———————————————————————————
• Capítulo 2 ~ O ANJO QUE ABDICOU DO PARAÍSO
———————————————————————————
Quero começar esta parte da história alertando a você, querido leitor, que, neste ponto de minha narração, os colocarei a par de uma situação complicada, anterior ao meu "encontro" daquela sexta-feria incomum. Situação essa que assolava a minha mente e colocava em risco o que quer que fosse que eu estivesse começando com a Dayana. É sobre uma... amiga. Uma recatada amiga chamada Marina. Nós estudamos juntos no primeiro ano do ensino médio, mas não éramos muito próximos, vivíamos mundos diferentes. Marina era do tipo certinha, criada na rédea por pais muito religiosos. Tínhamos em comum essa criação, mas eu não era moralmente exemplar como era ela. Na verdade, eu fugia todos os dias desse rótulo sendo um garoto rebelde e áspero. A segunda coisa, e última, que a gente tinha em comum era o comportamento reservado. Naquele ano que estudamos juntos nós conversamos poucas vezes, não éramos muito sociáveis. Eu a achava apenas uma pessoa agradável e nada mais. Assim foi até o fim daquele ano.
Três anos mais tarde, quando comecei a fazer o curso pré-vestibular que mencionei no começo deste relato, para minha surpresa, reencontrei a Marina. Coincidentemente estávamos na mesma sala e, como só conhecíamos um ao outro naquele instante, naturalmente nos aproximamos e nos tornamos amigos de fato. Foi quando a Marina começou se tornar a Nina para mim. Foi, também, quando começamos nos enrolar um pouco numa relação mais peculiar. Não estou falando sobre namoro, àquela altura ela já tinha um relacionamento duradouro que foi firmado na igreja protestante onde ela congregava. Também não estou falando de um caso entre nós, ela era muito correta pra tentar isso. Entretanto, durante algum tempo, parecia rolar um certo clima de desejo entre nós. "Desejo" talvez seja muito exagerado dizer se tratando da Nina, pois não conseguia imaginar tal sentimento impuro vindo de uma garota como ela. Por outro lado, apesar das diferenças entre a gente, eu a achava fisicamente muito atraente. Ela tinha uma aparência quase angelical e emanava uma candura que me inspirava fantasias profanas. Tentava afastar aquela devassidão da minha cabeça, tentava me convencer que se tratava apenas de alguma emoção aflorada oriunda dos reencontros improváveis. Sempre lanchávamos juntos, passávamos os intervalos das aulas conversando sobre nosso dia, saíamos da escola juntos e, as vezes, até mais cedo pra ir dar uma volta no centro da cidade. Talvez, essa rotina só tivesse criado uma amizade íntima entre nós.
Alguns meses se passaram e , finalmente , eu tive a certeza que havia, sim, desejos discretos naquela amizade. E não de uma forma unilateral como eu estava achando anteriormente. Pouco a pouco, Nina foi revelando certos comportamentos comigo que destoavam da sua aura límpida. Insinuações começaram a surgir quando ficávamos a sós. Comecei a notar uma carga de malícia quando conversávamos, como se ela estivesse tentando criar um álibi perfeito para entrar em um novo nível da nossa intimidade. Confesso que, de início, eu não fiz absolutamente nada para cortar aqueles sinais de um possível avanço moralmente ilegal da nossa relação, muito pelo contrário. Eu deixei aquilo tudo rolar, apenas porque achava ela uma garota angelicalmente sensual e por imaginar uma remota possibilidade em que uniríamos os nossos corpos em uma quimera com partes de um ser sagrado e outro profano, um divino e outro diabólico, um cheio de pureza e o outro de luxúria. Àquela ideia transgressora me foi muito atraente por algumas semanas.
Foi na quarta-feira, da mesma semana em que conheci Dayana, que decidi pôr um fim naquela crescente onda de desejos. Fui acometido por um repentino senso de realidade, quando Nina, finalmente, sugeriu-me iniciar um romance com ela.
— Eu deixaria o Léo por você, se você assim quisesse — ela me dizia com uma voz amável. O que, finalmente, me fez cair na real. Os sentimentos dela em relação à mim eram reais, porém os mais puros possíveis. Diferentemente dos meus para com ela. Nina, talvez, nem sonhasse com aquelas indecências que eu pensava, pois eu não demonstrava por ela nada além de respeito, simpatia e afetividade.
— Eu acho que gosto mesmo de você — enfatizava-me ela.
— Nina... eu nem sei o que te dizer.
— Então só me diga "sim" ou "não", mas, por favor, diga-me algo!
— Quero-te muito bem, mas acho que... ah, isso é muito embaraçoso — desesperei-me. Perdi-me em minhas fantasias bestiais. Não tinha nada de confuso na verdade. O que existia era uma situação que eu permiti, por passividade, que acontecesse. Senti-me o maior idiota de todos.
— Você quer um tempo pra pensar? Eu te dou.
Nina conseguia ser compreensiva comigo naquele momento visivelmente difícil pra ela e aquilo massacrava minha consciência, aumentava minha culpa. Como se ela fosse o próprio Deus me jogando no purgatório. Aquela candura me corrompeu pelos minutos seguintes, quando decidi ser sincero com ela.
— Na verdade, Nina... talvez eu não precise desse tempo. Eu não gosto de você dessa forma. Prezo-te como uma valiosa e adorável amiga.
— Sinto-me uma idiota — falou ela seguido de um sorriso sem graça — Desculpe-me por essa confusão, realmente achei que você também estava gostando de mim.
