IDAS E VOLTAS [46] ~ E a amizade com João Pedro / Breno!

Um conto erótico de Sandro
Categoria: Gay
Contém 12119 palavras
Data: 06/01/2024 22:54:02

Passei o fim de semana dentro de casa fechado no meu mundo pensando em como recomeçar minha vida. Na republica cada um vivia seu mundinho, Giovane vivia com Laura pra cima e pra baixo, passava maior parte do tempo com ela na casa da tia Joana, Marcelo parecia bem empolgado com Tais, Rafael ao lado de Letícia, Lucas vivia atrás da vida louca do Bruno e companhia e o Pedro que era parceirão resolveu se afastar de mim, o Diego estava nas tratativas para a viagem, seria em junho, estava próximo.

A semana começou sem muitas novidades, acabei não indo à casa do João Pedro, estava sem animo para ouvir provocações e resolvi ficar em casa.

Eu estava deitado quando alguém tocou a campainha, fui ver quem era e tive a infelicidade de dar de cara com Juliano no portão. Fiquei com vontade de não atendê-lo, mas ignorá-lo seria pior, então resolvi verificar o que ele queria.

- O que você veio fazer aqui?

- Vim falar com você e esclarecer as coisas.

- Eu não quero saber de nada que venha de você.

- Abre o portão, precisamos conversar civilizadamente.

- E por acaso você entende de civismo?

- Estou perdendo aula, vim numa boa e você vai ter que me ouvir.

- Vou abrir porque tenho educação, mas nada que você disser vai me fazer mudar de ideia.

- Que ideia você tem, se nem me deixou explicar o que aconteceu?

- Nem precisa me dizer, eu sei, vi na academia não sou cego.

- Você apenas me viu conversando com Augusto.

- Se fosse eu que falasse com o Roger você não teria gostado.

- E por acaso você deixou de falar com ele?

- Logo você que se achava tão diferente do Roger, é igual a ele, além de tudo, mentiroso, falso, nada do que me falou foi verdade.

- Sempre o Roger, sabe por que mudei de ideia em relação a você, por isso, essa idolatria por ele me irrita.

- Não coloca o Roger no meio de suas mentiras.

- Mentiras?

- Cadê aquela história que não voltava com ex?

- E não voltava mesmo, mas as coisas mudam, ele mudou.

- Era assim que ele fazia parte de seu passado?

- Você quer a verdade, então vamos jogar limpo e falar francamente.

- Que verdade? Eu não acredito em mais nada do que você diz.

- Você nunca me deu uma demonstração de carinho, era tudo automático.

- Calma aí, você está me chamando de aproveitador.

- Você me usou pra atingir o Roger e eu bobo sempre acreditando que um dia viesse a me amar de verdade.

Fui fiel enquanto estive com você, não me acusa injustamente.

- Fiel a que? Ao seu faz de contas.

- O que você queria? Que eu te enganasse e dissesse que te amava?

- Até quando a gente se relacionava era diferente, pra mim era amor e pra você era sexo ou pensa que eu não percebia?

- Foi só no começo.

- Mentira, você se preocupava com todo mundo, mas nunca foi capaz de demonstrar que realmente sentia algo por mim.

- Isso não é verdade, tanto é que fui atrás de você.

- Foi atrás de mim porque quer companhia, cresce e aprende a dar valor às pessoas.

- Eu sempre te valorizei, demorei a me envolver justamente pra não te magoar.

- Você se aproveitou que o meu amor era puro pra mostrar ao Roger que era capaz de conquistar alguém.

- Não venha querendo justificar sua traição pra cima de mim.

- Eu não te traí, sou um cara honesto.

- E por acaso não era o Augusto que estava na sua cama?

- Era, mas não da forma que você está me acusando.

- Mentiroso, dizia que me amava. Falso!

- Eu só me aproximei dele depois que a gente terminou.

- E vivia de conversinha com ele na academia.

- Mais fui honesto contigo, eu não ia voltar pra ele até cair na realidade que você estava me usando pra atingir o Roger.

- Tanto é verdade essa constatação que não estou com ele, usa outra desculpa porque essa foi fraca.

- Você só não está com ele por causa do Tiago e do teu pai ou vai dizer que é mentira?

- É mentira, essa acusação é injusta.

- Você ainda gosta dele, admite Sandro, encara a realidade.

- Eu odeio você.

- A verdade dói. Então não me acuse, eu sei cada pensamento seu, porque eu sim entrei de cabeça nessa relação até perceber que estava bancando o palhaço.

- Vai embora daqui.

- Eu só saio daqui depois de deixar tudo às claras, não sou um traidor como você pensa.

- Esqueceu as traições do Augusto rapidinho, tomara que dessa vez ele te faça pior,

- Ele mudou e tem me mostrado isso.

- Claro! Você usava o idiota aqui enquanto analisava os passos dele.

- Se você tivesse me dado esperanças eu não teria voltado pra ele, mas a nossa aproximação foi um engano.

- Foi um engano mesmo, eu te usei pra atingir o Roger e o Augusto te trocou por uma mulher e com certeza vocês se merecem.

- Ele se separou, brigou com a família e está me assumindo.

- A gente mal teve tempo pra se curtir e você já saiu tirando conclusões precipitadas?

- Nossa história não vem de hoje, quando eu te levei naquele passeio a Aiuruoca pra passar a virada de 2008 deixei bem claro que te amava e estava disponível pra você, depois veio à doença da sua mãe e eu esperando, você até tentou, mas sempre com o Roger na cabeça, trocavam mensagens por celular enquanto eu me declarava pra você, até que resolvi atender minha razão quando fiz aquela viagem ao Canadá e mais uma vez acabei cedendo pensando que ia ser diferente, mas foi pura ilusão da minha parte.

- Você prometeu respeitar meu tempo.

- Tempo eterno que nunca mudou, cansei de lutar sozinho.

- Vai embora daqui e some da minha vida.

Ele foi embora, fiquei péssimo, tinha que trabalhar, mas estava totalmente sem condições.

Fui para o chuveiro tomei banho e tentei apagar tudo da minha memória e quando saí do banheiro já estava pronto para o trabalho.

Cheguei à academia e o Breno não estava, fui para a recepção já pensando como encarar o Augusto principalmente depois da cena dantesca no apartamento, ele não viu, mas ouviu, fiquei com ódio de mim mesmo e do Juliano, ele ia me pagar por aquela humilhação, ia fazê-lo engolir cada palavra que me falou.

- Você está se sentindo bem?

Olhei para o balcão era o mesmo cara que encontrei no banheiro.

- Desculpe, eu estava distraído não vi que tinha atendimento.

- Te chamei e você não me atendeu, achei que estava passando mal novamente.

- Estava distraído, me desculpa.

- Não se preocupe, já estou de saída nossos horários não combinam mesmo.

- Qual o seu nome mesmo que eu esqueci?

- Vagner e seu é Sandro estou vendo pelo crachá.

- Você deseja alguma coisa?

- Vi você triste, fiquei preocupado.

- Não é nada demais, estou bem.

- Melhoras.

- Obrigado.

Ele saiu e eu segui trabalhando normalmente até chegar perto do horário do Augusto. Não sei o que me deu, mas chamei a Poliana para ficar no meu lugar e fui ao banheiro passar uma água no rosto.

Fiquei um bom tempo no banheiro tentando melhorar, minhas mãos tremiam, fiquei sem força nas pernas, pensei que fosse desmaiar até que aos poucos fui melhorando e voltei para o meu lugar.

- Está tudo bem com você?

- Estou sim, Poliana.

- Tem certeza, você está pálido.

- Acho que foi uma queda de pressão, estou melhor.

- Porque você não vai embora, tem pouco movimento, eu, o Edu e os meninos seguramos as pontas, também posso telefonar para o Breno e ele vem.

- Já estou melhor, pode voltar pra suas atividades.

- Tem certeza?

- Tenho.

Por volta das 18:00 Augusto chegou, sempre dono de si, achei que fosse me provocar, mas não, apenas passou me deu uma encarada e seguiu sério em direção aos aparelhos de musculação. Ele era esperto demais em fingimento e não ia marcar bobeira pra ficar mal com Juliano.

Eu tinha quase certeza que Augusto conseguiu encher a cabeça dele contra mim, a forma como Juliano me acusou de usá-lo pra atingir do Roger ficou claro que Augusto se aproveitou de sua insegurança para me envenenar contra ele.

- Vou acabar com essa farsa.

- Falando sozinho?

- Oi Breno.

- O que aconteceu está distraído?

- Estava pensando alto, mas estou de olho na recepção fica tranquilo.

- A Poliana me disse que você não passou bem.

- Acho que foi só uma queda de pressão, mas já melhorei.

- Na hora da saída não precisa pegar ônibus, eu te deixo em casa.

- Não precisa Breno.

- Falei e está falado, disse ele rindo.

- Está certo.

O restante do expediente seguiu normal. Na saída do Augusto ele ignorou minha existência e eu dei graças a Deus, me fingi de idiota e segui meu trabalho, mas eu não tinha esquecido a humilhação no apartamento do Juliano, ia dar o troco a eles só não sabia o que fazer.

No final do expediente Breno me aguardava. Ele mudou muito, desde a carona que me deu antes do feriadão de páscoa. Estava mais amigável, nem parecia o brucutu de quando comecei a trabalhar.

