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• Capítulo 3 ~ MACIA COMO ALGODÃO, CÁLIDA COMO FOGO
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Eu já os relatei duas situações até aqui. Na primeira discorri sobre o encontro acidental numa parada de ônibus que me levou a conhecer Dayana, a garota misteriosa que carregava os discos de vinil, que muito mexeu com meus desejos e pensamentos apenas com palavras firmes e uma mão indecente. Na segunda, à Marina, a garota angelical a quem destinei tantas fantasias sexuais impuras e com quem tive um encontro moralmente imundo e profanamente prazeroso logo no dia seguinte. Agora, sinto que precisarei vos apresentar ao Fernando, o meu melhor amigo, que será parte fundamental no desenrolar dessa narração.
Continuemos, então, depois da minha fuga da casa de Nina.
* * *
Quando estava chegando em casa, ao fim da tarde daquele sábado dolosamente profano, o prazer e a culpa se chocavam violentamente no âmago da minha mente. Eu havia me embebido de um gozo celestial em meio as trevas azuladas de um ambiente sacro que era dominado por um anjo infernal. Um anjinho límpido e ardente, de pele alva como neve e madeixas ruivas como chamas. Anjo o qual, há poucos minutos atrás eu sussurrei, em gemidos trêmulos de êxtase, o seu nome... Nina. Uma garota angelical dona de um lindo jardim fechado onde guardava toda a ternura de uma tulipa, até então, intocada. Agora carrego comigo a responsabilidade opressora da abertura dos portões daquele jardim e do desabrochar daquela delicada florzinha rosada. Minha consciência que, até hoje de manhã, banhava-me com as deleitáveis lembranças de Dayana, agora me afogava em um profundo lago de dicotomia. "O que será da minha relação com a Nina agora?", massacrava-me em pensamento. Eu tinha ciência do seu pleno amor por mim e, agora, ela sabia do meu impetuoso tesão por ela. Qual desses dois sentimentos ela iria preterir dali em diante, era a minha maior dúvida. Estranho eu ter que me sentir dessa forma, já que havia realizado uma fantasia outrora tão desejada. Freud explica?
Acabava de entrar na rua em que morava, caminhando em direção à minha casa. Avistei Fernando, sentado no muro baixo da sua residência, fumando um cigarro enquanto ouvia música em uma caixinha de som. Ele sorriu em minha direção e levantou a mão direita em um aceno — O Nando tinha se mudado para o meu bairro quando tinha uns doze anos e, desde então, morava em frente à minha casa. Na ocasião a qual eu os relato neste momento, ele tinha dezenove anos. Quando me encostei no muro, ao lado dele, percebi que estava ouvindo "Love is Love", do Culture Club. Nando amava Boy George. Ele cantarolava o refrão daquela canção, gesticulando com os braços de uma maneira propositalmente cômica, enquanto sorvia a fumaça do seu cigarro e depois a libertava no ar.
— Arruma-me um desses — pedi-lhe um cigarro e achava graça daquela cena.
— Só se você aceitar ficar a sós comigo na minha casa também — entregava-me uma unidade do seu maço enquanto gargalhava na minha cara.
— Então você realmente sabia aquele tempo todo. Por isso se espantou quando falei que estava indo até a casa da Nina naquele horário — falei no instante em que pegava o fumo de sua mão.
Nando balançava a cabeça em um sinal positivo, exibindo um sorriso preso que envolvia sua cigarrilha, ao mesmo tempo em que acendia a que repousava em minha boca. Revelou-me que também sabia dos sentimentos amorosos de Nina em relação a mim, mas que não queria se meter naquilo tudo.
— És meu amigo! Não precisas guardar coisas desse tipo, ainda mais quando eu não sabia que estaria sozinho naquela casa que mais parecia um templo religioso.
— Espera um pouco, como não sabias que os pais dela estariam na igreja durante aquele horário se os teus pais congregam no mesmo lugar?
— Tu sabes que não presto atenção nessas coisas.
— És um adolescente bronco mesmo — ria-se de mim.