— Não precisa se desculpar e nem se sentir dessa forma. Eu que devo te pedir desculpas por, de alguma forma, ter te causado essa impressão — tentava amenizar a minha culpa inutilmente.
— Tudo bem, querido.
— Espero que isso não mude a nossa amizade — falei com a intenção de ela me confirmar que não iria mudar.
— Eu também — disse ela sem muita esperança na voz.
Depois daquilo um silêncio horrível se fez entre nós e só nos falamos de novo depois do fim da última aula, quando estávamos indo embora. Pegávamos o mesmo ônibus, então era impossível manter aquela ausência de diálogo. Quando chegamos em nosso bairro, despedi-me dela quando entrava na rua de sua casa.
— Até amanhã, Nina! Tenha um bom descanso.
— Você também, ícaro.
Foi a última coisa que ela me falou por quase dois dias e isso, queridos leitores, nos leva ao ponto em que eu havia interrompido meus relatos. Voltemos então àquela sexta-feira.
* * *
A noite estava fria e espalhava umidade por onde fosse possível. Um rangido arrepiante ecoou quando abri o portão de casa, típico de noites como aquelas. Chegava em casa exausto e com fome, embora eu estivesse em um, quase absoluto, estado de dormência. Não falo sobre uma sensação de dormência física literal. Mas, sim, de uma sensação hipnótica, que havia me jogado em um canto imprudente da minha mente onde só havia aquela lembrança deliciosamente imoral de horas atrás. Desde o fim daquele encontro ocasional até chegar em casa os meus pensamentos trabalhavam em looping, como se quisesse me convencer de que, sim, tudo aquilo acontecera de verdade. Como se não bastasse, aquele olhar dominador e malicioso também me acompanhara por todo aquele trajeto. Se alguém me ouvisse falando essas coisas provavelmente diria que era amor, paixão ou qualquer coisa nesse sentido. Mas não era nada disso. Era pura e simplesmente uma coisa inexplicável que se chamava Dayana.
Quando entrei em casa, minha mãe acordava de um cochilo no sofá. Olhou para mim com um certo alívio por eu ter chegado. Como falei antes, eu nunca havia perdido aquele ônibus, sempre chegava pontualmente em casa e por isso um atraso de poucas horas já era uma catástrofe para aquela pessoa excessivamente protetora. Ainda mais porque eu havia ficado incomunicável. Se bem que, mesmo que o meu celular não tivesse descarregado, talvez eu não tivesse lembrado de ligar para alguém naquela ocasião insolitamente sedutora. Ocasião a qual não saía da minha cabeça.
Minha mãe cortou o silêncio com a voz rouca oriunda de um despertar de um sono.
— Estou indo descansar agora... Tem janta em cima do fogão, se quiser. Boa noite!
— Ok, mãe. Uma boa noite!
Fui para o meu quarto e, ainda preso às lembranças sedutoras de Dayana, procurei em minha prateleira de CD's o álbum Dummy do Portishead. Coloquei-o para tocar em um volume agradável. Aquele álbum era uma boa companhia para os meus hábitos noturnos. Peguei minha toalha e me dirigi até o banheiro, meu corpo implorava por um banho quente. "Mysterons" tocava ao fundo. Despi-me completamente e, rapidamente, reparei na densa umidade erótica que se agarrava à minha roupa íntima. Um fragmento da indecência praticada horas antes. Aquilo me fez lembrar com mais clareza do desejo pecaminoso que tive de possuir Dayana, lá mesmo, naquela parada de ônibus. Lembrei do quanto aquilo havia sido excitante, cada estímulo provocado por ela, seja com palavras ou com aqueles seus toques cheios de libertinagem. Foi quando, em meio aquele banho quente, uma súbita ereção começou a se formar entre minhas pernas. O meu membro ficou inteiramente rijo em poucos segundos e pulsava ritmicamente reclamando aquele ato não consumado. Não dava pra resistir. Peguei-o pela base com minha mão direita e senti minhas veias latejando com intensidade. Com a mão esquerda, deslizei sobre aquela leve curva para a esquerda e o agarrei pela glande — ela parecia entrar em um estado de plena sensibilidade. Com as duas mãos, comecei a envolvê-lo lentamente em movimentos circulares. Gradualmente fui aumentando a velocidade. As pulsações aumentavam e pareciam chamar por Dayana. Sentia no meio de minhas pernas aquele mastro viril cada vez mais palpitante e sensível — que clamava: Dayana!... Minhas mãos rosqueavam com mais agilidade... "Dayana! Dayana!"... Minha boca soltava sussurros ofegantes compulsivos enquanto o meu corpo começava a ter contrações violentas até que eu explodisse de vez em êxtase... "Dayaaana!!!"... No auge daquele gozo solitário, meu corpo expulsava em forma de jatos claros e violentos o líquido viscoso do prazer. Senti meu corpo esmorecer em meio a espasmos de momentânea autossatisfação. Naquele mesmo instante eu pude ouvir os segundos finais da canção "It's a Fire".