- Vamos?

- Desligou tudo, ligou o alarme?

- Tudo certo, podemos ir.

- Breno, não precisa se preocupar eu vou de ônibus.

- Você não quer minha carona?

- Não é isso, fica totalmente contramão pra você, eu me viro de ônibus.

- Eu já disse que vou te levar em casa e ponto final.

Não houve jeito, tive que aceitar a carona. Neste dia me veio uma ideia louca na cabeça, porque o interesse repentino do Breno por mim? Será mesmo que ele era hetero como pensava? Não, o cara foi casado e nunca ouvi falar nada dele em relação a outro homem, que loucura, idiotice da minha cabeça.

- Distraído novamente?

- Estava pensando numas loucuras, mas nada a ver.

- Posso saber o que era?

- Nada que valha a pena, mas eu posso te fazer uma pergunta.

- Se eu souber te responder.

- Desde quando você conhece o Juliano?

- O conheci através do Augusto e depois nos tornamos amigos.

O Augusto? Nossa, por essa eu não esperava, mas encerrei o assunto pra ele não desconfiar, porém decidi me aproximar dele ainda mais.

- Eu queria te fazer um convite e gostaria muito que você aceitasse.

- Alguma festa em especial?

- Mês que vem é o casamento do meu irmão e eu gostaria muito que você fosse.

- Não conheço ninguém, Sandro.

- Convidei a Poliana e se você quiser pode ir com ela ou então vai comigo.

- Não sei, faz tempo que não saio do meu cantinho.

- Vamos, tenho certeza que você vai gostar.

- Vou pensar, de repente vou com vocês, mas não é nada certo ainda.

A semana passou sem novidades, acabei não indo à casa do João Pedro, não estava com paciência para aturar suas provocações e o trabalho ainda tinha mais de 15 dias para concluirmos.

No domingo estava sozinho em casa sem nada para fazer quando meu telefone começou a chamar, era o Diego. Durante a semana contei a ele tudo o que aconteceu no apartamento do Juliano, foi o único amigo ao qual me abri depois daquele dia horroroso que eu queria esquecer.

- Oi Diego.

- Vamos dar uma volta?

- Ah não sei.

- Você vai comigo nem que seja arrastado, disse ele rindo.

- Não estou com vontade.

- Troca de roupa que em 15 minutos estou aí.

Decidi sair com ele pelo menos às horas passariam e não ficava só em casa acumulando tristezas. Fui para o banheiro e tomei um banho pra me animar.

Quando entrei no quarto, levei um susto Diego já estava lá.

- Se eu não fosse viajar me candidataria a ser seu namorado novamente, disse rindo.

- Isso é invasão de privacidade.

- Reclama com Rafael que me deixou entrar.

- Ele já chegou?

- Dei sorte, o encontrei com a namorada quando estavam chegando.

- E onde eles estão?

- Ficaram na sala e como não quis segurar vela vim pro quarto esperar você sair do banho, quem sabe não tinha sorte de te encontrar pelado, disse rindo.

- Até parece que eu estou com toda essa corda.

- Vamos pegar um cineminha?

- Domingo a tarde tem filme bom?

- Se não tiver pelo menos vamos nos divertir.

- Do jeito que ando desanimado, só você mesmo pra me tirar de casa.

- Você é guerreiro e vai superar mais essa rasteira.

- Então vamos nos divertir porque o que menos quero é ficar em casa remoendo o passado

Chegamos ao shopping, Diego foi pra fila adquirir os ingressos e eu fui comprar pipoca, nem vi qual filme ele escolheu, também não estava muito interessado, o importante era ocupar a mente com qualquer coisa.

Depois de assistirmos o filme fomos caminhar pelo shopping estava um domingo bem agradável para passear até que Diego me convidou para lancharmos.

- Vamos fazer um lanche?

- Está com fome?

- Se eu não fosse homem diria que estou grávido.

- Palhaço.

- Hoje o lanche é por minha conta.

- Nada disso Diego, você já pagou o cinema, agora eu pago o lanche.

- Você pagou a pipoca.

- Sem discussões eu pago e pronto.

- Está bom papai, estou com desejo de comer batata frita bem crocante.

- Conheço uma lojinha que é especialista nisso.

- Então vamos.

Fomos para a praça de alimentação e parece que não era só o Diego que estava com desejo por batata frita naquele dia, pois logo na entrada próximo ao corredor tive uma desagradável surpresa.

- Acho que escolhemos a loja errada.

- Por quê?

- Olha a sua direita e veja quem em está na praça de alimentação.

- Que falta de sorte vamos pra outro lugar.

- Não, vamos ficar aqui mesmo.

- Então vamos sentar lá no fundo pra que eles não nos vejam.

Roger e Aline conversavam e riam como um casal que não parecia estar separado. Estavam com Sabrina e pareciam muito felizes com a reunião familiar.

- Pra quem me disse que não aguentava as loucuras de Aline, Roger mudou de ideia bem rapidinho.

- Será que eles voltaram?

- Não sei, mas pensando bem eles se merecem.

- Você vai cumprimentá-la?

- É minha irmã, mas sinceramente não tenho vontade.

- Vamos pra outro lugar.

- Não, nós vamos ficar e comer nosso lanche como tínhamos planejado.

- Você não está confortável com a presença deles, vamos embora daqui.

- Diego, eu tenho que aprender a enfrentar essas pessoas que é pra elas aprenderem a me respeitar.

- Então vamos sentar lá no fundo no lado oposto deles porque viemos aqui para nos divertir.

- Você pede os lanches e eu te espero na mesa.

Dei o dinheiro pra ele que ficou fazendo os pedidos enquanto segui para uma mesa ao fundo, não estava a fim de ficar frente a frente com Aline, se ela não me procurava era porque queria distancia de mim e eu faria o mesmo.

Alguns minutos depois ele retornou com as fichas pagas e ficamos aguardando enquanto preparavam nossas batatas.

- Demorei muito?

- Que nada, foi rápido.

- Por mim nós tínhamos ido para outro lugar.

- Por um lado é bom pra eu ver como é o caráter das pessoas, juro que queria entender a cara de pau do Roger.

- Ele sempre foi assim, você ainda se admira.

- E porque ele fica correndo atrás de mim?

- Pode parecer louco, mas eu acho que ele ama você e Aline.

- Isso não existe.

- Pode não existir pra você, mas pro Roger isso é normal.

- Vamos parar de falar sobre eles, quero saber de você, o que anda aprontando?

- No momento estou focado na minha viagem.

- Faz bem e eu preciso dar um jeito na minha vida.

- E o que você pretende fazer?

- Ah não sei, tem alguma sugestão?

- Vamos estudar no exterior.

- Eu nunca pensei nisso, mas é uma possibilidade, só fico em duvida por causa do meu pai, não queria ficar longe dele.

- Os pais criam a gente para o mundo.

- Mesmo assim eu já acho que estou distante dele, imagina se eu viajo.

- Pensa com carinho.

- Pra eu viajar seria melhor terminar o ensino médio e também nem sei como seria depois.

- Termina o ensino médio, enquanto isso eu vou verificando como você pode fazer pra viajar.

- Nossa que ideia doida, mas eu gostei.

Diego e eu ficamos até tarde no shopping fazendo planos para o futuro, fiquei pensando sério na possibilidade de estudar no exterior, não tinha nada a perder, meu único empecilho era que ainda não tinha terminado o ensino médio e meu pai que eu não queria me afastar dele devido aos seus problemas de saúde.

Nossa conversa foi tão animada que nem notamos quando Roger e Aline foram embora da loja, ficamos no shopping até tarde depois Diego me deixou em casa.

- Sandro... Achei que eu ia voltar e você ainda estava hibernando no quarto.

- Muito engraçada a Piada, Marcelo.

- Cara eu não sei como você aguenta, vive da aula para o trabalho e ainda tem cursinho ao sábado.

- Preciso de umas aulas de malandragem com você.

- O que não falta é festa nessa cidade e pra todo tipo de publico.

- Olha que a Tais pode não gostar.

- E quem disse que mulher manda na minha vida?

- Isso já deu pra perceber quando você estava com a Carla.

- Quem quiser o Marcelão tem que me aceitar como eu sou.

- O que o meu primo está inventando, disse o Pedro entrando na conversa, fazia dias que ele não me dirigia à palavra desde a viagem a Brotas.

- O Marcelo me convidou pra sair.

- É mesmo? Então, não se esqueçam de me convidar.

- É isso ai primão bola pra frente, disse Marcelo batendo levemente nas costas dele.

Como assim bola pra frente, o que Marcelo sabia que eu não estava sabendo, ali tinha coisa e eu ia descobrir.

- Brigou com a namorada, Pedro?

- Não vai ser nem a primeira e nem a última que vou esquecer.

- Faz que nem eu Pedrão, não deu parte pra outra, fiz isso com a Carla e logo farei com a Tais.

- Galera a conversa está animada, mas eu vou dormir, estou cansado e amanhã é segunda-feira.

- Vou comer um miojo e depois vou também.

- Já eu tive sorte em filar a comida na casa da sogra.

- Marcelo você é um aproveitador.

- Ah Sandro, o mundo é dos espertos, se me dão oportunidade porque vou ficar fazendo boquinha.