O céu, cheio de nuvens sombreadas, cobria-se em um tom de laranja, avisando que o sol pôr-se-ia dentro em breve. Conversávamos sobre coisas aleatórias quando apagamos o resto de brasa de nossas piolas no cinzeiro que estava entre nós. Nando entrou na sua casa e, segundos depois, voltou trazendo uma garrafa de água e dois copos. Serviu-nos. Eu continuava na calçada, escorado no muro, de costas para a casa. Ele estava, agora, do outro lado, inclinado sobre o mesmo muro. Entre nós estavam um cinzeiro com cinco piolas, um maço de cigarro, uma garrafa de água e a curiosidade do Nando sobre o que aconteceu, mais cedo, na casa da Marina.
— Mas, e aí... resolveram o quê? — perguntou-me tomando um trago da água em seguida.
— Nada!
— Nada?! O que isso significa?
— Nós complicamos ainda mais as coisas.
— Como isso seria possível? — Nando carregava suas palavras com uma evidente surpresa e muita curiosidade.
Bom... vocês já sabem muito bem, com todos os detalhes possíveis, o que aconteceu entre eu e a Nina nesse dia em questão. Foi o que contei para o Nando naquela conversa, sem riqueza de detalhes, obviamente. Acho que não preciso relatar que não contei por vaidade, para me vangloriar e etc. Eu só queria expor minhas contradições para alguém de confiança e não havia outra pessoa na minha bolha social que eu confiasse mais e que me ouvisse tão bem quanto o Fernando. Então, contei-lhe tudo que era necessário ele saber.
— Caralho! Ícaro!!! — Fernando ria um riso nervoso, sobretudo surpreso.
— Eu sei... foi muito errado.
— Vocês são dois diabos! Afastarei-me de vocês... fornicadores!— agora soltava uma gargalhada, brincando com a situação.
— Sério, cara. Encontro-me confuso, preciso que me diga algo.
— Isso é complicado demais...
— Pensei sobre a família dela descobrir, ou ela mesma contar, em cada minuto desde que saí da casa dela até chegar aqui na sua frente.
— Se bem que, pelo o que conheço da Nina, ela não contaria. Mas se os pais desconfiar e pressionar, ela não pode acabar o fazendo — assumia um ar de preocupação.
— Acho que o que conhecemos da Nina não é mais parâmetro. Nunca imaginaria que ela poderia agir como agiu comigo há poucos minutos na própria casa. Sei que eu cedi a tudo no fim, mas nunca achei que seria possível de acontecer tal coisa.
Fernando me olhava com certa desaprovação, fez-me perceber no mesmo instante a deslealdade da minha fala. Já esperava o seu justíssimo sermão, dava-lhe razão antes de ouvi-lo.
— Ícaro... nesse sentido quer dizer que não posso achar que conheço nem a você, amigo. Pois eu nunca imaginei que você tivesse tal desejo pela Nina, ou que aceitasse desvirginá-la.
— Tem razão... quando estou confuso, acabo sendo mais hipócrita que o normal.
— Relaxa. Precisas descansar. Amanhã, na praia, você esclarece de uma vez que não sentiu nada além de desejo carnal por ela.
— Verdade, iremos à praia amanhã! — já havia me esquecido disso, será que ela ainda iria depois de tudo? Será que eu deveria ir? — Mas, enfim... ela já sabe disso tudo. Fomos muito sincero um com o outro em relação aos nossos sentimentos.
— Nesse caso, — Nando começou a massagear meus ombros de maneira descontraída — só tens que ir para casa, tomar um banho bem gostoso e dormir um bom sono.
Finalizou a "massagem" com um leve tapa em minha nuca descoberta — eu usava um coque estilo samurai —, e me empurrou as costas como se quisesse me apressar a fazer o que ele acabava de sugerir. "Vai, estúpido!", disse-me Fernando com um sorriso afável no momento em que o céu começava a perecer diante das trevas e as poucas luzes dos postes, que funcionavam naquela rua, começavam a acender. A cantoria barulhenta dos grilos disputava lugar com a caixinha de som do Nando que ainda tocava Culture Club, dessa vez a música "Church Of The Poison Mind".