Recuperado daquele ato de um desesperado tesão, aproveitei que todos já estavam dormindo, dichavei um pouco de erva e preparei um beck pra relaxar a mente. Abri a janela para a fumaça usá-la como fuga e conectei o meu celular ao carregador. Fui até a cozinha esquentar a janta e matar a fome acentuada pelos efeitos da cannabis. Minutos depois, quando voltei ao quarto, fui conferir a hora no celular. Eram quase duas da madrugada. Também tinha algumas mensagens SMS acumuladas — naquele tempo whatsapp era uma realidade relativamente distante e quase ninguém do meu ciclo social possuía smartphone, eu, por exemplo, tinha um Motorola modelo Eco W233 —. Enfim, achei melhor conferir as mensagens no outro dia, pois o cansaço já me abatia ferozmente. "Glory Box" finalizava o álbum no momento em que eu me deitava na cama para dormir. Aquele refrão me trouxe à memória Dayana me sussurrando ele no ouvido e me fez recriar, em sonhos fantásticos, aqueles últimos minutos imorais na parada de ônibus.
* * *
O meu despertador tocava às oito da manhã aos sábados, era o dia em que ia para a academia de boxe treinar. Naquele dia não foi diferente. Levantei da cama, preparei um café da manhã leve mas com proteína o suficiente para gastar no treino, tomei um banho frio revigorante, vesti-me com uma roupa leve e confortável e fui organizar minha bolsa para sair. Ao pegar meu celular, lembrei das mensagens do dia anterior e fui, finalmente, conferi-las. Por um segundo pensei na improvável possibilidade de ter recebido um SMS de Dayana. Como?! Se nem trocamos os nossos números de celular ou alguma rede social. "Porra! É verdade!", eu pensava enquanto percebia aquele meu vacilo.
Havia um total de seis mensagens e, para a minha agonia, eram todas de Marina. Cobri-me de ansiedade. Nina não esteve presente na aula da última da última sexta-feira, dia em que conheci Dayana, e tinha me enviado aquelas mensagens durante dia. Fiquei muito preocupado por não ter as lido antes, então fui abrindo com bastante pressa as mensagens uma a uma.
[NINA] Sexta-feira, 12:04hr am: Não irei à aula hoje, querido. Não estou me sentindo bem. Beijos! ;*
[NINA] Sexta-feira, 15:32hr pm: Se eu sonhar que você aproveitou minha ausência pra ir lanchar com outra garota você vai se ver comigo heim!!>.<
[NINA] Sexta-feira, 15:34hr am: Brincadeirinha, amigo :D Vai fazer o quê no domingo? Vamos chamar o Nando pra ir à praia... sei que no sábado vocês treinam, então pode ser domingo cedinho. O que você acha?
Fernando, o Nando, era um amigo em comum nosso, de longa data. Nando era o único garoto que o namorado da Nina — Leonardo — não sentia ciúmes e, mesmo assim, também não gostava dele por preconceito, porque ele era homossexual. Eu não suportava o tal Léo, era um homenzinho reacionário e cheio de moralismos. Mas voltemos às mensagens... as três últimas eram quase como súplicas desesperadas.
[NINA] Sexta-feira, 17:56hr pm: Assim que chegar em casa, me dá um toque ou manda uma SMS. Você deve ter se ocupado e por isso não me respondeu. Senti sua falta hoje.
[NINA] Sexta-feira, 20:41hr pm: Ok, por algum motivo você não pôde falar comigo hoje. Espero que esteja tudo bem contigo. Estou indo me deitar. Quero-te muito bem. Uma boa noite! ;*
[NINA] Sexta-feira, 03:13hr am: Desculpa por eu estar te enviando isso tão tarde, mas acontece que acordei há pouco e não consegui mais dormir... pensando em algo que queria contar. Se puder, vem aqui amanhã depois do seu treino. Esporo-te.
Aquelas últimas mensagens... soaram estranhas de cara. Foi a primeira vez que a Nina me mandava algo naquele tom. Eu estava muito receoso com o que acabava de ler, não sabia o quê e como respondê-la em relação aquele pedido mas, uma coisa era certa, eu não queria encontrá-la em sua casa. Por outro lado, a família dela era muito conservadora e fundamentalista, jamais deixariam ela ficar à sós com um amigo e conversar coisas em particular. Então pensei que poderia ser até algo besta e eu que estava aumentando a importância daquilo por causa da nossa última conversa. Afinal, eram mensagens, que, quando mal lidas, prevalece o tom do receptor e eu poderia ter interpretado de uma forma diferente, pois Marina era um anjo em forma de garota. Foi nesse vislumbre rápido que eu decidi fazer o que ela tinha pedido.
[ÍCARO] Sábado, 09:27hr am: Bom dia, querida amiga! Perdoe-me por não ter respondido as suas mensagens ontem. Meu celular ficou sem bateria desde cedo, cheguei tarde em casa e só tive tempo de me atualizar agora. A propósito, acho uma boa ideia ir à praia amanhã. Quando meu treino acabar conversaremos melhor sobre isso. Até logo!
Ao fim do treino, me despedi dos colegas e do professor. Saí da academia acompanhado pelo Nando, que estava empolgado com sua evolução e falava sobre participar da próxima competição. Incentivei-o e concordei sinceramente que ele já estava pronto pra tal desafio. Em seguida ele me questionou sobre o meu desempenho naquele dia em específico.
— Você não costuma ser desatento como hoje. Algum problema rolando que queira me contar? — falava ele com gentileza.
— Tem algo que irei te contar, mas não agora porque estou sem tempo. Mas tem outra coisa me preocupando, é em relação à Nina.
— Aaah... sei... — falou impulsivamente como se já soubesse de algo que eu não sabia ainda — Quer dizer, depende... o que seria?
— O que você acha que sabe? — perguntei desconfiado.
