IDAS E VOLTAS [44] ~ Páscoa em Brotas!

Um conto erótico de Sandro
Categoria: Gay
Contém 6714 palavras
Data: 06/01/2024 20:09:30

No dia seguinte quando acordei Pedro já tinha saído do quarto, cheguei à sala e ele estava sozinho tomando café.

- Bom dia Pedro.

- Bom dia.

- Vamos dar uma volta pela cidade?

- Já combinei de sair com Marcelo, vamos andar a cavalo.

- Beleza, então bom passeio pra vocês.

Pedro não disse nada, terminou de tomar o café e saiu, ele ficou estranho desde a conversa da noite anterior. Os outros meninos já tinham saído, resolvi ficar por casa mesmo, peguei o livro e fui ler na varanda onde tinha uma rede. O ambiente era perfeito, o único barulho que se ouvia era o da mãe do Giovane na cozinha.

No meio da tarde, eles retornaram animados do passeio, eu continuava lendo na mesma rede, fui interrompido por Rafael que veio falar comigo.

- Oi Sandro, porque você não foi nos encontrar?

- Não estava muito a fim de sair.

- Esse livro deve estar muito bom, você mal aproveitou o passeio, só ficou lendo.

- Não precisa ficar preocupado, estou bem.

- Estou te achando pra baixo, o que houve entre você e o Pedro?

- Não houve nada, ele quis sair com o Marcelo e eu não estava a fim.

- Perguntei por você e ele foi seco, disse que não tinha obrigação de ficar te paparicando.

- Nós tivemos uma conversa chata ontem à noite e eu acho que ele não gostou.

- Se eu soubesse que ficaria sozinho, teria esperado, não gosto de te ver isolado dois outros.

- Foi bom, você pôde curtir a Letícia e eu também não estava a fim de sair, gostei de ficar lendo.

- Não gostei da atitude do Pedro, ele vai ter que me explicar direitinho porque não te levou.

- Não precisa se indispor com o Pedro por minha causa, estou bem e não fui porque não quis.

- É mentira Sandro, o combinado não foi esse e o Pedro sabia.

- Já sou bem grandinho pra me virar sozinho, relaxa, está tudo bem Rafael.

- Você está bem mesmo?

- Estou ótimo.

- Daqui a pouco nós vamos voltar, já arrumou suas coisas?

- Já deixei tudo pronto quando acordei pela manhã.

- Oi Sandrinho, não quis ir com a gente, o passeio estava maravilhoso, disse Letícia juntando-se a nós.

- Acabei de dizer para o Rafael que minha leitura estava ótima.

- Ele ficou chateado com o Pedro.

- Não quero brigas, viu Rafael?

- O Pedro foi sacana, mas tudo bem, vamos esquecer o que houve.

Na despedida os pais do Giovane fizeram questão de nos convidar para voltar outra vez, disseram sentir prazer em hospedar pessoas que não fazem muita gritaria e nossa galera era calma.

A volta pra casa foi tranquila, apesar do trânsito intenso tudo transcorreu normal. Os meninos estavam cansados, Rafael e Letícia dormiam abraçados, Giovane e Laura passavam fotos da maquina para o note, Marcelo dormia abraçado a Tais sua nova peguete, Pedro estava com os fones ouvindo músicas no celular e eu aproveitei para conversar com o motorista da van e mantê-lo atento à estrada.

Chegamos à Belo Horizonte passava da uma da manhã, primeiro deixamos a Letícia em casa, depois foi a vez de Laura e por último a Taís. Quando chegamos a republica era mais de duas da manhã e no dia seguinte teria aula. Mal deixei minhas coisas no quarto e caí na cama, estava morto de cansado da viagem, dormi e só acordei no dia seguinte com Rafael me chamando.

Acorda malandro, é segunda-feira, feriadão acabou.

Abri os olhos com dificuldade e notei que ele já estava pronto para faculdade.

- Já está na hora? Poxa nem descansei.

- Deixa para descansar no próximo final de semana.

- Próximo final de semana eu vou pra casa, vamos?

- Não sei ainda, vou ver com a Letícia.

- Esse grude ainda vai virar em casamento.

- Está muito cedo ainda, mas não quero ficar longe dela.

- O convite está feito se quiser companhia, estou indo na sexta-feira depois que sair da academia, mas me avisa antes porque vou comprar a passagem e se quiser compro a sua também.

- Eu aviso, agora levanta dessa cama que a vida voltou ao normal e você tem aula.

Infelizmente ele tinha razão, levantei e fui para o banho. Quando cheguei a cozinha encontrei os meninos sentados à mesa tomando café na maior ressaca contando ao Lucas sobre o final de semana e também querendo saber como foi o final de semana dele.

- Bom dia galera!

- Bom dia, eles me responderam, porém senti o Pedro arredio, isso significava que ele ainda estava magoado por nossa conversa do sábado.

- Da próxima vez o Lucas vai com a gente, disse Rafael.

- E vai ter próxima vez?

- Claro que sim Lucas, meus pais gostaram da galera e já deixaram o convite, só temos que marcar a data.

- Já estou na lista.

- O Marcelo não é batom, mas está sempre na boca.

