar ficando louco, o que fui fazer naquele lugar, mas a verdade é que mesmo com medo estava me sentindo bem.
Cheguei e nem comentei com ninguém, Tiago já me aguardava para voltarmos, foi o quanto peguei minhas coisas e iniciamos a viagem.
Durante o caminho fingi que estava dormindo, mas na verdade minha mente estava nos dizeres daquela senhora, “sua mãe está preocupada, siga o seu coração” fiquei todo arrepiado só de pensar naquilo e comecei a rezar, estava com medo, como àquela senhora sabia da minha mãe se ela nem me conhecia.
Uma série de coisas se passou por minha mente, pensei em tratar-se de uma aproveitadora, mas ela nem me pediu dinheiro, não me conhecia e por fim comecei a acreditar que realmente aquilo era verdadeiro.
Pensei em tudo que Aline me falou, não conhecia minha irmã e o Roger? Tinha horas que era verdadeiro comigo, mas em outras não reconhecia sua personalidade, como seguiria minha vida sabendo que os dois haviam me traído? E a Sabrina minha sobrinha e afilhada? Como passaria por cima de tudo sem me machucar ainda mais? Estava tão distante que só voltei minha atenção quando Tiago me chamava que havíamos chegado.
Aquela noite eu não sei se foi impressionado pelo que tinha acontecido no centro, mas sonhei com minha mãe, isso nunca tinha acontecido. Não costumo lembrar meus sonhos, mas este eu lembro muito bem, ela me pedia claramente para perdoá-la. Acordei assustado, estava suado, tomei um banho e voltei a dormir.