— Humm... — pensava ganhando tempo — DA PRAIA! — gritou como quem tivesse achado a melhor saída em uma situação difícil — Mas acho que não é isso que tá te preocupando.
— Não. Não é isso.
Naquele mesmo instante o meu celular vibrou indicando uma nova notificação. Apanhei-o dentro da bolsa e constatei que Marina acabava de responder a minha última mensagem. Abri o SMS imaginando que ela poderia está desmarcando aquela conversa, desistindo daquilo que, até então, só ela sabia exatamente do que se tratava. Até imaginava, mas não podia ter a certeza. De toda forma não ela não queria desmarcar coisa nenhuma.
[NINA] Sábado, 11:35hr am: Bom dia, amigo! Graças a Deus não foi nada mais grave. Estarei te esperando aqui então. Beijos! ;*
Fernando, que não era nenhum ingênuo e já parecia saber de alguma coisa confidenciada a ele por Marina — pois eu ainda não havia lhe dito nada sobre aquilo —, quando me viu lendo a mensagem deduziu na mesma hora. "É mensagem dela?", me perguntou. "Sim", respondi. Expliquei-lhe em partes o que estava acontecendo.
— Então ela te chamou pra ir na casa dela?! — demonstrava surpresa.
— Foi. À princípio me preocu... — já ia explicar minha decisão.
— Hoje? Essa hora? — Interrompeu-me.
— Sim. Tem algum problema? — perguntei desconfiado.
— Não... nenhum problema. É só que ela não costuma receber amigos em casa. A família dela é complicada, mas com certeza você não terá nenhum problema. Não se preocupa com isso.
— Você poderia vir comigo?
— NÃO! — parecia assustar-se — Digo... preciso mesmo ir pra casa agora, meus pais me esperam sempre pra o almoço, você sabe bem. — outra boa saída.
— Tem razão. Nesse caso, vou indo agora.
— Se tudo der certo, amanhã nos encontramos na praia.
— Combinado!
Seguimos caminhando juntos pelas calçadas imperfeitas das ruas do nosso bairro por alguns metros até chegarmos no ponto em que iríamos tomar caminhos diferentes. Nos despedimos com um forte abraço e tapinhas amigáveis nos ombros. Foi quando parti, ansioso e apreensivo, em direção à casa da Nina.
Marina morava em uma casa relativamente grande, residência com um toque moderno e pintada com cores claras. Não era tão distante da academia, mas já ficava em uma área mais nobre do bairro. Quando cheguei em frente a entrada, uma preocupação começava a me abater, algo me fazia pensar que uma coisa nada boa poderia começar a partir daquele encontro. Mas de súbito me conformei lembrando da família religiosa dela, o que em outra situação jamais acharia aquilo reconfortante. Geralmente eram o tipo de pessoas que me vinham com preconceitos por causa dos meus cabelos compridos, brincos, piercings, pelo estilo que me vestia ou por não possuir nenhuma religião. Enfim, tomei um pouco de coragem, toquei a campainha e demorou alguns minutos até que alguém apareceu para me receber. Era a Marina.
— Que bom que você veio, Ícaro — falou revelando apenas uns fios de cabelos recém lavados e os seus olhos por trás da porta entreaberta. Olhos ligeiramente contraídos nos cantos, que indicavam um sorriso.
Por alguns segundos, pensei em como já era incrivelmente possível deduzir beleza angelical da Nina apenas por aqueles olhos claros que tinham cor de mel, eles simbolizavam a sua doçura desde ali. Não sei o que ela havia visto nos meus que, de belos, só tinham um tom claro de castanho mas, nem de longe, exibiam tamanha graça como os dela, muito pelo contrário. Quando cruzávamos nossos olhares sentia como se o céu e o inferno entrasse em choque.
— O que está esperando? Vamos, entre! — falava com uma leve expressão de impaciência, porém de forma descontraída.
— Valeu, Nina. Com licença — falei com um sorriso meio envergonhado e fui entrando na casa.
A casa estava tomada por uma quase completa falta de iluminação, era até engraçado pensar que, simbolicamente, parecia que as trevas dominavam um ambiente onde se cultuava a luz de algo sagrado. A sala era alimentada por uma sobra de luz que vinha do fundo de um longo corredor. Voltei minha atenção para a Nina, afim de perguntar onde era o interruptor daquele cômodo, foi quando observei que ela só vestia um roupão atoalhado cobrindo a sua nudez. Aquilo me assustou um pouco, pensava na grande possibilidade dos pais dela flagrarem aquela situação, já seria uma imoralidade gravíssima para eles. Certas transgressões morais me atraíam, mas naquele caso era uma situação muito desconfortável. Mas, se os pais dela estavam em casa, porque então ela quem foi me atender na porta naquele estado?! Só então desconfiei que eles realmente não estavam lá.
— Tá meio escuro aqui, Nina... por acaso os seus pais ainda estão dormindo? — perguntei afim de que ela me revelasse logo a verdade.
— Não. Todo sábado eles vão à igreja para um estudo bíblico. Pensei que soubesse, se não me falha a memória os seus pais também vão. — ela parecia surpresa.
Eu nunca prestei muita atenção nas atividades religiosas dos meus pais e, depois de um bom tempo, eles não tentavam mais me obrigar a nada nesse sentido. Contudo, Nina tinha razão, eles sempre saíam aos sábados com suas bíblias e apostilas embaixo dos braços.