- Qual é Rafael, ultimamente o chiclete é você.

- Eu gostei muito do passeio Giovane, foi maravilhoso e a Letícia também amou por ser sua terra natal.

- Apesar de estar meio deslocado, eu também gostei e volto com certeza.

- Fiquei preocupado com você, achei que não tivesse gostado.

- Não aproveitei os passeios como vocês, mas descansei e li bastante.

- E você Pedrão? Está calado desde sábado, não gostou da viagem? Questionou Giovane.

- Estou passando por um momento complicado, mas gostei do passeio, disse ele.

- Pedrão você anda muito misterioso, se isso tem a ver com namorada, faça como eu, vire a página e passe adiante, Marcelo brincou com ele.

- Se fosse fácil eu viraria tranquilamente disse ele sorriso tímido.

- Vocês voltaram tão animados que da próxima vez vou junto, disse Lucas.

- Vale a pena Lucas, vai sim, falei pra ele.

- Galera, o papo está animado, mas eu tenho que ir, disse Rafael.

- Vou com você disse Giovane.

- Eu não pego o mesmo ônibus, mas podemos ir juntos até a parada disse Pedro se retirando com os meninos.

- Vou de carona com minha gata, disse Marcelo já lavando sua xícara na pia.

- Teve sorte, arranjou uma ricaça.

- Que rica Lucas? Ela é mais pobre que eu, a sorte é que tem carro.

- Marcelo, e a Carla, como vocês ficaram?

- Ah Sandro, ela era muito ciumenta, possessiva e eu detesto mulher pegajosa.

- E a Taís é tua colega de aula?

- Não namoro colegas nem de brincadeira, porque depois dá em confusão, ela é do curso de veterinária.

- Você está certo, namoro é confusão na certa, o bom mesmo é aproveitar a vida assim como eu faço.

- Discordo sobre o namoro, mas também acho que se envolver com colega de faculdade ou de trabalho não dá certo.

- Vem cá Sandro, cadê o Juliano que não foi no passeio?

- A gente terminou.

- Que pena cara, por isso eu te vi isolado dos outros.

- Da próxima vez eu vou para consolá-lo, disse Lucas brincando.

- E quem disse que eu quero, deixa de ser convencido, Lucas.

- Aposto que você não resiste aos encantos do papai aqui.

- Ah, vai se fuder Lucas, disse brincando com ele e o Marcelo caiu na risada.

Ouvimos uma buzina de carro na frente da casa era a peguete dele.

- A patroa chegou, disse Lucas caindo na risada.

Ele correu até a porta, olhou e saiu correndo para pegar suas coisas no quarto.

- Caroninha de ouro, disse ele já retornando com seu material de aula.

- Cuidado pra não namorar demais e perder a aula.

- Será que dá tempo deles transarem antes da aula?

- Lucas, que mente poluída. Acho pouco provável, imagina transar no carro durante o dia?

- Ah Sandrinho pra quem quer sempre tem um jeito, nem que seja escondido num cantinho.

- Deixa de ser perverso, Lucas.

- Por falar em perverso tenho uma coisa pra te contar.

- Não! Não me diga que o Bruno...

- Cara, foi muito louco, ele estava meio bêbado e sei lá, acabou rolando.

- Lucas seu doido, você não desiste mesmo, o cara deve ter pirado quando caiu em si.

- Fácil não foi e você tem razão, depois ele ficou estranho.

- E não é pra menos, o que ele fez?

- Fugiu de mim, acho que está com vergonha ou arrependido.

- E agora, o que você vai fazer?

- O Bruno não vai querer nada comigo, mas o importante foi que pelo menos uma vez na vida eu tive ele pra mim e isso é o que importa.

- Você é doido, não sei como consegue viver assim?

- Nem eu mesmo me entendo, mas xô depressão quero ela longe de mim.

- Dá-lhe Lucas, eu te admiro.

- Tenho outra novidade pra te contar, mas não sei se você vai gostar.

- Você veio cheio de novidades dessa viagem, eu hein!

- E como, imagina quem estava lá?

- Quem? Diz logo não sou bom com adivinhações.

- O Roger estava lá com o Vitor e mais alguns amigos dele.

- Que bom pra ele.

- E sabe quem chegou depois?

- Quem?

- Adivinha?

- Nem imagino, estou por fora da vida dele.

- Aline, em carne e osso.

- Aline?

- Sim, ela mesma, foi atrás dele e sozinha sem a filha.

- Então ela estava combinada com a cobra da mãe dele.

- Isso eu não sei, mas ele perdeu o rebolado quando viu ela no hotel.

- Imagino, a mãe dele se faz de santinha e fica agindo pelas costas e o idiota ainda idolatra a mamãezinha.

- Só pode ter sido, porque Aline não tinha como adivinhar que ele estava com a gente.

- Ah, Lucas, quer saber, eles se merecem.

- Achei que você fosse ficar triste com essa notícia.

- Ele e Aline já me machucaram tanto que isso pra mim é o de menos.

- E eu que pensei que ele se separando vocês voltariam a se aproximar.

- Até poderíamos voltar se ele mudasse, mas aposto que é o mesmo Roger de sempre, isso se já não se acertou com Aline novamente.