— Que coincidência tocar essa música logo agora — disse-me com hilaridade.
— Cômico — respondi propositalmente insípido, mas reconhecendo a graça daquilo.
Enquanto eu caminhava até o portão de casa, escutava o Fernando cantando trechos da música que se encaixavam risivelmente — ou tragicamente — com o momento."Into a life of maybe, love / Is hard to find / In the church of the poison mind", cantava tentando tirar aquela tensão em que me encontrava. Depois me olhou com uma feição mais séria, porém que emanava companheirismo.
— Não esqueci que você tem outra situação, além dessa da Nina, pra me confidenciar, hem?!
— Não esqueci. Não te preocupes quanto a isso.
— Bom descanso, cara! Sabe que pode contar comigo pra qualquer coisa — falou-me enquanto eu fechava o portão.
— Tenho certeza disso. Obrigado, meu mano!
* * *
Na medida em que adentrava em meu quarto pensava no quanto me era importante a amizade que eu havia construído com o Fernando, apesar do começo embaraçoso que tivemos. Sempre fomos muito parecidos e, por isso, nos entendíamos muito bem. E, naturalmente, divagando sobre o início da nossa relação, imaginei que tudo poderia ter sido diferente entre nós. Explico.
Desde quando o Nando se mudou para o meu bairro ele recebia uma total indiferença da galera da nossa idade por causa do seu jeito feminino. Não chegou a receber mais do que indiferença porque sempre foi do tipo atlético e todos sabiam que ele praticava Judô — inclusive foi o Nando quem me incentivou a praticar Judô também, posteriormente migramos para uma academia de Kickboxing —. Enfim, tinham medo dele e não ousavam avançar com os preconceitos. Lembro-me de uma única vez, que um garoto recém chegado no bairro, que era de um tipo forte, achou por bem, no meio de uma pelada*¹, fazer uma "piada" homofóbica com o Nando e acabou desacordado com um único soco. Foi a primeira e última vez que isso aconteceu. Nós já tínhamos uma certa amizade e, na ausência do Nando, alguns colegas até zoavam comigo por andar com ele. Mas, depois do incidente do outro dia no campo, gradualmente a galera começou a respeitá-lo e os sarros que tiravam comigo foram diminuindo com o tempo.
Fernando era um garoto de muito boa aparência. Além do porte físico privilegiado, tinha aparentes traços indígenas herdados da família de seu pai, tinha pele em um charmoso tom avermelhado, longos cabelos negros escorridos até metade das costas, um rosto com traços delicados iguais aos da mãe e não era nem muito alto e nem baixo. Chamava a atenção de todas e todos.
Éramos pré-adolescentes e tínhamos bons meses de amizade quando Nando me convidou para passar uma virada de ano numa casa de praia que a família dele sempre alugava. Lembro-me que tinha uma boa quantidade de pessoas na casa entre pai, mãe, tios, tias, primos, primas e etc. Estavam todos bebendo coisas como cerveja, vodka e champanhe. Foi o primeiro contato que tive com bebidas alcoólicas e não foi muito bom. Eu estava flertando com uma prima do Fernando — que se chamava Jéssica. Tomamos, escondidos, algumas doses de vodka combinadas com refrigerante de limão. Depois fomos para o quintal da casa, onde havia uma árvore com uns banquinhos de ferro, pintados na cor branca, bem embaixo. Constatamos que não havia ninguém por perto, sentamo-nos ali mesmo, em meio ao breu, e começamos a entrelaçar nossas línguas em longos beijos molhados. "Estou toda molhada, quer sentir?", sugeriu-me Jéssica. Foi ali que começamos a nos tocar com devassidão envolvidos pela lascívia daqueles afagos secretos. Fomos evoluindo em nossa libertinagem até que percebi o Nando nos observando do corredor enquanto Jéssica, de joelhos na grama, com a cabeça entre as minhas pernas, esmerava-se com meu rijo falo numa deleitosa felação. Quando notei o flagrante momento, aquele regozijo foi cortado de súbito. No impulso empurrei Jéssica, que ainda me envolvia com a sua boca e foi parar sentada na grama, enquanto o meu membro tremulava no ar salpicando gotas de sua saliva. Jéssica aplicou-me uma bofetada na cara sem entender o que havia acontecido, mas quando deu de ombros para se evadir pelo beco, olhou-me com uma feição de desculpa. "Desculpem-me, não queria atrapalhar. Só estava apertado para urinar e os banheiros da casa estavam ocupados...", Nando ficou se explicando para nós como se fosse ele quem estivesse se embebendo de libertinagens às escondidas. "Não ouse contar para ninguém", advertia-lhe Jéssica na hora em que fugia do local com pressa. Sobramos só eu e o Nando, encarando-nos, naquele quintal escuro.