— Então, quando você aceitou vir até aqui me encontrar, não sabia disso? — indagava-me com uma feição desenganada.
Marina parecia ter arquitetado aquele encontro para ser apenas nós dois. Era um tipo de astúcia que contrastava com a sua pureza. Pureza essa que fazia transparecer claramente a sua decepção ao saber que eu não esperava encontrá-la a sós. Nina era transparente como Dayana, mas de uma maneira quase inocente.
— Realmente não sabia, Nina. Isso teria alguma importância? — eu só queria arrancar dela as suas intenções com aquilo tudo. Estava com muito receio de ela estar pensando em fazer alguma besteira por causa da nossa última conversa, apesar de ela nunca ter demonstrado ser alguém possessiva.
— Eu só queria conversar em paz com você. Só nós dois. Só queria entender de uma vez, Ícaro... — a boca de Nina começou a se contrair compulsivamente e seus lindos olhos cor de mel, fixados aos meus, exibia uma lágrima solitária escorregando lentamente do seu olho esquerdo até se perder por baixo do queixo.
— Calma, Nina — afaguei-a passando minha mão em seus cabelos ruivos e ainda úmidos —. O que você gostaria de entender? Pergunte-me! — tentei tranquilizá-la.
— Só se me prometer, pela nossa amizade, que você será cem por cento sincero comigo. — dizia tentando se acalmar em meio a comportadas fungadas de nariz, tentando impedir o choro que se preparava para aparecer.
— Eu prometo — respondi com um pouco de receio daquilo, mas eu falava a verdade. Seria sincero com ela e acabaria com aquela situação complicada de uma vez.
Nina mudou sua expressão, como se tivesse lembrado do porquê ela tinha me chamado ali. Observava-me de forma séria, com aquela face lindamente pálida e com lábios rosados.
— Você realmente não sente nenhuma vontade de namorar comigo? — foi direto ao ponto.
— Desculpe-me, Nina... mas não sinto.
— Você nunca me olhou com nenhum outro tipo de sentimento além de amizade?
Naquele momento eu só pensava em fugir daquela casa. "Desgraça!", pensei. Eu não queria e não iria mentir para Nina e ela conseguiu me encurralar já na segunda pergunta. Ela começava a parecer Dayana, mas de um jeito diferente. Era como se as duas formassem a dualidade do universo, como o "Yin-Yang" representa no Taoismo.
— Responda-me, Ícaro! Nunca me olhou com outra intenção além de ser meu amigo?
— Nina... — eu pensava em mil coisas para dizer, mas não vocalizava quase nenhuma delas — ... sabe que te tenho muito respeito e em grande estima...
— Sim, eu não tenho nenhuma dúvida quanto a isso. Não foi isso que eu te perguntei.
— Tudo bem, eu entendi sua pergunta e irei respondê-la... — não dava pra ignorar aquilo, eu precisava enfrentar a situação — Por um momento eu te desejei.
— Desejou-me como?
Do jeito que Marina conduzia suas perguntas, tinha receio daquilo sair do controle. Eu nunca imaginei ter que falar sobre as indecências que eu desejava com ela, muito menos pra ela. Mas eu não tinha mais saída, ela queria a verdade e precisava aguentá-la.
— Tem certeza que quer continuar com isso, Nina?
— Ícaro, eu notava alguns olhares desejosos seus direcionados a mim. Talvez você não notasse que o fazia, mas eu acreditava que você sentia algo a mais por mim. Agora tenho a certeza, mas quero entender que tipo de coisa você sentiu por mim durante esse tempo que você acaba de falar.
— Desejava coisas que não são condizentes com a sua pureza, você não merece ouvir tamanho despudor.
— Sexo... então, desejava-me sexualmente. Era isso?
Impressionou-me a naturalidade que ela falou aquilo. Talvez eu não a conhecesse ao ponto de imaginar que ela falaria abertamente sobre sexo comigo, muito menos a sós e na sua própria casa que, só na sala de visitas, era arrodeada de quadros decorativos com conteúdos e frases específicos da bíblia.
— Sim, Nina. Mas não só isso... — estava decidido a contar toda a verdade. Queria alcançar a segurança de Dayana e começaria enfrentando a mim mesmo.
— Sente-se aí no sofá e me conte tudo então!
Sentei-me naquele imenso e aconchegante sofá. Entretanto Marina ficou em pé na minha frente, vestida apenas com aquele roupão de banho que exibia parte dos seus seios modestos e bem desenhados entre o "V" que se formava sobre o seu busto. Ela apanhou um copo d'água que havia deixado num móvel ao seu lado e tomou um gole. Olhou-me com uma expressão mais tranquila, porém curiosa.
— Pode continuar, querido — falou dessa vez com a sua voz suave de sempre.
— Bem, Nina. Prometi ser totalmente sincero e serei. O que direi a partir de agora não será nada bom, moralmente falando. Eu nunca fui de me importar com o que é ou não moralmente correto sob o manto fundamentalista das religiões cristãs, mas também nunca ultrapassei nenhum limite do respeito que tenho pelas pessoas que gosto.
— Você sempre foi muito educado e respeitoso comigo. Até quando te dei brechas para não o ser. Isso foi uma das coisas que só aumentou o que eu comecei a sentir por você.
— Sentimentos que eu não merecia, pois eu só senti desejos libidinosos em relação a alguém tão casta quanto você. Senti desejos pela sensualidade angelical que o seu corpo me transmitia. Desejei possuí-la diversas vezes de forma profana, de forma a transgredir toda a moral que você acredita. Por isso, Nina, que não me acho merecedor da pureza da sua amizade e, muito menos, do seu amor.