- Com Aline acho pouco provável, mas quanto ao resto você tem razão.

- Independente de voltar ou não com Aline, ele continua o mesmo galinha de sempre, traçando o primeiro ou a primeira que aparece.

- Vamos pra aula, não posso me atrasar.

- Vamos, porque chegar atrasado depois do feriadão é de matar.

- Principalmente você que ainda tem aquelas regras chatas de colégio.

- Nem me fala, não vejo a hora de me livrar do ensino médio.

Cheguei ao colégio e Adriana veio ao meu encontro me abraçar.

- Me conta tudo, quero saber como foi o passeio?

- Foi legal.

- Só isso?

- São tantas coisas lindas que só indo até lá pra perceber o quão maravilhoso é aquele lugar.

- Você andou na tirolesa, dizem que é legal?

- Não me achei com coragem, da próxima vez você vai comigo e nós andamos.

- Quem me dera meu pai deixasse.

- Fale com eles com jeitinho que você consegue, depois eu te aviso a data.

- Hummm... A paz desse colégio acabou, olha quem está chegando.

Olhei em direção ao portão e nossos olhares se encontraram, de forma instantânea. João Pedro disparou um olhar que não soube definir se era ódio ou algo diferente. Em alguns minutos fechou uma galera na volta dele, uns desejando bom retorno, alguns apenas curiosos e outros já parte de seu famoso grupinho o abraçavam felizes por ter o líder de volta.

- Ei Sandro, o que foi?

- Nada.

- Está viajando ou ficou interessado na recepção do colega?

- Vamos pra aula, já vai dar o sinal.

- O Christian nem chegou ainda?

- Ele nos encontra na sala de aula, vamos!

Sentei no mesmo lugar como de costume, na lateral do lado oposto a porta da sala, o Christian demorou a chegar, provavelmente estava no grupinho de recepção ao João Pedro.

Alguns minutos depois o restante da turma o acompanhava até a sala, sentamos em lados opostos, ele estava ao lado de sua antiga turminha, parecia estar feliz ao tê-los a sua volta. Lembrei-me do trabalho, precisávamos conversar, pois o mesmo deveria ser apresentado no final do trimestre, era algo que bem ou mal tínhamos que resolver, o problema era que eu não estava com a mínima disposição de tratar nenhum assunto com ele.

A aula foi tranquila apesar de a professora dar uma bajulada inicial no João Pedro, engraçado que de vilão ele passou a ser vítima. As pessoas esquecem o mal feito de um momento para outro, basta que o cara tenha poder. O João Pedro não tinha, mas o pai dele era uma autoridade. Toda aquela bajulação talvez nem fosse pela pessoa dele, mas sim por aquilo que ele representava, por isso eu até entendia de onde vinha tanta amargura. Com todo aquele assédio, o cara tinha mais era que ser revoltado.

Na hora do intervalo fomos até o bar e sentamos numa mesa e novamente aquela roda de gente em torno do cara. A coisa não era comigo, mas já estava ficando entediado de tanta bajulação.

- O que aconteceu com você no final de semana?

- Não aconteceu nada Christian, por quê?

- Desde que chegou ao bar, você está viajando, sinto que apenas seu corpo está aqui, a mente está longe.

- Desculpa o que você queria?

- Perguntei se vai comprar algum lanche?

- Não estou com fome, vá você e Adriana.

Os dois saíram para comprar o lanche e eu fiquei sentado. De onde estava apenas observava o movimento. Não demorou muito e retornaram já com os lanches e começaram a comer.

- Enquanto vocês lancham vou ao banheiro.

- Espera um pouco vou com você.

- Estou apertado não dá pra esperar.

Fui ao banheiro fiz xixi e na volta João Pedro vinha ao meu encontro, pensei em cortar caminho, mas não daria chances, pra ele se sentir vitorioso e me jogar na cara depois. Respirei fundo e tentei manter a calma.

- E aí viadinho estava com saudades?

- Só se for pra te ver no chão novamente.

Ele sorriu convencido.

- Gostou tanto do meu beijo que até foi me visitar no hospital.

- Fui porque temos um trabalho pela frente que a infeliz da professora é uma idiota.

- Eu nem acreditei quando minha mãe me falou.

- Foi bom nos encontrarmos aqui, assim evita eu ter que te procurar e olhar na tua cara novamente.

- Sou tão bonito que você não resiste.

- Sem piadinhas, por favor, tenho uma proposta pra te fazer.

- E desde quando você dita às regras?

- Desde o dia em que te dei um empurrão e você foi ao chão.

- Foi bom me lembrar, você me deve essa e vai me pagar.

- Não tenho medo de você.

- Pois então é bom ter, porque eu vou acabar com sua raça.

- Não esqueça que seu pai é da polícia e seria um escândalo pra ele se seus colegas soubessem que o filho é um estuprador de meninas indefesas.

- O que você está falando idiota?

- Estou falando que você é um estuprador e agora me dá licença que eu quero passar.

- O que você está pensando que é? Quero saber de onde tirou uma idiotice dessas?

Ele me prensou contra a parede e já se formava uma turma de curiosos a nossa volta.