- Vocês me acompanham no miojo?

- Obrigado Pedro, mas eu comi batata frita no shopping, vou dormir.

- Vou te fazer companhia pra você não comer demais.

Fui para o meu quarto, deitei na cama e lembrei a cena do Roger com Aline no shopping, louco era quem acreditava na conversa deles, pensei no Juliano e ao mesmo tempo lembrei as palavras duras que ele me disse quando terminamos.

Tentei dormir e não consegui. Rafael não chegava já estava preocupado, então pequei o livro que Breno me deu e comecei a ler, só assim ocupava a mente pra não pensar em quem não valia a pena.

Quando Rafael chegou era mais de meia noite, eu ainda lia apesar de estar preocupado. as vezes ele ficava fora por muito tempo sem avisar e isso me deixava louco.

- Acordado ainda?

- Poxa, pensei que fosse dormir na casa da Letícia.

- Vontade não faltou, mas eu não posso abusar da sogra.

- Estou dizendo que logo esse namoro vira casamento.

- Não é pra tanto, mas porque você está tão interessado na minha ausência?

- Sinto falta do meu colega de quarto.

- Está carente a esse ponto?

- Pra você ver, o meu único recurso é me apegar na leitura e aos meus estudos.

- Você tem que sair dessa tristeza. Saiu com alguém?

- Fui com o Diego ao shopping, mas tive e infelicidade de encontrar o Roger e a Aline.

- Será que eles voltaram?

- Não sei.

- E eu por acaso encontrei com Juliano no restaurante.

- Porque, por acaso?

- A Letícia e eu saímos você sabe bem pra onde e na volta ela cismou de jantar naquele restaurante que fica em frente ao apartamento do Juliano.

- Não quero saber daquele idiota.

- Será mesmo?

- Aposto que ele estava com Augusto e isso pra mim já basta.

- Estavam ele, Augusto e Breno.

- O Breno também?

- Eles são amigos e assim que nos viram, Juliano convidou a Letícia e eu para fazer companhia a eles.

- E vocês foram?

- Fomos e até foi divertido porque a visão que eu tinha do Augusto era de um cara bem arrogante, também fui atrás de você, disse rindo.

- Vai dizer que se encantou por aquele banana?

- O cara é divertido e gente boa.

- O jantar vai te dar indigestão pode acreditar, ele sorriu.

- Ele me pareceu bem atencioso e divertido em determinados momentos. Acredite Sandro, o Juliano está tentando ser feliz.

- Estou me lixando pra eles.

- Enquanto Augusto estava distraído ele deu um jeito e me perguntou por você.

- Ele é bipolar.

- Você está enganado, apesar de ter terminado ele se importa contigo assim como eu me importo com a Fernanda, mas isso não quer dizer que essa preocupação mude alguma coisa.

- E porque então você me contou isso?

- Porque você nunca soube entender o Juliano, ele é um cara legal e se importa muito contigo.

- Ah Rafael, eu não quero saber dele.

- Então vamos dormir que é tarde.

- Estou sem sono, vou continuar lendo.

- Nada disso, acha que vou dormir com luz acesa?

- Problema é seu.

- Não senhor, se fosse estudo eu até entenderia, mas você está lendo por ler e agora é hora de dormir.

- Está bom papai.

- Papai não, irmão. E agora deita senão amanhã você não acorda e fica todo dengoso pra acordar, disse rindo.

- Até parece que sou o único.

- Boa noite Sandro.

- Chato.

Na segunda-feira nem bem entro na aula João Pedro vem a minha mesa me cobrar sobre o trabalho.

- Desistiu?

- Não, estava criando coragem pra ter que te aturar mais uma vez.

- Se você não for hoje à tarde a minha casa, amanhã eu falo pra professora que estou fazendo o trabalho sozinho.

- Com que direito você vem me ameaçando?

- Não vem bancando o corajoso pra cima de mim que abaixo sua bola.

- Não se mete no meu caminho João.

- Vai fazer o que?

- Ainda não sei, mas vou descobrir.

- Você não é de nada.

- Então experimente pra ver o que sou capaz.

- É mesmo? Lá em casa nós medimos nossas forças, disse ele rindo e voltando para o lugar.

Depois que ele saiu Adriana me cutucou com a caneta. Olhei pra trás e ela estava com um semblante nada amigável.

- Cuidado com esse cara.

- Ele não é de nada.

- Não quero que ele te faça nenhuma maldade.

- Não se preocupa, sei me cuidar.

- Ele chegou a te falar alguma coisa sobre o estupro?

- E você acha que ele ia me falar uma coisa dessas?

- Vocês se reúnem quase a tarde inteira, porque não?

- Porque ele é muito arrogante e também não ia falar de seus problemas pra um desconhecido.

- Esse cara deveria estar na SUASE pra aprender.

- Porque toda essa raiva do João?

- Eu não gosto dele e já te falei o motivo.

- Você nem conhecia a garota, porque está tomando as dores por ela?

- Qual é Sandro, vai defender esse delinquente?

- Não estou defendendo Adriana, mas essa raiva que você tem pelo cara é muito estranha.

Ela abaixou a cabeça e não falou mais nada, ficou chateada, comecei bem minha semana era só o que me faltava, me prejudicar com meus amigos por causa do João Pedro.

O restante da manhã Adriana passou chateada, fiquei triste, já estava cheio de problemas. A minha referencia naquela escola era ela e o Christian, sem eles eu me sentia sozinho, principalmente neste dia que ele tinha faltado.

Na hora do intervalo fui até o bar e comprei um Lalka e dei pra ela.

- Pra mim? Ela me olhou admirada.

- Não posso brigar com minha segunda melhor amiga.

- Posso saber quem é a primeira que ocupa o coração do meu amigo?

- É a Fernanda, amiga de infância, ela é da minha cidade natal.

- E como eu faço pra ser a primeira?

- Boba, no meu coração tem espaço pras duas.

- Obrigado Sandro, eu já estava louca pra desfazer esse mal entendido, posso te dar um abraço?

- Já está perdendo tempo.

Ela me abraçou e deu um beijo no meu rosto quase perto da boca, achei muito estranho pensei que Adriana fosse me beijar. Fernanda era minha amiga, mas nunca agiu assim comigo. Afastei-me dela que ficou sem jeito e foi comer o bombom.

Depois disso voltamos pra aula. Tentei esquecer o que houve no pátio, ela também ficou calada e distante, talvez receosa pela forma que reagi. A verdade é que eu não sabia o que fazer e também poderia ser apenas coisas da minha imaginação.

Quando terminou a aula saí pensando que a tarde eu tinha que me livrar do João Pedro e daquele dia não passava.

Cheguei a republica fiz um macarrão com carne moída e queijo. Em meia hora estava pronto, almocei, tomei um banho rápido, coloquei o uniforme da academia, escovei os dentes e fui pra casa dele.

- Bem obediente, assim que eu gosto.

João sorriu de um jeito estranho, não dei importância e usei a mesma linguagem que ele.

- Vim mais cedo para terminarmos o trabalho, estou cheio de coisas pra fazer.

- Minha presença te faz tão mal assim?

Ele falou perto de mim, senti um cheiro estranho não sabia se era bebida, droga ou alguma coisa estragada que comeu.

- Nossa cara que cheiro horrível é esse?

- Não é nada, vamos fazer o trabalho.

E caiu na risada, era algo descontrolado, mal conseguia falar e aquele cheiro estranho parecia bosta de cavalo, capim queimado ou algo parecido, não dava nem pra chegar perto dele que dava nojo.

- João, eu não estou me sentindo bem com esse cheiro, acho que vou voltar outro dia.

- Fique aqui, disse ele avançando pra cima de mim e me jogando no chão da sala.

- João, você quase quebrou o meu braço, pare com isso.

- Eu não quero te fazer mal, fique aí paradinho, não se mexe.

Ele falava e caminhava de um lado pra outro com as mãos na cabeça, tentei me levantar e ele veio por cima de mim, pegou minha camisa pela gola achei que fosse jogar minha cabeça contra o chão, o cara estava completamente alucinado.

Não sabia o que fazer, foi então que ele deitou por cima de mim e me abraçou, em seguida veio uma crise de choro e eu ali no chão abraçado a ele, o cheiro era horrível, quase vomitava, mas contrariá-lo seria pior.

Fiquei parado na mesma posição por muito tempo esperando ele se acalmar ou que aparecesse alguém, até que de um momento para outro ele levantou e começou a fechar todas as janelas que via pela frente dizendo que tinha alguém rondando a casa. Pensei em ligar pra mãe dele, mas eu não sabia o telefone, foi então que pensei no Breno. Quando estava fazendo a ligação ele saltou na minha mão e jogou meu telefone no chão com toda força.

- Se você fazer isso eu te mato.

- Fique calmo João, eu não vou fazer nada.

- Eu não te quero mal, porque você quer acabar comigo?

- Sente aqui no sofá, eu sento com você.

- Você vai chamar o meu pai.

- Não, eu gosto muito de você e só quero te ajudar.

- Ninguém pode me ajudar.

Depois de muito tentar acalmá-lo ele sentou, foi se acalmando e fiz com que deitasse na minha perna.

- Tive mais de hora com ele naquela posição, à medida que melhorava, ficava deprimido.