De pronto Marina lançou em minha face quase toda a água que restava no copo que ela segurava. Por mais que parecesse um ato de raiva ou de desaprovação com o que acabava de ouvir da minha própria boca, ela não indicava isso em sua expressão. Olhava-me com uma certa surpresa, arregalando levemente os seus olhos, enquanto tomava a água que havia sobrado no copo. No entanto, eu já me preparava pra levantar do sofá e avisar que era melhor eu ir embora mas ela foi mais rápida em me conter.
— Desculpe-me, Ícaro. Minha indelicadeza foi fruto de espanto com o que acabei de ouvir — ela tinha uma das mãos em meu peito, em um claro sinal de que não me deixaria ir naquelas circunstâncias.
— Não se preocupe. Entendo a impudência das minhas palavras. Eu que te devo desculpas. Vou-me embora, acho que você já ouviu besteiras demais.
— Não! — exclamou Nina enquanto, num ímpeto feroz, pulava sobre mim, agarrando-me ao mesmo tempo com os braços e as pernas.
— Quê?! Cuidado! — alertei em vão enquanto caíamos sobre o sofá.
Senti o corpo parcialmente úmido dela sobre mim. Segurava meus ombros com as mãos e, com as pernas, firmava sua posição sobre minhas coxas. Para minha surpresa, o "V" que o seu roupão tinha sobre o seu busto transformou-se em um enorme "U", que veio a expor a completude daqueles seios petulantes de tamanho médio e muito atraentes. Nina me encarou sem se preocupar com suas pomas à mostra, fitava-me com uma certa confusão. Minha atenção estava dividida entre a face dela e aquelas circunferências que portava lindas aréolas rosadas e arrebitadas. Foi quando ela se levantou apressadamente ajeitando o seu roupão e ficou de pé em minha frente outra vez, eu continuava sentado com os braços e pernas espaçados na mesma posição de quando havia caído.
— Você não vai sair daqui todo molhado assim. Pode ir até o meu banheiro e usar uma toalha minha para se enxugar — falou-me enquanto apontava a direção do quarto.
— Posso usar o banheiro das visitas mesmo, não tem problema.
— Não costumo usar esse banheiro e não quero que meus pais, detalhistas como são, acabem percebendo que mais alguém esteve aqui comigo.
— Como quiser.
Marina me acompanhou até o seu quarto, descobri que era de lá que vinha o vestígio de luz que eu avistava da sala. Era um cômodo muito organizado. Tinha uma escrivaninha com um notebook, algumas folhas e um organizador de lápis. Tinha uma penteadeira posicionada a baixo de uma janela, que estava fechada, coberta por uma bonita cortinha branca de led. Também tinha um enorme guarda-roupas que parecia ser de madeira maciça e, ao lado, uma estante com objetos de séries e filmes que ela gostava. Por fim, uma cama espaçosa, dessas que chamamos "solteirão", parecia ser confortável e aconchegante.
Dirigi-me ao banheiro de Nina e fechei a porta ao entrar, não queria ter que enfrentá-la caso ela tivesse uma outra atitude repentina como teve minutos atrás na sala. Eu havia percebido, pela primeira vez, mesmo que por poucos segundos, um desejo em seus olhos e tinha que evitar uma eventual possibilidade de ter que lutar para rejeitar todo o deleite que o seu corpo tinha a me oferecer.
Peguei a toalha e comecei a enxugar o meus rosto, sentia resquícios do cheiro de lavanda do sabonete que ela usava e pensava que ela estava naquele mesmo cômodo, desnuda, coberta apenas por aquele roupão atoalhado, lembrei-me dos seus lindos seios portando aqueles mamilos pontudos e bem rosadinhos. Aquilo não era nada bom, aquelas fantasias de antes poderiam voltar. Eu precisava sair dali o quanto antes, lutar contra a ameaça daqueles desejos de um passado recente. Meu órgão genital se encontrava parcialmente ereto, percebi ao urinar. Apressadamente, lavei-me, enxuguei-me e fui saindo do banheiro.
— MARINA! — assustei-me ao ver que Nina me esperava em seu quarto com o roupão completamente aberto, erguido em seus braços, revelando todo o seu corpo.
— Eu sei que você me desejou outra vez lá na sala. Vi como olhava para os meus seios. Você ainda deseja me possuir.
— Por favor, não faça uma coisa impulsiva dessa, Nina!
— Talvez eu não seja tão pura quanto o sentimento que eu desenvolvi por você, Ícaro. Por isso, você pode até não se achar merecedor de tamanha pureza, mas eu me acho merecedora do seu despudor. Quero que me possua agora, com toda a indecência que um dia você sonhou! — ela falava em um tom mais alto, como quem finalmente expunha pensamentos que parecia confrontar na intimidade de sua mente.