- Acho que aqui não é o melhor lugar, falei e ele me soltou ao ver o aglomerado de pessoas nos olhando assustados.

- Qual é? Ele gritou na direção aos outros.

- O que está acontecendo aqui? Gritou a pedagoga.

- Nada demais professora, estávamos conversando sobre um trabalho e acharam que era briga.

- Vão todos pra sala de aula que já deu o sinal.

Já na sala fui até a mesa dele.

- Sobre o trabalho eu me proponho a fazer toda a parte da pesquisa e você apenas digita e imprime.

- Nada disso, quero você na minha casa, vamos fazer esse trabalho juntos.

- Pensa que sou desocupado igual a você?

- Eu sei que você trabalha e isso quer dizer que vamos nos encontrar várias vezes.

- E pra que você me quer na sua casa, pra me humilhar?

- A partir de amanhã, você vai à minha casa até o horário de sair para o trabalho.

- Não vou me sujeitar aos seus caprichos.

- Sandro, sente-se no seu lugar, por favor, disse o professor já impaciente.

- Já vou professor, estou acertando os detalhes de um trabalho.

Enquanto acalmava o professor João Pedro escrevia num papel, vi que era inútil discutir ali na sala e voltei para o meu lugar.

A aula transcorreu normal e antes de sairmos ele veio até a minha classe e me alcançou aquele papel.

- Este é o endereço, vou esperar a partir de amanhã e não admito falhas.

- Porque não pode ser na minha casa?

- Na minha casa.

Ele virou as costas e saiu me deixando com o papel na mão, não discuti, pois Adriana e Christian estavam de olho em nossa conversa.

- Essa professora merece um processo.

- Adriana, a professora só quer a integração da turma.

- Tinha outras maneiras dela fazer isso, né Christian?

- Com certeza tinha Sandro, mas ela usou o meio que mais prático.

- Ai amigo, eu queria tanto te ajudar.

- Vou ter que ir a casa dele, vai saber o que esse louco pretende.

- Desculpe Sandro, mas o João não é esse bicho que vocês estão pintando.

- Christian, ele odeia o Sandro.

- Não é pra tanto, eu acho que o João gosta do Sandro, mas pega mal pra ele admitir isso diante da galera.

- Santa idiotice, eu desisto de tentar te entender.

- Calma galera, eu vou resolver isso sozinho.

- Tenho medo que aquele doido apronte alguma coisa pra você.

- Na casa dele Adriana? Deixe de ver problema onde não existe.

- Acho que na casa dele, ele não faria nada pra me prejudicar.

- E você também não é criança, sabe se defender.

- Como você é grosso Christian.

- Adriana deixa de ser neurótica achando que o cara é um psicopata.

- Sandro, leva o telefone e qualquer coisa me liga que eu chamo a polícia.

- Adriana, terra chamando, a policia mora na casa dele, esqueceu?

- Eu sei Christian, mas e se o pai dele não estiver em casa?

- O João Vitor não é nem um maluco ou lunático, por favor, Adriana, você é inteligente.

- Eu acho que o Christian tem razão, Adriana.

- Está certo, não vou mais discutir com vocês por causa dele, mas qualquer coisa me liga.

- Fica tranquila, já estou até mais corajoso pra enfrentar essa situação.

Já em casa liguei para o Tiago e avisei que na sexta-feira após sair da academia, pegaria o ônibus e ia pra casa, pedi para ele me buscar na rodoviária, pois chegaria de madrugada e certamente não teria táxi.

Estava estudando quando meu telefone começou a chamar.

- Fernanda, nem acredito que se lembrou de mim?

- O Tiago me disse que você está vindo pra cá nesse final de semana?

- Vou sim, estou com saudade.

- O Rafa vem com você?

- Esquece o Rafael.

- Ele nem atende mais minhas ligações.

- Ele está bem e você tem que partir pra outra.

- O Tiago me falou que você e o Juliano terminaram, fiquei triste, eu gosto muito dos dois.

- Estou tentando dar a volta por cima, por isso quero sair um pouco daqui.

- Vem pra cá então, nós podemos ir num baile, que tal?

- O que eu vou fazer num baile onde só tem hétero?

- Vem me fazer companhia, faz tempo que não saio.

- Você ainda não saiu depois que terminou com o Rafael?

- Não! Estou cansada de correr atrás dele, o Rafa não me ama mais.

- Se eu for nesse baile você vai se sentir melhor?

- Ah, eu sabia que você não ia me decepcionar, disse feliz.

- Se for pra te ajudar eu vou encarar esse povo idiota.

- Sandrinho, eles nem lembram que você existe.

- Tenho certeza que basta eu pisar os pés aí que muito curioso já vai deduzir alguma coisa a meu respeito.

- Meu bem, você é melhor que toda essa gente. Tenho certeza que vai arrasar.

- É por isso que eu te adoro.

- Oh, vou convidar uma prima minha pra ir conosco ao baile.

- Por quê? A minha presença não basta?

- Pra ela te fazer companhia.

- Estou bem sozinho, não se preocupa.

- É só pra companhia, se acalma.

- Senti que você vai me aprontar, posso saber qual é o seu interesse com essa garota?