- Você quer tomar um banho?

- Não, eu quero beber alguma coisa.

- Fica quieto aqui no sofá que vou pegar.

Fui até a geladeira e peguei um copo de água, voltei pra sala e entreguei a ele.

- Que merda é essa?

- É água, bebe que vai te fazer bem.

- Não quero isso.

- Sua mãe pode chegar a qualquer momento, você quer que ela te veja assim?

- Eu nunca prestei pra nada mesmo.

- Não diz isso, sua mãe te ama muito eu vi a última vez que estive aqui.

- Ela me tratou bem porque você estava aqui.

- Bebe um pouco de água.

O efeito da droga já estava passando, não sei como os pais dele o deixavam sozinho em casa naquelas condições. Fiquei pensando na situação deles, deveria ser uma barra.

De tanto insistir ele tomou a água, já estava quase na hora de ir pra academia e eu não sabia o que fazer, não queria deixá-lo sozinho e ele se drogar novamente.

- O que você ingeriu?

- Eu não sei.

- Como você ingere uma coisa e não sabe o que é, você fumou, cheirou?

- Se eu fumei, cheirei que diferença faz?

- Eu quero te ajudar, mas não sei como, de onde você conseguiu essa droga?

- Comprei de um cara, ele me disse que era bom.

- O que você pediu pra esse cara?

- Eu pedi cocaína, mas ele me disse que tinha um coquetel que era melhor.

- E o que tinha nesse coquetel?

- Não perguntei pra ele.

- De onde você tirou dinheiro pra comprar essas coisas?

- Pequei da minha mãe, mas ela não sabe.

- E você acha que ela não vai dar falta desse dinheiro?

- O que é? Está a fim de me dedurar?

- Fiquei calmo, não vou fazer nada.

- As pessoas me odeiam ninguém quer saber de mim.

- Você é um cara bonito, tem tudo pra fazer sucesso, pode fazer uma faculdade, ser alguém na vida sem precisar dessas coisas.

- Parece minha mãe falando, estou cheio disso.

- Ela fala porque te ama, se você não consegue se livrar por si próprio tente por ela.

- Você vai contar para os meus amigos?

- Não, mas você tem que continuar o tratamento.

- Eu já tentei, mas não consigo.

- Você tem ciência que isso não é certo, então porque não continuar tentando enquanto há tempo.

- A minha vida é uma merda mesmo, pra mim pouco importa se eu morrer.

- E seu pai, João?

- Nunca deu importância pra mim e pra minha mãe, vive com as vadias que ele encontra na rua.

- Seus pais são separados?

- Você não sabia? Pensei que as professoras idiotas tinham te passado minha ficha completa.

- E porque elas fariam isso?

- Pensa que essa historinha de trabalho me convenceu? Isso tudo foi combinação pra me controlar

- Acho que você está equivocado, eu nem queria participar desse trabalho.

- Minha mãe gosta de você e deve ter feito alguma coisa.

- E você deveria dar muito valor a sua mãe, eu tenho certeza que ela te ama e sempre vai te defender.

- Papo mais idiota, minha mãe só vive ocupada com a empresa dela.

- A minha também vivia assim, nunca teve tempo pra curtir a vida dos filhos, sempre pensando no melhor pra nós e, no entanto, de nada adiantou, ela morreu e a gente ficou um pra cada canto.

- A tua mãe é morta?

- A semana que vem faz um ano.

- Às vezes eu queria que minha mãe e meu pai morressem assim eles iam me deixar em paz.

- Não diga isso, não tem coisa mais triste na vida que perder a nossa base.

- O teu pai também morto?

- Não, graças a Deus ele conseguiu superar a morte da minha mãe, meu pai vive com meu irmão.

- Os meus pais não dão a mínima pra mim, sempre foi assim, a vida inteira fiquei em segundo plano.

- E porque você não pensa em ajudar sua mãe na empresa?

- Do jeito que sou só ia estragar a vida dela.

- Você já falou com ela sobre isso?

- Não e nem vou falar.

- Porque, você tem medo que ela descubra que pegou dinheiro?

- Ela não me quer na empresa, toda vez que vou lá eu pego dinheiro escondido e depois ela não tem pra pagar as contas.

- Eu queria ficar mais tempo te fazendo companhia, mas preciso ir, senão vou me atrasar para o trabalho.

- E o nosso trabalho, como fica?

- Amanhã eu volto e a gente termina.

- Você vai voltar aqui?

- E porque não?

- Ah, sei lá, depois de tudo que aconteceu achei que você fosse sumir daqui como meus primos já fizeram.

- Nós precisamos entregar aquele trabalho, preciso de nota e você também.

- Você vai contar pra minha mãe?

- Quando ela descobrir que sumiu dinheiro da bolsa vai perceber qual foi o motivo.

- Não contra pra ela e nem pra ninguém.

- Não vou falar nada pra ninguém, mas você me prometeu continuar o tratamento.

- Essas saídas que eu saio é para o tratamento.

- Tem que falar pra eles que você teve essa recaída.

- Até parece que isso vai adiantar.

- Promete pra mim que não vai se drogar na minha ausência.

- E porque eu deveria fazer isso?

- Nossa convivência nunca foi boa, mas quem sabe a partir de hoje selamos a nossa amizade?

- Minha mãe ia gostar, mas meus amigos vão detestar.

- Então, não conte nada a eles.

- E você vai aceitar isso?

- Fechado, estendi a mão pra ele.

- Fechado.

Saí da casa do João Pedro e ainda tive que passar na república para trocar de roupa, tinha a sensação que a minha estava com aquele cheiro de droga. Não sei se era desconfiança ou se realmente cheirava. Eu estava nervoso, assustado, queria ajudar o João, mas não sabia como. Liguei para o Breno e avisei que ia chegar atrasado.

Quando cheguei à academia ele estava atendendo no meu lugar.

- Oi Sandro, o que houve?

- Eu vinha vindo e esbarrei na rua acabei sujando minha roupa, tive que voltar. – menti para ele.

- Você está bem, não se machucou?

- Estou bem, obrigado e desculpa pelo atraso.

- Você ligou avisando isso é o mais importante.

- Como estão as coisas por aqui?

- Melhor agora que o titular chegou, disse rindo.

- Mudando de assunto, já pensou no convite que eu te fiz?

- Estou pensando, mas por enquanto não me decidi.

- Pensa com carinho e não vai me enrolar.

- Hoje a noite tem carona e não aceito não como resposta.

- Ah Breno, eu não gosto de te alugar desse jeito, o caminho da republica fica totalmente inverso ao teu, me sinto mal com isso, parece abuso.

- Já está decidido e agora vamos colocar esse corpo a trabalhar, disse rindo e saiu.

Comecei a trabalhar, mas os flashes dos acontecimentos daquela tarde não saíam da minha cabeça. Minha mãe sempre conversou comigo sobre drogas, dizia que era perigoso, ela falou tanto que eu criei certo preconceito quanto à droga e a pessoa que se drogava.

Pra mim o usuário de drogas jamais seria um cidadão correto para a sociedade, via como um criminoso e, no entanto, agora eu estava sem saber o que fazer em relação ao João, queria me afastar dele e ao mesmo tempo sentia que não podia abandoná-lo, era apenas um adolescente de 17 que estava perdido naquele caminho.

O que leva uma pessoa a fazer isso, eu pensava, o João tinha tudo, tinha uma casa confortável, a mãe embora não pudesse estar sempre presente o amava. O pai eu não o conhecia, mas por certo embora fosse separado não deixava de ajudar em casa. Tentava me comparar ao João e não conseguia entender a sua opção pela droga, se fosse julgar pelos nossos problemas também poderia entrar no mundo das drogas como opção, mas eu não queria aquilo pra mim, meu pai jamais aceitaria e em memória da minha mãe não tinha como entrar naquele mundo sem volta, existem outras maneiras de encarar os problemas.

Como eu tinha tudo isso definido na minha mente e o João não tinha?

- Oi, tem alguém aí?

- Oi Vagner, desculpa!

- Como sempre distraído.

- Pois é, disse rindo.

- Está se sentindo bem?

- Estou sim, estava pensando numas coisas que me aconteceram e me distrai.

- Alguma coisa grave?

- Nada demais, deseja alguma coisa?

- Só queria te dar um oi e mexer com você, disse rindo.

- Da próxima vez, juro que vou me policiar.

- Já tirei minha onda agora posso ir.

- Bom trabalho pra você.

- Pra você também, garoto, bom trabalho.

Depois que Vagner saiu, liguei para o João pra saber como ele estava.

- Alô! – era a mãe dele.

- Oi, sou Sandro amigo do João Pedro, ele está em casa?

- Você é o colega do trabalho de Biologia?

- Sim, já estive na sua casa.

- Quer falar com o João?

- Será que eu posso?

- No momento ele está dormindo, mas se quiser posso acordá-lo.

- Não precisa, só queria trocar mais algumas ideias com ele, mas pode ser outra hora.

Despedi-me dela e fiquei mais tranquilo para trabalhar. No trabalho foi normal tirando apenas a chateação que senti quando Augusto chegou. A presença dele me atrapalhava, sentia uma mistura de raiva e ao mesmo tempo decepção pelo Juliano ter me trocado por ele. Os dois se mereciam e eu não via a hora do Augusto dar a primeira vacilada para ver a cara do Juliano.