Marina se lançou em minha direção a passos apressados, dei um passo para trás numa reação involuntária de defesa, bati com as costas no guarda-roupas e ela se jogou sobre mim enlaçando-me em seus braços pequenos e delicados. Eu tive medo de machucá-la em uma ação impulsiva ao tentar me livrar daquela investida, então ela me empurrou em direção à sua cama. Ao cair sobre aquele colchão macio, virei-me rapidamente e flagrei a porta fechada. "Trancou-se aqui comigo", pensei. Nina apagou a luz e ligou o led de sua cortina, fazendo o quarto ficar inteiramente em um tom suave de azul. Ela, finalmente, se livrou de vez do roupão, deixando-o cair no chão. A única peça de roupa que Nina usava naquele momento era uma calcinha básica da cor branca, de cintura baixa, com curtos babados nas extremidades e um lacinho no centro da parte superior. Sua pele era pálida, de modo a quase refletir o azul das luminárias da cortina, e além das atrativas mamas já reveladas, Nina tinha um corpo inteiramente delicado e tentador. Portava uma cintura magrinha, sustentada por um quadril levemente mais largo que os ombros, dando ao seu corpo a forma de uma deliciosa pera. Ela se dirigia à cama de maneira inocentemente provocante. Aquelas fantasias depravadas que eu desejava realizar com ela voltavam a assolar a minha mente.
— Tira essa camisa molhada, Ícaro! — ordenou-me.
— Nina...
— Agora! — insistiu.
— Eu acabei de sair de um treino e mal me lavei em seu banheiro.
— Pois eu acabo de ter uma ótima ideia...
Só soube depois, mas na hora em que cheguei ali na casa de Marina, ela estava tomando banho. Tinha acabado de lavar os seus belos cabelos lisos e longos quando toquei a campainha. Assim sendo ela interrompeu o seu banho e foi correndo me atender na porta.
— Você irá me acompanhar enquanto termino o meu banho.
— Tenho alguma outra escolha?
— Estar aqui, trancado, quando os meus pais chegarem e eu dizer que você me seduziu — exibiu um sorrisinho safado ao fim da sugestão.
— Não parece uma boa opção — respondi aceitando a situação.
Nina ainda parecia meio insegura de como estava fazendo as coisas, mas tinha segurança no que queria fazer. Subiu na cama e, de joelhos, engatinhou devagar até quase encostar seus lábios nos meus. Eu a observava hipnotizado e extremamente excitado. Minha bermuda era de um tecido fino e, exibindo em alto relevo o volume do meu membro saliente, cuidou de me acusar para Marina que, por sua vez, sentou-se voluptuosamente sobre ele. Seus lábios aprisionados dentro da sua roupa íntima, parecia tentar abraçar o volume dentro da minha. "Foda-se!", eu disse pra mim mesmo e me entreguei. Agarrei-a na cintura, ela deixou deixou escapar um sussurro agudo de surpresa, fui deslizando firmemente minhas mãos até o seu quadril. Automaticamente, tomada pela libertinagem, ela se pôs com a coluna o mais ereta que pôde, enquanto eu apalpava-lhe as carnes das nádegas. Nina subia e descia em meu colo e eu sentia ela esfregar sua vulva em mim durante aquele movimento travesso. Puxou-me contra o seu corpo, deixando-me igualmente ereto, colado pele na pele com ela, agarrou-se em meus cabelos e subia e descia. Tirou-me a camisa e me agarrou outra vez, espremendo seus duros seios contra o meu corpo. Beijou-me o pescoço, um beijo bem molhado.
— Pra quem saiu de um treino e lavou-se de forma rápida, o aroma dos teus bálsamos são melhores do que todas as especiarias — sussurrou com uma voz trêmula coberta de prazer.
— Não sabia desse seu lado poético — sussurrei de volta.
— Isso é Cânticos. Capítulo quatro, versículo dez.
Aquilo foi profanamente excitante. Penetrei vulgarmente a minha línga em sua boca, beijei-a lentamente sentindo cada movimento. Coloquei-a de joelhos, com os seios me encarando bem nos olhos. Subitamente ela os jogou contra o meu rosto, beijei-os também até perceber que os mamilos haviam se endurecido, então comecei a envolvê-los com minha língua, variando entre movimentos verticais, horizontais e circulares. Ela gemia um som gostoso no meu ouvido.
— Arrebataste-me o coração! Ó, Ícaro... Tão melhor é o teu amor do que o vinho! — sussurrava em êxtase frases aleatórias dos versículos contidos no capítulo quatro do livro Cântico dos Cânticos, do velho Testamento.
Nina não só estava se entregando para mim, ao prazer carnal, ela também estava transgredindo algo que, para ela, deveria ser extremamente sagrado. Aquele seu ato de rebeldia moral me deixava cada vez mais excitado, àquela altura eu desejava possuí-la com mais força do que em dias passados. Nina era uma profusão de prazeres. Levei minhas mãos até as extremidades da sua roupa íntima, comecei a arrastá-la para baixo, ela se pôs de pé facilitando a remoção da última peça de roupa que a cobria. Deitei-me com a cabeça em seu travesseiro macio e, por alguns segundos, admirei aquela linda tulipa, ainda por desabrochar.
— Senta-te em meu rosto, deixa-me beijar os teus lábios de baixo agora.
Assim Nina o fez. Desceu e, com suas coxas, envolveu-me a cabeça enquanto repousava sua linda flor cor de rosa sobre os meus lábios molhados. Resvalei minha língua ao redor de seus lábios maiores, ela reagiu como se houvesse levado um choque e agarrou forte nos meus cabelos. Depois, ela mesma, passou a movimentar seu quadril e, segurando minha cabeça, guiava todo aquele regojizo oral. Assim ficamos por, mais ou menos, cinco minutos. Nina balançava suas ancas enquanto eu a devorava com beijos, lambidas, chupões... Sentia suas pernas estremecendo, tamanho era o seu prazer.