- Calma Sandrinho, eu sou maluca, mas não pretendo te tornar hétero, disse ela caindo na risada.

- Olha lá o que você vai me aprontar, estou solteiro, mas não estou em busca de nenhuma namorada.

- Quem sabe não é hora de você buscar uma mulher?

- Está me estranhando, meu caso é homem.

- Eu sei seu bobo, fica tranquilo que minha prima é bem legal e sabe que você é gay.

- Sendo assim, pode convidá-la.

- Nós vamos arrasar nesse final de semana.

- Doida, eu te amo, agora tenho que desligar.

Desligamos e logo me arrependi de ter dito que a acompanharia, ela estava aprontando alguma e eu estava no meu momento zen, não queria me meter em confusão.

CONTINUANDO…

Tão logo cheguei à academia Breno veio me cumprimentar, nem parecia o cara rigoroso e carrancudo de sempre.

- Boa tarde Sandro, como foi o passeio?

- Maravilhoso, fomos convidados para voltar e da próxima vez você vai com a gente.

- Comprei um presente pra você, está lá no escritório, vamos lá que eu quero te entregar.

- Nossa... Pra mim?

- Claro, meu mais novo amigo não poderia ficar esquecido.

Fomos ao escritório e ele me alcançou uma sacola pequena e dentro tinham dois pacotes.

- Tem dois pacotes aqui Breno, você não se enganou?

- Não, um presente é para o meu funcionário que já dei aos demais e o outro é para o meu amigo Sandro.

- Estou com vergonha, desculpe, não comprei nada pra ninguém.

- Não se preocupe minha intenção não é ganhar presente, agora abra, quero ver se você vai gostar.

Abri o pacote menor, era uma caixa de bis, junto tinha um bilhete “funcionário de academia não pode comer muito chocolate, feliz páscoa Sandro.” Gostei do presente, foi bem criativo e o segundo pacote parecia uma agenda, abri e era um livro “O Caminho do Guerreiro Pacífico” fiquei olhando para o presente sem reação, não conhecia aquele autor, mas o título parecia interessante.

Eu li esse livro, me ajudou bastante no meu autoconhecimento, espero que você goste.

- Obrigado Breno.

- Sábado eu fui à livraria comprar um livro pra mim e me lembrei da nossa conversa, vi esse livro na prateleira e pensei, é o presente ideal para o Sandro.

- Eu vou ler, deve ser ótimo.

- Você gosta de ler?

- Comecei a gostar depois que conheci uma amiga que encontrei numa igreja, faz pouco tempo, foi logo que perdi minha mãe, ela me deu um livreto, na verdade um livro de bolso, mas que me conquistou na leitura.

- Depois me diz o que achou do livro.

- Se você está me indicando deve ser ótimo.

- Agora vamos trabalhar senão os outros funcionários vão achar que estou te diferenciando e o trabalho sempre vem em primeiro lugar.

- Esse é o Breno que conheço.

Ele sorriu e voltamos para o trabalho, mas logo Poliana veio à minha mesa tentar descobrir o que ele queria comigo.

- Posso saber o que o Breno te deu de páscoa?

- Uma caixa de bis e pra você?

- Também e um bilhetinho bem ao estilo dele.

- Já sei: funcionário de academia não pode comer muito chocolate.

- Pior que ele nem teve a criatividade de fazer uma mensagem diferente pra cada funcionário.

- Será que ele fez essa mensagem pra todos nós?

- A mesma mensagem e o mesmo presente.

- Bem criativo da parte dele, assim ninguém pode reclamar.

- O Breno é único, se inventarem outro perde a graça.

- Isso é verdade, mas ele é um cara legal.

- Lembra que eu te falei isso logo que entrou e você não acreditou?

- O meu começo foi meio truncado e somado a forma como ele tratou o Alexandre achei que fosse um ogro, mas aos poucos estou conhecendo o outro lado dele.

- Bom, vou trabalhar antes que o chefe dê uma surtada.

Poliana era muito divertida, estava sempre de bem com a vida, só não era muito de falar de sua vida pessoal.

No dia seguinte a rotina da aula foi normal, a bajulação ao João Pedro estava bem menor e aos poucos as coisas iam voltando ao normal.

No intervalo ele não mexeu comigo, até estranhei, pois achei que seria o mesmo tédio do dia anterior, mas pelo contrário, assim que retornamos pra aula ele foi até minha classe e disse que estaria me aguardando para fazermos o trabalho.

Quando acabou a aula, fui pra casa, almocei, tomei um banho, peguei minhas coisas e fui até o endereço que ele havia me dado.

Eu estava tenso, nervoso, mais tentei agir normal. Toquei a campainha e logo ele apareceu, usava apenas uma bermuda, não sei se fez aquilo para me provocar, mas sua pele morena me chamou atenção, não tinha como não chamar mesmo estando apreensivo diante da situação. O João era um cara atraente, tinha um corpo bonito, braços, pernas, olhos verdes, cabelos lisos, meio loiro, arrepiado, usava roupas de marca, perfume caro. Ele era um cara que chamava atenção por isso toda aquela badalação no colégio. Pena que seu maior defeito era arrogância e a história que Adriana tinha me contado sobre o estupro da garota.