— Desculpe-me, Nando! Você me convidou com todo apreço e eu te retribuí dessa forma.
— Relaxa, cara. Foi você quem saiu no prejuízo — zombava de mim e gargalhava da minha cara de pavor. Percebi com o tempo que ele tinha aquele costume de rir de situações complicadas, pra tentar enfrentá-las com descontração.
— Tu me destes um grande susto — começava a rir junto com ele.
— Eu sinto muito. Foi a sua primeira vez?
— Bem... não houve... como posso dizer... — tinha vergonha de falar sobre aquilo.
— Penetração?!
— Erm... isso.
— Cara, ela tinha o seu pênis dentro da boca. Sexo não é só sobre introduzir seu membro numa vagina.
— Fala baixo, Nando! Por favor, cara.
— Não se preocupa. Atrapalhei o seu primeiro regojizo sexual e tô te devendo uma. Prometo que ainda hoje vou te recompensar — piscou o olho para mim e fez um sinal positivo com o polegar.
A família de Fernando começava a se reunir aos montes na frente da casa, já estava perto da meia-noite, uns enchiam suas taças de champanhe enquanto outros organizavam seus fogos de artifício. Foi nesse instante que o Nando me chamou para voltar ao quintal, dizendo que tinha algo pra gente experimentar. Ele tinha um enorme cigarro de maconha em um de seus bolsos. "Peguei na bolsa do meu tio, o pai da Jéssica", explicou-me. Resisti por alguns segundos, afinal eu já estava um pouco bêbado, mas acabamos seguindo com o plano dele. Recordo-me de termos conseguido fumar mais da metade daquele beck. Sentia-me tão leve que parecia ter perdido a minha noção de gravidade. Sentia-me flutuante como uma nuvem e sensível como o olfato de um felino. Por fim, sentia-me plenamente relaxado.
— Essa é a melhor sensação do mundo — eu dizia.
— Diz-me isso porque, por minha causa, tu não sentiste o júbilo que minha prima tinha para te oferecer — respondeu-me Fernando.
— Não esquenta com isso. Contento-me em sentir o prazer que o THC*² está me proporcionando agora.
— Já vistes duas pessoas transando, ao vivo, na tua frente? — perguntou-me repentinamente.
— Quê...?! Não! Como poderia ter visto uma coisa tão íntima?!
— Não é tão difícil assim, afinal, eu vi algo parecido ainda hoje — provocou-me brincando, mais uma vez, com o flagrante que havia me dado.
— Vai-te direto ao ponto — pressionei-o a parar com a zoação.
— O pai da Jéssica tem o costume de romper o ano transando com as namoradas que ele traz para cá. Já foi flagrado várias vezes por familiares desavisados. Não posso te trazer a minha prima de novo, mas ao menos posso te levar para assistir uma mulher adulta se deleitar em um frenesi de indecências.
Só de ouvir o Nando falando aquilo, fui acometido abruptamente por um fervor em minhas circulações sanguíneas, estava mais sensível a certos estímulos por causa da cannabis.
— Como conseguiria fazer uma coisa dessa? — perguntei.
— Vem comigo agora!
