Caros leitores,
Para uma melhor eficiência do texto, para que esse final não se tornasse cansativo e a leitura maçante, dividimos o final em duas partes. A próxima sairá na segunda-feira. Boa leitura a todos.
Carina:
Desliguei a chamada com Samanta e imediatamente liguei para o Júlio. Sabendo que ele está sempre próximo ao telefone, pois tem negócios no mundo todo, fui atendida rapidamente:
– Carina? Algum problema? Por que está me ligando a essa hora?
Não perdi tempo:
– Patrão, me desculpe, mas é urgente. Alex e eu estamos indo até aí. Acorde a Silvana também, pois o que tenho para falar é grave.
Alex e eu nos arrumamos apressados e chamamos um carro de aplicativo. Quase esqueci o notebook e tive que voltar para buscá-lo. Não queria repassar os e-mails sem dar o devido contexto. Chegamos rapidamente ao condomínio em que Júlio e Silvana moravam. Como sua secretária, tinha liberação e entrei direto. Os dois nos aguardavam ansiosos e preocupados.
Silvana veio até mim:
– Por Deus, Carina! O que aconteceu? Quem morreu?
Ela percebeu a tensão em meu rosto. Fiz com que os dois entrassem comigo, pedi que se sentassem e expliquei detalhadamente tudo o que havia acontecido. Júlio se levantou revoltado:
– Como fomos ingênuos. Como não percebemos? Vários concorrentes se retirando do país, negócios praticamente perdidos que Paulo conseguia reverter a seu favor, laudos que mudavam de repente, sem sustentação lógica … Carina, me deixe ver essas provas.
Abri o notebook e mostrei tudo a ele, tanto os áudios quanto os vídeos. Silvana foi firme com Júlio:
– Espero que você tome providências urgentes. Com quem podemos contar? Para quem devemos ligar?
Júlio pensou por um instante, caminhando nervoso de um lado para o outro:
– Primeiro temos que buscar Samanta. Ela é cúmplice, mas também uma testemunha valiosa contra Paulo.
Júlio saiu da sala por alguns minutos e voltou já em uma chamada telefônica:
– Preciso que você venha em casa com urgência. Não quero abusar da nossa amizade, muito menos tirar vantagem da sua posição, mas tenho provas substanciais de corrupção e crimes contra a livre concorrência praticados por uma figura bem conhecida. Preciso que você analise as provas que me foram entregues e me diga como proceder.
Júlio ainda conversou por alguns minutos e depois desligou. Ele estava ansioso, mas tentou acalmar Silvana, visivelmente irada:
– Acabei de falar com o Túlio. Ele é procurador do Ministério Público e a melhor pessoa para nos auxiliar. Como mora no condomínio ao lado, disse que chega em quinze minutos.
Júlio se virou para mim:
– Teremos que ser honestos com o Beto e a Laine, acho que isso pode salvar de vez o casamento deles. Mas eles podem esperar, temos coisas mais graves para resolver. Me repasse tudo que você tem, agora a história é comigo.
Curiosa, fui obrigada a perguntar:
– Você vai mesmo proteger a Samanta?
Ele foi muito realista:
– Não da forma que vocês estão pensando. Samanta é cúmplice de diversos crimes. Vou sim ajudar, mas apenas para acelerar o processo. Assim que ela entrar no país, a entregarei para a justiça. Ela, com certeza, por saber demais, será protegida e, se resolver colaborar, pode até ter sua pena diminuída.
Fiz o que ele pediu e repassei tudo o que Samanta me enviou. Júlio chamou o chefe da sua equipe de segurança e o instruiu a ir buscar Samanta. Pude ouvir sua conversa ao telefone com ela, pois para que Silvana acompanhasse, ele colocou no viva voz:
– Qual o destino final do seu ônibus?
Samanta até tentou começar um diálogo cordial, mas Júlio a cortou:
– Por favor, não confunda as coisas, só me responda o que perguntei. Se quer minha ajuda, apenas siga as minhas instruções.
Samanta entendeu e foi objetiva:
– Chegarei a Boston em nove horas.
Júlio foi taxativo:
– Não saia do aeroporto, estou mandando uma pessoa da minha total confiança para te encontrar e te trazer de volta. Mandarei uma foto por mensagem para que reconheça o meu funcionário. Aguarde quieta e não crie problemas, se não estiver no aeroporto, entenderei que não precisa da ajuda.