Depois que terminou o expediente Breno acabou me oferecendo a carona. Enquanto voltávamos aproveitei a chance para tentar descobrir mais sobre a amizade dele com Augusto. Eu tinha que saber o que foi feito da ex do Augusto e o que aconteceu pra ele mudar de opinião e voltar com Juliano.

- Breno, eu posso te fazer uma pergunta.

- Ehh... Quando você vem com esse papinho até me assusta.

- Não é nada demais, é só uma curiosidade a final eu consegui emprego na academia devido a um pedido do Juliano.

- Está certo, qual é a pergunta?

- Você me disse que conheceu o Juliano através do Augusto, bom, eles são muito amigos, né?

- Sim, eu sei.

- Diferente do Fabrício que não gosta do Juliano.

- Isso é normal entre irmãos, você e o Tiago, por exemplo, devem discutir também?

- Já brigamos várias vezes, mas é questão de horas e fazemos as pazes, porém eu acompanho o Augusto e o Fabrício na academia e eles não têm a amizade que tenho com meu irmão.

- O Fabrício não gosta da amizade do Juliano com o Augusto.

- A briga deles é por causa da amizade do Augusto com Juliano?

- É uma longa história que eu não gosto me meter.

- Será que foi por isso que Juliano se afastou do Augusto há tempos atrás?

- Vocês são amigos, porque não pergunta pra ele?

- Eu não sei se você já percebeu, mas o Juliano se afastou de mim desde que recomeçou a amizade com Augusto.

- Eu não costumo me meter na vida dos meus amigos, Sandro.

- Desculpa eu te perguntar essas coisas, mas só queria entender o Juliano.

- Juliano é um cara legal, ele vive em conflito com Augusto e isso é tudo o que eu sei.

- Você conheceu o Augusto da academia?

- Que curiosidade, hein?

- Desculpe, acho que me empolguei.

- Caramba! Demais até, mas eu vou responder, depois quero que você responda todas as minhas perguntas.

- Esquece isso.

- Já que começamos, vamos até o fim.

- Não quero me indispor com você por pouca coisa.

- Augusto e Fabrício são meus amigos de infância, brincamos juntos quando éramos criança e depois continuamos nossa amizade até hoje.

- Perdão, não queria invadir a vida de vocês dessa maneira.

- Eu já sei aonde você quer chegar com tantas perguntas.

- Por favor, Breno, vamos esquecer essa conversa.

- Você quer saber o que eu sei sobre Augusto e Juliano.

- Não, isso nem me passou pela cabeça.

- Sandro, eu sou um cara que não me meto na vida dos meus amigos, sei da história dos dois porque nossas famílias são muito ligadas e também sei do envolvimento de vocês, não tente me usar pra colher informações. Estamos certo?

- Desculpe Breno, não me interprete mal, por favor.

- Eu sei que você gosta do Juliano, nunca me meti entre vocês e quando conversei contigo na academia, pedi pra não misturar as coisas.

- O Juliano te falou sobre nós?

- Não me falou diretamente, mas eu não sou bobo, percebo as coisas de longe.

Diante do que ele falou, eu me calei e uma lágrima cismava em sair do meu olho embora tentasse lutar contra, virei meu rosto para o lado de fora da janela do carro pra ele não perceber.

- Sandro, esquece o Juliano a história deles é de longa data.

- Quando foi pra se aproximar o Juliano me disse que gostava de mim desde quando eu tinha de idade.

- E provavelmente ele disse a verdade.

- Então porque ele voltou com Augusto?

- O que eu sei é que eles já foram casados e isso significa muito na hora de uma decisão.

- Ele me fez de idiota, só isso, esqueci que estava marcando bobeira e dessa vez não consegui segurar aquela lágrima, mesmo assim virei meu rosto pra ele não perceber.

- Não fica assim, eu não posso ver ninguém triste na minha frente.

Fique calado, louco de vergonha por ter me exposto ao Breno daquela maneira, ele era muito esperto e fui muito inocente em tentar arrancar alguma coisa dele.

Durante o restante do percurso, ficamos calados, ele dirigindo e eu quieto com meu rosto virado para o lado de fora do vidro não tinha coragem de encará-lo novamente.

- Já chegamos, ele disse passando a mão no meu cabelo.

- Obrigado pela carona e desculpe mais uma vez pelo vexame, falei sem encará-lo.

- Eu já sofri muito por uma pessoa e acredite dói demais, mas passa.

Desci do carro e nem esperei que ele falasse mais nada, estava louco de vergonha, não sabia onde enfiar minha cara, o que o Breno ficou pensando de mim, idiota, idiota, idiota, isso que eu era.

Entrei em casa e fui direto para o meu quarto, Marcelo ainda falou algo comigo, mas eu não estava bem, eu só pensava como enfrentar o Breno no dia seguinte, que vergonha porque eu tinha que ser tão idiota e fazer as coisas sem pensar.

Tomei um banho e deitei. Acordei de madrugada, minha cabeça latejava de dor, sentia calafrio pelo corpo, não era possível que estava pegando uma gripe. Levantei fui até minhas coisas pra procurar um remédio e não encontrei nada.

- O que foi Sandro, disse Rafael sonolento.

- Desculpa, te acordei não era minha intenção.

- O que você procura?

- Um remédio. Não estou me sentindo bem.

- O que você está tem?

- Dor de cabeça, calafrio. Acho que estou com febre.

- Eu tenho um remédio, mas é amargo.

- Não interessa, só quero melhorar.

Ainda bem que ele tinha um remédio, tomei e deitei novamente, mas demorei pra pegar no sono.

No dia seguinte meu corpo estava pesado, não tinha coragem de sair da cama, nem fui a aula, liguei pra academia e avisei a Poliana que não estava me sentindo bem e não ia trabalhar naquele dia.

No meio da tarde acordei com o barulho da campainha, não tinha coragem nem de levantar, mas criei coragem e fui ver quem era.

Se eu soubesse que era o Breno que estava no portão não tinha nem levantado da cama, estava com vergonha pelo vexame da noite passada.

- Oi Breno.

- Posso entrar?

Abri o portão pra ele e entramos. Eu mal conseguia encará-lo, mas ele agia normalmente, era como se o episódio da noite anterior nem tivesse acontecido.

- A Poliana me falou que você não está bem.

- Acho que estou me engripando.

- Foi o que imaginei. Você está tomando algum remédio?

- Tomei um que o Rafael me deu durante a noite.

- Quer ir ao medico?

- Não precisa, vou melhorar.

- E se você passar mal?

- Estou bem, fica tranquilo.

- Então, vou a farmácia comprar uns remédios pra você.

- Não tem necessidade, o Rafael com certeza vai trazer quando voltar à noite.

- Eu não demoro.

Ele passou a mão na minha cabeça e saiu, nem me deu conversa. Logo depois retornou com uma sacola cheia de remédios, além disso, me trouxe frutas dizendo que precisava me alimentar com bastante vitamina para melhorar logo.

Abriu uma caixa que continha um antitérmico e me deu para tomar.

- Vou preparar um chá que amanhã você vai se sentir melhor.

- Esse remédio já basta, Breno.

- Parece criança reclamando, disse ele rindo.

Ele foi pra cozinha e preparou um chá que eu nem soube o que era, pois estava deitado no sofá enrolado num cobertor.

- Tome esse chá que daqui a pouco você vai sentir a diferença.

- O que tem nesse chá?

- Gengibre, limão, canela e mel.

- Deve ser horrível, fiz uma cara feia e ele sorriu.

- Toma rápido e não reclama, parece uma criança.

Peguei a xícara fazendo cara de nojo e cheirei o líquido, senti que ia vomitar se tomasse aquilo.

- Toma senão vou fazer que nem minha mãe fazia comigo.

- E o que ela fazia?

- Amarrava os meus braços numa cadeira e apertava o meu nariz até tomar tudo, quer que eu faça o mesmo?

- Não tem necessidade, eu vou tomar.

- Então toma logo.

Mesmo com cara de nojo tomei uma xícara daquele chá, parecia que não acabava nunca.

- Com esse chá e o antitérmico você vai melhorar.

- Tenho impressão que vou vomitar.

- Deve estar de estômago vazio, já comeu alguma coisa hoje?

- Não.

- Desde quando você não se alimenta?

- Ontem ao meio dia.

- Eita! Vou preparar algo pra você comer.

- Tomara que não seja nada igual a esse chá horrível.

- Antes de dormir você vai tomar outra xícara desse chá horrível.

- De novo, mas por quê?

- Pra melhorar rápido e não reclama.

- Se for pra melhorar eu tomo.

- Enquanto eu preparo uma sopinha você come uma laranja.

Eu nem reclamei, ele estava sendo muito atencioso comigo, desde que perdi minha mãe não me senti tão protegido como neste dia. O Breno tirou a casca da laranja e me entregou para comer com aquela película branca que envolve os gomos.

Enquanto comi a laranja ele seguia na cozinha preparando algo para eu comer. Eu sentia que já estava melhorando, a febre foi cedendo à medida que o antitérmico fazia efeito.

Ele fez uma canja de galinha, misturou alguns temperos que eu nem sabia o que era, mas estava gostosa. Breno me fez comer um prato daquela sopa e quando terminei já estava melhor.