Fernando me levou até uma espaçosa suíte quase que inteiramente vazia, se não fosse por uma cama de casal e um enorme guarda-roupas. Pediu-me para ir com ele até aquele armário, nos escondermos lá dentro e esperarmos até o momento certo. O guarda-roupas não continha uma veste sequer ou qualquer outra coisa dentro, era dividido em três grandes partes e tinha portas de trilho. A parte do meio e a da direita estavam praticamente unidas em uma só, pois a divisão entre as duas havia sido retirada por algum motivo desconhecido para nós. Nando sugeriu que ficássemos justamente nesse espaço. Enfim, entramos e fechamos as portas. Ficamos de joelhos, porém com o corpo ereto, era bem espaçoso lá dentro e tínhamos uma certa liberdade de movimentos.
— Deixa uma fresta na sua porta, pra quando eles entrarem você não fazer mais nenhum barulho — apontou-me Fernando.
— Abrirei um pequeno espaço do meu lado direito, assim você também pode abrir do seu lado esquerdo e não atrapalhamos um ao outro.
— Bem pensado.
Fiz exatamente como expliquei, mas o Nando não abriu o lado dele. "Aí vem eles. Silêncio!", alertou-me. Ouvi o barulho da porta sendo trancada e o som de toda a algazarra lá fora ser abafada dentro daquele cômodo. "Eles já vão começar", murmurou-me o Fernando. O homem apagou a luz e no mesmo instante a minha vista ficou completamente escura, não conseguia enxergar nada, apenas escutava alguns estalos de beijos e esfregados de corpos apressados. Pouco a pouco minha visão foi se adaptando aquele ambiente desalumiado e, quando me dei conta, os dois já estavam nus sobre a cama. Deparei-me com a cena que, menos de uma hora atrás, era a filha daquele homem que protagonizava comigo no quintal daquela mesma casa. "E aí, o que está vendo?", perguntou-me meu amigo ao lado. Depois de um rápido estímulo oral a mulher tinha subido sobre o pai da Jéssica e galopava incessantemente realizando o mais belo movimento de quadris que eu havia visto até aquele momento. Não consegui explicar aquilo pra o Nando, apenas observava, chapadíssimo e tomado por um tesão incalculável.
— Estais se masturbando, Ícaro? — insistia o Nando com as perguntas.
— Não! — respondi com um sussurro apressado, na mesma hora senti uma mão tateando, por cima de minha bermuda moletom, o meu teso membro. Era o Nando!
— Mas "ele" já está pronto pra começar — surpreendeu-me inserindo sua mão dentro da minha bermuda, agarrando o meu pênis que encontrava-se mais sensível do que nunca.
— Unhm...! Nando?!
— Tenta não fazer barulho — disse enquanto envolvia-me naquele estímulo manual, como se minha úmida glande fosse uma peça rosqueável do meu membro.
Eu não conseguia enxergar nada dentro do guarda-roupas, apenas testemunhava àquela cena satisfatoriamente selvagem pela fresta da porta do meio, ao mesmo tempo em que sentia aquela mão amiga delicada masturbando o meu pênis com bastante destreza. A mulher, incansável, cavalgava cada vez mais rápido e ao meu lado, estava o Nando, que aplicava-me aquela massagem erótica sem que eu pudesse reagir de nenhuma forma. Não me sentia totalmente confortável naquela ocasião, mas o meu corpo todo estava muito sensível e eu sentia muito tesão presenciando e participando daquele momento animalesco. Eu continuava de joelhos e com a coluna ereta, bem no centro do guarda-roupas. O Nando mudou para uma postura mais baixa e com uma boa parte do seu corpo projetada para o mesmo lugar que eu ocupava, sentia o calor do seu corpo bem próximo de mim, ele havia assumido a posição de um quadrúpede, com exceção da mão direita que me tocava em um imparável afago libidinoso. Lá fora da casa começava a contagem para o ano novo. "Dez, nove...", a mulher galopava e, agora, gemia como um animal. Fernando me afagava e parecia acompanhar o ritmo que a mulher impunha naquela cama em chamas. "Oito, sete...", o homem soltava urros de prazer enquanto a mulher segurava em seu pescoço e seguia sua montaria ritmada pelo tesão. "Seis, cincoo...", Fernando embrulhava meus testículos com a mão esquerda enquanto a direita seguia me ordenhando com fervor. "Quatro, trêêês...", de sobressalto, o homem se pôs de joelhos e... "whoooaaaaaa"... banhou os seios da mulher com todo o seu êxtase. "Doooois...", meu corpo começava a tremer compulsoriamente. "Está vindo?", perguntou-me o meu amigo. "Sim", respondi com a voz trêmula. De repente, o meu bastão de nervos enrijecido foi encoberto por uma cavidade úmida e quente. Tateei até confirmar que meu amigo agora, além de me tocar com aquelas mãos macias como algodão, também devorava o meu pênis com a sua boca que era cálida como fogo, meu instinto foi deslizar minha mão pelo seu rosto delicado e me tornar cúmplice dos seus novos estímulos. Envolvi o seu longo cabelo em minha mão direita e comecei a puxar suavemente a sua cabeça contra o meu membro. O casal se vestia rapidamente para liberar o quarto. E eu, já completamente entregue aquele momento, sentia o prelúdio do gozo.