Júlio apenas desligou, demonstrando o desgosto que sentia por ter que falar com Samanta. Ele fez uma outra ligação, para seu piloto particular:
– Prepare a aeronave, estou mandando o Teixeira até você. Ida e volta para Boston. Ele te dará os detalhes, faça tudo o que ele disser.
Júlio, o empresário, era prático e objetivo, desligando após dar suas ordens. Ele veio até mim e me abraçou:
– Obrigado! Você foi a nossa melhor escolha até hoje. Uma funcionária competente e uma amiga leal. A cada dia que passa, mais vocês crescem no nosso conceito.
Silvana também veio até mim e Alex, nos abraçou, assim como o marido, mas aproveitou para nos dar um gostoso beijo na boca:
– Saiba que eu obrigarei o Júlio a lhe dar um caprichado bônus de final de ano. Aguarde, sua safada. – Ela me deu um tapa carinhoso na bunda.
Senti que já tínhamos feito nossa parte e achei melhor me despedir. Daquele momento em diante, a briga seria de cachorros grandes. Um poodle como eu não tinha o porquê de continuar ali. Antes de sair, Silvana ainda disse:
– Quando formos falar com o Beto e com a Laine, espero sua presença. Aviso quando chegar o momento.
{…}
Júlio:
Assim que Carina e Alex saíram, Túlio chegou. Não perdemos tempo e fomos direto ao assunto. Mostrei a ele tudo o que Carina havia repassado e ele se surpreendeu com a qualidade do material. As provas eram mais do que suficientes para incriminar Paulo, Patrícia e Samanta. Ele me explicou o procedimento a seguir:
– O primeiro passo é a perícia para garantir a autenticidade do material. Como ele foi cedido voluntariamente por uma cúmplice, o processo será rápido. De qualquer forma, precisamos de sigilo absoluto, pois precisamos investigar cada pessoa mencionada. O primeiro passo é pedir a prisão preventiva dos três. Paulo tem recursos e precisamos garantir que ele não possa fugir da justiça.
Túlio ligou para um agente da polícia federal que chegou em menos de meia hora e recolheu todos os áudios e vídeos, partindo em seguida para começar oficialmente a investigação. Só nos restava esperar.
Antes de sair, Túlio pediu:
– Lembrem-se, Paulo precisa achar que está tudo bem. Até eu conseguir um mandato, se ele entrar em contato, ajam normalmente. Por sorte, meu superior é barra pesada. Muito em breve esse bandido estará atrás das grades.
Túlio se foi e agora nós precisávamos pensar em como contar ao Beto. Silvana deu a ideia:
– Podemos retribuir o jantar, o que acha? Hoje à noite?
Concordei com ela, mas tinha mais uma coisa que eu precisava fazer para ajudá-lo. Liguei para o advogado que deixei a disposição dele e repassei tanto o vídeo que provava que ele não havia traído, como também, algumas outras provas que viriam bem a calhar para acabar com aquele caso de agressão. Pedi a ele que somente no dia seguinte os fornecesse ao delegado, que me deixasse falar com o Beto antes, mas ele me advertiu:
– Sei que você quer ajudar, mas acho que é melhor esperar mais um pouco. A investigação corre em segredo de justiça, quanto menos pessoas souberem, melhor. E ainda tem o fato de que o Beto será procurado para depor, já que foi um dos prejudicados por Paulo. Eu o aconselho a aguardar, é o melhor. Se entregarmos as provas para ajudar o Beto, podemos atrapalhar o sigilo da investigação principal.
Sem opções, achei melhor seguir as orientações e não me precipitar. Como tinha dedo do Paulo até na falência da empresa do Beto, boa parte do seu patrimônio poderia ser recuperado. Eu queria muito ajudá-lo, não queria acabar atrapalhando. Um pouco mais calmos, Silvana e eu decidimos tentar dormir mais um pouco. Ela estava agitada demais para aquilo e resolveu se dedicar a algum de seus hobbies. Eu consegui dormir por algumas horas.
Ao acordar e procurar por Silvana, vi que ela estava se exercitando na esteira enquanto falava ao telefone:
– Me explica isso direito. Como assim o Beto terminou com a Laine? Nós precisamos ajudá-los, sabemos que tudo foi uma armação.
Me aproximei e ela colocou no viva voz:
– Júlio está aqui também, Carina. Conta isso direito.
Carina explicou:
– Liguei para ela hoje cedo, mas ela estava chorando, muito abalada. Eu não sabia o que falar, o que poderia ou não dizer, então apenas a confortei.