- Agora eu vou voltar pra academia porque nesse horário você sabe que enche, mas não se esquece de tomar o chazinho antes de dormir.

- Obrigado por cuidar de mim.

- Mais tarde eu ligo pra saber como você está.

Ele saiu e logo peguei no sono. Acordei quando Rafael entrou no quarto já com o chá numa xícara e a caixa de remédio que o Breno havia comprado.

- O Breno acabou de ligar no teu celular, desculpe a invasão, eu atendi.

- Não tem problema, somos irmãos.

- Ele me recomendou pra você tomar esse chá.

- Arggg...

- Não reclama, ele disse e sorriu da minha cara.

- Sou um cara de sorte.

- Por quê?

- Tenho amigos especiais que nunca me abandonam.

- Sou seu irmão, mas o Breno eu já não sei, disse ele rindo.

- É meu chefe e está preocupado com minha saúde.

- Será?

- Para de pensar bobagens, Rafael.

- Eu queria ter um chefe assim, disse rindo.

- Não tem porque não sabe conquistar o carinho da chefia, o meu, por exemplo, é mal humorado, reclama de tudo e se preocupa comigo.

- Estou quase convencido, disse ele rindo.

- Mente poluída, só fica pensando coisas erradas a respeito dos meus amigos.

No outro dia acordei mais disposto, cheguei à cozinha tinha outra xícara de chá com antitérmico e Lucas tomava café.

- Oh, o Rafael deixou isso ai pra você.

- De novo?

- Disse que era pra eu não sair sem você tomar.

Nem reclamei, pois senti que aquele tratamento estava me fazendo bem, tomei e saí para o colégio, antes peguei um guarda-chuva, pois estava com jeito que ia chover.

Ao chegar ao colégio a primeira pessoa que encontro foi Adriana ela veio ao meu encontro estava preocupada.

- Sandro, o que houve com você?

- Não houve nada, apenas peguei um resfriado.

- Fiquei preocupada, você sempre vem à aula.

- Fiz falta?

- Você sempre faz falta.

Olhei em direção do portão e vinha entrando o João Pedro ao lado de Christian. Só então lembrei que eu tinha marcado com ele no dia anterior e não fui a casa dele e nem avisei.

Achei que ele fosse passar direto por mim, mas ao contrário, chegou onde eu estava e perguntou se tinha esquecido o trabalho. Estava tranquilo, nem parecia o garoto agitado que encontrei há dois dias na casa dele. Contei o que aconteceu e combinamos de nos encontrar à tarde.

Na saída do colégio fui surpreendido ao ver Roger me aguardando no portão.

- Não acredito.

- Você está gripado?

- Um pouco, o que você veio fazer aqui?

- Está chovendo, vim te oferecer uma carona.

- Muito obrigado, mas eu tenho guarda-chuva e é perto.

- Deixa de ser teimoso, Sandro.

- O que afinal você quer comigo?

- Falar com você civilizadamente e vamos embora que já estamos chamando atenção.

Algo me dizia pra não entrar naquele carro, mas estava chovendo muito acabei aceitando a carona.

- Vou aceitar porque estou gripado, mas só por isso.

- Usa o guarda-chuva até o carro pra não se molhar.

Fomos até o carro que estava estacionado na mesma calçada do portão, a chuva era intensa no horário e se eu tivesse ido a pé com certeza ia me molhar.

- Vamos almoçar na academia, preciso conversar com você.

- Não, vamos pra minha casa.

- Vamos pra academia e não se discute mais.

- Eu não quero ir pra sua casa.

- Querendo ou não você vai.

Fomos até a academia no mais absoluto silêncio, chegamos lá descemos do carro e fomos em direção a casa dele, ele entrou e eu fiquei parado na porta.

- Não vai entrar, vai ficar ai parado?

- Porque você me trouxe aqui?

- Pra você almoçar comigo.

- Porque você força a barra, o que houve entre a gente acabou há muito tempo.

- Não é porque nos separamos que temos que viver brigando.

- Toda vez que você se aproxima de mim, vem um interesse por trás.

Ele sorriu e seguiu desfazendo as sacolas do mercado que tirou do carro quando descemos.

- Como eu sei que você gosta de pizza, antes de passar no colégio comprei algumas e trouxe pra comermos.

- Você não vai me comprar com um pedaço de pizza.

- Cadê aquele garoto alegre de quando eu conheci?

- Ficou no passado, exatamente no dia que você me traiu com minha irmã.

- Esse assunto de novo?

- Pra você não esquecer o motivo ao qual estamos separados até hoje.

Você e Juliano continuam separados?

- Não te interessa.

- Grosso, estúpido, você não era assim.

- Eu já disse, fiquei assim por sua causa.

- Quero conversar com você numa boa como dois adultos que somos.

- Que adulto? Eu não consigo te entender.

- Posso saber o que você não entende?

- Tudo Roger, você é uma farsa.

- Baseado em quê você diz isso?

- No domingo eu vi você e Aline conversando no shopping, estavam felizes e alegres como se nunca tivessem se separado.

- E o que tem demais?

- E aquela raiva que você sentia por ela por causa das agressões?

- Ela é mãe da minha filha, não posso simplesmente fingir que Aline não existe.

- Vocês se merecem.

- Eu não voltei com ela da maneira como você está pensando.

- Não estou pensando nada, já desisti de tentar entender vocês.

- Pois eu digo o contrário você ainda se importa e muito.

- Sai de perto de mim.

- E se eu não sair?

- Vou começar a gritar.

Ele me abraçou forte imobilizando meus braços e me virando contra a parede, sabia que eu tentaria reagir e aquele era o único jeito de me manter preso.

- Me solta Roger, se você me machucar eu vou te odiar para o resto da vida.

- Eu nunca te machuquei e nem vou machucar.

- Então me solta.

- Antes você precisa me ouvir.

Ele me mantinha preso com as mãos, não tinha como me mexer e se gritasse naquela altura ninguém ia perceber, chegou seu rosto bem perto do meu pescoço e começou a beijar naquela região.

- Se você tentar alguma coisa comigo juro que nunca mais ponho meus pés aqui.

- Presta atenção no que vou te dizer, dizia ele entre um carinho e outro. Eu não voltei com Aline e nem volto com ela basta você me dizer que me dá uma nova chance.

- Não acredito em você.

- Nunca falei tão sério na minha vida, a escolha é sua, Sandro.

- E os outros caras que você se envolve, pensa que eu não sei que esse lugar aqui é para os teus encontros.

- Se você disser que sim, eu não preciso dos outros porque tenho quem eu quero.

Ele nem me deixou pensar, me virou rapidamente de costas contra a parede e prensou meu corpo de maneira que não pudesse me mexer.

- E então? Disse ele me encarando nos olhos aguardando uma resposta.

- Você realmente quer uma chance?

- É o que estou te propondo.

- Eu dou a chance que você quer.

- Eu sabia que você nunca tinha deixado de me amar.

Ele tentou me beijar, mas eu virei o rosto.

- O que foi? Não me diga que já mudou de ideia?

- Não, mas também não é assim, eu te dou uma chance, porém tem algumas coisas que precisam mudar.

- Que coisas?

- Em primeiro lugar você tem que me assumir pra sua família e seus amigos mais próximos.

- Ficou maluco?

- Basta dizer pro seu pai, sua mãe e Aline que vai me assumir como namorado. O mais complicado é seu pai. Sua mãe, por exemplo, já sabe da tua sexualidade e Aline sempre soube.

- Eu não posso fazer isso?

- Então você quer ficar comigo pra te servir de estepe?

- Não Sandro, será que você não entende que as coisas não são tão fáceis assim?

- Porque não Roger, eu me assumi pra minha família e vivo muito bem com eles.

- Mas o meu pai não é assim e eu preciso dele.

- Você não precisa mais dele, já está bem de vida, faz faculdade, o que mais deseja?

- Não posso fazer isso com ele, já basta à decepção com o Diego.

- Eu vou embora.

- Não, a pizza está pronta, vamos almoçar e depois eu te deixo em casa.

- Eu nem deveria ter vindo aqui.

- Para um pouquinho pra pensar na minha situação, eu tenho um nome a zelar, diferente de você que nunca teve nada a perder.

- Roger, eu aprendi a me virar sozinho e não vou entrar nessa com você.

- Você deixou de gostar de mim eu já percebi isso faz tempo.

- Aquela coisa doentia que eu sentia por você demorou pra passar, mas aprendi que na vida nem tudo é como queremos.

- Mesmo com todos os meus erros estou aqui na sua frente pedindo uma chance.

- Assim desse jeito não tem como. Eu sei que se não for com Aline, logo você estará envolvido com outra mulher, outros homens e eu não quero isso pra mim.

- Eu mudei muito e reconheci muita coisa errada que fiz com você.

- Eu acredito, mas é arriscado demais pra mim e eu estou bem agora mesmo estando sozinho.

- Duvido que você vá ficar sozinho?

- É claro que não, uma hora vai aparecer alguém que me aceite como eu sou e que se aceite. Pode até ser você se mudar de ideia.

- Fica comigo essa tarde.

- Não posso fazer isso comigo. Na hora é bom, mas e depois, você segue sua vidinha e eu tenho que aceitar que mais uma vez fui fraco.