— Unff.. Unff.. Unff... Vai ser agora!
"Uuuuuum!!!", estouros de fogos de artifício tomavam conta de todo o lugar e todos gritavam lá fora comemorando a chegada de um ano novo. Da mesma forma, eu, em intenso apogeu, bradava dentro do armário, depois de uma experiência que muitos precisavam sair dele para ter. Fernando sugava sem desperdício cada gota do meu esplendor e, ali, findava o meu primeiro clímax provocado por outrem.
— Eu te falei que ia te compensar ainda hoje — disse-me Nando, claramente alto, saindo do guarda-roupas e passando o polegar sobre os lábios, limpando os resquícios daquela obscenidade visguenta.
Não sabia o que responder, então fiquei em silêncio. Apenas sentia o meu corpo tremer até perder quase todas as minhas forças. Minutos depois, bateu-me uma forte tontura, eu havia ingerido uma quantidade considerável de álcool e, pra o primeiro uso, tinha níveis altos de THC no meu corpo. Pra completar, depois de todo aquele gasto de energia, a sensação era de que minha pressão estivesse baixando. "Tudo bem com você?", indagou-me Fernando, na mesma hora em que uma forte ânsia de vômito começava a me abater. Meu amigo me apoiou em seus ombros, quase me carregando em suas costas, e me levou até o banheiro onde vomitei cada gota de álcool que havia bebido. Ele segurava os meus cabelos, enquanto eu parecia expulsar de mim toda a desgraça do ano que acabava de passar.
No dia seguinte, acordamos, os dois, no sofá daquela casa. Meu amigo dormia pesado. Aos poucos fui processando tudo o que havia acontecido na noite anterior. Eu não sentia nada além de uma ressaca moral e pensava constantemente como eu olharia na cara do Nando depois daquilo. Pensei em pegar minhas coisas e ir pra casa naquele mesmo instante, mas lembrei que era feriado e não conseguiria pegar ônibus tão cedo. Quando menos esperei... "Eeei!". Jéssica me chamava a atenção de forma discreta através da fresta da porta daquela suíte. "Estão todos na praia ainda, vamos terminar o que começamos ontem!", falou-me baixinho com uma feição sacana. Minutos depois realizamos nossos desejos bestiais dentro do banheiro daquele quarto onde estive durante a virada do ano. Mas os detalhes disso não vêm ao caso agora.
Quando Fernando acordou, eu estava tomando café com a Jéssica na cozinha. "Bom dia!", falou com uma voz ruidosa de sono. "Acompanha a gente, Nando", sua prima o convidou para sentar-se à mesa também. Percebi que ele também estava, no mínimo, envergonhado com o que fizemos. Por isso, até voltarmos pra casa quase não nos falamos direito.