Precisei intervir:
– Você fez bem, Carina. Tire o dia de folga, vá ficar com ela. Imagino que ela precise de uma boa amiga. Mas ainda não diga nada, deixa que eu vou falar com o Beto.
Já passava um pouco das nove da manhã e mesmo contra a recomendação do advogado, eu precisava fazer alguma coisa. Liguei para o Beto e ele me atendeu apenas na segunda tentativa:
– Júlio? Desculpe a demora, estava no banho. Estou saindo para a primeira reunião com a Fernanda. Em que posso ajudar?
Achei melhor ir com calma:
– Eu preciso muito falar com você, poderia me encontrar?
Senti que ele estava em dúvida, talvez pensando em recusar. Fui bem direto:
– Beto, eu preciso que você aceite o convite e confie em mim. O que tenho para falar é importante. Só aceite, por favor. Tenho certeza de que irá me agradecer.
Antes de desligar, lembrei de ser um pouco menos dramático:
– Fique tranquilo, não tenho intenção de atravessar a Fernanda e tentar te “roubar”. Nosso assunto é outro, será importante para o seu casamento.
Ele ficou preocupado:
– Não pode me adiantar nada? Parece grave o que tem a me dizer.
Achei melhor acalmá-lo um pouco:
– É sobre o Paulo e tudo de ruim que ele tem feito na surdina. É melhor falarmos pessoalmente, você irá entender tudo.
Beto é um homem inteligente e tenho a certeza de que entenderia minha intenção e não iria prejudicar a sua própria vida com atitudes intempestivas. Eu precisava confiar e dar a ele a chance de tomar a decisão mais correta. Eu não tinha intenção de influenciar sua escolha, apenas queria me certificar que ele estivesse a par de tudo antes de realmente jogar fora o seu casamento.
{…}
Laine:
Na noite anterior, assim que Beto entrou para o quarto de hóspedes e trancou a porta. Eu fiquei ali sem acreditar, achando que aquilo era um pesadelo. Sozinha, perdida, após ter pedido um relacionamento aberto, fui surpreendida pela decisão do meu marido. Dei vazão ao sentimento preso no peito, deixando que a tristeza daquela decisão unilateral do Beto fosse colocada para fora. Eu o conhecia e sabia que ele falava sério, Beto não volta atrás em sua palavra. Ele jamais tomaria aquela decisão de forma leviana, sem ter pensado muito antes.
“Por que eu forcei a barra? Por que quis tanto me meter naquele mundo liberal? Poxa, Beto sempre foi tão compreensivo, tão atencioso com os meus desejos, se esforçando para me agradar. Ele me traiu, tudo bem, mas eu tinha a certeza de que não foi ele, não o meu Beto, e sim uma versão anestesiada pelo álcool, incapaz de avaliar suas ações, quem sabe até, magoado pela minha ‘forçação’ de barra, por tentar empurrá-lo de qualquer jeito para uma zona perigosa, que ele se mostrou cauteloso, até com um pouco de medo de adentrar”. Meus pensamentos estavam confusos e eu sentia muito forte a dor da rejeição.
Tentei entender, justificar, ter raiva dele, culpá-lo, mas eu não podia. Se alguém era culpado, esse alguém era eu. Eu tinha um marido amoroso, carinhoso, paciente e justo, mas por curiosidade, por egoísmo, eu o afastei de mim. Mesmo no pior momento, ele foi caridoso, se preocupando com a minha felicidade, achando que se afastar seria a melhor forma de me fazer feliz.
Eu precisava tentar, mesmo achando que ele estava certo em sua decisão, não queria entregar os pontos. Me levantei, enxuguei as lágrimas e bati na porta do quarto em que ele estava:
– Por favor, vamos conversar. Eu não quero te perder.
Nenhuma resposta. Será que ele já estava dormindo? Tentei novamente:
– Beto, me escuta. Nós podemos resolver, podemos tentar. Por favor, não me deixe, eu não sei viver sem você.
Ouvi a chave destrancando a porta, a maçaneta girando, a porta abrindo. Ele estava com os olhos vermelhos, secando as lágrimas também:
– E você acha que eu tomei essa decisão no impulso? Acha que está sendo fácil para mim?
Tentei implorar:
– Por favor, não faça isso, vamos tentar consertar nosso casamento, podemos ser felizes. Nós éramos felizes, não éramos?