— Os meus lábios gotejam a doçura dos favos de mel, ó Ícarooo! — enquanto parafraseava mais um versículo dos cantares de Salomão, explodiu em um intenso gozo, apertando-me a face com as coxas e, com uma voz trêmula, completou — meu leite e mel estão, agora, debaixo da tua língua!!!
Eu estava sedento pelo corpo de Nina, queria penetrá-la de todas as formas possíveis. Na hora do seu clímax, ela havia se atirado pra o meu lado esquerdo, depois virou-se e me abraçou carinhosamente colocando um de suas pernas sobre o meu abdômen. Foi quando ela sentiu o volume saliente ainda presente entre as minhas pernas.
— Vamos nos banhar agora! — levantou-se me puxando em direção ao banheiro.
Entrando no banheiro, vi em detalhes aquele seu corpo excessivamente branco. Sua púbis exibia um festival de pelinhos finos e alaranjados. Nina abriu o box do banheiro e me chamou para acompanhá-la no chuveiro. Despi-me por completo, revelando o meu membro que, completamente ereto, parecia encará-la com volúpia.
— Meu Senhor! Este mastro me preencherá inteira.
— Não precisamos seguir com isso, Nina.
Marina puxou-me para ela e, embaixo do chuveiro, começou a envolver o meu falo com a sua boca, tentando, gradualmente, engoli-lo o máximo que conseguisse. Ela engasgava, parava e respirava um pouco, depois voltava cheia de apetite.
— O teu mastro rijo é como a torre de Davi, edificada para suportar o peso das armas mais pesadas — dizia-me ofegante, entre as pausas rápidas que fazia para respirar.
Apesar da falta de experiência, Nina mostrou que conseguia usar sua boca satisfatoriamente para aqueles fins. Quando ela notou que eu estava prestes a atingir o auge do meu prazer, parou abruptamente. Àquela altura, ela já sabia que aquelas coisas profanas que ela parafraseava com uma rebeldia imoral, deixava-me ainda mais excitado.
— Eu sou um jardim trancado, uma nascente fechada... Ó Ícaro, eu te imploro, rompe-me essa fonte! Penetra-me o jardim!
— Não tenho certeza se devo, Nina... apesar da minha extrema vontade de fazê-lo. Parece-me um passo muito grande para você.
— Penetra-me! Rompe-me! — repetiu enfaticamente.
Toquei-lhe entre as pernas, vi que ela estava muito lubrificada. Então a penetrei primeiro com o meu dedo médio, com movimentos suaves, enquanto estimulava a mim mesmo com a outra mão. Nina se contorcia e pedia para eu a penetrar.
— Rompe-me a fonte, Ícaro!
Naquele instante eu começava a abrir os portões do jardim intocado de Nina, adentrando-me calmamente à procura da única flor que faria transbordar a minha fonte de prazer. Sentia-me envolvido dentro daquele jardim onde prevalecia o cheiro gostoso de lavanda, contudo era a tulipa, aquela linda florzinha cor de rosa, que eu queria ver o seu desabrochar. Até que...
— Aaaai!!!
— Não precisamos continuar, Nina — disse eu enquanto desejava não parar de maneira alguma.
— Não, Ícaro. Já é hora do desabrochar das flores, continua a explorar o meu jardim!
Foi quando finalmente adentrei por completo naquele jardim e vislumbrei o desabrochar daquela linda tulipa. Eu não queria mais parar. Não conseguia abandonar aquele jardim. Eu saía, mas logo entrava de novo. Saía e entrava, repetidas vezes. Cada vez mais envolvido naquele quente e úmido jardim. Não aguentava mais, eu tinha que sair de vez agora!
— Ooooh! — eu, finalmente, chegava ao clímax. Minha fonte de prazer transbordava no chão, misturando-se ao líquido avermelhado daquela iniciação profana. Minha vontade era aguar todo aquele jardim, que exibia a mais linda das tulipas que eu já havia visto.
— Um dia tu serás a fonte do meu jardim.
Minutos depois, enquanto eu me enxugava, escutamos o barulho da porta se abrindo. Eram os pais da Nina. Entrei em desespero. Ela abriu a janela do quarto e sugeriu que eu fugisse por lá. A mãe dela bateu na porta.
— Marina! Por que está trancada?
— Estava no banho, mãe! Já abro, estou me trocando.
— Tudo bem, filha. Mas saia logo para almoçarmos.
Vesti-me rapidamente e peguei minha bolsa enquanto Nina afastava as cortinas. Apoiei-me cuidadosamente na penteadeira e saltei pela janela. Por fim, quando já me preparava para sair furtivamente, ouvi um "psiu" vindo da janela. Nina, com aquele seu rostinho angelical, observava a minha fuga. E naquela ocasião, apesar de eu ser o fugitivo, só conseguia pensar que a maior fuga foi a da Nina, pois ela era um anjo cheio de graça com um lugar reservado no céu, mas que escancarou as portas do seu jardim sagrado para que eu cometesse a maior das profanações, abdicando do seu posto, tornando-se um anjo decaído. Nina foi um anjo que, por minha causa, abandonou o paraíso que a esperava.
— Um dia tu serás a fonte do meu jardim, ó Ícaro!
(Continua...)
________________________
© Todos os direitos reservados. Este conto está publicado oficialmente em: site "Casa dos Contos Eróticos"; blog "Sativos Devaneios"; e "Wattpad". Qualquer publicação feita além desses três endereços será considerada plágio. Agradeço a compreensão.