- Só mais um beijo e novamente ele tentou me envolver.

- Me apresenta pra sua família.

- Não faz isso comigo meu sacaninha.

- O almoço estava ótimo, mas eu tenho que ir à casa de um colega fazer um trabalho.

- Não faz assim com a gente, lembra quando nos conhecemos tudo era maravilhoso.

- Só que naquela época eu era um garoto bobo e iludido.

- Pensa bem Sandro, não vou viver correndo e me humilhando atrás de você a vida inteira.

- A decisão está em suas mãos e não precisa me levar, já parou a chuva, só abre a porta pra mim que vou de ônibus.

Ele não disse nada e nem insistiu porque sentiu que eu já não era mais o mesmo bobo que sempre terminava na cama depois de belas palavras. Bastava estalar os dedos e o iludido acreditava pensando que tudo fosse mudar.

Saí na rua e não tive vontade de chorar ou achar que nada na minha vida fosse dar certo se não me acertasse com ele. Era uma dor superada e com isso eu me sentia mais forte, ou ele mudava ou terminava de vez.

Cheguei a republica tomei banho, escovei os dentes e coloquei meu uniforme da academia. Antes de sair me olhei no espelho e fiquei surpreso comigo mesmo, será que Roger era algo superado em minha vida? Essa resposta eu ainda não tinha, mas me sentia liberto. Coloquei meu boné na cabeça e lembrei-me que o chá do Breno me fez bem.

Fui pra cozinha, aqueci o chá e tomei com o antitérmico, estava ótimo. Peguei meu material do trabalho e fui pra casa do João Pedro.

Bati na porta, estava com receio que novamente ele estivesse drogado, mas não, dessa vez o encontrei sóbrio e pelo visto tinha voltado ao seu velho estilo arrogante.

- Está atrasado, pensei que tinha esquecido o trabalho novamente.

- Fui almoçar na casa de um amigo, por isso me atrasei.

- Amigo? Eu sei bem que tipo de amigo você se encontra.

- Qual é, vai começar novamente?

- Não, não tenho nada com sua vida, pra mim você faz dela o que bem entender.

- Que bom, porque é assim mesmo e vamos terminar esse trabalho porque eu não posso me atrasar pra academia.

- Também não precisa sermão.

Depois disso ele se fechou e eu também fiquei na minha, falamos somente sobre o conteúdo do trabalho. Não falei sobre o ocorrido no nosso último encontro, fiquei com receio de tocar no assunto e ele ter outra recaída.

Durante todo o tempo que concluímos o trabalho, percebi que João queria me dizer alguma coisa, ele me olhava, passava a mão no rosto, suspirava e não falava nada.

- Finalmente terminamos, agora é só apresentar.

- Até que não fomos tão mal.

- Vamos ver na apresentação.

- E agora você se livra de mim.

- Parece que sim, disse rindo, mas ele ficou sério.

- Você gostou de se livrar de mim, não é?

- Fiquei feliz por me livrar desse trabalho chato.

- É...

- Você quer me falar alguma coisa?

- Não... Nada demais.

- Estou sentindo que você quer me dizer alguma coisa, mas não está conseguindo.

- Não tem muita importância.

- Então me diz o que é, senão vou achar que é algo importante.

Eu gostaria de pedir uma coisa, mas você não vai querer.

- E como você sabe se não me disse nada?

- Estou precisando de nota em física e você foi super bem na última prova.

- Estudei bastante.

- Eu sei e você troca ideia com os amigos.

- Quando tem uma prova muito difícil, estudo com o Christian e a Adriana, fica mais fácil entender a disciplina.

- Você tem facilidade em fazer amigos, não é o meu caso.

- Eu tenho bons amigos, mas também tenho meus desafetos.

- Como você consegue fazer amigos com tanta facilidade?

- Não é tão fácil assim, acho que sendo honesto com as pessoas facilita bastante.

- Eu já notei que você tem facilidade.

- Nem tanto, no colégio, por exemplo, meus amigos são Christian e Adriana e você se quiser.

- Aquele cara que seguido te pega em frente ao colégio é teu namorado?

- Não.

- Duvido, disse ele rindo.

- Qual o seu interesse em saber, quer me dedurar pra toda escola?

- Viu só como não somos amigos.

- Não sei se você deseja ser meu amigo ou não?

- As pessoas tem medo de mim.

- É que você quer ser o que não é.

- Como assim?

- Você quer provar para seus falsos amigos ser uma pessoa que não é e por isso acaba se afastando das pessoas que querem sua amizade.

- São os amigos que tenho.

- Você e seus amigos só querem chamar atenção, só que pra isso fazem coisas erradas.

- Se eu agir diferente eles vão me chamar de maricas.

- Melhor ser chamado de maricas do que fazer coisas erradas.

- Você não se importa porque é viado mesmo, não faz diferença.

- Sou uma pessoa igual a você, não vejo diferença.

- Então você confirma que é viado.

- Sou um ser humano, independente da minha orientação sexual.

- Por isso você não revida minhas provocações?

- Eu sei respeitar as pessoas e sei quando sou bem quisto por elas.

- Se dependesse dos meus amigos você já estaria fora do colégio há muito tempo.

- O que você está dizendo?

- O plano era eu te provocar pra você querer sexo, se desse certo a gente marcaria um lugar e lá te dariam uma surra.

- Vocês tramaram isso?

- Quando eu te provoquei na escola no dia do beijo, mas deu tudo errado, você não cedeu e eles queriam me bater, por isso que fumei e fui parar no hospital.

- Isso quer dizer que eles querem me pegar?

- Agora eu não sei, mas quando fiquei no hospital minha mãe me obrigou a dizer porque me droguei, fui forçado a contar tudo a ela e foi assim que o colégio ficou sabendo.

- Por isso a escolha do trabalho, agora eu entendi.

- Aí eu já não sei.

- E porque você continua amigo daqueles garotos?

- Eu não posso me afastar deles.

- Por quê?

- Porque não interessa e vamos parar com esse papo chato, quero saber se você vai me ajudar em física?

- Não sei por que, mas vou.

- Hoje eu vi o teu namorado, ele é bonito.

- Você viu meu cunhado.

- O cunhadinho é bem atencioso.

- E o que tem demais?

- Várias vezes eu vi os dois na saída do colégio, se ele fosse teu cunhado não ficava te seguindo na rua.

- Você anda me espionando?

- Esqueceu que eu pego ônibus na frente da escola?

- Se você sabe, porque a pergunta?

- Ele é muito velho, você precisa de um cara mais novo.

- Você? – disse rindo.

- Não sou viado.

- Está certo, tenho que trabalhar agora. Na escola, combinamos sobre o estudo de física.

Antes de sair encontrei com a mãe do João, que já o aguardava para levá-lo ao psicólogo.

- Já vai?

- Tenho que trabalhar agora.

- Estou indo pra loja, aceita uma carona?

- Não quero dar trabalho.

- Mãe, ele está com vergonha.

- Deixo você na psicóloga e depois deixo o Sandro na academia que fica perto.

Conforme ela disse, deixou o João na psicóloga e depois seguiu pra academia.

- Eu queria conversar com você longe do João.

- Comigo?

- Ontem ele me contou o que aconteceu e eu queria pedir pra você ser discreto, embora eu ache que nem seja necessário te fazer esse pedido.

- Da minha parte a senhora pode ficar tranquila.

- Eu sabia que podia contar com você.

- Aquele dia eu fiquei muito preocupado com ele, estava sozinho em casa e naquelas condições.

- Eu tento de tudo pra não deixá-lo sozinho, mas quando ele quer, sempre consegue dar um jeito de me afastar.

- Eu achei que ele sempre ficava sozinho em casa?

- Quando ele está bem eu deixo e a vizinha o supervisiona pra mim, mas aquele dia o João já estava drogado quando voltou pra casa.

- Então foi depois da aula?

- Ele tem uma turma no colégio que o oferece droga e quando eles não têm, fazem de tudo pra conseguir.

- Ele me falou que pegou dinheiro da senhora.

- Eu percebi. Ele estava evoluindo no tratamento e de repente começa tudo novamente.

- E não tem nada que a senhora possa fazer ou seu marido?

- Pagamos tratamento, internações, mas ele sempre volta.

- Eu nunca me dei bem com o João, mas ao vê-lo totalmente transtornado, fiquei com vontade de ajudá-lo, porém não sei o que fazer.

- É bem difícil e por isso eu queria te pedir pra não se afastar dele.

- Ele é sempre arredio comigo, deixa claro que não gosta de mim, sempre me provoca e não escolhe palavras pra me ofender.

- Não se afaste dele, por favor. – ela começou a chorar.

- Ele tem uns amigos barra pesada.

- São os mesmos que oferecem droga a ele

- Eu penso em ajudá-lo, mas também, tenho receio de me envolver com essa gente.

- Você tem razão, desculpe te envolver nessas coisas.

Ficou um clima meio estranho, ela me deixou em frente à academia, foi muito educada, mas senti que ficou desapontada e eu fiquei em duvida se atendia ao pedido dela ou não, era arriscado, porém sentia nela uma vontade imensa de ajudar o João.

E aí... Está vivo ainda?

- Nem brinca Poliana.