Beto foi brutalmente honesto:
– Sim, Laine! Nós éramos, mas só no começo, nos três primeiros anos. Seja honesta e diga se eu estou errado: como foram os dois últimos anos? Quando precisei de apoio, o que você fez? Quando ficou curiosa, o que você fez? Quando teve dúvidas, o que fez?
Ele deu um suspiro profundo, daqueles que indicam cansaço e impaciência:
– Quando você tiver uma resposta honesta para essas perguntas, voltamos a conversar. Me desculpe, mas eu preciso me levantar cedo, você sabe. Boa noite, Laine! – Ele apenas voltou a fechar a porta.
Derrotada, voltei a me refugiar no nosso quarto, chorando. Eu não precisava pensar muito, pois sabia todas as respostas às perguntas que ele me fez e nenhuma delas ajudariam na minha situação. Por mais que eu detestasse admitir, eu não era uma boa esposa para ele. Pelo menos, não fui, nos últimos três anos. Quase totalmente drenada por tanto chorar, acabei apagando.
Na manhã seguinte, não tive forças para ir trabalhar. Beto ainda estava trancado no quarto de hóspedes. Arrumei o pequeno, o abracei forte, me apegando ao que me restava, preparei seu café e o enviei para a creche.
Me sentindo muito solitária, perdida, eu não podia ligar para a minha família, sabia qual seria a reação de todos. Voltei ao quarto e me deitei novamente, o choro voltou forte. Ouvi passos no corredor e o chuveiro sendo ligado. Meu telefone tocou e eu atendi sem pensar muito:
– Laine, está tudo bem? Alex disse que você não foi trabalhar.
Eu precisava do apoio de alguém, Carina parece ter adivinhado:
– Não! Nada está bem, está tudo acabado.
Carina se assustou com minha voz chorosa:
– O que aconteceu, o que está acabado?
Entre soluços, tentei falar, mesmo com a voz embargada:
– O Beto … ele terminou comigo … não me quer mais …
{…}
Beto:
Apesar de tudo, meus pensamentos eram bons, satisfatórios, saudosos até. Eu avaliei a minha vida até aquele momento:
“Aquela noite estava sendo difícil e por mais dolorosa que a minha decisão possa parecer, me deu a chance de pensar com clareza. No fundo, eu era um homem abençoado. Mesmo com as diversas tragédias que passei, eu ainda tinha motivos para sorrir. Quem na vida teve a chance de amar e ser correspondido por tantas vezes como eu? Amei meus pais e eles me amaram incondicionalmente. Por pouco tempo, é verdade, e mesmo que a vida os tenha tirado de mim muito cedo, eles me fizeram o homem que sou. Hoje tenho esse mesmo amor incondicional pelo meu pequeno, esperando e trabalhando para ser a mesma pessoa para ele que os meus pais foram para mim.
Amei Fernanda. Sim, por que não? Meu primeiro amor verdadeiro, amor de amigo, de amantes, de quem se quer bem. Descobrimos o sexo e a satisfação juntos, mesmo que ela tenha me superado rapidamente naquele tempo. – Ri sozinho ao me lembrar. – Ela é parte importante da minha história e uma força do bem na minha vida.
Amei Lavínia, minha falecida esposa. E como amei, sempre vou amar. Amor transcendental, único na vida, inigualável. A amei desde o primeiro momento em que coloquei os olhos nela. Minha alma gêmea, minha razão de estar nesse mundo. Eu trocaria a minha vida pela dela naquele fatídico dia. A vejo todos os dias em nosso filho. Na forma com que ele segura a colher, nas covinhas do rosto ao sorrir, no bico emburrado que ele faz quando contrariado, na mesma mancha de nascença no braço esquerdo. Ela se foi, mas deixou comigo uma enorme parte dela, uma que eu morreria para proteger.
Amei Laine, ainda amo, é inegável. Um amor de gratidão, de renúncia, um amor que me fez desejar viver outra vez, que iluminou meu caminho e me despertou do sofrimento. Um amor imaturo talvez, no qual eu acabei me anulando para não perder, a acostumando a se sentir privilegiada, sem impor limites. Talvez a culpa seja minha por ela ser exigente da forma que é. Fui eu que dei tudo, que nunca medi esforços, nunca exigi retribuição. Apenas dei, com medo de perder e não ter tempo para ficar ao seu lado. Quando perdemos alguém de forma tão abrupta como eu perdi, acabamos mimando os que ficam e os que entram em nossa vida depois”.