Somente no segundo dia de janeiro daquele ano, aquele quase silêncio foi quebrado. Conversamos em frente a sua casa, escorados naquele mesmo muro baixo. Não estávamos com intrigados um do outro. Pelo menos eu só estava muito confuso, pois nunca havia me entendido como homo ou bissexual até então, mas ao mesmo tempo não negava o prazer que senti naquela ocasião com o Nando. Eu só não tinha pretensões, zero vontade, de repetir aquilo.
— Sei que deves está confuso e queria me desculpar por causar tudo aquilo.
— Nando, eu só...
— Não precisa se explicar, querido. Não pretendo deixar isso interferir na nossa amizade, ok?
— Obrigado. Temia perder sua amizade pra sempre.
— Tu és um garoto bronco mesmo — falava ao seu melhor estilo zombador outra vez — Não te enchas de ego só porque te dei um tratamento especial. Guardes isso apenas como uma experiência, pois não acontecerá outra vez.
— Por mim tá ótimo assim. Tua amizade me basta. É mais valiosa que qualquer tratamento especial desses seus — agora eu que zombava dele.
— Tu falas isso porque a meretriz da Jéssica te deu algo que você realmente queria e ainda te fez o café da manhã.
— Aí que tu te enganas, meu querido.
— Ela não te deu o que querias? — perguntou-me desenganado.
— Não é isso. Fui eu quem preparou o café da manhã.
Gargalhamos compulsoriamente de toda aquela situação. Nunca sentimos nada de fato um pelo o outro. Eu não tive mais relações com outros garotos. Apesar dos pesares, tudo aquilo tinha, estranhamente, fortalecido a nossa amizade. Pouco a pouco entendi que poderia confiar de verdade no Fernando e isso marcou o início do laço que temos hoje.
* * *
Não consegui dormir até tarde naquele domingo. Às quatro e meia da manhã já estava preparando o meu café quando o Fernando me enviou uma mensagem avisando que a Nina não ia mais para a praia, pois o namorado a chamou pra sair de última hora naquele mesmo dia. Meia hora depois o Nando me chamou na frente de casa e ne perguntou se eu ainda tava a fim de ir à praia mesmo assim, porém pra fazer uma corrida no fim da tarde. Respondi que era uma boa ideia e combinamos de ir às dezesseis horas, quando o sol já não estava tão violento. Assim fizemos. Às quinze horas, em direção à praia, pegamos o coletivo 512 — isso mesmo, aquele que Dayana pegou para ir pra casa dela e, sim, aquilo me fez pensar muito sobre ela outra vez. Lembrei-me que eu prometi contar sobre aquele encontro ocasional da sexta passada para Fernando. Assim sendo, foi o que comecei a fazer. “Sabe, Nando. Na última sexta eu...”, e fui contando tudo para ele. Dessa vez, não consegui o poupar de muitos detalhes, apenas fui contando enquanto revivia aquele momento na minha mente.
— Então essa Dayana mexeu mesmo contigo, cara.
— Eu só ainda não entendo de que forma... Parece-me que ela me atiça impuros desejos da carne.
— E, pra isso, ela só precisou te tontear com argumentos firmes e uma boa pegada no teu mastro... E nem foi pele com pele — rimos alto dentro do ônibus chamando a atenção de alguns passageiros que estavam próximos.
— Tu não tens jeito. Brincas com tudo.
Chegamos à praia por volta das quinze horas e cinquenta minutos. Havíamos levado apenas pochetes para guardar nossos documentos e algum dinheiro. Pochetes que usamos também para prender nossas camisetas enquanto corríamos. Saímos da orla, corremos por quase cinco quilômetros, nos permitimos uma pausa de cinco minutos e voltamos para o ponto de partida. "Nove quilômetros e meio", informou-me o Nando. "Podemos melhorar", respondi. Compramos água de coco e fomos sentar perto do mar, para esperar o pôr do sol. Fernando escorou-se em meu ombro enquanto eu voltava a falar sobre Dayana. Ele me ouvia atentamente e, quando achava pertinente, dava-me algumas posições sobre aquele assunto. Conversávamos descontraidamente quando a última pessoa que eu gostaria de ter por perto veio cortar o nosso barato.