- Pontual, assim que eu gosto.

- Por favor, sem piadinhas de mau gosto.

- Entra.

- Você está sozinho?

- Porque, está com medo?

- Não tenho tempo a perder, vamos fazer logo esse trabalho, preciso me livrar desse problema.

- Eu não mordo, não precisa ficar nervoso.

- Onde vamos fazer o trabalho?

- Primeiro eu quero saber uma coisa.

- Que coisa?

- De onde você tirou que estuprei uma garota?

- Eu soube por alguém que não vou te contar.

- Você acha que eu tenho cara de estuprador?

- Não sei, não conheço nenhum, como vou saber.

- Você sempre tem resposta pra tudo.

- Levando em conta tudo que você me falou até hoje, me leva a crer que estuprou a garota, mas não foi isso que vim fazer aqui.

- É melhor mesmo, vamos começar o trabalho lá no meu quarto.

- Não tem outro lugar que podemos estudar sem ser no seu quarto?

- Está com medo que eu vá te atacar?

- Acredito que não vá fazer isso, uma que você está na sua casa e outra que não faço o seu estilo.

Ele apenas sorriu e seguiu em direção ao quarto. Apesar de nervoso e falar coisas sem pensar não me saí tão mal, pensei enquanto o seguia. Estranhei a mudança brusca dele comigo até aquele momento. Em sua casa não era o garoto arrogante da escola, embora fosse forte em suas palavras de longe era o João Pedro provocador que conhecia do colégio.

Entramos no quarto dele e pude perceber um quarto todo bagunçado, tinham roupas espalhadas por cima da cama e uma toalha molhada que dava para se perceber pela maneira que estava jogada.

- Não precisa ficar olhando porque sou bagunçado mesmo.

- Logo você que anda sempre com um cortejo atrás, imaginei o contrário.

- Eles são meus amigos lá no colégio.

- Ah é? E aqui não?

- Isso não te interessa.

Ele sentou na bancada do computador e ligou, em seguida saiu do quarto e retornou com uma cadeira para eu sentar.

- Eu não vou com sua cara e você não vai com a minha então vamos fazer assim, aqui somos colegas e lá no colégio somos inimigos.

- Você não é meu amigo em lugar nenhum.

- Eu não falei que somos amigos, disse que somos colegas e como bom colega, quero saber por que você foi ao hospital me visitar.

- Por causa do trabalho.

- Eu sei que não foi este o real motivo.

- Foi uma tentativa frustrada de me aproximar, mas você jamais aceitaria amizade de um gay.

- Eu proponho uma trégua em nossas ofensas.

- Em nome do trabalho, eu aceito.

- Que fique bem claro essa trégua é aqui na minha casa, lá no colégio é diferente.

- Tem medo de perder a pose de machão?

- Entenda como quiser, vamos começar o trabalho.

Começamos o trabalho e eu nem vi a hora passar, apenas me dei conta quando ele mesmo me falou que estava no meu horário.

- Não vai se atrasar, já está no seu horário.

- Já, mas foi bom, conseguimos dar uma avançada boa no trabalho.

- Ainda bem porque amanhã eu não posso.

- Porque não pode? Nós temos um prazo a cumprir.

- Amanhã não dá.

- Vai sair com seus amiguinhos e deixar de fazer o trabalho?

- Não, tenho outro compromisso e como eu já falei você não dita às regras aqui.

- Estou pouco me lixando pra suas regras, preciso de nota nesse trabalho e vou fazer mesmo sem você.

Eu ia saindo e ele de forma ágil me segurou e acabamos caindo em cima da cama.

- Escute aqui, eu disse que amanhã não posso e quando digo que não posso é porque tenho um compromisso, não disse que desisti do trabalho, deixa de ser idiota e bancar quem você não é.

- Seu desgraçado, infeliz, filho da puta. Quem você pensa que é pra me dar ordens?

Dei um empurrão nele e consegui me levantar, mas ele foi mais rápido, fechou a porta e ficou escorado nela.

- Me deixa passar.

- Eu tenho psicólogo amanhã, por isso não posso.

- Porque você não me disse antes?

- Pra você rir da minha cara, achar que sou um fraco que precisa psicólogo?

- Porque você encara tudo como uma disputa?

- Porque todos me cobram isso.

- Você não precisa fazer o que os outros querem, basta ser você mesmo, João.

- Belo discurso moralista, mas pra mim não serve.

- Por isso que você se ferra, vai atrás da opinião dos outros e nunca vai ser feliz.

- E quem aqui falou em felicidade, por acaso você sabe o que é isso?

- Posso não saber, mas já tive momentos de felicidade e isso pra mim é uma grande conquista.

- Grande merda e o que você ganhou com isso?

- Não ganhei nada, mas nem por isso deixei de lutar por aquilo que quero.

- Sendo desse jeito que você é?

- O que tem o meu jeito de ser?

- Cara, você é um viado filho da puta, se acha o tal, pensa que alguém vai se aproxima pelos teus belos olhos? Não! É por tua bunda.

- Idiota! Você não sabe nada da minha vida pra dizer isso a meu respeito, aposto que a tua vidinha de play boy é mais seca e vazia que a minha e agora sai da minha frente.