Com muito esforço, consegui dormir algumas horas, sabendo que a separação seria o melhor. Um passo bem calculado e que eu dava sabendo das consequências.
Na manhã seguinte, enquanto me preparava para a primeira reunião com Fernanda, recebi uma ligação do Júlio. Após alguma negociação e dizendo ter coisas importantes a falar, acabei aceitando me encontrar com ele. Avisei à Fernanda e ela não se opôs.
Tive a certeza de que Laine estava no quarto chorando, eu conseguia ouvir, mas achei melhor não falar nada, ela precisava digerir e aceitar a minha decisão. Não era negociável e eu não tinha a intenção de voltar atrás. Quanto mais rápido ela aceitasse, mais rápido poderia seguir em frente. Isso faria bem a nós dois. Me arrumei e saí de casa, indo ao encontro de Júlio. O trânsito estava pesado e demorou mais do que eu imaginava. Fui rapidamente liberado na portaria do condomínio e ele me esperava na entrada da casa. Eu estava muito ansioso:
– Então, Júlio, o que tem para me dizer? O que é tão importante?
Ele sorriu para mim:
– Calma, garoto! Tente relaxar, pois temos uma conversa tensa pela frente, ansiedade não vai ajudar em nada. – Cortês como sempre, ele perguntou. – Já tomou o café da manhã?
Só então me lembrei de que ainda não tinha comido nada, desde a noite anterior. Aceitei o convite e fomos nos reunir com Silvana na cozinha. Uma das empregadas me serviu café, leite, frutas, cereais … tinha de tudo e mais um pouco. Enquanto eu tomava uma xícara de café e comia uma torrada com requeijão, Silvana foi direta:
– Você realmente terminou com a Laine? É verdade?
Quase me engasguei com a torrada, surpreso por alguém de fora já ter conhecimento da minha decisão. Silvana foi gentil:
– Me desculpe, mas Carina falou com ela há pouco e nos contou. Não queremos nos meter na sua vida, mas antes de levar essa decisão adiante, ouça o que Júlio e eu temos para falar.
Júlio virou seu notebook para mim e me mostrou o vídeo do resort, onde eu estou apagado e os três transam sobre mim. Aquilo me enojou. Como alguém pode ser tão mau caráter?
O pior ainda estava por vir. Júlio me mostrou alguns áudios onde Samanta e Paulo discutiam com o meu antigo sócio:
“Paulo: A escolha é sua, eu não sou o vilão aqui. Você foi idiota, se deixou seduzir e agora está apenas pagando pelo seus erros.
Sócio: Você está me pedindo para fraudar a minha própria empresa, destruir não só o meu trabalho, mas também o do Beto. Vocês não são amigos? Não estou entendendo.
Samanta: Você foi o trouxa que eu enrolei mais fácil. Como pode alguém ser tão carente, se apaixonar pela primeira pilantra que aparece. Você merece o que está acontecendo.
Paulo: A escolha é sua. Comece pelo INSS do pessoal, pare de pagar, é simples. Depois, é só maquiar os livros, retirar o dinheiro por fora, inventar na contabilidade. Em um ano tudo vai explodir e a empresa entrará em falência.
Sócio: E qual garantia você me dá de que não vai entregar as provas do meu adultério para a minha esposa? Você sabe quem é o meu sogro, tudo que eu tenho, na verdade é dele.
Paulo: Fique tranquilo, eu já disse. Vou te mandar para bem longe quando a merda explodir. Seu futuro e o da sua família estarão garantidos. Meu objetivo é o Beto, sempre foi. Não tenho nada contra você. O fim justifica os meios. Você é apenas um meio para um fim maior”.
Minha vontade era voltar até o Paulo e surrá-lo de verdade, não apenas um soco como da primeira vez. Júlio voltou a falar:
– Uma grande investigação contra o Paulo já está em curso. Em breve, muito em breve mesmo, a casa dele vai cair. Eu preciso que você se controle e não faça nenhuma besteira. Só estou falando com você agora, porque soube que terminou com a Laine. Acredito que essa decisão seja muito em consequência da traição e de tudo o que vem acontecendo com vocês.