— Pelo visto, a Marina não tem só uma b*ch* como amiga — interrompia Leonardo, o namorado de Nina, dando uma risada de deboche em seguida.
O Fernando levantou abruptamente serrando os punhos. Coloquei a mão em seu ombro, encarei-o e fiz um movimento negativo com a cabeça. Ele entendeu e finalmente relaxou os punhos.
— Leonardo, você não deveria estar com a Nina agora? — tentei desconversar pra afastar logo aquele intruso.
— E estou, apenas vim acompanhar uns amigos nossos até àquela lanchonete — apontava com o indicador — e não resisti quando vi as duas gazelinhas se amando aqui e resolvi dar um oi.
— Bem... Oi pra você também — falou Nando de forma áspera.
— Não precisa ficar histérica! Já vou deixar as duas à vontade pra voltar a tocar em seus respectivos paus outra vez — Léo falava alto e chamava atenção de algumas pessoas ali perto.
— Tu já estais passando de todos os limites. Se não fores agora...
— Tu não podes me dizer o que fazer, tu és um v*ad*nh*!!!
— Calas agora essa tua boca de merda, que minha sexualidade não é pra ser usada como ofensa! — Nando falou já saindo do controle.
— Não me mandes calar a boca, sua b*ch*!!!
Leonardo armou de maneira desengonçada um chute frontal na direção do Nando que, por sua vez, reagiu pendulando para a sua direita e desferindo um soco cruzado com a mão esquerda nas costelas do intruso. Léo caiu rolando na areia levando as mãos à costela. Com o orgulho ferido, levantou desesperadamente e se lançou para o Fernando sacudindo os punhos em movimentos descoordenados. Nando esquivou-se com facilidade, conseguiu agarrar um dos braços do Léo e, com um movimento rápido de pernas, raspou-lhe do chão com uma rasteira fazendo com que ele rolasse pela areia outra vez.
Perdíamos o pôr do sol por causa daquela circunstância infame e, como se não bastasse, surgiu um amigo do Leonardo querendo nos agredir também. Vinha correndo por trás do Nando com a intenção de conectar um golpe covarde, entretanto eu o impedi aplicando-lhe um chute lateral no abdômen. Distraído com aquela nova investida, Nando recebeu um punhado de areia nos olhos lançado por Léo que aproveitou para derrubar o meu amigo covardemente. Larguei o segundo intruso de lado e corri pra impedir uma nova covardia contra o Nando. O Léo ia chutá-lo no chão, no último instante consegui puxar o covarde pelo braço e aplicar um chute circular em seu maxilar e o deixando atordoado, cambaleando sobre a areia da praia..
Descudei-me tentando ajudar o Fernando a tirar a areia dos olhos e recebi uma chave de braço no pescoço do amigo do Léo. Apesar de mal aplicada, eu havia sido surpreendido e demorei alguns segundos até conseguir, com uma combinação de movimentos de pernas e quadril, arremessá-lo por cima de mim o obrigando a cair de costas na areia. "Cuidado!", gritou o Nando na mesma hora em que senti um forte impacto perto da minha têmpora. O Léo havia me golpeado com um cabo de um guarda-sol que ele surrupiou no meio daquela confusão. Um corte se abriu em minha face, respingando meu sangue pela areia. Completamente fora de controle, o Nando aplicou uma sequência de socos e chutes no Léo que o fez cair desacordado dessa vez. O amigo metido vinha outra vez em minha direção, quando um garoto que assistia a toda aquela cena resolveu intervir e o imobilizou pelo braço direito.
— Chega dessa covardia! Pegue o seu amigo que está desacordado e dê o fora daqui!! — ordenou o jovem expondo o cabo de um punhal que estava preso na extremidade de sua bermuda — eu só vou pedir uma vez.
(Continua...)
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*¹ Pelada é uma gíria para se referir à uma partida de futebol amadora ou sem muitas regras. Também chamado futebol de várzea.
*² THC é a abreviação para Tetra-hidrocarbinol, que é o canabinóide com propriedade responsável pelo efeito alucinógeno.
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