- O Breno me disse que você não tinha nada em casa e estava malzão.

- Ah que maldade, mas ele foi muito legal comigo.

- Eu te falei, o Breno é difícil de conquistar a confiança dele, mas depois é um paizão.

- Por falar nele, onde ele está?

- Foi ao banco, mas daqui a pouco está de volta.

- Aconteceu muita coisa na minha ausência?

- Tudo na mesma, vai começar minha aula, estava só esperando você chegar.

Neste dia mal vi o Breno, ele chegou e foi direto pra aula e depois ainda pegou outra turma. Já na hora de fechar a academia ele veio falar comigo.

- Está melhor?

- Graças a Deus e a você que me ajudou.

- Depois que terminar o expediente, te deixo em casa.

Ele saiu e nem me deixou dizer que ia de ônibus, ainda estava com vergonha de nossa última conversa, e se ele tocasse no assunto? Onde eu ia enfiar minha cara.

Decidi me fazer de sonso já que recusar a carona não daria resultado, entrei no carro e tratei em falar sobre a academia, perguntei pelo Alexandre, que estava na casa da irmã e continuava por lá. Breno sempre ficava apreensivo quando o assunto era o irmão, o trauma do passado pelo visto não foi superado, mas ele nunca tocou no assunto e eu não tinha coragem de perguntar, sabia por que Poliana me contou.

- Eu queria falar com você sobre o convite para o casamento do seu irmão.

- Já se decidiu?

- Eu decidi ir, mas com uma condição.

- Qual?

- Eu vou, mas você e Poliana tem que me acompanhar o tempo todo.

- Por mim não tem problema, estou sem companhia mesmo.

- Então conversa com ela e combinem desde já.

- Nem acredito que vou te tirar da casca.

- Olha moleque me respeita, disse rindo.

- Quantos anos você não sai de casa?

- Eu saio, vou para academia todo dia.

- Isso é trabalho.

- Tá certo, não vale rir da minha cara, mas já faz quase cinco anos.

- Bastante tempo.

- Eu vivo bem no meu casulo, disse rindo.

- Posso te fazer uma pergunta pessoal.

- Ehh, começou?

- Desculpa, foi mal.

- Pode perguntar seu bobo.

- Você tem alguém?

Tenho minha família, você, Poliana, Edu, Luiza, Andre, Paulo, foi citando os funcionários da academia.

- Estou falando em outro tipo de companhia.

- Não me faz falta.

- Ninguém consegue viver sozinho por muito tempo.

- Vamos mudar de assunto?

- Claro, mas estou feliz que você resolveu sair.

- Eu apenas disse que ia acompanhá-los numa festa, não disse que vou sair sempre.

- Já é um avanço, sabe que quando eu entrei na academia achei que você e a Poliana, ah deixa pra lá.

- Achou o que?

- Achei que vocês se encontravam, sei lá, fossem amantes. – ele caiu na risada.

- De onde você tirou isso?

- Ela sempre se mete em suas opiniões, às vezes te enfrenta, pensei que tinha algo mais entre vocês.

- A Poliana não é só uma funcionária, é uma grande amiga que já me ajudou muito e eu também ajudo ela na medida do possível, mas é só isso.

- Desculpa Breno eu me meter na sua vida, mas quero dizer que eu também já te considero um grande amigo, além de ser meu chefe.

- Então anda na linha comigo.

Ele sorriu e ainda bem que não falou sobre minha sexualidade e nem sobre o Juliano, o Breno sabia respeitar a intimidade das pessoas, por isso eu o admirava.

Durante o trajeto, nossa conversa foi muito legal e descontraída, ele me perguntou se continuava tomando o remédio, disse que me fez bem e ficou rindo de quando ameaçou me amarrar na cadeira para tomar o chá, segundo ele, fiquei assustado parecendo um garotinho pronto para levar uma surra da mãe e fiquei mesmo, seria vergonhoso se ele fizesse isso com um cara de quase 19 anos.

- Está entregue são e salvo.

- Eu gosto de ganhar carona, mas fica chato porque você não transporta os outros funcionários.

- Um monte de barbado com moto ou carro. Poliana também tem moto. Os únicos que ajudo são você e Luiza, mas ela não tem tanta necessidade porque sai durante a tarde, dou carona só quando está chovendo.

- Mesmo assim a galera pode não gostar.

- Isso quem decide sou eu e cuida bem dessa gripe.

- Parece meu irmão falando.

- Alguém tem que fazer o papel dele já que não está aqui, disse rindo.

- Fiquei muito feliz de saber que você vai à festa com a gente. Boa noite Breno!

- Se cuida garoto e não se esquece de tomar o chá.

No dia seguinte acordei tarde e cheguei atrasado à aula. Neste dia era a entrega do trabalho de dupla que fiz com João Pedro e em seguida a apresentação. A professora marcou durante o trimestre, em cada aula duas duplas se apresentavam e assim em sequencia até fechar todas as duplas, teve um grupo formado por três, pois sobrou um aluno e ela os uniu. Como cheguei atrasado, nossa dupla ficou para depois.

Durante a apresentação foi normal, ainda bem que neste dia João estava bem e acabamos conseguindo a nota no trabalho. Mesmo com nossa proximidade por causa do trabalho, ele continuava me tratando como antes, ou seja, na frente dos amigos era como se eu nem existisse.

É complicado lidar com uma pessoa bipolar, eu não precisava passar por isso, mas tinha algo no João que não permitia que eu me afastasse dele. Pensei na mãe dele e ao mesmo tempo pensei na minha, se ela fosse viva faria qualquer coisa por mim e decidi não me afastar do João.

Na hora do intervalo, Adriana me deu um bombom, ela estava sentindo meu afastamento. Antes de me aproximar do João eu dividia minhas tardes com ela e Christian, sempre estudávamos juntos, ou na casa dela ou na dele.

- Agora fiquei com ciúmes, disse Christian.

- Não precisa Christian, eu divido o bombom com você.

- Nada disso eu dei pra você, amanhã eu trago um pra ele.

- Não vamos discutir por causa de um bombom, dividi o chocolate com o Christian e assim tudo ficou na paz.

- Agora que terminou essa bendito trabalho podemos voltar a nos reunir como antes.

- Só tem um problema, Adriana, eu combinei com o João de ajudá-lo em Física.

- Eu não acredito Sandro, você vai continuar se humilhando desse jeito?

- Não é questão de se humilhar, ele precisa de ajuda.

- Ele que procure ajuda profissional, você não é psicólogo.

- Eu não posso abandoná-lo, tenta entender minha situação.

- Entendo que você abandonou seus amigos pra se juntar com quem não vale a pena.

- Calma Adriana, você sabe que o Sandro é assim e pra mim não está fazendo diferença.

- Estou decepcionada, não esperava isso de você.

Ela saiu e eu fiquei triste, a amizade dela era importante pra mim. O restante da aula foi muito chato, pois Adriana passou a me ignorar e Christian ficava entre um e outro tentando nos aproximar, mas ela estava irredutível.

Meio-dia eu fui pra casa e fiquei pensando se estava tomando a atitude certa, se continuasse a amizade com João estava correndo risco de perder a da Adriana.

Porque ela tinha que ser tão complicada, o que ela tinha contra o João de tão grave? Meu telefone começou a chamar, olhei no visor nem acreditei, era minha tia. Pensei logo no meu pai, ela nunca me ligava, fiquei nervoso e atendi logo.

- Oi tia.

- Oi meu filho quanto tempo, moramos tão perto e você nem vem me fazer uma visita.

- Desculpa tia, quase não tenho tido tempo pra sair.

- Está se preparando para o vestibular?

- Estou fazendo cursinho.

- Pra passar tem que estudar muito.

- Eu sei tia e estou batalhando pra isso.

- Filho, eu liguei pra te convidar para o meu aniversário no sábado à noite.

A primeira coisa que pensei, foi no reencontro com Juliano, eu tinha que dar um jeito de me safar e não ir nesse aniversário.

- Sábado eu tenho cursinho e já combinei de sair com a galera.

- Adia meu filho, eu gostaria muito da sua presença, inclusive convidei seu pai e seu irmão.

- Se eu não for à senhora vai ficar chateada?

- Gostaria muito de ter a família reunida e o Junior está vindo do Canadá pra passar uns dias conosco, por isso gostaria que vocês estivessem aqui.

- Eu vou pensar tia.

- Conto com sua presença meu querido.

Poxa, como eu ia fazer, não podia ignorar minha tia, graças a ela nós alugávamos a casa por quase metade do preço, quando meu pai ficou doente ela cuidou dele.

- Foda-se Juliano, eu vou e acompanhado.

- Falando sozinho?

- Oi Marcelo, resolveu almoçar em casa?

- Esqueceu que hoje eu não tenho aula?

- Nem lembrava.

- O que houve?

- Estava pensando numa coisa, depois eu te falo.

- Misterioso hein? Tenho medo quando você fica assim, disse rindo.

- Já sei o que vou fazer!

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 6 estrelas.
Incentive Contosdolukas a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.
Foto de perfil de ContosdolukasContosdolukasContos: 454Seguidores: 99Seguindo: 41Mensagem Jovem escritor! Meu email para contato ou trocar alguma ideia (contosdelukas@gmail.com)

Comentários