Respirei fundo, me acalmei, mas fui honesto com os dois:
– Minha decisão em terminar com a Laine envolve diversos fatores e a traição não é o principal deles …
Precisei respirar novamente, encontrar as palavras:
– Laine precisa viver, realizar suas fantasias. Eu não sou o homem certo para ela. É duro admitir, pois eu a amo, mas não posso reprimir as vontades que ela tem. Talvez vocês até concordem comigo no que vou dizer. – Os dois me encaravam atentos, sem me interromper. – Ninguém resolve pedir para abrir o casamento do dia para a noite. Eu, sinceramente, não tenho esse desejo, não sou um liberal. Pelo menos, não agora, nesse momento da minha vida. Esse desejo já existia nela, só precisando de um gatilho para tomar conta. Eu não quero reprimir a Laine, torná-la uma esposa submissa e insatisfeita, pois isso só irá gerar rancor e frustração no futuro.
Silvana e Júlio me olhavam admirados. Nenhum deles conseguia discordar de mim. Silvana falou primeiro:
– Eu não tenho nada a acrescentar. Vejo que você pensou muito na sua decisão. Entendo agora, mais do que nunca, toda a admiração que a Fernanda tem por você. Você é realmente um homem em um milhão.
Ela beijou o rosto do marido e brincou com ele:
– Assim como você, querido!
Eu tinha um pedido a fazer:
– Vocês me deixariam cuidar da Laine nos meus termos? Eu ainda não quero que ela descubra que a traição não existiu, vai ser melhor assim.
Júlio me olhou sem entender:
– Se é a sua escolha, nós respeitamos. Mas por quê? Você não fez nada de errado, foi manipulado pelo Paulo. Não entendo o motivo de querer continuar sendo o vilão, um traidor.
Com calma, expliquei:
– Ela precisa primeiro aceitar o divórcio e ficar bem. Essa informação não vai ajudar em nada e pode até atrapalhar o discernimento dela pois, como eu disse, a minha traição não foi o fator decisivo para que eu tomasse a decisão da separação. Eu conheço a Laine, ela é forte e vai se recuperar rápido. Fiquem tranquilos, eu pretendo contar a verdade o mais breve possível, mas nos meus termos, da forma correta.
Júlio me cedeu apenas o vídeo do resort, dizendo que os outros já estavam em posse do Ministério Público para a investigação em curso. Antes de nos despedirmos, ele ainda me aconselhou:
– Aproveite o advogado e comece a formular seu processo contra o Paulo. Existe uma chance muito grande de você recuperar uma boa parte do seu patrimônio. Deixe o processo pronto, pois assim que a bomba explodir, quem chegar primeiro, geralmente recebe primeiro. – Ele piscou para mim.
{…}
Aeroporto de Boston:
Teixeira, o chefe da segurança de Júlio, assim que o jato particular pousou em Boston, procurou por Samanta. Ele rodou o aeroporto inteiro, mas não a encontrou. Com o número dela cedido por Júlio, fez a ligação:
– Onde você está? Não temos tempo a perder.
Samanta estranhou:
– Estou na rodoviária, onde Júlio mandou eu esperar.
Teixeira era um homem impaciente:
– Como assim? Não era aeroporto?
Ela explicou:
– Não! Eu estava em um ônibus, não em um avião.
Teixeira resolveu se acalmar:
– Em quanto tempo consegue chegar ao aeroporto? Preciso ir te buscar?
Amedrontada, Samanta não podia perder a chance:
– Não! Vou pegar um Uber e já chego aí. Obrigada.
Em menos de meia hora, Samanta e Teixeira estavam frente a frente. Ele a pegou pelo braço, era um homem bruto:
– Vamos, não temos tempo.
Ela protestou:
– Calma! Eu não vou fugir.
Ele não era um homem que costumava sorrir e continuou puxando Samanta pelo braço. Rapidamente embarcaram e iniciaram a decolagem. Em pouco menos de dez horas aterrissaram em solo brasileiro.
Uma equipe da polícia federal os aguardava no hangar particular de Júlio. O agente algemou Samanta imediatamente:
– Samanta Silva, você está sendo presa por corrupção passiva, formação de quadrilha e crimes contra a livre concorrência de mercado. Você tem o direito de permanecer em silêncio, mas como já temos as provas que você forneceu, a sua cooperação pode ajudar a melhorar a sua situação.
Samanta não era uma menina inocente e já imaginava o seu próprio destino. Não vendo nenhuma reação hostil, os policiais foram educados e calmos, retirando as algemas, inclusive. Agradeceram ao Teixeira e colocaram Samanta no banco de trás da viatura à paisana. De forma discreta, saíram do aeroporto sem serem notados.
Teixeira ligou para o patrão:
– Tudo certo. Ela já está sob a custódia do estado.