Dei um puxão nele e consegui abrir a porta. Quando estava saindo ele veio correndo atrás de mim.

- Sandro, esquece o que falei lá no quarto.

- Você só falou o que pensa a meu respeito e quer saber de uma coisa, eu não volto mais aqui pra fazer porcaria de trabalho nenhum.

- Eu falei coisas sem pensar, me desculpa.

- Você é um imbecil pobre de espírito, homofóbico nojento.

Saí da casa dele sem olhar pra trás, no trajeto até a parada de ônibus, comecei a pensar em tudo que ele falou e pior que o desgraçado tinha razão.

Fiquei com tanta raiva que cheguei à academia me sentindo engasgado com as verdades que ele me jogou na cara, primeiro foi o Roger que brincou com meus sentimentos, o Lucas que se aproximou de mim interessado em sexo, o Diego foi um erro e já não tinha mais certeza se Juliano me amava como dizia.

Cheguei e fui direto ao banheiro, fiquei algum tempo lavando meu rosto e digerindo as palavras do João Pedro até que alguém que eu não tinha visto antes falou comigo.

- Você está se sentindo bem?

- Já estou melhor, obrigado.

- Se precisar eu posso te levar ao médico.

- Não é necessário, você faz ginástica aqui na academia?

- Comecei hoje, mas já estou no horário de saída, você faz ginástica aqui?

- Eu trabalho aqui, me desculpe não estava me sentindo bem, por isso estava lavando o rosto.

- Meu nome Vagner e o seu?

- Sandro.

- Muito prazer, ele me estendeu a mão quando acabara de secar meu rosto.

- Prazer.

- Tem certeza que não precisa de nada.

- Tenho sim, muito obrigado.

- Preciso ir então, tenho aula daqui a pouco, sou professor.

- Eu trabalho na recepção, pego as 16:00.

- Acho que vou mudar de horário.

Ele deu um sorriso em seguida saiu do banheiro, apesar da simpatia o achei um pouco estranho, pois ficou me observando o tempo todo, como se tivesse me analisando de cima a baixo. Eu também não deixei de analisá-lo, o cara deveria ter em torno de uns 30 anos, não era muito alto, era mais ou menos no perfil de 1,75, moreno, olhos castanhos, pele clara, bonito, bem apresentável, mas eu não estava no clima para investir em algo novo, estava curtindo meu momento solidão, por enquanto relacionamento não estava me fazendo falta, pois os meus anteriores foram um fracasso total e as palavras do João Pedro ainda gritavam na minha cabeça e me faziam voltar à realidade.

Saí do banheiro e fui para o meu posto de trabalho, já estava bem melhor ate que fui surpreendido pela presença de Augusto pedindo seu boleto para pagar a mensalidade. Então ele não tinha viajado, será que desistiu? Fiquei com essa duvida azucrinando minha cabeça, como eu ia descobrir? Tinha que ter um jeito e eu ia encontrar uma forma de saber se ele tinha adiado a viagem ou se algo tinha a ver com o término do Juliano.

Pensei no Edu, ele como instrutor, geralmente sabia tudo que rolava na academia, deixei terminar o expediente e enquanto organizávamos tudo puxei assunto com ele.

- Hoje a academia estava movimentada.

- Volta de feriadão é assim mesmo.

- Teve até gente que eu achei que tivesse desistido e voltou.

- Quem?

- Não sei se você lembra o Augusto dos laboratórios.

- Ah sim, mas ele não tinha desistido.

- O Juliano me disse que ele estava de mudança pra outra cidade.

- Ele desistiu da mudança. Você não sabia?

- Não.

- Parece que o negócio não deu certo e ele resolveu ficar.

- Que bom, é um aluno a mais pra academia e o Breno que fica contente.

- Um aluno a mais ou a menos não faz diferença para o Breno, mas o Augusto é um cara legal.

- Simpático.

Concordei para ele não desconfiar que na verdade eu achava o Augusto muito dono de si, ele nunca me fez nada, mas era uma rejeição sem explicação.

No dia seguinte no colégio me mantive longe de tudo que ligava ao João Pedro, no horário do intervalo fiquei na sala, não estava animado e também não queria ver as mesmas coisas de sempre, Depois do que ele me falou não tinha nem vontade de voltar a casa dele para continuar com o trabalho e assim passou a semana. Na sexta-feira ele foi até a minha classe e disse na segunda-feira continuaríamos de onde paramos. Pensei em dizer que não ia, mas eu precisava da nota e aquela professora não dava moleza na hora de avaliar, já tinha feito uma prova com ela e não tinha me dado bem.

Na saída do colégio aproveitei para ligar pro Tiago e confirmar sobre o final de semana, ele ficou certo de me buscar na rodoviária quando chegasse pela madrugada.

Eu ia distraído na rua conversando ao telefone com meu irmão quando percebi que um carro já conhecido me seguia, olhei em direção ao motorista e o Roger abaixou o vidro e continuou me seguindo pela rua, na verdade ele estava atrapalhando o trânsito então me despedi do meu irmão e desliguei o telefone.

Deu pra me seguir agora?