{…}
Beto e Laine:
Não foi simples, muito menos fácil, mas por três semanas, Beto e Laine ainda precisaram conviver na mesma casa. Ela, orgulhosa demais, cansada de implorar, tentava se insinuar para o ainda marido. Ele, calmo e paciente, tentava não a machucar ainda mais, sendo gentil e deixando que ela descontasse nele suas frustrações. Beto ouvia seus acessos de raiva sem reclamar, dando a ela toda atenção e a desarmando com gentileza.
Após várias rodadas de negociação e quando falavam sobre o pequeno, Laine demonstrava uma maturidade que só a maternidade é capaz de produzir. Mas essa maturidade só aparecia quando o assunto era o pequeno, somente nos momentos em que discutiam a custódia dele. Beto sabia que precisava contar a verdade sobre a traição, mas ainda buscava coragem, esperava o momento em que Laine estivesse menos sensível à separação.
Com ajuda e a influência de Júlio, o advogado cedido a Beto formulou um acordo de guarda compartilhada entre os dois e um juiz amigo autorizou a adoção definitiva do pequeno. Laine agora era oficialmente sua mãe. Beto também cedeu a casa para Laine e no final daquelas três semanas, sua intenção era se mudar para um pequeno apartamento já preparado para lhe receber, cortesia da Fernanda.
Na última noite juntos, Laine decidiu aprontar. Beto já havia abaixado a guarda e por confiança, não trancava mais a porta do quarto de hóspedes. Ela esperou que ele dormisse e, sorrateiramente, se enfiou em sua cama.
Mesmo ainda sofrendo, ela já tinha entendido que a decisão de Beto, além de sensata, era definitiva. Pelo menos, naquele momento, ela ainda se apegava as palavras dele: “Quem sabe, lá na frente, a gente não acaba se encontrando de novo?”.
Laine só queria fazer amor com seu marido uma última vez, e quem sabe, daquela forma, a única que ela ainda não tinha tentado, pudesse convencê-lo a lhe dar uma outra chance e manter o casamento. Devagar, com cuidado, ela tirou o pau dele para fora do pijama e começou a sugar delicadamente. O pau endureceu rapidamente, e Beto gemeu, ainda dormindo:
– Nossa, amor! Que gostoso, que saudade.
Beto acordou exaltado e excitado, sentindo que aquilo era real demais para ser apenas um sonho. Ele olhava para Laine, enquanto ela não perdia tempo, abocanhando a pica inteira. Ele até tentou protestar:
– O que você está fazendo? Ahh …
Aquela era sua última cartada, a única coisa em que conseguiu pensar:
– Você não me disse para eu viver, para eu ser feliz? Então, agora, nesse momento, é isso que irá me fazer feliz.
Sentindo aquela boca maravilhosa envolvendo seu pau, ele tentava resistir:
– Não faz isso, Laine … Ahh … Isso não vai mudar … Ahh …
Laine esqueceu a malícia, a estratégia, quase implorando:
– Não pense em mais nada, apenas me ame. Se for conveniente para você, trate isso como uma despedida. Não pense muito.
Beto não pensou mais, puxando Laine para cima e beijando sua boca com urgência. O problema não era falta de amor ou de desejo, isso havia de sobra. Ele só não queria dar a ela falsas esperanças de uma reconciliação. Mas, envolvido, querendo tanto quanto ela, se entregou uma última vez.
Beto a fez deitar e não resistiu, levantando a camisola e, vendo que ela estava sem calcinha, mergulhou de cabeça entre suas pernas, sugando desesperadamente a xoxota, lambendo de cima a baixo, arrancando gemidos manhosos:
– Ah, meu amor … como senti falta dessa boca … a melhor …
Beto lembrou que não era mais o único, que outro havia estado ali, mas lembrou também que naquele momento, ela o elogiou, mesmo estando com outro. Afastou os pensamentos que teimavam em lhe tirar o foco e aceitou a proposta, tratando aquela noite como a última, disposto a dar o seu melhor.
Envolveu o grelo com a boca, brincando com a língua em movimentos circulares, recebendo como pagamento gemidos cada vez mais altos:
– Assim, amor … isso é bom demais … bem aí … não para …
Chupando com dedicação, sempre pensando que aquela seria a última vez, se dedicou ao máximo, caprichando em cada escolha, em cada movimento, fazendo o corpo de Laine se retesar e tremer no ritmo de suas carícias. Sugava o grelo e a seguir enfiava a língua bem fundo na xoxota, repetia e mudava a posição, mordiscando a parte interna das coxas, dando chupões na virilha, voltando a envolver o grelo com a boca e sugando um pouco mais forte.
– Ah, vou gozar, amor! Não para … que incrível … como vou viver sem isso … Ahhhhh …
Laine não só gozou, como praticamente ejaculou em sua cara, um squirting intenso, que fazia o corpo dela quase convulsionar. Naquele momento, no apagar das luzes daquele casal, a conexão entre eles era tão intensa, tão extraordinária, que os sentidos dela apagaram por alguns segundos, num êxtase quase extracorpóreo.
Beto só pensava em a possuir uma última vez, convicto de que os dois mereciam aquele último prazer. Ele a colocou de quatro – adorava admirar aquela bunda perfeita, carnuda e redonda – e pincelou o pau naquele mel abundante que escorria, apontando a cabeça na entrada da xoxota e empurrando devagar, mas sem parar, a preenchendo completamente:
– Ai, meu Deus … isso amor … me fode, fode essa buceta, faz amor comigo.
Beto começou a estocar, indo fundo dentro dela, socando com carinho, mas de forma viril, sem perder o ritmo. Laine rebolava e forçava a bunda para trás, tentando obter o máximo de satisfação, aproveitando cada estocada funda dentro dela, arqueando e levantando as costas, sentindo as mãos que seguravam com força em seu quadril, a puxando de encontro a ele.
Laine gozou novamente. Gozou pela terceira vez, e pela quarta … Beto tentava prolongar ao máximo o momento, mas já no limite de sua força de vontade e controle, não resistiu e liberou toda a tensão contida dentro dele, ejaculando forte sem tirar de dentro, inundando aquela buceta que ele amava foder. Os jatos eram fortes e potentes, seis ou sete seguidos, uma quantidade enorme de sêmen que começava a encontrar o caminho de saída e escorria pelas pernas dela.
Caíram exaustos na cama, tentando recuperar o ar, respirando pesadamente. Ele quase destruiu o momento:
– Eu sei que você …
Laine o calou com um beijo:
– Por favor, não precisa falar … vamos só curtir, só por essa noite.
{…}
Uma semana depois:
Aquele dia amanheceu estranho. Um dia de frio e chuva em fevereiro, em pleno verão Brasileiro. Os agentes da polícia federal, divididos em quatro viaturas, se identificaram e adentraram o condomínio. Como era de praxe naquele tipo de operação, instruíram os porteiros e vigilantes do condomínio a não tentarem nenhum tipo de comunicação com o morador alvo. Duas viaturas se posicionaram na rua de trás, as outras duas na frente da casa.
A primeira equipe caminhou até a porta e tocou a campainha. Uma das empregadas atendeu. Um dos agentes rapidamente a instruiu:
– Acorde os seus patrões e peça para se vestirem adequadamente e descerem, eles têm cinco minutos.
Assustada, ela obedeceu. Em menos de cinco minutos, esbravejando, Paulo apareceu no topo da escada:
– Com quem vocês pensam que estão falando? Saibam que eu sou …
Um dos agentes, o mais ágil, em segundos estava a sua frente, o algemando:
– Sr. Paulo, o senhor está preso por corrupção, formação de quadrilha e crime contra a lei de livre mercado. O senhor responde também por coação, constrangimento, aliciamento e diversas ações criminosas.
Paulo tentou resistir, se lançando contra o agente, mas foi rapidamente contido, derrubado no chão e algemado sem muito esforço:
– O senhor tem o direito de permanecer em silêncio, assim como o de contatar o seu advogado. A partir de agora, como determinado por um juiz, iremos cumprir o mandado de busca e apreensão.
Patrícia, assustada, saía do quarto já algemada por duas agentes femininas e teve seus direitos lidos por elas. Ela tentou falar com o marido:
– Paulo, o que é isso? O que está acontecendo?
O agente principal, o responsável pela operação, ordenou:
– Separem os dois, não deixem que se comuniquem. Cada um em um carro.
Por quatro horas, a equipe vasculhou a mansão detalhadamente, sem deixar passar nada. Celulares, computadores, notebooks, documentos diversos e variados foram confiscados e levados para a perícia.
Começava ali, a colheita do mal para Paulo e Patrícia, o escorpião e a víbora. Quem semeia vento, colhe tempestade. O ditado nunca esteve tão certo, mesmo no Brasil: a justiça tarda, mas não falha.
Continua ...