- Quero falar com você, entra aqui.

- Nós não temos nada pra falar.

- Se você não entrar nesse carro, vou te seguindo até em casa.

- Azar o seu, vai tomar uma multa sem necessidade.

- Entra aqui Sandro, deixa de ser infantil.

Aquela situação já estava me chateando, pensei bem e acabei entrando no carro dele.

- Seja rápido o que você quer?

- Você nem me contou que se separou do Juliano.

- Não preciso te manter informado sobre minha vida.

- Porque tanta revolta? Toda vez que eu te encontro só vejo mágoas em seu coração.

- Porque será? Nem você mesmo é incapaz de entender suas atitudes.

- Vamos almoçar no shopping?

- Não, eu quero ir pra casa.

- Eu vou com você.

- Não costumo receber visitas na republica.

- Vamos pra minha casa então?

- Na academia, ficou louco?

- Eu quero muito falar com você e não posso adiar mais.

- Me deixa em casa Roger, eu vou viajar hoje à noite e ainda tenho que arrumar minhas coisas.

- Pra onde você vai?

- Não te interessa, me deixa em casa.

- Nós vamos almoçar na minha casa e depois te deixo na republica.

- Acabou Roger, não adianta mais forçar a barra comigo.

- Se você e Juliano terminaram é porque não acabou.

- Ele não está num momento legal, mas vai voltar atrás na decisão de se afastar de mim.

- Por isso você não quis ir para o Shopping, ficou com medo que ele estivesse por lá e nos visse juntos?

- Ele almoça na faculdade, Juliano não é de ficar perseguindo ninguém.

- Quero saber de você, o que anda fazendo, com quem anda.

- Quando era pra você se preocupar comigo, me deu uma rasteira e me traiu com a víbora da minha irmã, agora fica com ela, vocês se merecem.

- Sua irmã não faz parte da nossa conversa.

- Quem não faz mais parte do mundo de vocês sou eu e faz tempo, não sei por que você insiste.

- Já que você quer falar nela, vamos falar, Aline é louca, vislumbrada, mas é a mãe da minha filha e ela já sofreu muito, você que não sabe o que se passa na vida dela.

- E nem eu quero saber por que ela me odeia.

- Ela não te odeia eu que sou um cachorro e estraguei a vida de vocês.

- Como as coisas mudam, da ultima vez que nos encontramos você disse que nunca mais queria papo com ela, agora já vem com outro discurso.

- Vamos parar de falar de Aline.

- Não tenho nada que fazer em sua casa, me leva pra republica.

- Só depois que almoçar comigo.

Não teve jeito, tive que ir até a academia almoçar com ele. Sei que alguns vão me criticar, mas têm coisas que fogem ao nosso controle, eu não conseguia ter raiva do Roger ao ponto de excluí-lo da minha vida, ele era um cachorro como o próprio disse, mas alguma coisa ainda me prendia a ele apesar da minha razão gritar dizendo que ele não prestava.

Chegamos a casa dele que ficava na própria academia, estava tudo ajeitadinho, já estava mobiliado, bem diferente da outra vez que estive lá. Tudo foi muito bem organizado, ele sempre foi cuidadoso, sabia valorizar suas coisas materiais, pois sofreu até encontrar o pai.

Durante todo o tempo que estive lá ele me falou de coisas rotineiras, não me pressionou a nada, também dei uma folga, pois de nada adiantaria ficar fazendo acusações que não nos levava a nada. Em determinados momentos nem parecia o mesmo Roger que já tinha me trazido tanto sofrimento, por alguns momentos chegava a pensar se ele não seria mesmo capaz de mudar e se tornar uma pessoa diferente.

O almoço transcorreu na maior tranquilidade, ele sabia ser agradável apesar de que eu sempre me mantive na defensiva, pra mim toda aquela aproximação era apenas uma forma de me atrair para o lado dele e derrubar minhas barreiras, mas ele seguia firme no propósito de nos tornarmos bons amigos, eu duvidava, não era bobo, se ele era esperto nesse jogo eu já estava vacinado.

Depois do almoço ele me deixou na republica, em nenhum momento tentou algo comigo, coisa que achei muito estranho, mas que poderia fazer parte do jogo dele pra me trazer perto de si mais uma vez e se era essa a intenção dele mais uma vez não funcionou. Não vou negar que a presença dele ainda me atraia, mas junto dessa atração vinha um bloqueio imenso na minha mente que me avisava pra não voltar a me entregar como antes.

- Quando eu te vejo novamente?

- E vai ter próxima vez?

- Porque não, gostei muito do nosso almoço, fazia tempo que eu queria essa aproximação, mas já estava achando que era algo impossível.

- Eu tenho que ir agora.

- Bom passeio, divirta-se.

- Obrigado.

Cheguei a republica, arrumei minhas coisas e fui para o trabalho, Rafael não quis ir comigo, ficou com receio que Fernanda fosse aprontar algo e resolveu ficar em Belo Horizonte.

À noite depois que saí do trabalho, Breno me deixou na rodoviária, ele estava se tornando um grande amigo além de meu chefe, a pessoa que me deu oportunidade para começar a vida numa cidade grande como Belo Horizonte.

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